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Mediante levantamentos, buscamos entender todo o processo de formação do PISG, desde o primeiro passo até o presente momento. Fizemos questão de relatar histórias vivenciadas por pessoas envolvidas, que em suas falas, fizeram questão de contribuir e ao mesmo tempo registrar a sua vivência para que fique registrado como forma de experiência. Buscamos pessoas ligadas às atividades da CAMISG e da JUSG. Para o Sr. Dorgival Patrício de Almeida, 73 anos, no início do Projeto Irrigado tudo funcionava em harmonia, e tinha certeza do progresso dessa inovação do Governo, porque a seca é um mal impiedoso.

“O critério para ser selecionado era ter menos de 40 anos de idade, famílias mais numerosas tinha prioridade, ser casado e ter já experiência como agricultor, minha inscrição foi feita em 1970, e dia 23 de novembro de 1972 recebi o lote juntamente com a esposa e 4 filho, todos pequenos sendo que o ultimo filho nasceu já em São Gonçalo. A princípio realizei cursos profissionalizantes em Irrigação e trabalho, recebi o lote agrícola, 4,6 hectares contando com redes canais e drenos parcelares, restando um valor de 3,6 hectares. Destinado a exploração agrícola, uma casa, com dois quartos, uma cozinha, um banheiro, uma sala, uma dispensa e uma área na frente, com as medidas do terreno familiar medindo 20m x 40m. Tínhamos assistência técnica, assistência social e segurança. Até 1978 a administração do PISG era regida pela CIP- Cooperativa dos Irrigantes da Paraíba, esta atendia os projetos de Condado, Sumé e São Gonçalo. Mediante desacordo entre os três Projetos Irrigados, foi realizado o desmembramento da CIP, a partir dai O PISG contava com uma nova forma de gerenciamento, sendo criado a CAMISG, com novo estatuto parcialmente renovado, podendo a partir daí exercer outras atividades lucrativas. Como serviços de fretes, vendas de produção agrícola, compras e vendas

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de insumos, supermercados, para atender as necessidades dos irrigantes e angariar investimentos financeiros juntos aos bancos, vendas de horas de máquinas, entre outros. Até metade da década de 1990 a CAMISG operou com responsabilidade e trabalhos aparentes, onde a decisão do sócio ainda era respeitada. A CAMISG era gerenciada pelo DNOCS através de um gerente e um chefe de comercialização, até esta data era administrada com conhecimentos econômicos e sociais, bem como controle de caixa, porque existia o conhecimento de gestão e administração. No final da década de 1970, foram elaborados contratos de promessa de compra e venda dos referidos lotes, com proposta de pagamento em 20 anos com 05 anos de carência, e com isso o DNCOS passou a gestão da CAMISG aos colonos, estes contratos não envolviam todos os colonos assentados, por tratar de um procedimento por etapas, e estes não atingiram outros colonos porque houve desvalorização da moeda e ficou inviável a cobrança dos mesmos e inclusão de novos contratos, O órgão ficou na eminencia de uma nova opção de apropriar o assentado, sendo que nunca houve uma outra alternativa. Na década de 1980, a CAMISG funcionou em prol do progresso das famílias dos associados, contava com 125 associados, prédio cedido pelo DNOCS, gerenciou 37 tratores do DNOCS, dois caminhões Chevrolet, 01 Fiat Uno147, 01 Gurgel, 01 Brasília, 05 motocicletas 125cc marca Honda, 673 bovinos entre vacas, novilhas e bezerros, ambos da raça tabapuã, a melhor adaptada à região, dois touros reprodutores de raça Kaizer e Pago, todos registrados com selo de pureza da raça e de sangue. O deslocamento do rebanho era feito com auxílio de 05 vaqueiros montados em burros, esses bovinos eram temporariamente feito rodizio entre as seis mangas de pisoteio e ao estábulo para vacinação banho de carrapaticidada. Todos os colonos eram obrigados a destinar um dia por semana para prestação de serviço na alimentação do rebanho e manutenção das cercas das mangas de pisoteio que detinham os animais. O colono recebeu uma carroça com burro, era o único transporte para se deslocar até o lote agrícola. O PISG era regido sobre leis e ordem, cercado por cercas de arame farpado, existia um guarda na saída para Sousa e na entrada no Núcleo I existia uma mata-burro para que os animais não invadissem a BR 230, particularmente, o colono poderia criar no máximo duas rezes para produção de leite para a família, estas deveriam ser mantidas no curral e alimentadas com ração tiradas no lote. Toda a produção agrícola era entregue na CAMISG sendo recebidos adiantamentos conforme o desenvolvimento da plantação em acordo, e no final do ano feito a contabilidade geral e recebimento de saldos, conforme produção. A primeira cultura explorada no PISG foi o arroz, este era colhido de forma manual e batido numa forma de girau que se confeccionava em madeira, tipo uma mesa, esse ciclo rendeu em média 6 anos, o segundo ciclo importante foi a banana nanica que chegou a 300 toneladas mensal e consumida para Estados vizinhos do Ceará e de Pernambuco para fabricação de doces, o terceiro ciclo agrícola de do PISG foi o tomate, para as fábricas CICA NORTE, PALMERON, na produção de extratos e molhos. O quarto e ultimo ciclo de produção do PISG é coqueiro anão com produção exportada para as cidades, de Recife, São Paulo, Rio de janeiro, Brasília, entre outros. Esse ciclo fez sucesso e deu boas rendas aos colonos, alguns podendo atingir bons salários”.

