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1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

1.3.2. MESOFAUNA NO OUTONO

No outono não foram constatadas diferenças significativas na abundância total de mesofauna entre os tratamentos (TABELA 7), uma vez que a variabilidade dos dados foi

Y=14,1%

X=25,6%

muito grande. Porém o sistema em plantio direto apresentou tendência a uma menor densidade de indivíduos quando comparado aos demais sistemas de uso do solo. Esse resultado pode ser atribuído à aplicação de fungicidas, inseticidas e herbicidas no manejo do feijão carioca (Phaseolus vulgaris) em plantio direto (TABELA 3), cultura que estava estabelecida no período da coleta de outono.

A aplicação de fungicidas e herbicidas no solo tem um efeito indireto na fauna edáfica.

A utilização de fungicidas elimina os fungos, que servem de alimento para muitas ordens da fauna edáfica, o que resulta na morte de muitos indivíduos (Gupta, 1994). O uso de herbicidas acarreta na eliminação de ervas daninhas, o que diminui o aporte de material vegetal e a própria rizosfera no solo, reduzindo a quantidade de nichos disponíveis e alimento para a fauna, eliminando muitos microartrópodes (Gun & Cherret, 1993; Pollierer et al., 2007). Por outro lado a utilização de inseticidas tem por próprio objetivo a eliminação de artrópodes e pragas no solo, afetando diretamente os organismos que vivem no solo (Paoletti et al., 1995).

O grupo Acarina apresentou maior densidade em ILP quando comparado a CN e PD, enquanto que Collembola apresentou maior densidade em EU quando comparado a ILP, ILPF e PD (TABELA 7). Possivelmente os insumos agrícolas aplicados pouco antes das coletas em PD tenham afetado os ácaros e colêmbolos. Porém a elevada densidade de colêmbolos em EU pode estar associada a maior quantidade de liteira nesse sistema, uma vez que foram coletados muitos organismos epigeicos. Por outro lado, Mussury et al. (2002) encontraram maior densidade de ácaros e colêmbolos em pastagem contínua quando comparada a ILP e PD. Essa maior quantidade de ácaros e colêmbolos em ambientes pastejados é reflexo dos resíduos vegetais, somados as fezes do gado depositadas no solo, especialmente no sistema ILP.

O ILP apresentou maior densidade total de Coleoptera quando comparado aos demais sistemas de uso do solo, ao passo que Hemiptera apresentou maior densidade em CN quando comparado a ILP e ILPF (TABELA 7).

TABELA 7. Densidade média (indivíduos m-2) e diversidade de grupos de mesofauna edáfica em integração lavoura-pecuária (ILP), integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), campo nativo pastejado (CN), plantio florestal de Eucalyptus dunnii (EU) e plantio direto (PD) no município de Ponta Grossa – PR no outono de 2013.

Grupos ILP ILPF CN EU PD

**Estatística não paramétrica de Kruskal-Wallis. Letras em negrito indicam diferenças estatisticamente significativas entre os tratamentos.

***Outros: Soma de organismos que não puderam ser identificados.

É válido ressaltar que em apenas duas amostras de CN, foram contados 336 indivíduos pertencentes à Classe Protura e 1043 indivíduos pertencentes à Ordem Hymenoptera, respectivamente. Isso ocorre comumente em amostragens de fauna edáfica, uma vez que a distribuição dos organismos não é uniforme no ecossistema. Nesses casos, é importante buscar descobrir o porquê dessas fortes alterações populacionais, visando um melhor entendimento ecológico do solo. Por isso, optou-se por não eliminar esses outliers da análise estatística.

Protura é uma Classe de invertebrados edáficos que ocorre em ambientes onde existe matéria orgânica em decomposição e umidade suficiente, podendo ocorrer junto com musgos e liquens nas camadas superiores do solo (Pass & Szucsich, 2011). Além disso, possuem ocorrência dependente de fungos micorrízicos (Malmstrom & Persson, 2011). Krivtsov et al.

(2003) encontraram correlações entre a espécie de Collembola Folsonia candida e a Classe Protura, indicando que esses grupos possivelmente se alimentam de fungos ectomicorrízicos.

No total, no outono foram identificadas 15 grupos nas amostras, e a riqueza variou entre 9-13 grupos nos diferentes sistemas estudados. Essa riqueza foi maior do que no inverno em todas os sistemas de uso (exceto CN onde foram encontrados 9 grupos novamente), e seguiu a ordem decrescente EU>ILP>PD=ILP>CN. A diversidade de grupos não diferiu entre os sistemas de uso do solo (TABELA 7), porém houve clara tendência de maiores valores nos sistemas integrados e em EU do que em CN e PD.

Moço et al. (2005) trabalhando com mesofauna edáfica na região norte fluminese encontraram um total de 566 individuos m-2 em áreas de pastagens, sendo que 23 indivíduos m-2 pertenciam a Ordem Collembola, e 496 indivíduos m-2 em áreas de eucalipto (Corymbia citriodora). Destes 15 indivíduos m-2 pertenciam a Ordem Collembola com riqueza total variando entre 8 e 10 grupos taxonômicos em eucalipto e 6 grupos em pastagem. O grupo dominante nesse trabalho foi a Ordem Hymenoptera. O presente estudo apresentou em campo nativo pastejado densidade total entre 213 e 1562 indivíduos m-2 e um total de 9 unidades taxonômicas, enquanto que em Eucalyptus dunnii a densidade variou entre 450 e 857 indivíduos m-2 e foi encontrada riqueza variando entre 8 e 13 unidades taxonômicas. Vale a pena ressaltar que esse foi o primeiro estudo realizado com comunidades de mesofauna em ILPF no Brasil.

Lucchesi (1988) encontrou em PD na região de São Mateus do Sul 2140 ácaros m-2 e 1480 colembolos m-2, enquanto que o presente estudo encontrou densidade de ácaros variando entre 203 a 1181 indivíduos m-2 e densidade de colêmbolos variando entre 17 e 45 indivíduos m-2. Dessa forma, além de características físicas e químicas do solo e manejo, o microclima edáfico pode também ter influenciado a distribuição de microartrópodes no solo (Rebek et al., 2002).

1.4. CONCLUSÕES

Ácaros foram os organismos que obtiveram maior densidade entre os grupos da mesofauna edáfica nas duas datas de coleta.

No inverno, a densidade total de indivíduos foi superior em PD e a diversidade foi superior em CN quando comparada aos demais sistemas de uso do solo.

Por outro lado no outono não foram constatadas diferenças significativas na densidade total de fauna amostrada, nem na diversidade de ordens entre os sistemas de uso do solo, possivelmente devido a grande variabilidade dos dados de densidade. Porém, o PD apresentou tendência a menor densidade entre os sistemas de uso, uma vez que houve aplicação de inseticidas, herbicidas e fungicidas poucos dias antes da coleta de outono.

Os grupos não apresentaram mesma tendência de ocorrência nem os indivíduos a mesma distribuição entre os tratamentos nas duas datas de coleta. Características físicas e químicas do solo, especialmente, areia, silte, P, C, relação C/N, CTC e pH, bem como diferentes sistemas de uso do solo e o clima afetaram a densidade e diversidade da mesofauna edáfica.

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