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CAPÍTULO IV ANÁLISE E COMPARAÇÃO ENTRE OS DOIS SISTEMAS DE ENSINO

2. METODOLOGIA

Como sugere Pereira (2011), num trabalho de investigação é fundamental que o investigador se apoie numa estratégia metodológica, utilizando métodos e técnicas que facilitem a recolha, análise e compreensão da informação obtida. Partindo desse pressuposto e, conforme se fez referência no capítulo I da dissertação, este estudo seguiu a metodologia do estudo comparado.

Uma vez que o intuito é investigar e confrontar as práticas organizativas e pedagógicas de dois sistemas de ensino musical distintos, entende-se que a relevância do estudo comparado reside não só nas possibilidades que ele oferece de destacar as singularidades de cada cultura (Carvalho, 2013), como também no conhecimento resultante do confronto de duas realidades aparentemente tão díspares. Como sugere Bonitatibus

(1989), sempre que tomamos a nossa própria cultura como único ponto de referência, tendemos a centrar nela todas as nossas reflexões, deixando de considerar aspetos e dimensões que apenas uma visão mais abrangente e diferenciada nos pode assegurar. Assim, o conhecimento de si mesmo, originado pelo confronto com o outro, não só alarga o nosso campo de visão, como também resulta num conhecimento mais fecundo da nossa própria realidade (idem).

Partindo desta metodologia, procedeu-se a uma pesquisa e revisão de documentos estruturantes dos dois sistemas de ensino musical com o intuito de efetuar uma discrição formal de ambos (capítulos II e III) e efetuaram-se duas entrevistas semiestruturadas como se apresenta de seguida.

2.1 A Entrevista

Anderson & Kanuka (2003) apontam a entrevista como um método de recolha de dados que permite ao investigador, através da comunicação entre indivíduos, reunir informações. Para Bogdan & Biklen (2010) este método possibilita a obtenção de elementos descritivos na linguagem do próprio sujeito, possibilitando ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como o entrevistado interpreta aspetos do mundo. Partindo desta ótica, a entrevista foi o instrumento de recolha utilizado para apurar mais informações sobre os sistemas de ensino espacializado da música dos dois países em estudo permitindo, desta forma, confirmar e aprofundar alguns pontos abordados nos capítulos II e III.

Os entrevistados foram dois professores de música oriundos de Cuba. Ambos realizaram os seus estudos musicais neste país com base numa formação fortemente influenciada pela escola musical russa, cujo modelo organizativo e pedagógico foi amplamente adotado em Cuba como já se fez referência no capítulo III. De igual modo, ambos professores exerceram funções profissionais e docentes no sistema de ensino musical deste país. Estabelecidos em Portugal há vários anos, os mesmos possuem, ainda, uma ampla experiência no sistema de ensino especializado da música português tanto no âmbito das escolas vocacionais, como das escolas profissionais, nas áreas de Instrumento - Violino e Viola d´arco e Classe de Conjunto - Orquestra (consultar notas biográficas no Anexo 1).

Optou-se por apenas entrevistar a professores cubanos por duas razões: em primeiro lugar pela experiência pedagógica de ambos nos sistemas de ensino especializado da música cubano e português podendo fornecer, com base nas suas vivências e práticas docentes nestes dois países, algumas perspetivas sobre o ensino artístico especializado e apontar pistas sobre

aspetos que podem ser melhorados ou incrementados em prol de uma formação mais completa dos futuros músicos; em segundo lugar, porque tendo a investigadora desenvolvido a sua formação maioritariamente em Portugal e hoje em dia desempenhar funções profissionais e docentes neste país, sabe-se conhecedora da realidade vivida neste subsistema na atualidade.

Posto isto, num primeiro momento a pesquisa bibliográfica foi fundamental no sentido de apurar os diferentes tipos de entrevistas e definir qual seria o mais adequado aos objetivos pretendidos. Assim, uma vez que o intuito era obter-se respostas de carácter mais livre, baseadas nas vivências e opiniões dos entrevistados optou-se, de entre os vários tipos de entrevista, pela entrevista semiestruturada. Para Manzini (2004) a entrevista semiestruturada caracteriza-se por possuir um roteiro com perguntas abertas, cuja sequência de apresentação é flexível, havendo ainda a possibilidade de poder incluir-se perguntas complementares para entender melhor o fenómeno em questão. Assim, como sugere Sousa (2009), neste tipo de entrevista há uma certa flexibilidade na medida em que o entrevistador segue uma linha de orientação mas concede alguma liberdade ao entrevistado para este desenvolver o seu raciocínio, intervindo apenas nos momentos em que há desvio do assunto principal. Costa (2012) aponta que esta constitui-se, portanto, uma técnica exploratória, permitindo assim obter informações relevantes sobre as conceções e representações das pessoas inquiridas, bem como sobre as suas práticas individuais.

Escolhido o tipo de entrevista, a construção do guião foi o próximo passo. Atendendo a algumas diretrizes básicas como a adequação da linguagem, a forma das perguntas e a sua sequência de apresentação, elaborou-se um roteiro (consultar Anexo 2) com vista a apurar algumas informações sobre o sistema de ensino musical cubano; pontos convergentes e divergentes entre o ensino especializado da música nos dois países em estudo; aspetos que poderão melhorar-se/incrementar-se no ensino da música português, entre outras que poderiam fornecer dados relevantes para o estudo. Cabe referir que, embora no guião constasse o enunciado preciso de cada pergunta, sempre se teve em conta que outras perguntas pertinentes poderiam surgir no decorrer da entrevista pois, como refere Manzini (2004, p.6), "um roteiro bem elaborado não significa que o entrevistador deva tornar-se refém das perguntas preparadas antecipadamente à coleta".

Posto isto, as entrevistas foram realizadas no presente ano em Vigo (Espanha) e em Viana do Castelo (Portugal) e o seu registo efetuou-se através da captação áudio. Escolheu-se este meio pois evita interrupções e "permite voltar a ouvir a gravação as vezes que forem necessárias a uma cuidadosa análise do seu conteúdo” (Sousa, 2009, p. 253). Posteriormente, procedeu-se à transcrição das mesmas em Word, revendo várias vezes as gravações para,

através de um discurso articulado e percetível, garantir a fidelidade do texto transcrito e as respostas recolhidas. De seguida enviou-se o texto final aos entrevistados a fim de estes confrontarem e confirmarem as informações dadas. As mesmas serão articuladas no presente capítulo, no âmbito da apresentação e discussão dos resultados.

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