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Carta 16 – Adaptada da Carta Experimental nº 88 do ALES – SURO

5.1 METODOLOGIA DO ALES

As entrevistas, que envolveram 70 informantes com idade entre 30 e 55 anos (um homem e uma mulher em cada localidade), foram realizadas no período de fevereiro de 2006 a julho de 2007, abrangendo os 35 pontos previstos na pesquisa. A seguir são apresentados os critérios adotados para a realização do ALES.

5.1.1 REDE DE PONTOS

Para a seleção dos pontos na área rural, levou-se em consideração o estudo das microrregiões definidas pelo IBGE, uma vez que reúnem características físicas, econômicas e sociais relativamente homogêneas. Desse modo, a seleção dos municípios que compõem a rede incluiu entre seus critérios:

a) Distribuição espacial: para evitar que algumas áreas ficassem sem representação, o estado foi dividido em células de 5.000 km², seguindo-se aqui um critério já utilizado no Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul -ALERS.

b) Época de ocupação: procurou-se selecionar localidades mais antigas, representativas em termos históricos e culturais. Caso todos os municípios de uma célula fossem relativamente novos, optava-se por aquele onde se previa, dadas suas características étnicas e culturais, maior diversidade linguística.

c) Densidade populacional: a partir dos objetivos da pesquisa e da metodologia adotada, foram selecionados, sempre que possível, municípios que apresentassem população rural numericamente representativa e densidade demográfica de baixa a média.

d) Taxa de analfabetismo: considerando-se que conhecer a realidade linguística é o primeiro passo para uma reformulação do processo de alfabetização, caso duas localidades apresentassem características semelhantes em todos os quesitos, a escolha se dava em favor daquela que apresentasse o maior número de analfabetos.

O projeto inicial previa uma rede de 31 pontos, mas foi possível acrescentar, devido à disponibilidade de verbas, mais 4 pontos na zona de ocupação alóctone mais antiga e com maior densidade demográfica, obtendo-se assim uma rede de 35 pontos: 1. Mucurici; 2. Montanha; 3. Ecoporanga; 4. Pinheiros; 5. Conceição da Barra; 6. Vila Pavão; 7. Barra de São Francisco; 8. Nova Venécia; 9. São Mateus; 10. Águia Branca; 11. Vila Valério; 12. Pancas; 13. Rio Bananal; 14. Linhares; 15. Colatina; 16. Aracruz; 17. Laranja da Terra; 18. Santa Teresa; 19. Serra; 20. Afonso Cláudio; 21. Domingos Martins; 22. Iúna; 23. Muniz Freire; 24. Ibitirama; 25. Alfredo Chaves; 26. Vargem Alta; 27. Muqui; 28. Itapemirim; 29. São José do Calçado; 30. Mimoso do Sul; 31. Presidente Kennedy; 32. Pancas; 33. Santa Maria de Jetibá; 34. Santa Leopoldina; 35. Castelo.

Na área urbana foram selecionados 5 pontos, tendo-se como critérios:

a) Macrorregiões de planejamento estadual: O estado compreende 4 macrorregiões de planejamento: metropolitana, norte, nordeste e sul. Selecionou-se uma localidade em cada macrorregião, salvo na metropolitana, que inclui dois pontos, considerando sua extensão e a presença de vários pontos que preenchiam os requisitos quanto à densidade populacional e à antiguidade.

b) Densidade populacional: Definiu-se como densidade mínima 95.000 mil habitantes, evitando-se assim deixar de lado todas as localidades da macrorregião

norte.

c) Antiguidade: Foram incluídas localidades com no mínimo 100 anos de fundação, representativas em termos culturais e de formação histórica do estado.

Com base nos critérios acima citados, foram selecionados os seguintes pontos: 1. São Mateus, principal polo da macrorregião norte; 2. Colatina, localizado na macrorregião noroeste; 3. Linhares, ponto situado na macrorregião metropolitana; 4. Vitória, também na metropolitana; 5. Cachoeiro de Itapemirim, na macrorregião sul.