Ao buscarmos entender a configuração atual do PISG é necessário interligarmos os principais fatos ocorridos neste espaço, transformado pela ação do homem na expectativa da emancipação e liberdade, e que desestruturou toda história que para muitos habitantes era riqueza de todos, era o progresso.

Da mesma forma que para entendermos as ações do DNOCS precisamos compreender o fenômeno da seca e da fome, não seria possível separarmos da história desse Perímetro Irrigado a ação e importância da CIP (Cooperativa dos Irrigantes da Paraíba), que antes administrava três projetos de Irrigação que correspondia a Condado, São Gonçalo e Sumé.

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Em 1978 houve desmembramento da CIP sendo fundada em São Gonçalo a CAMISG (Cooperativa Agrícola Mista dos Irrigantes de São Gonçalo). No art. 37 no Anteprojeto de Políticas de Irrigação elaborado por José Augusto Trindade cita que a Cooperativa de Irrigantes deve ser do tipo mista. A atual Lei de Cooperativas, em suas atribuições são referentes à irrigação, exercendo as funções de alugueis de máquinas agrícolas, suprimentos de inseticidas, fungicidas, soros, vacinas, combustíveis, lubrificantes, adubos, máquinas e instrumentos agrícolas, animais de trabalho, artigos de lavouras em geral, fornecimento de gêneros alimentícios, artigos manufaturas e medicamentos, assistência médico-dentária, serviço de crédito, beneficiamento, conservação e embalagem de produtos, transformação industrial de produtos agropecuários, colocação dos produtos nos mercados, conservação de canais, drenos e caminhos, exploração agrícola e a distribuição d’água para irrigação (TRINDADE, 2005).

A CAMISG serviu de órgão regulamentador de todas as ações comerciais no Perímetro Irrigado de São Gonçalo, toda a produção agrícola do PISG era comercializada através dessa empresa, que cobrava 5% da produção como taxa e que cedia adiantamento para manutenção da cultura explorada conforme a indicação da administração, e no final de cada ano era feito o fechamento de conta a fim de analisar os saldos positivos ou não, conforme quantidade produzida. Hoje a sede da CAMISG é uma residência familiar. Observamos isso nas imagens 13 A e 13 B.

Imagem 13 A - Sede da CAMISG Imagem 13 B – Sede da CAMISG transformada Fonte: Arquivo de Socorro Gonçalves. Sousa, s.d em residência após invasão.

Fonte: ALMEIDA, Ronaldo, Sousa/PB, 29/10/2015.

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A sede da CAMISG foi invadida e agora dá morada a um invasor que a transformou em uma residência protegida por murada, sendo esta é a única visão. Mais um exemplo da falta de ordem e de respeito ao patrimônio público em São Gonçalo.

Todos os prédios públicos da CAMISG ganharam um morador invasor. Podemos considerar aqui uma terra sem lei, porque a justiça comum alega não poder intervir e o DNOCS não tem mais força para reagir em defesa dos patrimônios federais. No relato de Luiz Pereira de Andrade, 71 anos, colono aposentado deixa clara a incompetência técnica da JUSG na administração da água do PISG:

