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Como explicado na introdução, a presente pesquisa faz parte de um estudo de caso, no âmbito da abordagem etnográfica por compreender a necessidade de vivenciar o cotidiano do campo, por possibilitar um melhor entendimento e organização dos dados coletados.

Fizemos uma pesquisa de campo com professores que fazem parte do Programa de Formação Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil – PROINFANTIL. Durante a pesquisa, tentamos compreender fatos educacionais ligados aos processos de aprendizagem dos professores cursistas desse Programa, bem como as relações de interação desses professores com as crianças.

Acreditamos que essas análises podem nos auxiliar na compreensão da construção da identidade profissional dos professores de Educação Infantil, bem como dos saberes iminentes nas práticas pedagógicas dos mesmos.

Por se tratar de uma pesquisa de cunho etnográfico, houve uma necessidade de aproximação, autoria e envolvimento com o campo e, desse momento em diante da pesquisa, pedirei licença para tratar os dados na primeira pessoa.

Encontro-me nesse momento, motivada para descrever e, tentar fazer uma análise do que encontrei nesses dois anos de aproximação com a formação de professores na área de Educação Infantil. Sinto, que muito ainda irá ficar sem que meus olhos e ouvidos possam ter percebido, contudo, esse estudo está baseado em uma busca sistemática de fundamentação da realidade através de teorias por mim, escolhidas e orientadas, durante o desenvolvimento da pesquisa.

Tentei, a todo momento de observações e entrevistas, compreender a complexidade de interações existentes dentro dos ambientes escolares, entre professores, funcionários, instituições, pais e crianças. Não obstante, compreendo que a complexidade dessas interações não está respondida no meu diário de campo, nem estará respondida nesta dissertação. Conforme

Geertz, descreverei densamente minha compreensão sobre as singularidades das ações humanas em uma investigação científica educacional.

Me propus a compreender aspectos do cotidiano dos professores de Educação Infantil, bem como, as diferentes maneiras com que os cursos de formação de professores conseguem auxiliar os mesmos em busca do autoconhecimento e de conhecimentos relacionados a aspectos do cotidiano pedagógico.

Desse modo, recomendações de André (1998) foram importantes para que não deixasse de lado, dimensões institucionais, organizacionais, educativas, pedagógicas, sociais, políticas e culturais da dinâmica educacional. Confesso que, diante do movimento da escrita e do desejo de aproximação com o campo, a minha compreensão possa ter sido participante do diálogo que se deu com os sujeitos da pesquisa. Contudo, me acalenta o fato de Fiorin (2008) afirmar que

Compreender é participar de um diálogo com o texto, mas também com seu destinatário, uma vez que a compreensão não se dá sem que entremos numa situação de comunicação, e ainda com outros textos sobre a questão. [...] Ao mesmo tempo, como o leitor participa desse diálogo mobilizando aquilo que leu e dando a todo esse material uma resposta ativa, sua leitura é singular.

(Fiorin, 2008. p. 6) A minha leitura desse campo e dos sujeitos da pesquisa compreende dimensões de responsabilidade inspirada na dialogia Bakhtiniana. Desse modo, entendo que o mais importante são as construções que consegui fazer durante o meu caminhar e, que, representam a fotografia das minhas reflexões. Fiorin (2008) apud Bakhtin (1988: 88) descreve que

A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico que chegou com a primeira palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado, somente essa Adão podia realmente evitar por completo essa mútua orientação dialógica do discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico, isso não é possível: só em certa medida e convencionalmente é que pode dela se afastar.

As observações e entrevistas realizadas não condizem com o percurso e o caminho metodológico proposto inicialmente para o desenvolvimento da pesquisa. Muitas dificuldades foram encontradas no caminho, mas acredito que não diminuem a riqueza das reflexões que aqui serão levantadas. Muito pelo contrário, esses momentos foram importantes para que pudéssemos perceber a subjetividade dos planejamentos no momento em que nos propomos a pesquisar o ser humano ou algo relacionado a ele.

No primeiro momento planejamos fazer entrevistas e visitar as práticas pedagógicas de todos os cursistas do PROINFANTIL que estavam atuando em creches com crianças de 0 a 3 anos, e com seus respectivos tutores e coordenadores do município. Alguns participantes da pesquisa não se sentiram à vontade para colaborar e, alguns outros não quiseram fazer entrevistas. Portanto, conseguimos observar as práticas pedagógicas de cinco professores, fizemos entrevistas com um tutor, um coordenador e três professores.

O levantamento dos dados foi feito em diferentes cidades do Estado da Bahia e suas respectivas transcrições (ver anexo) foram feitas exatamente com as mesmas palavras das conversas. Todas as visitas foram feitas com o consentimento do professor e da coordenadora da instituição e com o intuito de ter um ponto de partida para a análise de situações reais que ocorrem em ambientes educacionais com crianças de 0 a 3 anos. Assim, irei elencar situações do cotidiano recorrentes nos espaços visitados para que possivelmente possa analisá-las a partir de teorias educacionais.

Tomei o cuidado de fazer filmagens, tirar fotos, gravar entrevistas e relatar as experiências. Desse modo, procuro elencar elementos que vão além das palavras verbalizadas, mas que aparecem nos comportamentos, nas posturas, no silêncio, enfim, em todos os momentos da atuação profissional do professor que forma e ao mesmo tempo está em processo de formação.

Desse modo, os levantamentos dos dados ficaram assim distribuídos: a) Observação de prática pedagógica e entrevista com uma cursista do

município de Piraí do Norte que faz parte da Agência Formadora de Gandu. Nesse mesmo município fizemos entrevista com uma coordenadora e com um tutor;

b) Observação da prática pedagógica e entrevista com uma cursista do município de Barreiras.

c) Observação da prática pedagógica de duas cursistas e entrevista com uma cursista do município de Luís Eduardo Magalhães que faz parte da Agência Formadora de Barreiras.

d) Observação de uma prática pedagógica no município de Camacan que faz parte da Agência Formadora de Gandu.

4.2 O professor de Educação Infantil e sua relação com o diálogo