• Nenhum resultado encontrado

Este estudo partiu da seguinte questão de investigação deste estudo é: “De que forma o

movimento contra a extração de gás e petróleo emergiu, e quais as suas dinâmicas? Como tal,

teve como principais objetivos: Compreender a história da emergência do movimento, e quais a variáveis que contribuíram para a sua emergência e desenvolvimento, assim como o seu modo de funcionamento e organização; perceber quais as suas estratégias de ação e mobilização; explorar as perceções dos participantes acerca das mudanças e conquistas alcançadas, e como foram atingidas; e por fim, conhecer o perfil dos atores do movimento, e as motivações para a sua participação.

Desta forma, o modelo de investigação escolhido foi o qualitativo, tendo como métodos de recolha de dados a entrevista, e em relação à sua análise utilizou-se a análise temática. A nível epistemológico a metodologia qualitativa apresenta um carácter interpretativo, que permite, através da interpretação das experiências vividas pelos participantes numa dada situação, investigar e compreender o mundo social nos ambientes naturais em que são vivenciados (Paiva et al., 2011; Bryman, 2012). Assim, no presente trabalho partimos das experiências e perceções relatadas pelos participantes entrevistados, para compreender o movimento contra a extração de gás e petróleo. A recolha foi feita através de entrevistas, o método escolhido para a elaboração desta investigação. De modo geral, as entrevistas são conversas aprofundadas e dirigidas sobre um determinado tema, tendo como objetivo, a recolha de informação específica através do entrevistado. A sua aplicabilidade varia consoante os objetivos do investigador, variando geralmente entre entrevista aberta, semiestruturada ou estruturada. Assim, o que efetivamente distingue as duas primeiras tipologias de entrevista é, essencialmente, o grau de determinação prévia das perguntas, sendo que em ambas o entrevistado pode organizar livremente o seu discurso (Almeida, 1995). Neste estudo recorreu- se à entrevista semiestruturada (Bryman, 2012), para compreender o ponto de vista do entrevistado, seguindo um guião de base, que se encontra em anexo (ver anexo A).

2.1- Participantes

A presente investigação teve como método de recolha de dados a entrevista semiestruturada, tendo sido realizadas 12 entrevistas presenciais, com ativistas que estiveram envolvidos no movimento contra a extração de gás e petróleo em Portugal. Os elementos entrevistados fazem parte de grupos, tais como: Almargem, Climáximo, Glocal-Faro, Linha

24

Vermelha, Movimento do Centro contra Exploração de Gás, PALP – Plataforma Algarve Livre de Petróleo, Sciaena, SOS Salvem o Surf, Tavira em Transição e Zero.

De forma a contextualizar o envolvimento dos atores entrevistados no movimento, é importante perceber em que consiste os grupos dos quais estes fazem parte. No caso da Almargem (Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve), esta é uma associação sem fins lucrativos, que como o nome indica, tem como objetivos estudar, divulgar e proteger o património natural, histórico e cultural do Algarve, tendo sido fundada na cidade de Loulé (Almargem, 2019). A Climáximo é um grupo de ativistas unido pela urgência da luta contra as alterações climáticas, e que as associa aos direitos humanos e à distribuição de riqueza e poder no mundo, considerando soluções como o “capitalismo verde” ineficazes (Climáximo, 2019). A Glocal-Faro, apresenta-se como um movimento de cidadãos, que procura melhorar a qualidade de vida dos locais, através da resolução de problemas globais que abrangem questões como as ambientais e sociais (Glocal-Faro, 2019). A campanha Linha Vermelha é organizada pela Academia Cidadã e pelo Climáximo, e reúne pessoas que se mostram preocupadas com a falta de nitidez e envolvimento dos cidadãos nas negociações dos contratos de prospeção e extração de gás e petróleo em Portugal, convidando as pessoas a tecer a maior linha vermelha do mundo e numa tentativa de sensibilização para o problema (Linha Vermelha, 2019). O Movimento do Centro contra Exploração de Gás, é uma plataforma constituída por cidadãos, organizações e movimentos com o objetivo de travar os furos de prospeção previstos nas concessões da Batalha e Pombal (Movimento do Centro contra Exploração de Gás, 2019). A PALP (Plataforma Algarve Livre de Petróleo), é um movimento criado por um conjunto de cidadãos e entidades, que abrange alguns dos grupos referidos, que tem como principal intuito defender um Algarve Sustentável das ameaças da exploração de petróleo na região, alertando a população para os seus riscos e incentivando um debate público acerca do tema (PALP, 2019). A Sciaena, é uma organização sem fins lucrativos, com dimensão nacional e internacional, que tem como principais objetivos defender um ambiente marinho saudável e contribuir para que a população seja informada e ativa na sua conservação (Sciaena, 2019). O SOS Salvem o Surf, é um movimento que se define como não radical e de elevado nível técnico, que tem como foco a resolução de problemas que possam de qualquer modo estar relacionados com a atividade do Surf (SOS Salvem o Surf, 2019). Tavira em Transição é também um movimento, mas comunitário, que reúne cidadãos ativos que seguem princípios pacifistas e ecologistas, com o intuito de promover uma transição para um futuro sustentável (Tavira em Transição, 2019). Por fim, temos a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que é uma associação sem fins lucrativos, que se debruça sobre a questões ambientais a nível nacional (Zero, 2019).

