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Entender como se dão as relações educacionais que envolvem as questões étnicorraciais no cenário escolar não é tarefa fácil, pois requer a apreensão de conceitos, que, embora não sejam novos, a sociedade ainda não se apropriou de forma satisfatória, como é o caso dos conceitos de etnia, raça e comunidades étnicorraciais. A escola e o professor, por extensão, acabam tendo que ser canais de tais conceitos, mas nem sempre

estão aptos para transmiti-los, pois, partimos do pressuposto que não há formação que prepare o professor para trabalhar em uma realidade que requer, respeito à diversidade e diferenças, aplicação de um currículo transversal, espaços e tempos de formação diferenciados e o vinculo com a realidade social e cultural das comunidades tradicionais. Por isso, tivemos como principal objetivo identificar que tipo de formação

e concepções de educação os professores possuem para sustentar sua prática docente nas áreas de quilombos do campo em Sergipe.

Percebemos que não poderíamos analisar a formação dos professores sem antes observar a realidade das escolas de tais comunidades, por isso, mapeamos as escolas dos quilombos do campo em Sergipe para obter uma visão do real, com suas contradições e características peculiares.

No primeiro momento, procuramos identificar os órgãos que têm algum registro sobre as instituições de ensino vinculadas aos grupos estudados, para que tivéssemos um parâmetro para comparar com os dados coletados nas comunidades. Obtivemos informações no Núcleo da Educação da Diversidade e Cidadania – NEDIC da Secretaria de Estado da Educação de Sergipe – SEED, no Centro Laranjeirense de Cultura e Desenvolvimento – CELACUDE e no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. No anexo 3 poderá ser observado um quadro montado a partir das informações coletadas nas instituições. Os respectivos órgãos não dispunham de informações atualizadas, seus dados mais recentes eram de 2006, e ainda assim, são incompletos, com muitas lacunas ao invés de dados. Das vinte e três comunidades que solicitaram o reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares - FCP, só 17 (dezessete) estão representadas, e mesmo assim, faltando muitas informações.

No NEDIC, setor da SEED, responsável pela educação em comunidades quilombolas, fomos informados que nem todas as comunidades têm escolas, alguns grupos precisam se deslocar ao município mais próximo quando querem estudar. Nos quilombos, o percentual de pessoas cursando o ensino fundamental é mínimo e no nível médio quase não existe e isso se repete em quase todas as comunidades, uma das causas pode ser a distância da escola. As pesquisas também não apresentam dados sobre a quantidade de crianças e adolescentes em idade escolar e onde estão estudando.

Em 2010 o MEC divulgou pela primeira vez informações sobre as escolas de quilombo em Sergipe. No site do MEC constavam apenas 24 (vinte e quatro) escolas de 13 (treze) comunidades quilombolas, das vinte e quatro existentes. Sendo que, mediante o prévio conhecimento da localização de algumas escolas, como as duas da Mussuca,

efetuei a pesquisa não mais por escola em área de comunidade quilombola, mas pelo nome da instituição, pois o site só apresentava uma delas como de área de quilombo, só assim, obtive as informações que podem ser observadas no anexo 4.

Mesmo com o auxilio do senso escolar para captação de informações sobre as escolas em áreas de comunidades tradicionais, ainda faltam muitas informações sobre as comunidades e escolas no site do MEC, algumas não estão definidas corretamente quanto à localização, número de alunos etc. Isso demonstra a dificuldade que os próprios técnicos em educação estão encontrando para mapear as escolas, há ainda muitas lacunas a preencher, mas isso também serve para mostrar a importância que tem a aquisição e exposição de informações em pesquisas como esta, que visem conhecer melhor esses grupos.

Não podemos deixar de destacar que, embora necessite aperfeiçoamento, foi muito importante a iniciativa do MEC em começar a disponibilizar tais informações, pois, obtivemos dados recentes das matriculas de 2009 nas escolas de quilombo, que possibilita-nos comparar a situação atual com a de 2006 e indicar o movimento dos alunos na escola, não faremos a comparação com todas, porque no quadro de 2006 há mais lacunas ainda do que nos dados do MEC em relação a matricula, e também porque algumas comunidades que aparecem em um quadro não constam no outro.

Podemos observar que a Mussuca/Laranjeiras tinha um total de 558 alunos das duas escolas em 2006 e em 2010, passou para 557, apenas um aluno a menos, Mucambo/Porto da Folha, tinha 258 alunos e caiu para 224 em 2010, Caraibas/Canhoba, também teve redução nas matriculas, pois tinha 296 em 2006 e passou para 242 em 2010, isso se repete nas outras escolas também, como Patioba/Japaratuba que tinha 157 alunos e passou a ter 102, um decréscimo de 55 matrículas. No gráfico abaixo podemos visualizar o decréscimo em azul nas matriculas de 2010.

Fonte: CELACUDE, NEDIC nos dados de 2006 e MEC nos dados de 2010 0 200 400 600 n ú m e ro d e m atr ic u las

Comunidades Quilombola de Sergipe

2010 2006

Embora em uma escola só tenha havido a baixa de um aluno em todas houve queda de matriculas. O que visualizamos no gráfico acima é um decréscimo de matricula nas escolas.

Também identificamos que há um número considerável de matriculas na pré- escola e um aumento nas séries iniciais e daí em diante uma queda contínua. Isso ocorre por vários fatores a serem analisados, mas acreditamos que um dos principais fatores é a falta de escolas que ofertem mais que as séries iniciais, pois isso força a população a se deslocar caso queira dar continuidade aos estudos e também desestimula a muitos que acabam optando por parar mediante a dificuldade.

Podemos observar no quadro abaixo que apenas uma escola oferta o ensino médio em comunidades quilombolas do campo, as matriculas caem de 2.125 nos anos iniciais para 1.180 nos anos finais do ensino fundamental e para 73 no ensino médio. No gráfico abaixo podemos ver em forma de percentual a queda drástica nas matriculas quando o ensino avança, mas pudemos identificar que as matriculas não ocorrem, porque também não há escolas de ensino médio disponíveis nessas áreas.

Fonte: MEC/2010

Além da falta de escolas, acreditamos que a falta de condições para permanecer estudando também afeta a queda nas matriculas, pois a necessidade de trabalhar para se sustentar, torna-se prioridade mesmo ainda criança, assim como, a baixa qualidade no ensino nesses locais, que acaba sendo um indicativo de que não adianta estudar, pois não haverá melhoria na qualidade de vida. Mediante o exposto, a educação acaba tendo um caráter excludente, pois o individuo não vê nela um meio de evolução.

63% 35%

2%