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Membro Serra da Galga

No documento PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA (páginas 84-95)

7.3 FORMAÇÃO MARÍLIA

7.3.1 Membro Serra da Galga

O Membro Serra da Galga é o que apresenta a maior abundância de fósseis. É formado por arenitos imaturos, grossos a finos, frequentemente conglomeráticos, de cores amarelo pálido a avermelhado, e por lamitos de cor marrom. O contexto deposicional do Membro Serra da Galga é considerado como sendo de leques aluviais medianos a distais, com sistemas fluviais entrelaçados, além de eventual alternância de depósitos de pequenas dunas eólicas (FERNANDES & COIMBRA, 2000).

O primeiro afloramento visitado, correspondente ao Membro Serra da Galga, é conhecido na literatura como Caieira ou Ponto 1 de Price, na Serra do Veadinho, bem próximo ao Museu dos Dinossauros de Uberaba (MG) (19° 43’27’’S, 47° 44’47’’ W) (FIGURA 43).

Deste afloramento, bastante citado na literatura, procedem pteridófitas; invertebrados; peixes; tartarugas; Squamata como Pristiguana brasiliensis; crocodilos como Itasuchus jesuinoi, Peirosaurus tormini e Uberabasuchus

terrificus; dinossauros como Baurutitan britoi e Trigonosaurus pricei; além de uma

falange ungueal de Maniraptora (CANDEIRO et al., 2008; NOVAS et al., 2005). Entretanto, durante o trabalho de campo não foram encontrados fósseis.

FIGURA 43 - Afloramento conhecido como Ponto 1 de Price, Formação Marília, Membro Serra da

Galga (Uberaba, MG).

Observa-se no perfil que, em grande parte, o afloramento é composto por arenito médio, com a presença de seixos e grânulos nas camadas da base, intraclastos pelíticos e estratificações cruzadas mais para o topo (FIGURA 44).

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FIGURA 44 - Perfil estratigráfico do afloramento Ponto 1 de Price. Baseado na caderneta de Luiz

Llewellyn Ivor Price foi um dos primeiros pesquisadores a trabalhar na região, realizando coleta de vertebrados, com o cuidado de considerar também a estratigrafia. Embora Price não tivesse como foco principal a tafonomia, o pesquisador fez esquemas que até hoje são utilizados, como mostra a figura 45. Fica evidente a grande quantidade de fósseis encontrada neste afloramento, sendo que a maior parte consiste de material fragmentado.

FIGURA 45 - Perfil esquemático de Llewellyn Ivor Price, mostrando a posição dos ossos coletados

no afloramento Ponto 1. A. Trigonosaurus pricei (CAMPOS et al., 2005). B. Baurutitan britoi (KELLNER et al., 2005). C. Sacro de dinossauro também estudado por Kellner et al. (2005).

Retirado de Kellner et al. (2005).

Salgado & Carvalho (2008) apresentam um perfil com a localização de

Trigonosaurus pricei e Baurutitan britoi, localizados por Price na década de 50. O

perfil bastante semelhante ao que os autores Carvalho et al. (2004) apresentam na descrição do crocodilo Uberabasuchus terrificus e que Novas et al. (2008) apresentam na descrição de fragmentos de Theropoda, possibilitando uma correlação bioestratigráfica (FIGURA 46).

Theropoda

FIGURA 46 - Perfil estratigráfico do afloramento Ponto 1 de Price. Modificado de Salgado &

Carvalho (2008), Carvalho et al. (2004) e Novas et al. (2008).

No Museu dos Dinossauros em Peirópolis (MG) foi possível observar espécimes provenientes do afloramento Ponto 1 de Price. Embora os espécimes não sejam muitas vezes encontrados completos e articulados, o material fossilizado pode estar fragmentado (FIGURA 47), mas apresenta-se pouco alterado diageneticamente, e com pouca percolação de óxidos (FIGURA 47 ).