Figura 8: Rede de Pontos do ALES Fonte: Rodrigues (2008)

5.1.2 OS QUESTIONÁRIOS

A elaboração do instrumento de pesquisa levou em consideração questões utilizadas em outros atlas, garantindo-se assim uma equiparação quanto ao alcance das variantes, a saber:

i) O Questionário Fonético-Fonológico (QFF) segue os princípios do ALERS, contendo 25 questões que averiguam a realização de consoantes e vogais em ambientes previamente estabelecidos.

ii) O Questionário Morfossintático (QMS) investiga seis itens, abrangendo questões referentes à utilização de pronomes, gênero, número e grau. Essa parte é complementada com os dados dos discursos semidirigidos, que incluem, entre outros, temas sobre a localidade, os antepassados do informante, lendas/ mitos que ele conhece, simpatias. Além disso, no final da entrevista pergunta-se ao informante se há algum fato ou história, além dos já narrados, que gostaria de contar.

iii) O Questionário Lexical (QL) inclui 227 questões (onomasiológicas e semasiológicas) distribuídas pelos seguintes campos semânticos: acidentes geográficos, fenômenos atmosféricos, astros e tempo, flora, atividades agropastoris, fauna, convívio e comportamento social, ciclos da vida, corpo humano, religião e crenças, jogos e brincadeiras, habitação alimentação e cozinha, vestuário e acessórios.

5.1.3 OS INFORMANTES

Foram entrevistados dois informantes em cada ponto, sendo um homem e uma mulher, para avaliar a diferença de gênero. Na Primeira Fase do ALES, os informantes deveriam apresentar preferencialmente as seguintes características: serem nascidos no local ou terem ali chegado ainda pequenos; serem os pais e o cônjuge da mesma localidade; serem analfabetos ou terem no máximo a 4ª série; não serem muito viajados; não terem vivido muito tempo fora da localidade; terem

aparelho fonador em boas condições; terem idade entre 30 e 55 anos. Considerando-se a realidade linguística do Espírito Santo, que é influenciada pela composição étnica, decidiu-se incluir nas entrevistas pessoas bilíngues nas localidades com predomínio de alóctones.

5.1.4 AS ENTREVISTAS

A maior parte das entrevistas do ALES foi feita com o auxílio das Secretarias de Educação, das escolas rurais, das Casas de Cultura e/ ou Secretaria de Turismo dos municípios. Esse contato através do órgão local garantiu uma maior confiança no fornecimento dos dados por parte dos informantes. Algumas vezes, quando as entrevistas eram feitas na casa dos informantes, vizinhos ou familiares tentavam auxiliar, muitas vezes “corrigindo-os”, ao passo que os próprios entrevistados reconheciam o interesse do pesquisador em registrar a fala local.

Em algumas localidades, as entrevistas foram realizadas com um informante de cada vez. Em outras, com ambos os entrevistados, simultaneamente, principalmente quando eram convidados a ir até a escola, fato que garantia uma maior produtividade, já que os informantes ajudavam-se mutuamente. Ao todo, foram realizadas 41 viagens para coletar os dados do português e 3 viagens coletando dados sobre os descendentes de poloneses e pomeranos.

5.1.5 TRANSCRIÇÕES E CARTOGRAFIA

Os dados coletados nos inquéritos foram gravados em fita cassete e em MP3. O QFF e o QL foram transcritos foneticamente e estão sendo cartografados. Em cada carta consta a resposta da informante à esquerda e a do informante à direita (conforme o esquema a seguir). Nos casos em que foram realizados mais de dois inquéritos, seja porque um(a) informante iniciou e não terminou, seja porque era muito inibido(a) e não respondia, as respostas dessas entrevistas foram registradas ao lado da resposta do(a) informante principal e separadas por uma barra.

F M

Considera-se como informante auxiliar aquele que preencheu a todos os requisitos previstos no projeto, mas que, por alguma razão, não respondeu a todas as questões. Os dados do QMS e dos discursos semidirigidos estão sendo transcritos grafematicamente. Tenta-se manter assim todos os traços locais no que se refere à supressão de marcas morfossintáticas, metásteses, apócopes, etc. A cartografia está sendo realizada com o programa SPDGL - Sistema de Processamento de Dados Geolinguísticos.

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