“Pai de 9 filhos, antes todos trabalhavam com agricultura, depois de muitas dificuldades na agricultura, alguns viajaram para trabalhar nas cidades grandes. Cheguei em São Gonçalo em 1974, naquela época eu tive que fazer vários exames médicos, era preciso ter experiência com agricultura e fazer cursos de irrigação e de trabalho, era exigido harmonia com a vizinhança e não se podia beber cana, era obrigado a obedecer todas as normas imposta pelo DNOCS, todas as atividades agrícolas eram orientada por um técnico com visitas diárias, nós tínhamos que trabalhar um dia por semana na pecuária alimentando o rebanho O DNOCS não agiu corretamente ao entregar a responsabilidade e manutenção do PISG a JUSG, porque nós irrigantes não tínhamos condições de manter em São Gonçalo, manutenção de canais, estradas e drenos, A JUSG hoje é uma instituição falida em São Gonçalo por falta de conhecimento técnico em administração. Quando fui vice- presidente da JUSG, por não concordar com as formas de trabalho, eu tive que renunciar, porque nunca gostei de coisas desorganizadas. Outros problemas da JUSG é que todos tinham que pagar as taxas de K1 referente a impostos e K2 referente ao pagamento d’agua utilizada para irrigação, sem produção deixamos de pagar esses valores, por não sermos beneficiados desses serviços durante muitos anos. O problema maior do PISG é falta de água para irrigar o lote agrícola, que há 04(quatro) anos não chove regularmente. Aqui já plantei, arroz, banana e tomate, atualmente estava apenas com coqueiros anão, e não consigo mais produzir, a água do cacimbão é pouca, hoje vivo da aposentadoria., E para solucionar nosso problema somente a transposição do Rio São Francisco ou a regularização de nossas chuvas. Hoje São Gonçalo é muito diferente de antes”.

Nas imagens 14 A e 14 B mostram que a balança de pesagem dos produtos dos cooperados, foi invadida e transformada numa Associação de Produtores de cocos que nunca funcionou, chegou a fazer contratos, porém não foram cumpridos. Esta foi uma das primeiras balanças industriais nessa região.

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Imagem 14 A – A balança da CAMISG Imagem 14 B – A balança da CAMISG Fonte: Arquivo de Socorro Gonçalves. Sousa, s.d. reformada e transformada em associação de

produtores de coco, que não funcionou. Fonte: ALMEIDA, Ronaldo,

Sousa/PB, 29/10/2015

Existia na CAMISG um grande potencial de secagem, beneficiamento e empacotamento de arroz. Parte dessa produção era oriunda da Fazenda CAMISG no Estado do Piauí, e depois de processado era vendido para toda a região. Alguns equipamentos podem ser mostrados na imagem 15 A e o sucateamento da CAMISG na imagem 15 B:

Imagem 15 A – Secadeira, beneficiadora Imagem15 B – Prédio abandonado e e empacotadeira industriais de arroz sucateado.

Fonte: Arquivo de Socorro Gonçalves. Fonte: ALMEIDA, Ronaldo. Sousa, s.d. Sousa/PB, 29/10/2015.

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A CAMISG contou com grande capital investido em máquinas, caminhões e veículos. Os caminhões tanto serviam para logísticas de uso próprio como para aluguel gerando receita de fretes. As máquinas atendiam aos associados e a terceiros. Nas imagens 16 A e 16 B nos mostram a frota de veículos do órgão.

Imagem 16 A – Frota de caminhões da CAMISG Imagem 16 B – Frota de tratores da CAMISG Fonte: Arquivo de Socorro Gonçalves. Sousa, s.d Fonte: Arquivo de Socorro Gonçalves. Sousa, s.d

Referido órgão contou com um grande patrimônio, contando com 03 Carretas da marca Volvo, 08 caminhões Mercedes Benz, 27 tratores com implementos agrícola de marca Valmet e Massei Fergunson, 03 colheitadeiras, 01 Motoniveladora, 02 tratores de esteira, tipo D-8, 01 caminhão mulk para manutenção de rede elétrica, 01 caminhonete cabina dupla, 03 fiat uno, 08 motocicletas de marca Honda. Na década de 1990, São Gonçalo vencia todas as barreiras de desenvolvimento, gerava emprego, renda e segurança aos associados e filhos.

Não há nenhum registro da Fazenda CAMISG em artigos ou notícias, e como as atas de registros das atividades da empresa foram destruídas não houve outra maneira de saber sobre esse novo modo de produção senão conversar com pessoas envolvidas. O Sr. Francisco Pereira de Andrade, 45 anos, agricultor e operador de máquina dá a seguinte contribuição:

“Na década 1990, tudo era muito bom, tínhamos trabalho fornecido pela Cooperativa dos colonos e o dinheiro não era tão difícil. Trabalhei como operador de máquinas da CAMISG na fazenda adquirida pela mesma, no Estado do Piauì, de tão grande ocupava parte de três municípios daquele Estado. Media mais 18.000 hectares de terras, uma imensidão que não se via o fim. Passei quase dois anos por lá, tinha muitos equipamentos e máquinas, havia um patrol (motoniveladora). dois trator de esteira, diversos tratores com todos os tipos de implementos, grades, espalhadeira de calcário, plantadeiras entre outros. Existia um secador, tanques de