25

Assim, como vimos pelos perfis destes grupos, o movimento é constituído por coletivos com características diferenciadas, quer no seu objetivo ou organização e constituição, que variam entre grupos mais focados em questões locais, e outros mais nacionais ou globais, variando também na sua dimensão. Em relação aos ativistas entrevistados, 7 destes são do sexo masculino e 5 do sexo feminino, e apresentam idades entre os 28 e os 72 anos, sendo que apenas 2 dos participantes não frequentaram o ensino superior. Na altura das entrevistas, somente 2 destes não estavam a residir na região da Grande Lisboa, e só 1 dos entrevistados não tinha nacionalidade portuguesa.

Quadro 1 – Características dos Entrevistados

2.2- Recrutamento e recolha de dados

O recrutamento dos participantes foi realizado através do método bola de neve, sendo o primeiro contacto estabelecido via email. As entrevistas decorreram entre janeiro e maio de 2019. A duração das entrevistas teve uma média de cerca de 1 hora e 46 minutos, e os locais escolhidos para as mesmas variaram segundo a disponibilidade dos participantes, sendo que algumas foram em espaços públicos, outras em salas do ISCTE-IUL, outras em casa dos participantes. A todos foi solicitado a gravação áudio das entrevistas, que aceitaram, para efeitos de registo e a posterior análise.

Foi construído um guião para orientar o diálogo entre a entrevistadora e os participantes (ver anexo A). Para a construção do guião utilizado, foram tidos em conta os objetivos pré- definidos para esta pesquisa e a revisão da literatura. Assim, este fixou-se em 5 principais tópicos: o envolvimento e participação no movimento/grupo; a emergência e desenvolvimento do movimento/grupo; as práticas de organização; as práticas de ação e comunicação; e a

0 2 4 6 8 10 12 M asc u li n o F em in in o En si n o S ec u n d ário En si n o S u p erio r Gra n d e Li sb o a F o ra d e Li sb o a P o rtu g u esa Nã o p o rtu g u esa

26

importância e relevância do tema. No entanto, as entrevistas decorreram de forma bastante dinâmica, sendo a sua ordem de aplicabilidade das questões variou consoante o rumo do discurso do entrevistado. Todas entrevistas foram transcritas de forma integral.

2.3- Análise temática das entrevistas

A fim de realizar a análise das entrevistas, foi utilizado o método de análise temática, seguindo uma abordagem dedutiva e indutiva na definição das categorias e temas (Braun & Clarke, 2006). A análise temática é um método fundamental nas abordagens qualitativas, que tem vindo a ser muito utilizada pelos pesquisadores. Este método é utilizado para analisar e identificar padrões e temas a partir dos dados, visando facilitar a organização e estruturação dos dados recolhidos. Este tipo de análise permite sistematizar os dados recolhidos, de forma a identificar os temas relevantes (Attride-Stirling, 2001; Braun & Clarke, 2006; Boyatzis, 1998).

O processo de transcrição permitiu uma maior familiarização com os dados, sendo que numa fase inicial, à medida que os dados foram sendo percorridos, foi sendo gerada uma lista de ideias e o que poderia ser interessante abordar e desenvolver. Assim, foi feita uma codificação inicial, e uma organização em grupos significativos (Tickets, 2005). Os temas foram constituídos com base nos dados, “bottom up” (Braun & Clarke, 2006), tendo o objetivo de codificar o conteúdo de todo o conjunto de dados, dando atenção igual a cada item de dados, identificado padrões repetidos e relevantes nos itens que pudessem vir a formar temas. A codificação foi feita com recurso do software NVIVO, onde foi sendo construído um esquema de categorias organizadas e agrupadas, à medida os dados emergiam, se repetiam e eram articulados.

Na fase seguinte, o material das entrevistas já codificado foi agrupado com base numa potencial relação, e transformados em possíveis temas, ou seja, tentou-se perceber como diferentes categorias podiam ser combinadas de modo a formar temas abrangente. Nesta fase tentou-se, então, perceber quais poderiam ser os grandes temas, assim como os seus subtemas. Posteriormente, houve um refinamento dos temas determinados até então. Ou seja, tentou-se perceber se existiam dados suficientes para justificar a sua existência, se a sua relação fazia sentido, se não se verificavam repetições, e por fim, se podem ainda surgir outros temas a partir dos existentes. Quando, finalmente, se considerou que os temas abrangiam os dados mais importantes a retirar, procurou-se ordená-los numa narrativa coerente e integrada.

27

Documentos relacionados