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Capítulo II – Estágio no El Corte Inglés

2.5 Aprender a ser Formadora no El Corte Inglés

2.5.1 Metodologia

No decorrer do estágio, mas mais significativamente aquando da redação do enquadramento teórico do presente relatório, fui fazendo leituras sobre o campo da formação profissional o que me permitiu conceber uma ideia do que seria um formador numa empresa. Entre o formador concebido à luz das várias teorias e o formador em ação no El Corte Inglés existem diferenças substanciais. Diferenças das quais me fui apercebendo e as quais pretendi contrapor para o relatório que trago.

Para chegar às conclusões que apresento, baseei-me na minha condição de observadora. Através das observações que efetuei, seja no decorrer das sessões de formação, seja nos “bastidores” aquando da preparação dessas mesmas sessões, pude fazer a análise aqui apresentada. O fruto das observações era depois passado para as notas de campo (ver Anexo 1 – Notas de campo). Das notas de campo também fazem parte outras fontes de informação, como conversas informais com as formadoras ou outros elementos de outros departamentos e as discussões das reuniões, mesmo daquelas nas quais eu não participava ativamente. Neste ponto descrevo a metodologia à qual recorri: a observação e as notas de campo.

 Observação

Como mencionei em pontos anteriores, ingressei num estágio fortemente orientado para a dinamização de sessões de formação, pelo que fui desde cedo “preparada” para tal. A preparação consistiu, além da facultação de documentos auxiliares às ações e de conteúdos programáticos, na observação das formadoras do departamento a dinamizar as ações de formação. Seria através da observação dos métodos e técnicas por elas utilizadas que eu aprenderia, mais tarde, a dinamizar uma sessão de forma autónoma.

Sendo, portanto, o principal objetivo do estágio o de assegurar sessões de formação, o meu principal objetivo tornou-se, num primeiro momento, aprender a fazê-lo. Nesta linha, para me tornar uma formadora e intervir de forma fundamentada tive que saber observar e problematizar a realidade (Estrela, 1984) de formação no El Corte Inglés.

O primeiro contacto que tive com a formação no El Corte Inglés foi imediato à minha entrada na empresa; fui colocada num grupo de vendedores e assisti na íntegra à mesma formação que os demais assistiram. Desde aí, mesmo assumindo um papel de formanda, fui identificada como estagiária do Departamento de Formação e que estava ali a assistir para, mais tarde, assumir a função de formadora. Sem dúvida, adotei a condição de observadora participante, uma vez que participei na “vida” do objeto estudado (Estrela, 1984, p. 32). De acordo com este método de observação, o observador desempenha um papel bem definido no grupo ou elemento objeto de observação. Este papel é percebido distintamente pelo grupo ou elemento conforme a função de observação seja ou não conhecida (Estrela, 1984).

A observação participante é realizada em contacto direto, frequente e prolongado com os restantes atores. Os seus objetivos vão além da mera descrição dos componentes de uma situação, permitindo a identificação do sentido, a orientação e a dinâmica de cada momento (Spradley, 1980).

Nesta senda, mantive-me atenta a todo e qualquer comportamento da formadora, dentro e fora da sala de formação. Aliás, as formadoras tinham outras responsabilidades inerentes à formação (responsabilidades que eu própria assumi quando tomei a meu cargo as ações) junto a outros funcionários de outros departamentos e eu acompanhava-as nessas obrigações de modo a ficar a par das mesmas e perceber o procedimento correto. Simultaneamente ao acompanhamento, por vezes até assistência, eu questionava o funcionamento do departamento e até a conduta da formadora perante determinada situação. Portanto, faziam parte das minhas notas: questões, ilações, descrições de posturas e atitudes e dinâmicas e relações que estivessem envolvidas direta ou indiretamente com a formadora a acompanhar. De facto, este tipo de observação permite e facilita toda esta perspetiva, ele permite a

familiarizar-se com o seu papel e compreender os diferentes tipos de participação possíveis e se comprometa com diferentes níveis de envolvimento - baixo ou alto envolvimento, participação baixa, alta ou nula que pode progredir de passiva a ativa (Spradley, 1980).

A observação participante parte de uma fase mais descritiva a início na qual o observador procura obter uma perspetiva geral, para uma observação mais focalizada em determinadas situações e/ou acontecimentos (Spradley, 1980). No caso específico do estágio do El Corte Inglés, comecei por descrever a situação num sentido mais lato, o que evoluiu para uma descrição mais focada na atitude e comportamento da formadora, pois estaria a assumir aquele papel algum tempo depois. Muitas vezes descrevi ao grupo de formação, mas no sentido de recolher a reação a determinado comportamento da formadora. No decorrer das ações acabei por “afunilar” a minha perspetiva apenas para os comportamentos das formadoras, os quais comparava face a diferentes situações (ver Anexo 1 – Notas de campo). Com efeito, a observação que realizei das formadoras do El Corte Inglés, para além de participante, foi participada, na medida em que na condição de observadora participei na atividade do observado, porém sem deixar de representar o meu papel de observadora. Este tipo de observação está muito orientada para o estudo de fenómenos ou situações específicas, nas quais o observado é o centro da observação (Estrela, 1984).

