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Mesorregiões do Estado de Minas Gerais

Ainda sobre esse Projeto, Seabra (2006, p.1945) também afirma que

o ATEMIG abrange os estudos do homem e da sociedade por meio da linguagem e da investigação onomástica, destacando a inter-relação língua e cultura. Constitui-se, pois, uma ampla linha de pesquisa que contempla estudos do léxico sob enfoques etnolingüísticos e antropoculturais em suas diversidades regionais.

É importante ressaltar que nossa linha de estudos baseia-se na proposta do ATB e do ATEMIG, pois também está vinculada ao estudo da linguagem na sociedade, na relação entre língua e cultura, e muitos de nossos objetivos correspondem aos daquele Projeto.

O ATEMIG, iniciado em 2005, já apresenta resultados parciais bastante significativos no que se refere ao estudo do território de Minas Gerais: as taxionomias predominantes em cada região realmente refletem hábitos, traços culturais e de ocupação territorial, entre outros, nos lugares os quais o forasteiro conquistou como sendo de propriedade dele. Nossa pesquisa, por sua vez, nos levará a constatar se, no caso dos hidrônimos, os resultados se aproximam ou não dos topônimos na área por nós delimitada, pertencente ao território mineiro.

Em nosso próximo capítulo, discorreremos acerca da contextualização histórico- geográfica que compreende a região por nós pesquisada. A ela relacionam-se as primeiras entradas pelo território mineiro, bem como a importância dos cursos d‟água desde essas primeiras incursões.

FOTO 03 – Igrejinha da Quinta do Sumidouro, cuja padroeira é Nossa Senhora do Rosário Fonte: Acervo pessoal.

CAPÍTULO II–CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA

2.1. As primeiras expedições em território mineiro

O Brasil, à época do descobrimento, foi considerado, num primeiro momento, como ilha sem valor e perdida no oceano. Isso devido ao fato de que o litoral brasileiro não deu mostras do grande tesouro que abrigava, escondido entre densas matas, inúmeras serras, bravios sertões. Não podiam imaginar, à primeira vista, os colonizadores, as imensas riquezas que estavam por ser descobertas em muitas partes do vasto território a que se chamou primeiro pelo nome de Ilha de Vera Cruz. Entretanto, a partir dos primeiros contatos com os nativos, relata Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei de Portugal, que os índios teriam dado a entender aos recém-chegados, por meio de comunicação gestual, que havia na terra a presença de ouro e metais precisos. Desde o primeiro contato com os nativos, segundo Renger (2007, p.106), “surgiu a lenda do Itaberabaçu, ou na corruptela Sabarabussu, o monte resplandescente que teria no seu pé o lago Vapabussu, onde se encontrariam os sonhados tesouros, alvo de todos os sertanistas e os bandeirantes”. Mas, mesmo após muitos anos, tudo não passava de especulações.

Sejam motivados pela curiosidade, ou pela cobiça, fato é que os que primeiro em nossas terras estiveram, lançaram-se à exploração dos recursos nela encontrados. Num primeiro momento, à extração do pau-brasil, ao cultivo da cana-de-açúcar nos anos subseqüentes, e, em seguida, à caça de pedras e metais preciosos. Não se pode olvidar também das caças aos gentios que eram feitas pelo sertão, prática bem mais antiga que a da caça às riquezas escondidas sob a terra.

Vasconcellos (1944, p.9) considera que tanto o criador de gado quanto o bandeirante investiram em andanças por terrenos desconhecidos: “Um e outro investiram, quasi (sic) coetaneamente, deserto-a-dentro. Bateram ambos serra acima, serra a baixo, vales e savanas adentro, atraídos pela mesma fascinação geográfica, pela mesma cobiça do futuro, pela mesma audácia no comportamento”.

Muitos boiadeiros, antes mesmo das expedições em busca de ouro e metais, atravessavam imensos terrenos ou neles se estabeleciam por meio da posse concedida por cartas de sesmaria, ou mesmo em terras das quais expulsavam os índios. Nossa atenção recairá, entretanto, devido aos interesses de nossa pesquisa, nas investidas bandeirantes pelas terras desconhecidas do chão a que hoje chamamos Minas Gerais.

Vasconcelos (1974) utilizou-se de uma interessante relação assinalada por Cassiano Ricardo, jornalista, poeta e ensaísta, entre o homem e o sertão. Segundo o poeta, o sertão chamava o homem, a montanha o empurrava terra adentro e o rio, por vezes, o carregava nos ombros para que o homem fosse saber o que é que o sertão queria. E o homem resolveu aceitar o desafio.

