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Em dezembro de 2013, após inúmeras etapas de processo seletivo, recebi com satisfação a notícia de que havia sido aprovada para a próxima turma do Programa de Pós- Graduação em Mídia e Cotidiano da Universidade Federal Fluminense (para o ano subsequente, 2014). Inicialmente, meu projeto de pesquisa tinha o objetivo de abordar a temática dos Arquivos de Comunicação, mais especificamente analisando a relação entre a memória audiovisual e o jornalismo televisivo. A ideia - que hoje vejo, era bastante pretensiosa -, seria observar e estudar a fundo o funcionamento de acervos de comunicação audiovisual no intuito de entender se o armazenamento e resgate de imagens de arquivo influenciariam na produção de sentido do produto final da produção jornalística diária de televisão, principalmente as grandes reportagens e o hardnews65. Em março de 2014, na primeira reunião do PPGMC, soube que a minha orientadora seria a pesquisadora Denise Tavares. A notícia foi bastante positiva e bem-vinda, uma vez que eu já a conhecia das disciplinas de graduação em Jornalismo, também cursada na UFF, e confesso que me agradava a ideia de já começar esta empreitada ao lado de um rosto amigavelmente conhecido.

Ainda em março de 2014 foram iniciadas as primeiras disciplinas do Curso:

Metodologia de Pesquisa e Mídia e Cotidiano (obrigatórias) e Modernidade, Mídia e Consumo (optativa). Assim que começaram os conteúdos das obrigatórias, fui percebendo que

o tema inicialmente escolhido por mim se mostrava muito amplo e pouco palpável e que, para colocar esta pesquisa em prática, eu me arriscaria em uma área com determinada complexidade que exigia muito mais tempo hábil do que havia disponível para finalização do curso. Fui desenvolvendo, então, a ideia de um trabalho voltado para o âmbito da saúde e divulgação científica, assuntosque já me interessavam uma vez que trabalho na emissora de televisão Canal Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, desde 2012. Já na primeira reunião com a orientadora Denise Tavares, expressei minha posição relativa ao desejo de mudança do tema, o que foi recebido de forma bastante satisfatória, especialmente porque a própria orientadora já possui pesquisas voltadas para a popularização da ciência e sua relação com a produção audiovisual.

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Conceito de Gaye Tuchman. De acordo com o autor, seria considerado hard news o acontecimento inesperado, as notícias desprovidas de subjetividade, geralmente ligadas à política, economia, segurança etc, de importância para o debate público. (TUCHMAN, 1980).

Na ocasião, desenvolvi, com a ajuda da minha orientadora, os objetivos específicos e qual seria o objeto do estudo. O intuito era entender como a Comunicação Audiovisual pode ser utilizada como meio de promoção da saúde e, como eu já trabalhava em uma emissora que foca especificamente esta área me voltar para os programas que já conhecia pareceu o mais lógico, acessível e produtivo. Ter passado por outras empresas de Comunicação em minha trajetória profissional, como, por exemplo, a Rede Globo, e naquele momento estar no Canal Saúde, me fazia perceber o quão diferente é o tratamento dado à pauta da saúde, tanto para quem produz material audiovisual, quanto para quem o assiste. Essa inquietação era o que mais me movia no sentido de estudar uma prática diferenciada de produto audiovisual de saúde. Foi então que escolhi tratar do programa Canal Saúde na Estrada, da emissora "Canal Saúde". O programa havia passado por uma recente reformulação no ano de 2013 e se propunha a ser um audiovisual que abordasse saúde coletiva, meio ambiente e cidadania de forma diferenciada, viajando por todo o país no intuito de registrar e divulgar o que considera boas práticas dessas áreas.

Nas disciplinas de Mídia e Cotidiano e Modernidade, Mídia e Consumo, pude perceber ainda mais o quanto a questão da Comunicação que se faz sobre Saúde pode impactar positiva ou negativamente na rotina da população. A partir da revisão bibliográfica inicial, fui definindo melhor o projeto, inclusive ampliando as interrogações iniciais na perspectiva de melhor localizar sua relevância para a sociedade. Já a disciplina Metodologia

de Pesquisa foi importante porque a partir dela comecei a definir melhor os caminhos

metodológicos da pesquisa, seu cronograma e também consegui - acredito - reestruturar de forma mais clara e objetiva o projeto.

