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3 Aspectos da Legislação e do Mercado para Reciclados

3.3 Mercado para Agregados Reciclados

Ações governamentais são essenciais para incrementar o mercado de reciclagem, por meio de formulação de metas políticas, como percentagens obrigatórias de reciclagem, implementação de legislação e sistema de fiscalização apropriado; intervenção nos preços, por meio das taxas ambientais para o poluidor e subsídios para o reciclador; elaboração de normas técnicas sobre atividades produtoras e recicladoras; implementação de um sistema de controle de qualidade sobre as atividades recicladoras.

Os instrumentos legais possibilitam a abertura de mercados para os produtos reciclados, a exemplo dos países do Norte. Na década de 1990, os Estados Unidos criaram leis para regulamentar a disposição correta dos RCD. Mineradoras investiram no mercado de reciclagem, adicionando aos agregados porcentagens de agregados reciclados. Segundo empresários do setor, apesar de o investimento inicial ser alto o negócio teve um retorno rápido e o marketing dos sistemas de reciclagem aumentou 1.000% durante a década de 1980. O resultado positivo do mercado de reciclagem nos países do Norte está diretamente relacionado às legislações, fiscalizações e Poder Judiciário eficientes (ZORDAN, 1997).

No Brasil, o consumo de agregados está relacionado à qualidade de vida da população por meio de obras residenciais, viárias, hospitais, escolas etc. Dados da Associação Nacional das Entidades Produtoras de Agregados para Construção Civil (ANEPAC) mostram a distribuição de consumo da pedra britada e sua aplicação (Tabela 3.2)

Tabela 3.2 −−−− Consumo nacional de pedra britada (ANEPAC, 2003). Pedra britada (%) Aplicação

50 Produção de concreto 30 Pavimentação asfáltica 13 Artefatos de cimento e pré-moldados

7 Lastro de ferrovia e contenção de taludes

O consumo de pedra britada no Estado de São Paulo, em 2002, foi de 51,6 milhões de toneladas; em 2003, de 46 milhões de toneladas, o que pode ser justificado pela retração da demanda dos insumos básicos em obras. Na região metropolitana, os dados são de 28,8 milhões de toneladas ao ano (ANEPAC, 2003).

A pedra britada é o insumo básico para a produção de concreto e asfalto. O mercado dos reciclados poderia competir com 30% da pavimentação asfáltica, ou seja, 8,6 milhões toneladas

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ano na região metropolitana de São Paulo, assim como o de concreto e artefatos (ANGULO et. al, 2002; ANGULO et. al, 2004).

A produção de concreto e argamassa é o maior mercado consumidor de agregados naturais. No mercado de pavimentação e obras públicas, não predomina o consumo de agregados naturais, e esse mercado não seria capaz de consumir totalmente RCD reciclado como base de pavimento. Assim, restaria o uso do agregado reciclado na produção de concreto não estrutural, por meio da substituição de 20% de agregado natural pelo reciclado, estabelecido por normas técnicas. A região metropolitana de São Paulo gera em torno de 8,5 milhões t/ano de RCD, e pode-se simular um consumo total desses resíduos (ANGULO et. al, 2002; ANGULO et. al, 2004):

 Consumo em pavimentação: com 8,64 milhões t/ano de agregados naturais, utilizando-se metade em reciclados, tem-se um consumo de 4,32 milhões t/ano de agregados reciclados;  Consumo em concreto e argamassa: 14,40 milhões t/ano, utilizando-se 20% (substituição)

destinados reciclados − 2,88 milhões t/ano;

 Consumo em artefatos e pré-moldados: 2,88 milhões t/ano, utilizando-se 20% (substituição) destinados reciclados − 0,75 milhões t/ano;

 Consumo em lastros de ferrovias e taludes: 2,02 milhões t/ano, utilizando-se 25% destinados reciclados − 0,55 milhões t/ano.

Pela analogia apresentada acima, o mercado dos reciclados na região metropolitana de São Paulo conseguiria, em tese, absorver 8,5 milhões t/ano de agregados reciclados, um potencial a ser desenvolvido por meio da substituição parcial dos agregados naturais convencionais sem prejuízo do desempenho desses novos materiais. O consumo de agregados pelos municípios é de 45% da massa de RCD gerada. Dessa forma, sobram 55% de RCD para o mercado privado produzir materiais reciclados. Para o mercado privado, é necessário um custo competitivo. O material reciclado deverá apresentar desempenho, no mínimo, similar que os tradicionais (ANGULO & JOHN, 2002).

A experiência na Prefeitura Municipal de Salvador (2000) comparou os custos de obras executadas com materiais convencionais com os de obras executadas por materiais reciclados, demonstrando uma redução aproximada de 50% dos custos (CARNEIRO et. al, 2001):

Agregado reciclado R$ 11,00/m3

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A simplificação do processo de produção pela redução de etapas de britagem e a redução de custos com transporte, coleta, despejos e manutenção são fatores levados em consideração, e que certamente contribuem para a redução de custos, favorecendo o interesse econômico pelas atividades recicladoras.

A maioria das nações desenvolvidas percebeu a necessidade de reciclar e de ter uma visão padronizada dos procedimentos a serem adotados para produção de agregados, atendendo a um padrão mínimo de qualidade (LEVY, 1997).

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4.

RESÍDUOS E RECICLAGEM

A cadeia produtiva da construção civil interfere no meio ambiente, pela extração de matéria-prima, produção de materiais, construção e demolição de obra civil. Segundo Pinto (1999), a sociedade nunca consumiu tantos recursos naturais, gerando grandes quantidades de resíduos, como na atualidade. Avalia-se que o setor da construção civil consome entre 20% e 50% do total de recursos naturais (SJOSTROM, 1992).

Oliveira (2002) afirma que os materiais descartados pela construção são verdadeiras jazidas de matérias-primas, potencialmente adequados para reciclagem. Esses resíduos são considerados, em grande parte, materiais inertes, constituindo a maior parcela dos resíduos sólidos gerados no ambiente urbano, considerando-se inertes os rejeitos provenientes de concretos, argamassas, material cerâmico, vidros, blocos de concreto, concreto celular, tijolos de barro e solo, entre outros.

Nesse cenário, distinguem-se duas fontes geradoras: construções e demolições, ambas apresentando material de elevado potencial de reciclagem. Além disso, pode-se classificar a origem dos resíduos por outras atividades, como obras viárias, escavações e limpeza de terreno.

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