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3.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

• investigar junto aos médicos, dentistas e enfermeiras que trabalham nas unidades de saúde do sul da Ilha de Santa Catarina qual o conhecimento e utilização das plantas medicinais e de Fitomedicamentos na Atenção Primária à Saúde;

• pesquisar quais as plantas medicinais são mais utilizadas nas comunidades atendidas por estas unidades;

• relacionar a forma pela qual estas plantas são utilizadas pela comunidade: - forma de utilização das plantas medicinais,

- os problemas vinculados ao uso das plantas, - patologias mais atendidas na Atenção primária,

- os resultados obtidos com o uso das plantas medicinais,

• investigar a cultura tradicional em plantas medicinais e a troca de conhecimentos popular e científico entre a população e as unidades de saúde.

3.2 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.2.1 Situando o Lugar

A pesquisa foi efetuada no Sul da Ilha de Santa Catarina, que esta situada no sul do Brasil, na cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina.

O Sul da Ilha de Santa Catarina é bastante peculiar, com muitas aéreas de preservação ecológica e com uma população que ainda resguarda muito do tradicional de seus familiares. Conversando com as mulheres mais velhas nas localidades do sul da Ilha podemos ainda

escutar histórias sobre ervas que, muitas vezes, ajudaram na cura e melhoria de seus familiares, e que até hoje são ainda usadas pela população.

Sendo a comunidade do sul da Ilha, de origem predominantemente européia (açoriana) a maioria das plantas medicinais utilizadas pela comunidade é exótica e não nativa.

A Ilha de Santa Catarina, chamada inicialmente pelos nativos de Meiembipe, foi descoberta em 1515 pelo espanhol Juan Dias Solis (Figura 01).

A Ilha esta situada entre as latitudes 27 graus 25´ 27 graus 50´ na direção geral NE/SW e possui um área aproximada de 423 km2, tendo 54 km, no seu maior comprimento e 18 km na sua maior largura, apresentando paisagem com grande diversidade. Seu cenário natural apresenta cerca de 100 praias delimitadas por planícies, costões, dunas, lagoas, mangues, montanhas e uma vegetação atlântica nativa. Seu relevo descontínuo é caracterizado por dois maciços montanhosos e planícies costeiras.

No sul da Ilha encontra-se a maior reserva de água doce da Ilha de Santa Catarina, com 5 km2, no Parque Municipal da Lagoa do Peri (IPUF, 1993), bem como outros recursos naturais com lei de proteção natural como o Parque natural da Lagoinha do Leste, o Parque das Dunas do Pântano do Sul e a área de proteção Ambiental da Baleia Franca.

Com uma linha de costa de 172 km de extensão, a Ilha de Santa Catarina possui muitas praias. Só a região sul da Ilha tem 42 praias.

O Município de Florianópolis é composto por 12 distritos que se concentram na Ilha. Segundo dados do IBGE de 2000, destaca-se o distrito sede com maior população (213.574 habitantes).

A constatação de presença humana na Ilha de Santa Catarina pode ser considerada recente. Os vestígios humanos mais antigos encontrados e catalogados na Ilha remontam para 5 mil anos de ocupação, sempre diretamente ligados com à cultura de Sambaqui. Também conhecido como casqueiro, concheiro e berbigueiro, entre outros nomes, trata-se de um sítio arqueológico que em sua origem guarani significa monte de conchas. Até o ano de 1989 haviam sido registrados 120 sambaquis só na Ilha de Santa Catarina, em pesquisas arqueológicas realizadas em 20% dos sítios existentes, alguns deles localizados no sul da Ilha.

Suspeita-se que nas partes mais elevadas dos sambaquis tenha havido a presença de um novo grupo humano, os Itararés, que apresentavam hábitos diferentes dos primeiros habitantes dos sambaquis, revelados em vestígios cerâmicos e uma suposta prática agrícola. Houve, neste segundo grupo que ocupou a Ilha, uma sensível diminuição no consumo de moluscos em sua dieta alimentar. Supõe-se também que estes povos não tiveram contato entre si, habitando a Ilha em momentos que se sucederam historicamente. (PIAZZA, 1993)

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O terceiro grupo indígena, que migrou para a Ilha, no século XIV, foi o dos carijós, da família lingüística tupi-guarani, tradicional no litoral sul do Brasil. Instalaram-se aproximadamente dois séculos antes da chegada dos primeiros europeus (Guia Florianópolis, IPUF; 1992).