FIGURA 47 – Materiais encontrados no Ponto 1 de Price. Depositados no Museu dos Dinossauros

de Uberaba (MG) A. Mandíbula de crocodilo (CPP 882). B.Osso de dinossauro (CPP 406).

João Esmael da Silva, preparador de fósseis e técnico em escavação do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros de Uberaba (MG), informou (comunicação pessoal) que nas localidades conhecidas como pontos 1 e 2 do Price, os ossos maiores saem da base e estão isolados. Em níveis pouco mais acima, ocorrem fósseis em maior quantidade e menor em tamanho.

Outro afloramento visitado, também correspondente ao Membro Serra da Galga, é o afloramento da BR 050, entre Uberaba e Uberlândia, km 153, coordenadas (19°35’ 33,3’’S, 48°01’41,7’’ W) (FIGUR A 48).

FIGURA 48 - Afloramento da BR 050, km 153, Formação Marília, Membro Serra da Galga.

Neste local, foi registrada a ocorrência do dinossauro Uberabatitan

Foram feitos dois trabalhos de campo para este afloramento, o primeiro em agosto de 2010, e o segundo em dezembro do mesmo ano. Nos dois trabalhos de campo foram encontrados vários fragmentos ósseos soltos (FIGURA 49) e alguns ossos encontrados in situ, interpretado como uma possível costela (UFPR 0134 PV A (FIGURA 50), uma provável falange (UFPR 0133 PV A, FIGURA 52), além de um pequeno fragmento ósseo utilizado para confecção de lâminas (UFPR 0158 PV A, FIGURA 52).

FIGURA 49 - Fragmentos ósseos encontrados rolados no afloramento da BR 050, km 153,

Formação Marília, Membro Serra da Galga.

FIGURA 50 - Provável costela (UFPR 0134 PV A) encontrada no afloramento da BR 050, km 153,

Formação Marília, Membro Serra da Galga. A. in situ . B. Material no laboratório.

FIGURA 51 –. Provável falange (UFPR 0133 PV A) encontrada in situ no afloramento da BR 050,

FIGURA 52 –. Fragmento (UFPR 0158 PV A) encontrado in situ no afloramento da BR 050,km 153

Formação Marília, Membro Serra da Galga. Escala 1 cm.

O perfil estratigráfico mostra que o afloramento é constituído em grande parte por arenitos que variam de fino a grosso. Há icnofósseis em um arenito médio, estratificações cruzadas e cimentação carbonática. Os locais onde foram encontrados os elementos ósseos in situ estão indicados na figura 53.

FIGURA 53 – Perfil estratigráfico do afloramento da BR 050, km 153, Formação Marília, Membro

Serra da Galga, com fragmentos ósseos encontrados in situ. Baseado na caderneta de Luiz. A. Fernandes.

No perfil apresentado por Salgado & Carvalho (2008) para o afloramento citado acima, de onde saiu o material de Uberabatitan ribeiroi, os dinossauros aparecem citados ocorrendo em um nível de arenito mais grosso com intraclastos pelíticos. As bioturbações são freqüentes (FIGURA 54). Porém, não foi possível localizar este estrato no perfil feito durante o trabalho de campo.

Arenito f ino Arenito grosso Intraclastos pelíticos Bioturbação

FIGURA 54 – Perfil estratigráfico do afloramento BR 050, Formação Marília, Membro Serra da

Galga. Modificado de Salgado & Carvalho (2008).

Na coleção do Museu dos Dinossauros de Uberaba, também estão depositados ossos encontrados neste afloramento da BR 050 (FIGURA 55). Embora a maioria corresponda a pequenos fragmentos e dentes, há vértebras e costelas isoladas, sendo que o melhor registro para a área corresponde aos materiais de Uberabatitan ribeiroi.

