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Os métodos de investigação referem-se à estratégia que o investigador utiliza por forma a realizar a sua pesquisa empírica. De acordo com Almeida e Pinto (1995), a metodologia consiste na “(…) organização crítica das práticas de investigação.” (p. 92). Os métodos incidem sobre as operações da pesquisa, relacionando-se com as práticas de investigação: “(…) eles são as próprias práticas críticas de investigação.

Representam um certo nível de controlo interno e formal sobre as pesquisas à medida que estas se desenrolam.” (Almeida e Pinto, 1995: 93).

3.1 Método e Procedimentos

A opção pelo método de investigação relaciona-se, por um lado, com a teoria, e, por outro, com os objectivos que se pretende atingir num determinado estudo: “Os

métodos de investigação harmonizam-se com os diferentes fundamentos filosóficos que suportam as preocupações e as orientações de uma investigação.” (Fortin, Côté e

Vissandjée, 1999: 22). A extensa literatura e a existência de numerosos estudos sobre a cultura de segurança na área da saúde, não existindo zonas de disponibilidade heurística, conduziram à selecção do método de investigação extensivo ou quantitativo, o que consiste numa vantagem relativamente aos objectivos propostos.

Na revisão da literatura, são vários os autores que definem o método de investigação quantitativo, optou-se por fazer referência à definição de Greenwood porque, de acordo com Almeida e Pinto (1990), dá especial enfoque ao campo de

incidência da metodologia. Para Greenwood, este método traduz-se na “(…) observação, por meio de perguntas directas ou indirectas, de populações relativamente vastas de unidades colocadas em situações reais, a fim de obter respostas susceptíveis de serem manejadas mediante uma análise quantitativa (…)” (Greenwood cit. por

Almeida e Pinto, 1990: 87).

O presente estudo é de carácter quantitativo, transversal, do tipo descritivo e correlacional, uma vez que se pretende descrever os fenómenos e a relação entre as variáveis em estudo, sem recorrer à sua manipulação.

3.2 Técnica de Recolha de Dados

As técnicas de investigação consistem em formas de recolha de dados que serão analisados para a realização do estudo, sendo definidas como “(…) conjuntos de

43 procedimentos bem definidos e transmissíveis, destinados a produzir certos resultados na recolha e tratamento da informação requerida pela actividade de pesquisa.”

(Almeida e Pinto, 1995: 85). É a partir da teoria que o investigador opta pelos métodos e técnicas a utilizar no seu estudo, tendo em vista a obtenção de conhecimentos. (Almeida e Pinto, 1990). No entanto, a decisão relativa à técnica de colheita de dados a utilizar depende do método escolhido, uma vez que, as técnicas estão subordinadas aos métodos: “Compete, assim, aos métodos organizar criticamente as práticas de

investigação, sendo o seu campo de incidência constituído pelas operações propriamente técnicas, das quais portanto se distinguem.” (Almeida e Pinto, 1990: 80).

De acordo com o referido e, dentro das técnicas passíveis de serem utilizadas através do método extensivo ou quantitativo, optou-se pelo inquérito por questionário

desenvolvido pela AHRQ (disponível em

http://www.ahrq.gov/qual/patientsafetyculture/hospscanform.pdf) por se constituir num instrumento de medida previamente testado em variadas amostras, com elevado índice de fiabilidade interna e útil para os objectivos propostos. Ao instrumento de recolha de dados referido foi removida a primeira questão da secção A, bem como a secção H, referentes à profissão e à área hospitalar do inquirido, uma vez que o inquérito só foi administrado a enfermeiros que trabalham no Bloco Operatório Central. O instrumento de colheita de dados foi traduzido para Português e corrigido por um perito na área de tradução inglês/ português (Anexo 1) e foi submetido a pré-teste1 num bloco operatório de uma instituição privada, tendo sido inquiridos, para o efeito, 66 enfermeiros, etapa esta que permitiu garantir a aplicabilidade deste instrumento à população que se pretende inquirir.

O inquérito por questionário desenvolvido pela AHRQ é constituído por 42 variáveis (itens) cuja escala de medida é ordinal (de tipo likert de 5 pontos), agrupadas em 12 dimensões; uma questão sobre grau de segurança; uma questão sobre reporte de eventos adversos; um grupo de caracterização social e uma questão aberta de opinião – “comentários”.

Por razões de ordem prática e operacional, optou-se pelo inquérito de auto- preenchimento pois, apesar de existirem algumas críticas a este tipo de aplicação do inquérito, enunciadas na revisão da literatura, permite ao inquirido responder livremente e identificar o constructo que está a ser avaliado (Ribeiro, 2007).

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Apresentação e obtenção do 1º prémio com o poster sobre os resultados do pré-teste no 2º Congresso Internacional de Qualidade em Saúde e Segurança do Doente.

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3.3 Apresentação e caracterização da amostra

No sentido de identificar e caracterizar os sujeitos empíricos desta investigação, torna-se necessário definir amostragem: “(...) é o procedimento pelo qual um grupo de

pessoas ou um subconjunto de uma população é escolhido com vista a obter informações relacionadas com um fenómeno, e de tal forma que a população inteira que nos interessa esteja representada.” (Fortin, 1999: 202).

De acordo com Polit, Beck e Hungler, “A população [ou universo] é o conjunto

de todos os indivíduos ou objectos com alguma característica comum, definidora.”

