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CAPÍTULO I: Os Pressupostos Teórico-Metodológicos

1.2 Metodologia da pesquisa

Para a realização do presente estudo, foi elaborado um roteiro de entrevistas, composto por 20 questões, precedidas de informações sobre o perfil do aluno, do professor e do diretor escolar, bem como questões através das quais obteve-se as dificuldades apontadas como responsáveis pela reprovação dos alunos (apêndice 1). Além disso, questionou-se sobre o significado da escola para os alunos; como idealizam uma escola. Do ponto de vista administrativo pedagógico questionou-se sobre a elaboração do planejamento escolar; e ainda questões relativas à participação da família nas atividades escolares.

Para identificar as representações sociais dos alunos do Ensino Fundamental, professores e gestores das escolas sobre a repetência e sua possível relação com o fracasso escolar, a pesquisa foi realizada em duas escolas municipais e duas estaduais, tendo, como critério de escolha destas escolas as que obtiveram o melhor e o pior desempenho dentro do sistema de ensino na avaliação do Índice de

Desenvolvimento Escolar Brasileiro (IDEB) 2007. Contudo esta escolha não teve como objetivo estabelecer comparação entre a melhor ou a pior escola, servindo este critério apenas como recorte metodológico.

A escolha dos alunos entrevistados teve com critério a seleção dos reprovados e que se encontravam nas 2ª e 5ª séries das escolas alvo da pesquisa. A escolha destas séries baseou-se nos dados do censo escolar que indicam que são nestas séries que se encontram o maior número de alunos reprovados. Além disso, optou-se pela 2ª série, porque na rede municipal de ensino de Itajaí até o ano de 2006 as 1ª e 2ª séries estiveram organizadas em ciclo, o ciclo básico, o que impedia a reprovação na 1ª fase do ciclo, havendo somente reprovação no final da 2ª fase, caso o aluno não estivesse alfabetizado.

Quanto aos gestores foi entrevistado um total de cinco gestores, dos quais três municipais e dois estaduais. Entre os professores, 10 professores de 2ª série, cinco de português e quatro de matemática. Entrevistou-se ainda, 51 alunos, sendo 24 de 2ª série e 27 de 5ª série. Os professores das disciplinas de português e matemática foram selecionados para a realização das entrevistas por serem estas as disciplinas que mais reprovam na 2ª fase do ensino fundamental.

Contatou-se ambas às secretarias de educação da rede estadual e municipal a fim de obter autorização para a realização da pesquisa. Autorizados para realizar a pesquisa foi possível fazer as entrevistas nas próprias escolas, o que permitiu conferir aspectos relativos à infra-estrutura de cada uma das escolas.

As entrevistas com os alunos, professores e diretores foram efetuadas individualmente, na respectiva escola e tiveram a duração média de 60 minutos. Por tratar-se de um roteiro de entrevistas semi-estruturadas através das quais se obtém respostas subjetivas de uma realidade da qual partilho profissionalmente estive atenta para o que alertam Velho e Castro (1978, p. 17) “a familiaridade pode ser, em muitos casos, uma fonte de distorções, pois os nossos mapas sociais são, em grande parte, construídos em cima de estereótipos e rótulos”.

As entrevistas foram gravadas com a permissão dos entrevistados e posteriormente foram transcritas para estudo e análise

A partir da transcrição literal das gravações das falas dos entrevistados realizou-se a análise de conteúdo, segundo Bardin (2000). Esse processo apresenta e descreve os principais significados atribuídos pelos grupos entrevistados a respeito da temática de análise. Esta análise tem como objetivo levantar através das

falas as suas significações, no conjunto do que foi comunicado. Para tal, os significados foram agrupados, a partir da análise de conteúdo, entendendo que como pontua o mesmo autor, que quando os sujeitos expressam seus pontos de vista a respeito de algo, temos que objetivamente organizar as idéias por eles destacadas, mas percebendo o que se encontra oculto em suas idéias e, para isso, é primordial que se entenda que a análise de conteúdo é:

Um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis, em constante aperfeiçoamento, que se aplicam os discursos (conteúdos) [...] é uma hermenêutica controlada, baseada na dedução: a inferência. Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não- aparente, o potencial de inédito (do não-dito), retido por qualquer mensagem (Krawczyk, 1999).

Para a análise dos dados e a discussão dos resultados foi primordial o estabelecimento de alguns indicativos para se compreender à temática estudada, subsidiada por aporte teórico que fundamentou as escolhas até aqui realizadas.

Vale destacar ainda que ao retornar à escola em maio de 2008 obteve-se os resultados finais do desempenho escolar das respectivas escolas correspondendo ao ano de 2007.

Na análise de conteúdo foi identificada uma pluralidade de temas presentes num conjunto de textos, cuja freqüência dos mesmos no conjunto, o que permitiu estabelecer comparação entre as escolas e as redes de ensino.

Finalmente, procedeu-se a uma análise comparada entre as redes de ensino das escolas pesquisadas, visando compreender os fenômenos comuns, uma vez que a pesquisa refere-se ao estudo de dois sistemas de ensino: a rede estadual e a rede municipal. As comparações que verdadeiramente nos interessaram entre entidades referem-se aos atributos em parte semelhantes e em parte declarados como não semelhantes. A comparação para (SARTORI, 1998) é um método de controle das generalizações. A partir dele, se pretende compreender, explicar e interpretar os resultados obtidos através de diferentes casos sobre o mesmo tema. Trata-se de confrontar uma coisa com a outra, sendo um método de estudo, e uma parte do método das Ciências Sociais.

Por tratar-se de uma pesquisa qualitativa, a vigilância sobre a qualidade das informações em cada depoimento, buscando a profundidade das mesmas foi uma das diretrizes adotadas, lembrando o que alerta Zaia Brandão, a entrevista “reclama uma atenção permanente do pesquisador aos seus objetivos, obrigando-o a colocar-

se intensamente à escuta do que é dito, a refletir sobre a forma e conteúdo da fala do entrevistado”. (2000, p. 8). Esta abordagem metodológica tem seu correspondente na teoria das representações sociais. Considerando que as “representações sociais nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a eles de forma definitiva” (Jodelet, 2001, p.17), elas nos são de grande valia para a interpretação da realidade que nos propomos estudar, o processo ensino-aprendizagem no sistema escolar.

Não se pode esquecer, ainda, que o sistema escolar:

[...] sofre em maior ou menor grau, as marcas originárias de grupos sociais que ocupam posições diferentes em relação a ela: discurso dos políticos e dos administradores, discursos dos agentes institucionais dos diferentes níveis da hierarquia, discursos dos usuários (GILLY, M, 2001, p. 322). Atentos a possíveis contradições que poderiam ser revelados nas falas dos nossos informantes, buscamos as significações que dão sentido às práticas dos sujeitos, foco da presente investigação.

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