FIGURA 55 – Materiais encontradps na BR050. Depositado no Museu dos Dinossauros de

Uberaba (MG). A. Sequência de vértebras não articuladas (CPP 033). B. Dente de Theropoda (CPP 1119).

Foram feitas 5 seções delgadas de materiais provenientes do Membro Serra da Galga (UFPR 0129 PV B, UFPR 0130 PV B, UFPR 0131 PV B, UFPR 0132 PV B, UFPR 0158 PV B), sendo que todos os fragmentos utilizados foram coletados no afloramento da BR 050, km 153 durante os trabalhos de campo. Em lâmina, foi possível observar que o arcabouço sedimentar é imaturo, tanto em relação à mineralogia quanto à textura. Foram observados feldspatos, sugerindo pouco transporte e pouco intemperismo químico (FIGURA 56).

De forma geral, nos casos analisados, os ósteons estão preenchidos por calcita e a estrutura óssea está bem preservada, inclusive com a possibilidade de observação das lamelas e do vazio dos osteócitos (FIGURA 57). Essa observação corrobora a de Goldberg (1995), na qual os ossos estão bem preservados e a calcita aproveitou fraturas para percolar entre os ossos.

Na lâmina UFPR 0129 PV B é possível observar que inicialmente ocorreu um preenchimento dos ósteons por carbonato micrítico, carreado conjuntamente com o sedimento, sugerindo transporte e energia no meio. Em seguida, o carbonato espático preencheu os vazios, por precipitação química. Concomitantemente, houve uma primeira percolação de óxido. Posteriormente a esses processos diagenéticos, ocorreu outra percolação, provavelmente recente, relacionada a microfraturas (FIGURA 58).

O registro dessas observações em lâmina poderia estar relacionado com um ambiente de enxurradas, já que o transporte ocorreu por pouco tempo. É

possível realizar essa inferência considerando-se que o carbonato micrítico e a lama estão presentes ao redor de todo o osso, e não somente em uma das faces. Logo após esse breve transporte, o osso agora depositado ficou com a sua estrutura óssea preservada, bem como apresentando a presença de minerais menos resistentes, como o feldspato, possibilitando a precipitação química.

Na observação da lâmina UFPR 0131 PV B, não ocorre a presença de carbonato micrítico, havendo só a precipitação química da calcita espática (FIGURA 56).

No caso da lâmina UFPR 0158 PV B, houve um preenchimento por calcita espática. Há material detrítico imaturo, lama preenchendo as estruturas, e boa preservação dos ósteons (FIGURA 59), situação bastante parecida com a do osso observado na lâmina UFPR 0129 PV B. Este é o osso encontrado in situ e apontado no perfil estratigráfico da figura 53 (UFPR 0158 PV A).

Em um estudo sobre a diagênese nesta unidade, Ribeiro (2001) concluiu que a cimentação calcítica tem origem mesodiagenética e telodiagenética sendo que em muitos casos a calcita aparece ter se precipitado na zona meteórica sob condições oxidantes.

FIGURA 56 - Fotomicrografia do material (UFPR 0131 PV B), com nicóis cruzados, Fm. Marília,

Mb. Serra da Galga. 1. A. Quartzo. B. Calcita. C. Feldspato. 2. A. Estrutura óssea. B. Carbonato esparítico.

FIGURA 57 - Fotomicrografia do material (UFPR 0130 PV B), Fm. Marília, Mb. Serra da Galga. A.

Ósteons. B. Microfraturas.

FIGURA 58 - Fotomicrografias do material (UFPR 0129 PV B), Fm. Marília, Mb. Serra da Galga.1. A. Vazio dos osteócitos. B. Microfraturas. 2. A. Carbonato esparítico. B. Carbonato micrítico. C.

FIGURA 59 - Fotomicrografia do material (UFPR 0158 PV B), Fm. Marília, Mb. Serra da Galga. A.

Calcita esparítica. B. Ósteons e vazios dos osteócitos.

No documento PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA (páginas 84-95)

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