(2004: 53). Segundo Maroco (2007), a população refere-se a grupos restritos de algo que seja agregável e sobre o qual se torna possível generalizar.

A população alvo deste estudo é, então, constituída pelos enfermeiros que exercem funções nos Blocos Operatórios Centrais dos Hospitais públicos da ARS Sub- Região de Lisboa e Vale do Tejo (onze hospitais): HPP Hospital de Cascais Dr. José de Almeida; Hospital Distrital de Torres Vedras; Hospital Dona Estefânia; Hospital Egas Moniz; Hospital Santa Cruz; Hospital Santa Maria; Hospital São Francisco Xavier; Hospital São José; Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca; Hospital Pulido Valente e Hospital Reynaldo dos Santos (ARS de Lisboa e Vale do Tejo).

Dos Hospitais referidos, três não participaram no estudo, pelo que a amostra foi selecionada em oito desses hospitais, o que corresponde a aproximadamente 73% (72,7%) do total dos hospitais. Optou-se por inquirir todos os enfermeiros que trabalham em bloco operatório central nos hospitais pertencentes à ARS Sub-Região de Lisboa e Vale do Tejo (N=353), tendo sido obtidas 183 respostas ao inquérito, as quais constituem a amostra deste trabalho (n=183). Relativamente à caracterização da amostra analisou-se o tempo de trabalho dos enfermeiros no hospital, especialidade e serviço; o número de horas de trabalho semanais no hospital e a percepção individual da segurança do serviço, numa escala de likert de 5 pontos (em que 1 corresponde a muito fraco e 5 a excelente), bem como o número de eventos reportados.

Relativamente ao tempo de trabalho no hospital os enfermeiros distribuem-se da seguinte forma: 2,7% trabalham no hospital há menos de 1 ano; 15,8% entre 1 e 5 anos; 18% entre 6 e 10 anos; 21,3% entre 11 e 15 anos; 23,5% entre 16 e 20 anos e 18% há mais de 20 anos. Quanto ao tempo de trabalho na especialidade observa-se que 5,5% da amostra trabalha há menos de 1 ano; 33,3% entre 1 e 5 anos; 22,4% entre 6 e 10 anos; 23,5% entre 11 e 15 anos; 8,2% entre 16 e 20 anos e 6% há mais de 20 anos. No que se

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refere ao tempo de trabalho no serviço 6,6% trabalham há menos de 1 ano; 34,4% entre 1 e 5 anos; 24% entre 6 e 10 anos; 21,3% entre 11 e 15 anos; 8,7% entre 16 e 20 anos e 4,4% há mais de 20 anos. Dos enfermeiros inquiridos 51,6% trabalham semanalmente 20h a 39h, enquanto os restantes 47,8% trabalham 40h a 59h.

No que se refere à classificação do grau de segurança do serviço 3,3% consideram o serviço excelente, 48,1% muito bom, 35% aceitável, 2,7% fraco; 0,5% muito fraco e 10,4% não responderam a esta questão.

Os dados obtidos relativamente ao número de eventos reportados indicam que a prática corrente da amostra em estudo é a de não reportar: 43,7% da amostra nunca reportou um evento adverso; 38,7% reportaram 1 ou 2 eventos; 10,5% 3 a 5; 3,3% 6 a 10; 1,7% 11 a 20 e 1,7% mais de 20.

3.4 Técnica de Análise de Dados

Para o tratamento dos dados obtidos através do inquérito por questionário recorreu-se à análise estatística, nomeadamente, à estatística descritiva e à inferência estatística, com recurso ao programa IBM-SPSS 20; bem como à análise qualitativa da questão aberta do questionário, com recurso à ferramenta Wordle, no sentido de descrever e contabilizar as palavras associadas à opinião dos enfermeiros sobre a cultura de segurança no seu serviço.

Estatística pode ser definida como “(…) a área do conhecimento científico que

se debruça sobre os processos de recolha de informação (dados), da análise e caracterização da informação e da tomada de decisão fundamentada a partir da informação recolhida.” (Maroco, Bispo, 2003: 17).

A estatística descritiva corresponde à área da estatística que permite descrever e apresentar, de forma sintética e aliciante ao leitor, os dados referentes à amostra em estudo. Este método de análise de dados permite, ainda, caracterizar relações entre variáveis com recurso a quadros de contingência e a coeficientes de correlação (Fortin, 1999). Segundo Hicks (2006), o investigador deve recorrer à estatística descritiva quando pretende extrair determinado tipo de informação a partir de um elevado número de dados referentes à população inquirida, o que lhe permite descrever e apresentar esses dados. Este procedimento possibilita, assim, “(…) apresentar a fotografia do

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Relativamente à estatística descritiva foram utilizadas distribuições de frequências e medidas de tendência central para caracterizar a amostra; foram calculados alfas de cronbach para estudar a fiabilidade interna das dimensões em análise e foram calculadas correlações de spearman para as variáveis em estudo.

A estatística inferencial permite extrapolar os resultados da amostra em estudo para a população (Coutinho, 2011). Dentro desta área da estatística foram realizados testes de qui-quadrado para estudar a influência dos hospitais sobre algumas variáveis independentes, tendo-se recorrido ao teste de Kruskal-Wallis para estudar as influências dos hospitais sobre as dimensões da cultura de segurança.

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