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Na definição de Ferreira (2004), percepção é o ato, efeito ou faculdade de perceber. Ribeiro Filho, Pereira e Fragoso (2005), em estudo comparativo do nível de percepção de usuários da informação contábil em Florianópolis e em Recife, sobre a utilidade das representações gráficas no processo de evidenciação, mediram esse nível de percepção a partir da apresentação do balanço patrimonial e da demonstração de resultado em forma gráfica aos questionados, tendo por conclusão que a apresentação gráfica melhora muito o entendimento dos fatos. Nesse caso, o fator percepção foi caracterizado por meio de simples observações do comportamento dos respondentes em relação ao que foi apresentado aos mesmos.

Para aferir qual o nível de percepção quanto à utilidade da informação contábil no processo de tomada de decisões pelos gestores das MPEs dessa pesquisa, foram pré- estabelecidas sete variáveis, conforme se discorre abaixo, como possíveis de se correlacionarem (ou não), ou de influenciarem (ou não), o processo de tomada de decisões dos respectivos gestores. Ou, de outra forma, parte-se do pressuposto de que a interação (ou não) dessas variáveis no dia-a-dia do gestor possibilitará que haja (ou não) influência na tomada de decisão.

a) Variável 1: Informação contábil – demonstrativos contábeis

Como saída final do processo contábil, através dos relatórios contábeis fornecidos e, como se constitui num importante instrumento para orientar a tomada de decisão, a falta de informação contábil deverá enfraquecer o processo decisório.

Conforme o Pronunciamento CPC Estrutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis (item 12), o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mudanças na posição financeira da entidade, que sejam úteis a um grande número de usuários em suas avaliações e na tomada de decisão econômica.

Neste estudo os demonstrativos contábeis assumidos como portadores da informação contábil foram o balancete de verificação (BV), o balanço patrimonial (BP) e a demonstração do resultado do exercício (DRE). Tal escolha se deu em razão desses três demonstrativos serem os mais abordados na literatura de formação básica do profissional da contabilidade, como também, serem os mais solicitados por instituições, como: bancos comerciais, fornecedores, órgãos do governo etc.

b) Variável 2: Nível de escolaridade do gestor

Diante do atual estágio da economia globalizada e na chamada “era da informação”, a forma de como o gestor concebe as informações se constitui em fator importante no seu processo de gestão. Dias Filho (2000, apud MIRANDA et al., 2008) diz que existe relação entre o tipo da linguagem utilizada para apresentar as demonstrações contábeis e a forma de como seus usuários têm a percepção dessas informações. Conclui o autor que o usuário médio da informação contábil não consegue compreender perfeitamente o significado de muitos termos usados na contabilidade.

Neste sentido, o nível de escolaridade do gestor pode ser fator diferencial na sua capacidade de perceber as informações e o seu devido uso da melhor forma.

c) Variável 3: Experiência do gestor

Como descrito na literatura apresentada, principalmente nos estudos realizados pelo Sebrae (2008), de que a pouca experiência dos empreendedores tem trazido problemas de sobrevivência às MPEs, é de se admitir que gestores menos experientes não utilizem em potencial as informações contábeis.

d) Variável 4: Tempo de existência da empresa:

Aliando-se à variável anterior, a qual trata da experiência do gestor, é possível afirmar que o tempo de existência de uma empresa pode ser um fator diferencial no relacionamento da mesma com o processo de tomada de decisões.

e) Variável 5: Segmento da empresa – Indústria, comércio, serviços e comércio/serviços

Considerando que a maior parcela das MPEs paraibanas é formada de empresas pertencentes ao segmento7 do comércio (42,46%), seguido de prestação de serviços, pode-se procurar entender em que nível essas empresas se utilizam da informação contábil.

7 Para mais detalhes, ver Tabela 8, p. 37.

f) Variável 6: Sistemas de informação operacional e gerencial da empresa

Haja vista que os sistemas têm, como uma de suas premissas, a interação dos diversos elementos que os constituem, faz-se necessário entender em que níveis a interação destses elementos pode contribuir nas tomadas de decisão dos gestores, particularmente as decisões referentes ao uso da informação contábil. Conforme destaca Bio (1985), sistemas operacionais são tipicamente processadores de transações ou procedimentos rotineiros, enquanto que os sistemas de apoio à gestão são “pacotes” para processamentos eletrônicos que podem desenvolver atividades, como: previsão de vendas, análises financeiras, orçamentos etc.

g) Variável 7: Nível de qualificação do contabilista:

Niyama (2005, p. 4) coloca que “a qualidade da educação na área contábil tem um significativo impacto na qualidade e no tipo de informação, bem como no sistema contábil capaz de gerar informações”.

Visando melhor capacitar os profissionais de contabilidade para que estes prestem um melhor serviço à sociedade, o CFC, com apoio dos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs) implantou, desde 2002, o Programa de Educação Continuada dos Profissionais de Contabilidade (PECPC). Nesse sentido, se faz oportuno considerar que profissional melhor capacitado deverá prestar serviços mais qualificados. No caso em tela, pode-se considerar que esse melhor serviço seja o fornecimento de informações contábeis relevantes para que os gestores possam usar em seus processos decisórios.

Quanto às tomadas de decisão dos gestores das MPEs aqui assumidas, admitiu-se que os mesmos, na consecução dos negócios da MPE, estão sempre tomando decisões administrativas e/ou gerenciais, conforme abaixo, com consulta ou sem consulta ao seu contabilista, relativas à:

• Empréstimos (fontes) para capital de giro;

• Aquisição de ativos imobilizados, tais como: comprar maquinário, móveis e utensílios, veículos, computadores etc.;

• Planejar recursos financeiros para pagar obrigações futuras;

• Compras em montantes além do habitual visando lucrar mais com estoques;

Então, o que se pretende mensurar é qual o nível de percepção que esses gestores têm, uma vez que estão sempre gerenciando essas atividades e têm (ou não) à sua disposição as variáveis acima comentadas.