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5 MERCADO E CONSUMO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA

Revista GeoNordeste

5 MERCADO E CONSUMO DA PRODUÇÃO AVÍCOLA

Após caracterizarmos as fases anteriores do circuito espacial da produção, analisamos aqui como se dá o mercado e consumo dos produtos originados da avicultura. A comercialização dos produtos avícolas no Ceará engloba uma complexa e extensa rede de agentes até alcançar o consumidor, com vendas de varejo em supermercados, empresas avícolas, açougues, mercadinhos, feiras, entre outros. Assim, podemos observar na Região Metropolitana de Fortaleza a existência de inúmeros espaços destinados à distribuição e consumo dos produtos avícolas.

De acordo com dados da ACEAV, o consumo de frango do estado é atendido 50% pela produção local, no qual são abatidos cerca de dois milhões de frango por semana, sendo que o restante advém congelado principalmente dos estados do Sul do Brasil. A comercialização do frango local é quase totalmente com as aves vivas, uma vez que a Granja Regina ainda é a única empresa avícola cearense que industrializa o frango, processando, até 2008, cerca de 6.000 aves por dia. De todo modo, tem crescido a comercialização de frango congelado e resfriado, atendendo parcialmente ao consumo local. O frango processado é comercializado em supermercados e hipermercados, o que se constitui como movimento do que Santos (2008) denominou de circuito superior.

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No processo de distribuição e comercialização do frango, o estado do Ceará conta com cerda de 1.200 estabelecimentos que abatem e comercializam o chamado “frango quente”, segundo dados da ACEAV. Trata-se de um tipo de intermediário que fornece o “frango abatido na hora”, um produto muito difundido na capital cearense, principalmente nas áreas mais periféricas, além de outros municípios do estado (OLIVEIRA et al., 2008). Porém, muitos estabelecimentos que comercializam o “frango quente” já compram as carcaças de firmas distribuidoras, que abatem o frango e revendem para esses pontos de venda.

Em relação à oferta de ovos, o Ceará é autossuficiente. Além de atender a quase 100% do consumo local, cerca de 20% da produção cearense de ovos é destinada para outros estados, principalmente Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraíba e Bahia. A comercialização local é realizada em mercadinhos, supermercados, hipermercados, padarias, feiras. O consumo de ovos na Região Metropolitana, bem como no estado, é realizado em domicílios, restaurantes, padarias, confeitaria, entre outros. Além disso, a ACEAV vem realizando campanhas promocionais pelo maior consumo de ovos, que vem crescendo nos últimos anos.

Dessa forma, como se pode compreender, a comercialização de frangos e ovos se insere tanto no circuito superior, originário das modernizações tecnológicas e organizacionais, como no circuito inferior, porção marginal que apresenta como forma de reprodução da economia urbana. Assim, é necessário compreender que ambos não podem ser vistos de forma dissociada, uma vez que os mesmos se encontram permanentemente interligados, pois um não existe sem o outro (SANTOS, 2008). Com isso, após os diversos processos e etapas, se completam os elos do circuito espacial da produção avícola, quando os produtos finais, seja o frango ou os processados e os ovos, chegam ao consumidor.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da análise das etapas que compreendem o processo produtivo avícola na Região Metropolitana de Fortaleza, foi possível observarmos um conjunto de processos que se traduzem nas dinâmicas territoriais empreendidas por essa atividade, percebendo a rede de relações entre os agentes sociais inseridos no processo produtivo avícola.

Podemos verificar um processo de concentração da atividade avícola, em que algumas empresas, com o passar dos anos, ampliaram seus mercados e absorveram pequenas empresas que existiram posteriormente. O capital social acumulado ao longo do tempo no território pelas empresas avícolas que hoje se destacam no Ceará demonstra tal processo de concentração do setor,

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173 sendo que tal condição retrata a dilapidação do capital social acumulado pelas atuais empresas avícolas em décadas anteriores.

