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No mercado de arte tribal analisado por Satov (1997), o critério mais importante para aquisição por colecionadores é a forma visual do objeto, assim como a significância sociológica do objeto.

3 O PROCESSO DE TORNAR-SE ARTISTA

48 No mercado de arte tribal analisado por Satov (1997), o critério mais importante para aquisição por colecionadores é a forma visual do objeto, assim como a significância sociológica do objeto.

grupos específicos e indivíduos escolhem preservar, valorizar e trocar” (1994, 221 - minha tradução livre).

Sobre os críticos, em geral, ñas entrevistas, os artistas entrevistados declararam que são necessários, e que se sentem representados pelos mesmos.

E absolutamente necessário, nós artistas precisamos de críticos, de

marchands, de mao issu , de centros cv.lh‘.rn^. de curadores, tenho nada

contra nada, não. E um respeito, a questão do crítico, ele já tem aquela cultura de anos, visita, ouve milhões de opiniões, vai a todas as exposições fora, eu respeito. (Eliane Duarte)

Adoro ouvir os críticos. Sinto-me representado por eles. Estou me referindo aos curadores e ao público que visitam as exposições e os colegas também. Hoje me preocupo menos com as críticas. Se não fosse eles [os críticos], o que seria de nós artistas?(Marepe)

Na prática, muitas vezes as figuras do curador e do crítico se confundem. Em geral, o curador tem sua “crítica” presente no catálogo das mostras, através dessa crítica ele apresenta as obras e artistas escolhidos. A atuação como crítico pode legitimar uma nomeação para uma posição de curadoria. A legitimação feita pelo curador é operada duplamente pela escolha e exposição da obra de determinado artista e no papel, através das reflexões sobre a exposição.

Ah, é legal acho super legal o crítico falar sobre o trabalho, muito bom, não só o crítico como qualquer pessoa, porque sempre vai enriquecendo, né? Eu nunca tive péssimas experiências com a crítica, assim como algumas pessoas falam porque quando falam alguma coisa que você vê que não tem absolutamente nada a ver com aquilo que você tá fazendo eu não me incomodo, porque eu acho que aquilo é um erro mas tem muitos erros na vida. (Enrica Bernardelli)

O crítico desfavorável é o que não entendeu, ílerrou'\ “não interessa”. O crítico é interessante enquanto compartilha de determinados valores de grupo, como ressalta Velho : Ora, fica patente que a identidade dos indivíduos passa, quase sempre, por uma forte vinculação a um grupo de pares que, de diversas formas, reforça certas crenças e valores. A identidade se constrói, classicamente por contraste com outros indivíduos e/ou grupos caretas, falsos

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fortemente filtrada pelo olhar do grupo, do network (VELHO 1989, 88 - sem grifo no original).

Por exemplo, uma produção de caráter “engajado” pode desagradar a um crítico “formalista” e vive-versa.

Relaciono-me muito bem com alguns poucos críticos que me interessam, ou seja, aqueles que compreendem minha linguagem. São grandes

interlocutores meus - ^olabcrarr. rr.iã.;.ío processo e na avaliação a

posteriori. A maioria está em SP e não no Rio, pois os críticos daqui em geral são mais formalistas. Exceções: Paulo Herkenhof, Glória Ferreira e, recentemente, Paulo Sérgio Duarte. Em SP eu citaria Annateresa Fabris, Tadeu Chiarelli, Aracy Amaral, Ivo Mesquita, Adriano Pedrosa. (Rosângela Rennó)

Para Bourdieu o reconhecimemto no campo de produção erudita se daria através do reconhecimento simbólico (não econômico num primeiro momento, como atesta nessa pesquisa o fato de muitos dos artistas não sobreviverem da venda de sua produção artística) obtido de seus pares (1992,105).

Em geral há consenso entre os entrevistados de que o crítico é importante. Tratar de crítica é tratar de poder. O poder é investido ao crítico dentro do próprio campo. Como evidencia a pesquisa de campo, o crítico é “necessário”. Se não é mais a academia que “nomeia” o que é arte e quem é artista, é o crítico que o faz. E dele a voz que autoriza a produção como legítima dentro da tradição (a história da arte ocidental). No circuito erudito não há existência possível fora da crítica.

Nos depoimentos a “opinião” ou “leitura” do crítico também vem seguida de comentários sobre a apreciação do público, que trataremos mais adiante.

Este capítulo trata da relação entre os artistas entrevistados e o grande público, assim como traz uma reflexão à luz da antropologia da arte sobre a função comunicativa da arte.

5.1 Arte Contemporânea e Recepção

A arte nova tem a massa contra si e terá sempre. A arte nova não é para todo mundo, como a romántica, mas é, desde logo, dirigida a uma minoria especialmente dotada. (...) Não é urna arte para os homens em geral, mas para uma classe muito particular de homens, que poderão não valer mais que os outros, mas que evidentemente são diferentes.

Ortega y Gasset, 1925

Na realidade cotidiana, as massas não mostram nenhum interesse pelas artes. Aliás, as chamadas elites também não mostram interesse mais profundo por elas.

Mário Pedrosa, 1967

A partir do movimento de surgimento do campo artístico, do nascimento da arte como instância destacada das outras dimensões sociais, há o surgimento de um abismo cada vez maior entre o artista e seu público. A liberdade que o campo autônomo traz ao artista faz com que produza para um público reduzido, em geral seus próprios pares. Para Bourdieu o público é um dos fatores que distinguem a produção erudita da “grande produção”. Em se tratando de arte contemporânea, desdobramento daquele primeiro

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primeiro momento de ruptura que significou o Romantismo, tem-se a impressão de que cada vez mais trata-se de uma produção esotérica, dirigida a poucos iniciados49.

Como exemplo relevante podemos citar a Mostra do Redescobrimento, realizada no parque Ibirapuera, em São Paulo, por ocasião das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil. É uma “mega” Mostra que resgata uma idéia do crítico Mário Pedrosa, de reunir arte indígena, arte afro-brasileira, arte “dos loucos”, arte brasileira desde o descobrimento até arte contemporânea. Até o dia 13 de junho de 2000 já haviam-na visitado 339 mil pessoas, e o objetivo dos organizadores é que atinja 1,5 milhões de visitantes.

Foi realizada uma pesquisa do Datafolha50 na qual descobriu-se que 64% dos entrevistados compareceram ao evento para conhecer a história e a arte do Brasil, informando que “buscavam conhecer a história do Brasil através da arte, que queriam conhecer ou ter mais informações sobre arte brasileira, que gostariam de resgatar valores e conceitos sociais brasileiros e saber mais da cultura indígena” (CAVERSAN 2000, E4).

Esses dados são interessantes para a reflexão sobre a relação artista e público (que aparece no trabalho de campo desta pesquisa apenas através do discurso dos artistas). A Mostra do Redescobrimento é uma exposição de arte mais acessível do que as exposições feitas nas galerias por ser bastante divulgada. Esta e outras grandes mostras do gênero têm se esmerado cada vez mais em marketing para atrair espectadores. As Bienais de Arte de

49 Cf. artigo do crítico Daniel Piza sobre exposição no Itaú Cultural em São Paulo, de 16 de junho a 24 de

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