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Mestrado em Gestão das Organizações – Ramos Gestão de Unidades de Saúde 35  Alteração da eliminação, decorrentes da diminuição dos movimentos peristálticos

do intestino, associada a uma diminuição da mobilidade e em geral, podem originar obstipação. Da lesão cerebral pode também ocorrer uma ausência do controlo voluntário da micção e volume residual nulo, a bexiga passa a encher e esvaziar espontaneamente, podendo a capacidade desta manter-se ou diminuir (Leal, 2001).

 Alteração Sensoriais na sequência de danos cerebrais, que se traduzem na dificuldade na perceção do seu corpo e na posição em que este se encontra. No entanto e dependendo da região cerebral afetada, podem também surgir problemas a nível do tato, visão, audição, fala, olfato e equilíbrio. No doente com AVC, podem surgir alterações na comunicação, traduzidas na dificuldade de articulação das palavras (disartria) (Leal, 2001), quer na compreensão do significado das mesmas, quer na utilização das palavras adequadas (afasia) (OMS, 2003).

 Alterações Psicológicas e Emocionais relacionadas com o aumento da ansiedade que pode ser provocada pela nova condição de dependência em que o doente se encontra, pela alteração da imagem corporal, labilidade emocional, que é caracterizada pela alternância entre estados de boa disposição e estado de tristeza, aparentemente sem motivo. Por vezes estes doentes podem tornar-se irritáveis, desconfiados, exigentes e com períodos de depressão. Estas alterações podem ser reações à doença, no entanto podem também ser características da zona cerebral que foi afetada (OMS, 2003).

 Alterações Sociais que se prendem, em grande medida, com alterações no relacionamento entre os pacientes e a família ou a própria comunidade. (OMS, 2003). Estas alterações podem ter origem nas alterações referidas anteriormente.

Mediante as alterações que o doente apresenta, as necessidades dos cuidadores informais são diferentes, assim como as suas vivências alteram de pessoa para pessoa. É importante referir que os cuidadores apresentam determinadas necessidades, designadas por necessidades sentidas, que estes podem ou não expressar. Estas devem ser analisadas com as necessidades reais, ou seja, determinadas pelos profissionais de saúde (Imperatori & Giraldes, 1986).

Com a identificação destes dois tipos de necessidades, as ECCI devem proporcionar as respostas mais adequadas às exigências destes cuidadores, uma vez que as necessidades sentidas são do foro subjetivo e necessitam de profissionais de saúde para as descodificar, desconstruir e reconstruir numa lógica consentânea com as necessidades reais.

Assim, mediante as sequelas que cada doente apresenta e o seu impacto na prestação de cuidados, implicará diferentes necessidades no cuidador informal, uma vez que cada pessoa tem a sua individualidade, originando uma reviravolta na família que irá sofrer, inevitavelmente, a necessidade de uma reorganização.

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2.3 – Reorganização da família do doente com sequelas de AVC e o cuidador informal

Todos os indivíduos têm necessidades que conseguem satisfazer, autonomamente, de modo a obter o seu bem-estar bio-psico-social (Sequeira, 2009). Os indivíduos que sofrem um AVC necessitam de ser estimulados de modo a, por si próprios, procurar autonomia e desempenhar um papel ativo na recuperação tão breve quanto possível.

Após a ocorrência desta patologia, a pessoa, habitualmente, permanece em vigilância no hospital. O momento do regresso a casa, poderá originar uma enorme ansiedade tanto ao doente como aos familiares, uma vez que a sua funcionalidade pode sofrer alterações muito significativas. A família “ (…) tem como principal função apoiar os seus membros (…)” (Martins, 2002, p.138) mesmo quando ocorre uma situação de crise acidental “ (…) causada por algo não esperado, interno ou externo à própria família (…)” (ibidem, p.145), como o AVC, esta reorganização pode tornar-se fundamental.

O AVC constitui uma fonte de stress, não só para o indivíduo, mas também para a família. “(…) as perturbações originadas e as sequelas, mais ou menos prolongadas, implicam mudanças (…) que, inevitavelmente, geram ansiedade, necessidade de adaptação e, eventualmente, resistência” (Martins, 2002, p. 138). Apesar da família ter mecanismos internos (dentro da própria família) para se adaptar a novas situações, podendo estas originar mais ou menos stress, são os mecanismos externos, tais como os profissionais de saúde, que podem ajudar, através dos seus conhecimentos e técnicas, a potenciar as capacidades individuais de cada elemento da família e, em conjunto, lidar com uma situação de stress e se re/organizar. O grau de adaptação do cuidador informal à doença varia conforme a sua capacidade de mudança (Martins, 2002).

A forma como a dependência provocada pelo AVC vai ser vivenciada pelo doente e pelos seus familiares está relacionada com a vivência prévia à doença. A incapacidade para a realização de algumas tarefas, nomeadamente, o autocuidado e outras AVD, necessitam da presença, mais ou menos constante, de outra pessoa, levando a que, inicialmente, ocorra uma desestruturação da família sendo que, posteriormente, seja obrigada a redistribuir as tarefas, “(…) a família terá de mudar, mesmo que parcialmente, as suas actividades e rotinas” (Martins, 2002, pp. 150-151).

Sendo que, como refere Carvalho e Lopes (2010, p.13), a “(…) família constitui o elo de ligação mais importante para o doente, dado que a sua reabilitação pode ser feita em ambulatório (...)”, esta deve sentir-se preparada para a prestação de cuidados, aquando da alta. Ao existir capacidade familiar para a continuidade de cuidados, existe uma grande probabilidade de recuperação, pois esta depende do envolvimento dos familiares e do cuidador principal. O tempo de recuperação do doente após um AVC pode ser prolongado e a incapacidade resultante deste, pode gerar uma mudança complexa no quotidiano do doente e respectiva família.

O enfermeiro deve orientar e dar apoio formal, efetuando formação adequada ao cuidador, familiar ou não, aquando da alta do doente, de modo que este possa ser recebido em sua casa,

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