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1. CAPÍTULO Introdução

1.6. Metodologia de trabalho e técnicas

Para a elaboração da presente tese a primeira etapa de trabalho consistiu no levantamento bibliográfico relacionado à tafonomia de invertebrados marinhos, em especial àquela que tratava de lingulídeos, sendo eles fósseis ou atuais. Ao mesmo tempo, realizaram-se as coletas de inspeção dos afloramentos (no intuito de se saber sobre: 1) a viabilidade de se coletar com segurança - uma vez que grande parte dos afloramentos encontram-se às margens de rodovias, 2) posicionar estratigraficamente os afloramentos, 3) conhecer previamente a qualidade e a quantidade dos fósseis.); e posteriormente as coletas tafonomicamente orientadas. Quando possível, a coleta foi realizada na forma de quadrículas, conforme proposto por Simões e Ghilardi (2000) e desenvolvido em Bosetti (2004), Ghilardi (2004), Horodyski (2010), Zabini (2007) e Zabini et al. (2010)(Cap. 3 desta tese). Conforme a progressão dos trabalhos de campo, estruturas sedimentares e litologias foram descritas, e perfis verticais esquemáticos foram elaborados.

De posse do material fóssil, análises laboratoriais foram realizadas, e um banco de dados de cada amostra foi construído. No banco de dados foram anotadas as características descritas no QUADRO 4.

FIG. 5. Localização dos afloramentos trabalhados na presente tese. Os números referem-se aos afloramentos e encontram-se listados no QUADRO 2.

QUADRO 4. Mostra os principais componentes do banco de dados tafonômico.

afloramento

MPI- (refere-se à numeração da amostra) tipo de sedimento cor do sedimento quantidade de bioclasto tipo de bioclasto grau de fragmentação biometria (c-l)

posição do fóssil em relação ao acamamento

tipo de fossilização

ausência/presença bordas quebradas ausência/presença bioerosão modo de distribuição espacial dos fósseis

na amostra observações

Algumas amostras foram separadas e submetidas a análises químicas e de microscopia eletrônica de varredura (MEV), com espectroscopia de energia dispersiva (EDS), para análise dos tipos de fossilização das amostras.

Amostras do Cenozóico final pertencentes à coleção de doutorado de Susan Barbour-Wood (BARBOUR-WOOD, 2006) foram analisadas e os dados obtidos foram tratados estatisticamente para constatação da presença/ausência e abundância relativa de fragmentos de organismos quitinofosfáticos.

Visita às coleções dos seguintes museus americanos foram também realizadas: Museu Nacional de História Natural (MNHN), em Washington, Museu do Estado de Nova Iorque (New York State Museum- NYSM), em Albany e Museu Americano de História Natural (AMNH), em Nova Iorque. Nestas visitas foram analisados espécimens de lingulídeos de coleções depositadas nos museus e também de coleções tipo, com objetivos taxonômicos.

A interpretação dos dados consistiu em classificar as concentrações, procurar e descrever padrões que ficaram registrados, determinar os processos envolvidos na formação destas concentrações comparando-os, quando possível, aos tratos de sistemas em que ocorriam, e definir os caracteres morfológicos úteis para a sistemática dos fósseis analisados. Ressalta-se que após as análises dos materiais,

achou-se conveniente a proposição de modelos que retratassem as principais características dos sistemas que estavam sendo propostos.

Por se constituir em um campo bastante amplo, a paleontologia se apresenta na forma de tipos diferentes de dados, e necessita de métodos diversos de análise de tais dados (HAMMER; HARPER, 2006). Neste sentido, o uso de modelos na explicação de fenômenos ocorridos no passado pode ajudar, complementando ou simplificando as hipóteses de trabalho e/ou a proposição de teorias. Modelos podem ser definidos como qualquer tipo de representação gráfica de um problema feito dentro do espírito de síntese (MENDES, 1988). Diversas são as classificações dadas aos diferentes tipos de modelos utilizados em ciência (ver MENDES, 1988; FRIGG; HARTMANN, 2006) e inúmeras também são as discussões filosóficas sobre seus usos, classificações e significados (FRIGG; HARTMANN, 2006; HARTMANN, 2008).

Para a presente tese fez-se uso de modelos conceituais, i.e., modelos que representam uma “imagem mental” de algum fenômeno natural. Tais modelos decorrem de uma observação e prestam-se à representação de um segmento do mundo real sob forma ideal (MENDES, 1988). Ainda segundo Mendes (1988), a construção de um modelo requer simplificação, análise e síntese reiterada. A maior vantagem de um modelo é poder testar a validade de uma idéia antes de sua aplicação a um alto número de dados. Utilizou-se, portanto, de modelos conceituais na tentativa de explicar os principais processos envolvidos no registro dos lingulídeos do devoniano da Bacia do Paraná. Com o uso de modelos tem-se como objetivo ampliar a sua aplicação, i.e., o modelo foi concebido com base em dados de fósseis quitinofosfáticos e dados sedimentológicos e estratigráficos do Devoniano da Bacia do Paraná, mas poderá ser aplicado em bacias com características semelhantes, e portanto, poderá ser testado em outros depósitos.

Por fim, a análise integradora dos dados possibilitou o reconhecimento de tafofácies de lingulídeos, da integração dos dados tafonômicos à estratigrafia de sequências, da proposição de uma sistemática de nomenclatura aberta e de alguns avanços na compreensão dos processos de fossildiagênese dos lingulídeos devonianos estudados.

1.6.1. Materiais

As amostras coletadas durante a execução da presente tese estão depositadas no Laboratório de Estratigrafia e Paleontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), sob a sigla DEGEO/MPI (Departamento de Geociências/Museu de Paleontologia de Invertebrados). As amostras coletadas encontram-se com a seguinte numeração: DEGEO/MPI-0001 a 0599, DEGEO/MPI-1839 a 1902, DEGEO/MPI-2535 a 2659, DEGEO/MPI-3000 a 4587. Amostras pertencentes às coleções de Bosetti (1989, 2004), Zabini (2007), Horodyski (2010) e Matsumura (2010), e dados publicados por Petri (1948) também foram utilizados na elaboração desta tese. Aproximadamente 2.700 amostras foram coletadas. Cada amostra pode conter um ou mais bioclastos. Cerca de 8.000 bioclastos, independentemente de serem lingulídeos, foram analisados.

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