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PARTE II – CONCEPTUALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO

4.2. Metodologia

Segundo de Ketele e Roegiers (1999), a recolha de informações define-se como:

o processo organizado posto em prática para obter informações junto de múltiplas fontes, com o fim de passar de um nível de conhecimento para outro nível de conhecimento ou de representação de uma dada situação, no quadro de uma acção deliberada cujos objectivos foram claramente definidos e que dá garantias de validade suficientes (p. 17). Nesse sentido, sublinha-se a importância da pesquisa bibliográfica, constituindo a mesma uma etapa fundamental, tanto do processo de investigação no geral, como do processo de preparação metodológica e a premissa de que o/a investigador/a não deve basear a sua opção metodológica na decisão de fazer parte de um ou de outro paradigma ou metodologia, mas sim na problemática em estudo e

55 nos objetivos definidos, sendo inclusive mais importante que essa opção, a adoção de uma estratégia flexível, não só no que diz respeito a dita problemática, mas também ao próprio processo de investigação (C. Coutinho, 2011).

Seguindo ditos princípios, sublinha-se, antes de mais, que o desenho inicial da presente investigação assumia uma natureza mista, ou seja, a estratégia de recolha de informações incluía uma fase quantitativa que foi implementada, sendo o seu objetivo a obtenção de dados mais extensivos e gerais acerca dos fenómenos em estudo e da relação entre os mesmos e uma fase complementar qualitativa, cuja função seria a de aprofundar e completar os conhecimentos gerados na fase quantitativa anterior, partindo do ponto de vista dos/as participantes e da interpretação atribuída pelos/as mesmos/as aos resultados obtidos através da mesma.

Assim, após a análise dos resultados gerados na fase quantitativa, foi enviado um e-mail a todos/as os/as participantes da mesma, no sentido de convidá-los/as a colaborar numa entrevista focalizada, onde se pretendia essencialmente conhecer a opinião destes/as acerca de ditos resultados e criar um espaço de discussão sobre as temáticas em estudo. Foi também enviado um e-mail a alguns/mas professores/as pedindo a sua colaboração no sentido de sensibilizar os/as estudantes das licenciaturas onde lecionavam para a importância de participar na iniciativa proposta.

A entrevista focalizada foi agendada para o dia 3 de outubro de 2018 e efetuou- se a preparação de diversos documentos de apoio à mesma, nomeadamente um guia de entrevista (cf. Anexo G), um protocolo escrito de consentimento informado, uma apresentação em formato power point e um documento escrito para entregar a cada participante, estes últimos contendo os dados principais sobre a investigação e a descrição dos resultados a debater (informação que surge exposta no guia de entrevista). No entanto, apesar de todos os esforços implementados, nenhum/a estudante compareceu, não sendo possível a realização da entrevista focalizada. Como tal, respeitando o direito à não participação, deu-se por concluído o processo de recolha de dados.

Assim, tendo em conta os fatos apresentados, o presente estudo assume uma perspetiva quantitativa, na qual, segundo C. Coutinho (2011), a recolha dos dados se realiza, normalmente, através da aplicação de testes estandardizados válidos, neste caso escalas de medida, sendo a análise desses dados efetuada mediante o uso de técnicas estatísticas. Por outras palavras, a recolha de dados realizou-se com recurso à aplicação de um questionário (cf. Anexo H), que possibilitou a obtenção extensiva e

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rigorosa de informação necessária à concretização dos objetivos da investigação, tendo em conta não só o facto de existir pouco conhecimento disponível acerca da relação entre as conceções e atitudes sobre o amor e as atitudes acerca da violência no namoro, como também a notória complexidade dos referidos conceitos. Dito questionário apresentava-se dividido em três partes, a primeira dedicada à caraterização sociodemográfica e contextual dos/as participantes e as duas últimas constituídas pela “Escala de atitudes em relação ao amor” (Neto, 1992) e pela “Escala de atitudes acerca da violência no namoro” (Saavedra, Machado & Martins, 2017), cujas questões se apresentam de forma fechada.

Como tal, o presente estudo é, relativamente ao método, de tipo inquérito, sendo este explicativo porque além de descrever tem como objetivo averiguar a existência de relações entre as variáveis em estudo e transversal porque a recolha de dados se realizou apenas num dado momento (cf. C. Coutinho, 2011).

Como refere Landsheer (citado por C. Coutinho, 2011), o inquérito constitui o plano de investigação, possivelmente, mais usado no que respeita à investigação social, tendo sido a sua contribuição, neste sentido, decisiva. Este permite igualmente que se possa repetir um mesmo processo, através do conhecimento das regras utilizadas (cf. C. Coutinho, 2011). Nesse sentido, importa referir aqui alguns aspetos a ter especialmente em conta numa investigação de tipo inquérito, sendo estes: a) atender às conclusões do estudo, tendo em conta que estas se devem limitar apenas a descrever, b) confirmar se a descrição da amostra e do instrumento é suficientemente precisa c) e verificar se a amostra é de conveniência ou representativa de determinada população (C. Coutinho, 2011).