Notamos também que o setor passa por uma maior automatização dos aviários, para que seja utilizado um contingente menor de mão de obra nos aviários e para que haja também o aumento da escala da produção. Isso ocasiona um aumento da concentração dos efetivos de galináceos nos aviários por propriedade, corroborando para expansão da atividade nesse modelo em escala industrial. Além disso, a avicultura empresarial procura seguir as estruturas formais que buscam a padronização das ações produtivas necessárias ao controle de qualidade da produção dentro do plano legislativo de status sanitário da atividade avícola.

No que se refere à formação dos trabalhadores das empresas avícolas, verificamos que os trabalhadores da base de produção avícola propriamente dita (galponistas, aviários) são incorporados à produção sem uma exigência específica mínima de escolarização, sendo muitas vezes necessário apenas que saibam ler e escrever. São nas áreas administrativas e técnicas das empresas que são feitas as exigências de níveis de capacitação cada vez mais específicas e que colaborem para o aprimoramento das áreas de produção e gestão.

O uso de força de trabalho contratada realça a condição de profissionalização das pessoas que se inserem na atividade, e com uma tendência a sua manutenção. Os trabalhadores assalariados, enquanto sujeitos inseridos no processo de produção, se submetem a uma forte estrutura de gestão do trabalho avícola e de controle de produção que, por sua vez, tem também suas regras ditadas pelo mercado consumidor cada vez mais crescente e exigente, além das próprias instituições de controle de qualidade.

Verificamos também que se constitui uma estrutura cada vez mais sólida de redes de produção do conhecimento voltados à avicultura no estado, quando observamos a tênue relação que se cria entre universidades e empresas avícolas. A investigação empreendida neste trabalho demonstra que os cursos de nível superior estão atentos às novas demandas de mercado relacionadas à avicultura e, assim, as universidades vêm assumindo papel ativo na produção de conhecimento técnico-científico com vistas às inovações no setor avícola.

Assim, tais instituições não só atendem às necessidades do setor por meio do desenvolvimento de suas pesquisas, mas também começam a buscar atender um modelo de produção difundido mundialmente, uma vez que o pacote tecnológico avícola utilizado no Ceará, bem como no restante do país, é proveniente de empresas que seguem o modelo produtivo externo, ou mesmo de empresas de atuação global. É a atuação destas instituições e a combinação das

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trajetórias tecnológicas seguidas por cada empresa que definem o pacote tecnológico da avicultura, viabilizando aumentos de produtividade, reduções de custos, maior qualidade dos produtos etc.

Outro resultado de destaque é a relevância de um mercado de frango vivo, com volumes ainda bastante significativos, se sustentando no estado por meio de transações destinadas à produção de frango de “abate na hora” para distribuição local. A crescente demanda doméstica por carne de frango e ovos possibilita o crescimento do setor no estado e ampliação dos investimentos das empresas, que além de buscar atender o mercado local, procuram também novos mercados para expandir suas atividades e comercializar seus produtos. A partir dessa perspectiva é possível afirmar que a avicultura em grande escala praticada atualmente no estado do Ceará é uma estratégia do capital, empreendida por grandes empresas do setor, que reproduzem relações tipicamente capitalistas nas áreas onde atuam.

Apesar disso, a existência de criação de frango caipira e frango de “fundo de quintal” ainda é uma realidade bastante presente como atividade não-comercial no Ceará – isso evidencia que apesar das mudanças nas relações sociais de produção ainda há formas de resistência ao modelo de produção empresarial controlado pelas grandes firmas do setor, e consequentemente de consumo, com relação à avicultura.

REFERÊNCIAS

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Recebido em 11 de janeiro de 2017 Aprovado em 07 de agosto de 2017

Revista GeoNordeste, São Cristóvão, Ano XXVIII, n. 2, p. 176-189, Jul./Dez. 2017. ISSN: 2318-2695 DENSIDADE NORMATIVA E SABER CULTURAL NO RECIFE - PE

REGULATORY DENSITY AND CULTURAL KNOWLEDGE ON RECIFE - PE

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