O território mineiro, antes de ser submetido a essa exploração, era habitado por povos indígenas de diferentes etnias. As pesquisas arqueológicas mais recentes consideram que a ocupação indígena remontaria a 11 ou 12 mil anos atrás, e seria conseqüência de movimentos migratórios cujo eixo originário compreendia a área entre os Andes e a floresta amazônica (BELTRÃO et al, 1988). Segundo Barreiros (1984), entre tantas etnias (estimadas entre 11 e 117, dados oscilantes devido ao fato de a região ter recebido tribos advindas do litoral), no território que pertence à região do Rio das Velhas, a presença dos índios tupi se deu em virtude da entrada dos bandeirantes nesse território. Em Minas, já se encontravam também outras tribos, como os tapuias, goiás (ou tupiniquins) e cataguases. Sabe-se, por meio de estudos e registros históricos, que os índios dessa última nação citada estabeleceram fortes laços de proximidade com os homens do sertão.

Venâncio (2007) ao discutir o processo de conquista em território brasileiro, assinala que a colonização deixou três marcas profundas relacionadas ao contato entre o homem e o indígena: a guerra contra os invasores brancos, a submissão a eles e a fuga (migração) para regiões distantes. Assim, pode-se afirmar que, no território hoje mineiro, esse mesmo processo se deu. Em outras palavras, pela combinação entre a destruição e a assimilação do mundo indígena, o sertão dos Cataguases, Guaianases ou Araxás deu lugar às Minas Gerais.

Constantemente, chegavam, a São Paulo e outras regiões, notícias, mesmo que incertas e vagas, da existência de grandes riquezas minerais localizadas ao sudoeste da Bahia. Assim, organizavam-se entradas na esperança de se encontrarem vestígios e/ou amostras de tais tesouros. Segundo Lima Júnior (1978), Américo Vespúcio, em carta datada de 1503 e destinada a Sonderini, já afirmava existir no Brasil grande abundância de ouro.

Não há dúvidas de que as dificuldades encontradas por esses primeiros exploradores fossem bastante consideráveis. Existiam as barreiras naturais, feitas pelas serras, montanhas, escarpas; o clima era quase sempre bastante úmido, devido às incessantes chuvas e à densa vegetação, e havia ainda em boa parte do território ferocíssimas tribos indígenas, com as quais muitas expedições travavam grandes embates. Entretanto, os perigos não foram capazes de frear, por meio das primeiras expedições, a busca pelas promessas de riqueza.

Dentre as incursões que primeiro adentraram os desertões que viriam a ser considerados como território mineiro está a de Francisco Bruzza de Spinozza e do padre jesuíta João de Aspilcueta Navarro, no ano de 1554. Esta expedição penetrou na região dos rios Pardo e Jequitinhonha, por caminhos de terra bastante úmida e fria, por regiões de densa mata, em que abundavam as águas. Não se pode dizer que tenha sido esta uma empreitada de sucesso, devido à dificuldade de adentrar-se o sertão, mas certamente serviu para que se formassem novas expedições, muitas malogradas, e outras bastante frutíferas, como veremos a seguir.

No ano de 1562, foi Dom Vasco Rodrigues quem se aventurou por buscar a região em que se encontravam os almejados tesouros. Entretanto, sua comitiva foi desbaratada pelos ferocíssimos índios tupinaens. Em 1568, Martim Carvalho organizou sua expedição que, durante o tempo de oito meses, coletou preciosas amostras de grãos amarelos, que podiam ser ouro, e algumas pedras verdes. Entretanto, todo esse material se perdeu no naufrágio da canoa que os transportava. Em 1573, Sebastião Fernandes Tourinho partiu de Porto Seguro e alcançou os rios Doce, Guandu e Jequitinhonha. Nessas localidades, colheu amostras de pedras azuis, esmeraldas, safiras e cristais, e por esse motivo, coube-lhe, de fato, o mérito de ser o primeiro descobridor de nosso território. À expedição de Tourinho, seguiu-se, em 1576, a de Antônio Dias Adorno, o qual realmente adentrou o sertão das esmeraldas e colheu-as em bom número, juntamente com turmalinas verdes e azuis.

Essas primeiras expedições foram de grande valia, tanto para a confirmação da presença de metais preciosos em território mineiro, quanto para a confirmação de que, devido às agruras do sertão, fazia-se necessário estabelecer explorações regulares às localidades já demarcadas, para que não se perdessem os caminhos e se retirasse das jazidas todo o proveito. Além disso, uma incursão após a outra também inflamava novos aventureiros e possibilitava a fixação dos caminhos e trilhas já abertos.

Caberia aos paulistas a exploração sistemática do território mineiro. Das expedições que se seguiram após essas primeiras, as que lograram maiores êxitos foram por eles empreendidas. Estabeleceu-se sólida organização social em Piratininga, região que vem a ser hoje pertencente a São Paulo, bem provida de víveres e condições para lutar contra os bugres. Ao mesmo tempo, outros pontos do território hoje mineiro eram ocupados por currais de gado, conforme já assinalamos e, em terras hoje baianas e capixabas, estabeleciam-se núcleos de povoamento que também contribuíram para o avanço nas Gerais.

Seguem, apontadas no mapa abaixo, as primeiras entradas e bandeiras em Minas Gerais, segundo abordagem de Vasconcellos (1944):

MAPA 03 – Mapa das entradas, caminhos e bandeiras

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