Já o questionário surge exposto por Ghiglione e Matalon (1993) como um instrumento rigidamente estandardizado no que diz respeito tanto à redação como à ordem das perguntas colocadas. Assim, de entre os objetivos atribuídos pelos autores ao método do questionário, salienta-se o de “verificar hipóteses sob a forma de relações entre duas ou mais variáveis” (p. 117), por ser aquele que vai ao encontro do presente estudo, considerado pelos mesmos como o propósito geralmente com maior relevância, pelo menos no âmbito da sociologia. Por outro lado, de Ketele e Roegiers (1999) mencionam a relevância de compreender com clareza o objetivo que se pretende alcançar e qual o tipo de dados a recolher, quando se opta por utilizar um questionário. Dessa forma, a presente investigação levou em consideração os critérios de bom uso de um questionário expostos pelos autores, nomeadamente, (i) a

57 existência e relevância de objetivos e hipóteses definidos a priori, (ii) a validade das questões colocadas (iii) e a fiabilidade dos resultados obtidos.

Sublinha-se que, no caso dos estudos de cariz quantitativo, o rigor da pesquisa é alcançado na procura da validade interna e externa, da fiabilidade e da objetividade da mesma, ainda que as perspetivas pós-modernas considerem a impossibilidade de se atingir a objetividade numa investigação, tendo em conta a multidimensionalidade que cada realidade estudada apresenta (C. Coutinho, 2011).

Alguns/mas autores/as referem, ainda, a existência de estratégias de verificação que permitem o cumprimento dos critérios acima mencionados. C. Coutinho (2011) define verificação como o processo de avaliar, confirmar e certificar, sendo os mecanismos, usados nesse sentido, aplicados em cada etapa da pesquisa, de forma a asseverar o rigor da mesma a partir da possibilidade de identificação e correção de falhas antes que as mesmas possam influenciar o estudo. Dessa forma, segundo a autora, as estratégias de verificação seriam (i) uma correta articulação entre o processo metodológico e a questão de investigação (coerência metodológica), (ii) uma amostra constituída pelos/as participantes/as que detêm um maior conhecimento sobre a temática que é analisada ou que melhor a representam (adequação da amostragem teórica), (iii) a recolha, análise e confronto dos dados (processo interativo de recolha e análise de dados), (iv) a indução a partir dos dados à medida que estes surgem, confrontando-os continuamente (pensar de forma teórica) (v) e avançar sensatamente desde uma perspetiva micro dos dados até uma compreensão conceptual de tipo macro (desenvolvimento da teoria).

Guba e Lincoln (citado por C. Coutinho, 2011), sugerem também algumas estratégias que podem ser usadas no sentido de alcançar ditos requisitos, das quais se destacam duas como as mais pertinentes para o presente estudo, sendo estas a) a revisão de pares, tendo em conta que todo o processo de investigação foi seguido e revisto por uma orientadora e uma coorientadora b) e a triangulação, que significa combinar distintos pontos de vista numa investigação, neste caso, a triangulação das abordagens teóricas (cf. C. Coutinho, 2011). Como refere C. Coutinho (2011), através desta última estratégia, o resultado final obtido poderá representar de forma mais fidedigna a realidade ou promover uma maior compreensão dos fenómenos em estudo.

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Ainda assim, apesar de todos os cuidados metodológicos que se possam ter, a validade das questões de opinião4 nunca poderá ser realmente assegurada, pois nada garante que essa seja uma opinião real (Ghiglione & Matalon, 1993). Contudo, Ghiglione e Matalon (1993) referem que apesar de ditas respostas parecerem instáveis e sensíveis a todos os fatores influentes, estas representam na verdade a instabilidade da opinião em si, que na sua essência constitui por si só um dado mutável. Como tal, mais do que eliminar os enviesamentos mencionados, sublinha-se a importância de tomar consciência da sua existência e de controlá-los. Ainda assim, importa aqui referir que, considerando que o presente estudo aborda uma temática algo discutida e mencionada, é possível a existência previa de uma ideia consensual acerca da mesma por parte dos/as inquiridos/as.

Por fim, importa salientar que todo o processo de estudo foi cuidadosamente planeado e operacionalizado de forma a cumprir rigorosamente os princípios éticos e deontológicos aplicados à investigação e para que fossem, igualmente, cumpridas as etapas do método científico de forma a promover a validade e fiabilidade da investigação.

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