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Metas a serem atingidas: a teia das pactuações e das ações integradas

Com as diretrizes para a política nacional de educação em saúde na escola, foram instituídas pactuações locais, nacionais e internacionais entre setores, instituições e organizações. Programas passaram a funcionar como sinalizadores de acesso a serviços e assistência, e, a escola virou outdoor de práticas instituintes de sinalizações de “distribuição de direitos”.

Mais que metas nacionais do Ministério da Saúde, via SUS e Secretarias de Atenção Básica, do Ministério da Educação e do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão, as orientações dos programas intersetoriais têm relação direta com agendas de organismos como OMS, OPAS, UNESCO, UNICEF, UNFRA, Banco Mundial.

A promoção da saúde na escola é uma prioridade para a Organização Pan-Americana da Saúde, Oficina Regional da Organização Mundial da Saúde. A escola é um espaço privilegiado por congregar, por um período importante, crianças e adolescentes numa etapa crítica de crescimento e desenvolvimento, como também um ambiente de trabalho para professores, outros profissionais e representantes da comunidade educativa. (BRASIL, 2007a, p.35)

Com essa mesma ambição, preparamos uma apresentação da iniciativa de Escolas Promotoras de Saúde, junto ao Banco Mundial e à Opas para a 7ª Cúpula das Primeiras Damas, organizada no Panamá. A partir dessa apresentação, as primeiras damas apoiaram essa iniciativa no contexto de cada país, considerando esse apoio aos seus objetivos nacionais. Nas atividades de cooperação técnica para melhorar a saúde escolar, muitas pessoas de diversos centros colaboradores participaram e contribuíram para seu desenvolvimento e fortalecimento. A iniciativa de Escolas Promotoras de Saúde tem fortalecido as alianças entre as agências das Nações Unidas, cujas diretrizes coincidem com as ações da promoção da saúde escolar, como o Unicef, a Unesco e a Opas/OMS na Região das Américas. (BRASIL, 2007a, p.38)

As metas a serem atingidas estão articuladas pela perspectiva da intersetorialidade e por uma gestão que catalisa e integra interesses locais e macropolíticos. Compartilhar conhecimentos em saúde na escola é propor técnicas de vida saudável para os professores, é prescrever um currículo da prevenção no cotidiano escolar. Tanto as estratégias intersetoriais, quanto a formação dos profissionais na escola, são registrados como “abertura a participação e valorização” da comunidade escolar, conforme o documentoSaúde e Prevenção nas Escolas, atitude para curtir a vida:

A implementação do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas necessita articulação e apoio mútuo de diferentes setores e instâncias da sociedade [...]. Com o objetivo de fomentar a incorporação da cultura da prevenção à atuação profissional cotidiana, este guia orienta a construção de um conhecimento compartilhado na equipe pedagógica que favorece a inclusão desses conteúdos no projeto educativo. (BRASIL, 2007b, p.5) O Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) representa um marco na integração saúde-educação e privilegia a escola como espaço para a articulação das políticas voltadas para adolescentes e jovens, mediante a participação dos sujeitos desse processo: estudantes, famílias, profissionais da educação e da saúde. (BRASIL, 2007b p.5)

As formas de pactuações nacional e local se materializam em regime de colaboração entre sistemas e/ou na intersetorialidade de ações entre instituições, programas e redes de assistência. Por exemplo, entre as Diretrizes do Projeto Olhar Brasil têm-se:

- Pactuação e adesão ao Projeto Olhar Brasil pelos órgãos/entidades da educação e da saúde nas três esferas governamentais;

- Ampliação das parcerias entre escolas e unidades de saúde, instituições governamentais e instituições não-governamentais visando à integração de esforços e contribuindo para o atendimento integral do educando;

- Constituição de redes regionalizadas e descentralizadas para garantir a integração das ações de educação e de saúde [...] (BRASIL, 2008a, p.10)

Cifras de algumas metas de saúde a serem pactuadas na escola:

Quem assina: secretários municipais da saúde e da educação dos municípios:

-Após a assinatura do Termo de Compromisso, serão repassados 70% do valor total do recurso financeiro do Programa Saúde na Escola (PSE), e os 30% restantes do valor total do recurso financeiro serão pagos após o cumprimento de 70% das metas municipais pactuadas. (BRASIL, 2011, p.21)

Entre os resultados esperados:

-Educandos com sinais de obesidade ou sobrepeso identificados;