Ainda neste primeiro semestre de 2014, iniciei minhas atividades em eventos acadêmicos participando do 1º Seminário BITS Ciência, que foi realizado no mês de março, na Universidade Federal Fluminense. Minha participação se deu no GT 1: "Ora direis, ouvir cientistas...: o audiovisual e os desafios contemporâneos do Jornalismo e da Divulgação Científica", além das palestras assistidas no mesmo evento. Vale ressaltar que esta primeira vivência entre pesquisadores foi essencial para identificar as premissas do meu projeto e nortear melhor o que eu deveria seguir durante a pesquisa. Além do evento, as leituras e as discussões, tanto no âmbito das aulas no PPGMC quanto no dia a dia com a convivência com outras pessoas do meio acadêmico, contribuíram para lançar luz sobre diferentes linhas teóricas de pesquisa. Assim, pude definir com maior segurança as bases teóricas sobre as quais ergueria meu projeto que também encontrou nos conceitos e abordagens sobre o

cotidiano, conforme colocado por Agnes Heller e na relação da Comunicação e Saúde, a partir de Inesita Araújo, eixos norteadores para os caminhos desta pesquisa.

No semestre seguinte cursei as disciplinas Espacialidades da Comunicação e Rádio e

Memória Social, sendo as duas optativas. E, apesar de ambas não serem relacionadas

diretamente ao trabalho que desenvolveria, considero que, em termos da minha própria formação contribuíram significativamente, em especial quanto ao impacto da Comunicação na construção da Sociedade, e como a população lida afetiva e espacialmente com os veículos comunicacionais inseridos em sua rotina.

Ainda no segundo semestre, no mês de novembro, participei do 10º Interprogramas de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero, apresentando o artigo "A utilização do Audiovisual na promoção da Saúde: uma análise da presença do Canal Saúde no YouTube". Apesar de não ser exatamente o meu objeto de estudo do projeto de dissertação, a afinidade temática é evidente e apresentar um artigo em um ambiente em que praticamente ninguém me conhecia proporcionou uma experiência enriquecedora. Tanto com os demais integrantes do GT como com a banca examinadora, que me sugeriu autores, objetivos e também apontaram algumas fragilidades na delimitação do objeto, colaborando para que eu, atualmente, tenha um projeto mais coerente e coeso.

Já no primeiro semestre de 2015 participei da disciplina Seminários de Pesquisa - Geografias da Comunicação (15 horas), ministrada pela professora convidada Sonia Aguiar (ela é do PPGCOM da Universidade Federal de Sergipe), no próprio PPGMC - UFF. O curso ampliou os horizontes do projeto na medida em que me fez perceber uma situação que ainda não havia considerado, ou seja o fato de o programa Canal Saúde Na Estrada viajar por todo país poderia influenciar no processo de produção do audiovisual. Isto é, entre outras questões, por exemplo, a condição de visitante inerente à equipe do programa pois ela se desloca para visitar comunidades em outros estados e, in loco, busca retratar as experiências ali vividas, a partir da sua visão, ou seja, da visão de alguém cuja origem profissional é o sudeste, uma vez que a equipe é do Rio de Janeiro. Outra questão levantada, também, é a percepção do que é saúde de acordo com cada região, além de o que é considerado notícia de acordo com a percepção cotidiana de cada população abordada pelo Programa.

É interessante destacar que o contato facilitado com os profissionais do Canal Saúde foi ponto crucial para o levantamento de dados dessa dissertação. Inclusive, vale destacar que este trabalho se iniciou no intuito de analisar a temporada 2013 do programa Canal Saúde na Estrada de forma comparativa às edições anteriores e demais audiovisuais da grade de programação da emissora, no entanto, no decorrer do processo de apuração de informações

com os profissionais que trabalham / trabalharam com o programa, ficou nítido que era muito mais relevante analisá-lo como um todo, no decorrer de toda a sua trajetória e sua relação com a história da emissora e da saúde no país do que se pretender a um período marcado no tempo, sugestão também dada pela banca de qualificação ao fim da análise do material preliminar. A própria ideia do título da dissertação partiu da entrevista com a Coordenadora Geral de Jornalismo do Canal Saúde, Lu Fraga, que afirmou que considera o Canal Saúde na Estrada uma janela para o cotidiano do Sistema Único de Saúde.

E, para concluir este breve memorial, considero relevante informar que cursei uma Pós-Graduação Lato Sensu, na área da Comunicação Empresarial, iniciada em 2012 e concluída em 2013 e hoje posso afirmar que, em relação a uma Pós Stricto sensu, a diferença é muito relevante pois, apesar de ambas terem responsabilidades e exigências, no Stricto

senso cada pequena experiência conta para a construção de uma percepção diferente da

própria pesquisa e do mundo. Isto é, cada leitura, cada contato, cada reflexão, é essencial para os rumos da dissertação.

Enfim, encerro destacando que os caminhos apresentados neste memorial, e tantos outros aqui não incluídos, não só contribuíram, como são parte integrante da construção da pesquisadora que sou hoje e da que pretendo ser, o que inclui a experiência desta qualificação, cuja expectativa é a de real colaboração com os próximos passos que serão dados, na perspectiva de uma boa conclusão do trabalho.

ANEXO 2 - Entrevista com João Paulo Soldati, repórter do Canal Saúde na Estrada