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combustíveis, geradores, casas, depósitos e uma boa condição de trabalho e de salários. As turmas reversavam dias e noites. Na fazenda CAMISG eram explorado em torno de 5.000 hectares. com plantação de arroz, a média de produção era de 2,5 toneladas por hectare e esta produção era secada e transportada para São Gonçalo, onde era beneficiada e vendida nas cidades e estados vizinhos. Existiam muitos filhos e genros de colonos que iam trabalhar no Piauí, não tenho certeza mais nunca faltava lá menos de 80 trabalhadores. Nós éramos satisfeitos com o que ganhávamos, as vezes passavam de quatro salários mínimos. Esse processo produtivo durou uns dois ou três anos, as despesas eram demais, e cremos que devido a fazenda está muito distante da Cooperativa, houve muitos problemas de administração e muitos prejuízos que os ganhos não puderam cobrir. Houve o colapso da empresa e junto a falência. Quase todos os empregados, mesmo sendo filhos de associados reclamaram direitos na justiça, houve indenizações que atingiram na época se aproximadamente de 70 mil reais. E isto custou todo os equipamentos da CAMISG e todo o seu capital. Eu não reclamei direitos trabalhistas porque sempre tive em mente que tudo poderia ainda voltar às normalidades, eu sempre achei que a cooperativa não deveria fechar. Hoje não temos mais trabalho garantido, nem compra de insumo coletivo, união na comercialização e nem nada. Em São Gonçalo só resta saudades de um tempo que tudo dava certo”.

Houve um período que tudo se plantava no PISG, a alimentação era garantida pela variedade de produtos plantados e colhidos como pode ser percebido nas imagens, 17 A e 17 B, no desfile do aniversário da cidade em Sousa/PB (10/07/1975):

Imagens 17 A e 17 B - Desfile em Sousa, enfatizando a variedade de produção no PISG; Fonte: SOARES, Josemar. Sousa/PB 10/07/1975.

São Gonçalo foi cenário de exploração de muitas culturas, como arroz, banana, milho, algodão, batata-doce, dentre outros, conforme documentado em imagem do desfile do dia da cidade. Decorrido algum tempo, e com a implantação da monocultura do coco, nada mais se produzia no PISG, na verdade, água de coco mata a sede, mas não alimenta, não mata a fome. Antes se encontrava com facilidade: mangas, bananas, goiabas, araçá, macaxeira, batata-doce,

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acerola entre outras alimentações. As crianças quando sentiam fome, davam uma pequena invadida num lote agrícola e logo se alimentavam.

Diante das modificações que há no PISG, podemos comprovar nas imagens 18 A e 18 B, o trecho que fica em frente a antiga Cooperativa Mista dos Microempresários em Ciências Agrárias (COMECA):

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Imagens 18 A e 18 B - Imagens desse trecho em comparação ao ano de 2010 e 2015; Fonte: ALMEIDA, Ronaldo. Sousa/PB, 29/10/2015.

Não podemos falar do PISG sem citar o rio Piranhas que nasce na serra de Bongá, no Munícipio de Monte Horebe, que seguindo o curso dos rios sertanejos paraibanos desagua no Estado do Rio grande do Norte. Seu curso na Paraíba tem função para uso na irrigação e na pesca. Mesmo sendo um rio temporário, sempre era reabastecido pelas sobras de água de irrigação dos lotes agrícolas, proveniente de um método antigo que é a inundação. O curso dessa água era o canal, drenos coletores e rio. Atualmente, com a suspensão das irrigações e irregularidades das chuvas nos últimos 04 anos, a única função desse rio é apenas a retirada de areia para construção civil. Esse rio no período das cheias é significativo em todo o seu curso. As imagens 19 A e 19 B mostram o referido rio em tempo de cheia e, hoje acúmulo de sedimentos carreados das enchentes (areia).

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Imagem 19 A – Rio Piranhas no período Imagem 19 B – Rio Piranhas hoje chuvoso de 2008( sangria do açude de Fonte: ALMEIDA, Ronaldo, São Gonçalo). Sousa/PB, 29/10/2015 Fonte: ALMEIDA, Ronaldo, Sousa/PB, 2008.

Esta é a paisagem mais comum no PISG, mais de 60% dos lotes agrícolas foram incendiados, muitos de forma criminosa, como são notáveis nas imagens 20 A e 20 B, em que toda a cobertura orgânica do solo foi queimada, ficando este totalmente desprotegido.