-Educandos com sinais de desnutrição identificados; -Educandos com sinais de deficiência física identificados; -Educandos identificados encaminhados para a Unidade Básica de Saúde de referência;

-Acompanhamento dos educandos encaminhados para a Unidade Básica de Saúde de referência e/ou equipe de saúde de referência. (BRASIL, 2011, p.25)

Há outras formas de pactuações na promoção da saúde chamadas de ações integradas. Estas são propostas sobre os profissionais da escola, neste caso o professor, para realizar observações mais duradouras sobre a rotina dos alunos e informar os profissionais da saúde sobre supostos problemas. Também entram na vertente de ações

integradas, as propostas de formação conjunta (cursos, oficinas) entre os profissionais da saúde e da educação.

Os professores e demais profissionais da escola podem e devem participar na detecção de certas necessidades de saúde, com o auxílio de profissionais de saúde. Já é bem conhecido esse papel na suspeição de problemas de visão, audição e de transtornos de aprendizagem. Essa função pode ser estendida a questões que exigem observação do comportamento por longo período, sobressaindo aquelas relacionadas à saúde mental [...] (BRASIL, 2009a, p.28)

Para a implementação das ações previstas no PSE, são essenciais os processos de formação inicial e continuada de profissionais das duas áreas, já previstos pelas políticas de saúde e educação. (BRASIL, 2011 p.12)

A proposta do guia é fornecer um conjunto de atividades capazes de estimular e enriquecer o trabalho educativo dos profissionais de saúde e de educação, sendo seus princípios a promoção e a prevenção de agravos à saúde. (BRASIL, 2014 p.5)

Os documentos se tornam materiais orientadores e guias para a escola se inserir no rol de escolas promotoras da saúde e o professor como profissional com status de influenciador da cultura de “condutas saudáveis”. E mais, há indicação sobre o professor como um potencial agente a ser treinado para fazer triagens iniciais de problemas orgânicos, psicossociais e encaminhar aos profissionais especialistas, conforme visto anteriormente.

Embasados nas diretrizes do Plano Nacional de Atenção Básica e na previsão de ações no Projeto Político Pedagógico da escola (BRASIL, 2009a), a promoção da saúde anuncia parcerias entre os profissionais da própria escola. É pela implicação destes que a educação básica poderá administrar estratégias comuns com o setor saúde. Há, portanto, prospecções de responsabilizações sobre a escola com expectativas da construção de uma “agenda da saúde” entre os próprios professores.

Conforme as Diretrizes para implementação do Projeto Saúde e prevenção na escola:

Uma condição intrínseca à implementação do Projeto será a inclusão de suas diretrizes e estratégias no Projeto Político Pedagógico das unidades escolares, favorecendo a incorporação ao currículo e o desenvolvimento da cultura de prevenção e

promoção à saúde, na experiência escolar cotidiana. (BRASIL, 2006, p. 15, grifo nosso)

Sobre as menções de interlocução entre ambos os setores o caderno de educação básica: saúde na escola, diz:

Uma estratégia fundamental para garantir a institucionalização e sustentabilidade das ações e projetos é o trabalho participativo com a direção e o corpo de professores, além de estimular a inserção da promoção da saúde no projeto político pedagógico da escola. Isso exige uma relação próxima entre os profissionais de saúde e da educação, para reflexão conceitual da proposta e otimização de ações no cotidiano programado pela instituição. (BRASIL, 2009a, p.18)

Retoma-se a reflexão que a proposta nos documentos sobre a promoção da saúde na escola, não se referem somente a serviços de vacinação e campanhas preventivas, mas de ações incorporadas ao processo geral de educar. E que, por meio desses enunciados são construídas práticas disparadoras de modos de governar condutas em territórios considerados em risco.

Sobre isto, é anunciado que os ministérios da Saúde e da Educação “estão trabalhando numa proposta que visa a contribuir para a transformação da prática educativa em saúde na Educação Infantil, nos Ensinos Fundamental e Médio e na Educação de Jovens e Adultos” (BRASIL, 2005, p.7). Enfim, a teia das pactuações sobre os alunos da escola pública, como dispositivo de mudança em marcadores da própria vida social, é variada e múltipla. Por ela são tecidas relações de forças de uma economia políticas instituídas pelo discurso entre ministérios, logo, entre instituições oficiais discursivas.

4.3-Condutas de risco na escola: de princípios de vida saudável a dispositivos de

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