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3 REVISÃO DA LITERATURA

3.2 Metodologia Delphi

O método Delphi é uma ferramenta de pesquisa qualitativa que busca um consenso de opiniões de um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros. Isto é feito estabelecendo-se três condições básicas: o anonimato dos respondentes, a representação estatística da distribuição dos resultados, e o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadas subseqüentes (MARTINO, 1993).

O método Delphi pode ser entendido como uma tentativa de coletar a opinião de especialistas de maneira sistemática a fim de obter resultados úteis. Consiste da aplicação de questionários interativos a especialistas, de forma individual a fim de manter o anonimato de suas opiniões, oferecendo feedback dos resultados a cada interação até que se obtenha um consenso ou que as opiniões do grupo cheguem ao nível de estabilidade (DALKEY et al., 1969).

Em função das características expostas, o método Delphi é especialmente recomendado quando não se dispõe de dados quantitativos, ou estes não podem ser projetados para o futuro com segurança, em face de expectativas de mudanças estruturais nos fatores determinantes das tendências futuras. Há, nesse método, a despeito de possíveis variações em sua aplicação, três premissas básicas. A primeira é: como se pretende reunir as idéias de especialistas, mas evitar

que haja influência prévia das idéias de uns sobre os outros e também o constrangimento de eventuais mudanças futuras de opinião, busca-se garantir o anonimato dos respondentes. A segunda premissa é a representação estatística dos resultados de cada rodada de questões. Quando as respostas da primeira rodada retornarem e forem tabuladas, o ideal é que sejam feitas representações estatísticas de modo a possibilitar, para a segunda rodada, uma melhor visualização por parte dos respondentes, de qual a sua posição perante o grupo. Adicionalmente, a representação estatística oferece a possibilidade de o organizador dos debates acompanhar o processo de criação do consenso entre os especialistas, objetivo central da técnica. Por fim, o método Delphi implica o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadas subseqüentes. Tanto as respostas fechadas quanto as abertas deverão ser tabuladas e reenviadas, anonimamente, aos respondentes, para que suas visões possam ser aprofundadas (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

A técnica Delphi passou a ser disseminada no começo dos anos 1960 com base em trabalhos desenvolvidos por pesquisadores da Rand Corporation. O objetivo original era desenvolver uma técnica para aprimorar o uso da opinião de especialistas na previsão de tendências sobre os mais diversos assuntos. Baseia-se no uso estruturado do conhecimento de um painel de especialistas, sob o pressuposto de que o julgamento coletivo, quando organizado adequadamente, é melhor do que a opinião de um só indivíduo, ou mesmo de alguns indivíduos. A metodologia Delphi, conceitualmente, é bastante simples, pois se trata de um questionário interativo, que circula repetidas vezes por um grupo de peritos dos quais se preserva o anonimato. Na primeira rodada os especialistas recebem um questionário, preparado por uma equipe de coordenação, ao qual se deve responder individualmente, quase sempre com respostas quantitativas, justificadas e informações qualitativas.

Geralmente o questionário é bastante elaborado, apresentando para cada questão uma síntese das principais informações conhecidas sobre o assunto e, eventualmente, extrapolações para o futuro. As respostas das questões quantitativas são tabuladas recebendo tratamento estatístico simples, definindo-se a mediana e os quartis, e os resultados são devolvidos aos participantes na segunda rodada. A cada rodada as perguntas são repetidas, e os participantes devem reavaliar suas respostas, com base nas respostas numéricas e nas justificativas dadas pelos demais respondentes, na rodada anterior. São solicitadas novas previsões com justificativas. Esse processo costuma ser repetido por sucessivas rodadas até que a divergência seja reduzida a um nível satisfatório.

O uso de especialistas continua sendo identificado como um critério importante e que confere credibilidade ao Delphi. A principal justificativa para o uso de especialistas reside na crença de que estes sejam formadores de opinião e pela melhor capacidade de avaliar as questões em foco (KAYO; SECURATO, 1997).

O feedback estabelecido por meio das diversas rodadas permite a troca de informações entre os diversos participantes e em geral conduz a uma convergência rumo a um consenso. A maioria das pesquisas é feita com, no máximo, quatro rodadas e o processo de feedback consiste de, em cada rodada, os participantes receberem informações consolidadas sobre as respostas dos outros painelistas e também seus comentários e informações relevantes (KAYO; SECURATO, 1997).

O anonimato das respostas e o fato de não haver reunião física reduzem a influência de fatores psicológicos com base em status, capacidade de oratória, posição política ou receio de expor uma opinião minoritária. O anonimato é a propriedade que melhor caracteriza o método e também é a menos questionada. Existem duas formas de aplicar o anonimato ao Delphi: cada painelista desconhece quem são os demais e os painelistas têm conhecimento de quem compõe o painel, mas não terão nenhum tipo de comunicação com os outros participantes durante o período da pesquisa (KAYO; SECURATO, 1997 e WRIGTH; GIOVINAZZO, 2000).

O número de rodadas a ser realizado no estudo irá depender do custo do painel, do tempo disponível pelo pesquisador e também da disponibilidade de tempo dos participantes. Não existe a exigência de um número mínimo ou máximo de componentes do painel, que pode variar de um pequeno grupo até um grupo numeroso, dependendo do tipo de problema a ser investigado e da população e/ou amostras utilizadas. Algumas variações podem implicar na eliminação de uma ou mais características do método Delphi, ou na criação de procedimentos diferentes, que são admitidos desde que sejam conservadas as características básicas. A aplicação de uma única rodada descaracteriza a técnica Delphi (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).

O Delphi eletrônico, realizado pela internet, conserva as mesmas características de uma pesquisa Delphi convencional, ou seja, são mantidos o anonimato dos respondentes, a distribuição estatística da distribuição dos resultados e o feedback de respostas ao grupo, para reavaliação. Nas rodadas subseqüentes, a coleta de respostas e a apresentação dos resultados da primeira rodada devem ser realizadas pela internet, para que possa ser considerada pelo grupo

no preenchimento da segunda rodada também via Internet (GIOVINAZZO; FISCHMANN, 2001).

Apesar de todas as suas vantagens, o uso incorreto da técnica pode gerar graves problemas aos organizadores. Em primeiro lugar, há a possibilidade de forçar o consenso indevidamente, pois os respondentes, se não corretamente orientados, podem acreditar que o objetivo é consenso, custe o que custar, e sentir-se-ão forçados a tal. Além disso, cumpre destacar a dificuldade de redigir um questionário sem ambigüidades e não viesado sobre tendências futuras. A demora excessiva para a realização do processo completo, especialmente no caso de envio do questionário via correio, é outro inconveniente da técnica. Sucessivas rodadas, envolvendo especialistas de fora da instituição, sem uma remuneração ou contrato, freqüentemente implicam as desistências não anunciadas de alguns participantes, sendo comum que, entre a primeira e a última rodada, o abandono gire em torno de 50% dos participantes originais (GIOVINAZZO, 2001).

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