Imagem 20 A - Plantação de coqueiros Imagem 20 B - Plantação de coqueiros incendiados. incendiados.

Fonte: ALMEIDA, Ronaldo; Fonte: ALMEIDA, Ronaldo; Sousa/PB, 29/10/2015. Sousa/PB, 29/10/2015

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Durante alguns anos predominou, em São Gonçalo, segurança alimentar, tranquilidade, disciplina e ordem, assim como em todos os lugares pequenos, sobretudo, nas zonas rurais, quando a interligação global ocasiona quebra de barreira não somente nas informações, o que víamos a distância, passa a ser eventos também nos lugares mais pacatos, o assalto, o homicídio, a droga e a violência em diversas formas. A paz passa a fazer parte das saudades dos tempos da implantação do PISG. Os adultos conversavam nas calçadas, as crianças brincavam de rodas, de pega-pega, cabra-cega, passa anel, cair no poço, boleada, pião, bola de gude, futebol com bola feita de meia, entre outras formas agradáveis e sadias de ser feliz e viver sem frustação e medo, não se falava em estupro, quando muito em papas- figos e a palavra pedofilia era desconhecida, as amizades sempre reforçadas pelo bom censo da boa vizinhança.

Desde o princípio, a preocupação maior do ser humano com o meio rural foi plantar e colher para as necessidades básicas para a sobrevivência, dando prioridade a produção de alimentos: o arroz, o feijão, a macaxeira, a banana, a batata-doce entre outros. A carne era originada da própria criação. Criava-se animais para a fonte de alimento como a carne, então matava-se um caprino, ovino, suíno ou um garrote que este era salgado e pendurado para as misturas nas refeições. Isto porque ainda não e dispunha de energia elétrica para o resfriamento da carne.

Há muitos anos no PISG a produção foi dada prioridade para a alimentação e sobra disso seria para comercialização, quando chegávamos nos lotes agrícolas, encontrávamos frutas fresquinhas: goiaba, manga, banana, araçá, melão, melancia, tomate entre outros. A vida era difícil em muitos aspectos, mas os lanches eram garantidos. Provavelmente, na década de 1990 começa a surgir no PISG uma nova tendência, a monocultura guiada pelas possibilidades de lucros. Plantou-se arroz, anos depois banana, e por último a problemática: a plantação de coqueiro anão, que dominou o Projeto Irrigado por ser lucrativo e pela demanda no mercado consumidor.

A monocultura ocasiona diversos problemas de várias ordens naturais e financeiras. Dentre os problemas naturais, o mais comum é a proliferação de pragas, em que se torna difícil o controle no combate as plantas. Foram constatados nos coqueiros, o pulgão, a lagarta desfolhadeira, a mosca branca, o ácaro e o bicudo. Já quanto aos problemas financeiros são ocasionados diante da oferta dos produtos em excesso, e havendo essa oferta, os preços caem significativamente, principalmente nas estações frias em outras regiões do país.

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mortos, decorrente da grande seca que tem assolado desde 2012 até 2015, quatro anos de pluviosidade abaixo da média. A irrigação era subsidiada pelos açudes de Engenheiro Ávidos e de São Gonçalo, além da utilização de capacitação de poços amazonas, artesianos e coletores das poucas águas do Rio Piranhas. Nas imagens 21 A e 21 B são mostradas poços amazonas e cisternas secas:

Imagem 21 A – Poço amazonas totalmente Imagem 21 B – Cisterna vazia

seco. Fonte: ALMEIDA, Ronaldo, Sousa/PB, Fonte: ALMEIDA, Ronaldo. 29/10/2015.

Sousa/PB, 29/10/2015.

É impossível entendermos o Perímetro Irrigado de São Gonçalo se desconsiderarmos o DNOCS, a JUSG e em especial a Fazenda CAMISG que pela sua importância será mais uma vez reportada nas palavras do Sr. Lucas Raimundo, 72 anos, ex-gerente da Fazenda CAMISG, em Bom Jesus do Piauí/PI.

“Em junho de 1993, o presidente da CAMISG, Sr. José de Andrade Carneiro, teve a ideia de comprar uma fazenda em outra região fora do sertão paraibano A fim de resolver problemas do PISG, ofertar empregos aos filhos de colonos, e almejando uma possível colonização com a divisão dos 18.118 há, escolheu as terras do cerrado no Estado do Piauí, denominando-a “Fazenda CAMISG”. Tal compra foi realizada com recursos próprios, sendo que, primeiramente foi adquirida uma área de 13.118hectares do Sr. Moisés Neves, e no ano seguinte, em 1994 houve a adição

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