A observação que realizei foi, sem dúvida, de carácter participante, como tem vindo a ser referido ao longo deste ponto, no entanto, houve aspetos que fugiram um pouco a esta perspetiva, nomeadamente, a nível da estrutura. A técnica da observação participante, por vezes, requer a reunião de critérios prévios, um plano sistemático, a validação e controlo (Spradley, 1980). Estes aspetos, contudo, foram um pouco descurados durante as minhas observações, pois as minhas intenções foram sempre sendo alteradas, no sentido em que o objetivo primordial das observações era, sem dúvida, aprender seguindo os passos das formadoras mais experientes. Só após profunda deliberação é que decidi fazer dessas observações a base para um breve projeto de investigação.

 Notas de campo

A observação visa examinar um ambiente através de um esquema geral para nos orientar e o produto dessa observação é registado em notas de campo. Tal procedimento é de tamanha importância, uma vez que permite comparar o que se diz com o que se fez. Assim, a análise a qual me propus apresentar no presente relatório, mais propriamente para o presente ponto, passou por uma breve pesquisa no terreno e, como tal, requereu uma colheita de dados. Ora, se para a recolha de informação utilizei a técnica da observação participante, para a análise da mesma elaborei notas de campo que se traduzem no registo e reportagem dos dados

recolhidos (Burgess, 2001). Para este efeito, Mills (1959, cit. in Burgess, 2001) aconselha que os investigadores “deveriam manter um diário no qual (…) se tentará associar aquilo que se está a fazer intelectualmente com a própria experiência pessoal” (p. 181), tornando-se este num arquivo de ideias sobre o qual o investigador poderia trabalhar. Os registos, ou diário, devem ser regularmente escritos e conter elementos relativos à data, hora, pessoal e instalações em que as notas foram feitas e, além disso, devem tomar-se notas dos interesses do investigador e das suas metodologias para que mais tarde possa ser reconstituído o seu envolvimento (Burgess, 2001). Neste sentido, pode optar-se por vários tipos de notas de campo que irão ao encontro das necessidades do investigador. Burgess (2001) refere três tipos: notas de campo substantivas, metodológicas e analíticas.

Para o estágio no Departamento de Formação no El Corte Inglés produzi notas de campo que talvez sejam uma fusão dos tipos substantivo e metodológico. Ora vejamos. As notas de campo substantivas consistem “num registo contínuo de situações, acontecimentos e conversas nas quais o investigador participa (…) [e] são registadas sistematicamente usando secções e categorias pré-estabelecidas para acontecimentos e situações particulares” (Burgess, 2001, p. 182). Seguindo esta aceção de notas de campo, as mesmas seriam ideais para a minha observação visto que eu era, sem dúvida, uma observadora participante e estava em constante contacto com a realidade que pretendia estudar, o que permitia o registo contínuo. No entanto, como mencionei no ponto anterior, as minhas intenções e objetivos em relação ao estágio não foram pensados e estipulados de início, pelo que não criei previamente secções e/ou categorias para as anotações que registava. Neste sentido, as notas de campo substantivas não se adequavam totalmente ao meu propósito, embora talvez tivessem facilitado em grande parte o trabalho que se seguiu, nomeadamente, a redação do relatório. Por outro lado, as notas de campo metodológicas adequaram-se um pouco melhor aos meus objetivos pois consistem em

reflexões pessoais sobre a minha atividade de campo. Algumas delas abordam problemas, impressões, sentimentos e intuições, bem como alguns dos processos e procedimentos associados com a pesquisa de terreno. O objetivo principal destas notas é a reflexão (Burgess, 2001, p. 190).

De facto, as notas de campo que produzi dedicavam-se muito, além do registo de comportamento das formadoras, ao papel que desempenhava e na forma como este era visto pelas próprias formadoras e, ainda, pela chefia do departamento, entre outros (ver Anexo 1 – Notas de campo).

A elaboração de notas de campo metodológicas permite ao seu autor ser reflexivo e incentiva a autoanálise (Burgess, 2001) durante o processo, neste caso, de observação, daí que tenha

Resumindo, apesar de ter elaborado um registo contínuo da minha atividade no departamento, esse registo não foi, de todo categorizado, mas não deixou de conter detalhes de todo o estágio e contados na primeira pessoa, o que envolve emoções, sentimentos e opiniões.