É provável que o assentamento tenha se dado por volta de 1675, uma vez que três anos após essa data Dias Velho irá requerer do governo da capitania paulista duas léguas em quadro na Ilha, justificando ter instalado uma igreja em devoção a Nossa Senhora do Desterro, benfeitorias e culturas na referida área. Em 1726, Desterro é elevada à categoria de vila e iniciam-se projetos militares de fortificações na Ilha, estabelecendo-se as colonizações definitivas, feitas por açorianos.

No dia 6 de janeiro de 1748 desembarcaram na Ilha de Santa Catarina 461 pessoas provenientes da Ilha de Açores. Até 1756, cerca de 6 mil açorianos e madeirenses já estavam instalados na Ilha, mesmo que precariamente (PIAZZA, 1993). Foram distribuídas às famílias colonizadoras sementes, armas e ferramentas, cavalos e touros para o arado, o que dificultou ainda mais a adaptação dos colonos. Além disso, sua cultura de trigo não se adequou ao clima da região, o que os obrigou a produzir culturas herdadas dos índios, como a da mandioca. (Guia Florianópolis, IPUF; 1992)

A Armação integra, com Campeche e Pântano do Sul, o maior complexo pesqueiro da Ilha de Santa Catarina, sendo assim, uma praia essencialmente de pescadores, e que produzem pescado para os mercados, locais e os de grandes centros do país. Apesar de ter sido de 1772 a 1910 o grande centro de captura e exploração de baleias, e grande centro pesqueiro hoje, também se tornou uma praia balneária, a mais concorrida no Sul da Ilha.

O Ribeirão da Ilha foi uma das primeiras comunidades do Estado e a primeira de Florianópolis a ser habitada, no século XVI, pelos índios Carijós. O nome dado à praia origina-se de um pequeno rio ou ribeira, situado no local (ribeiracô em linguagem indígena). Localizado a 36 quilômetros do centro de Florianópolis, o Ribeirão da Ilha é composto por várias praias pequenas, de águas calmas e areia grossa. É considerado um dos poucos lugares do litoral Sul do Brasil que conserva bem os traços da colonização portuguesa.

Figura 01 - Mapa geográfico da Ilha de Florianópolis

3.2.2 Método Adotado

O método escolhido foi de pesquisa qualitativa, observacional, levando-se assim, em consideração o envolvimento dos entrevistados com as plantas medicinais.

Nas abordagens qualitativas, o foco de atenção do estudo centra-se nos significados e práticas, valorizando a subjetividade humana, suas crenças, seus valores, seus conhecimentos, sentimentos, focalizados na discussão particular e coletiva. (TRIVIÑOS, 1987; MINAYO 1999)

Segundo Minayo (1999) a abordagem que busca descrever e analisar a cultura e comportamento humano em seus grupos sob o ponto de vista dos que estão sendo estudados é flexível e interativa e não se limita ao conjunto de interações pré-definidas, trabalha dentro de noção de processo-interatividade.

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Dentro da pesquisa qualitativa foi escolhido por nós o método de análise de conteúdo, embora segundo Trivinos (1987), este tipo de analise surge quando os primeiros homens realizaram a primeira tentativa para interpretar os livros sagrados foi através da obra de Bardin: L´analise de contenu, que este método foi configurado em detalhes em seus princípios e conceitos fundamentais.

Segundo Bardin seria um método para estudar as comunicações entre os homens colocando ênfase no conteúdo das mensagens.

Trivinos relata que a utilização do método da análise de conteúdo nas mensagens escritas torna-as mais estáveis e constituem um material objetivo, que podemos retornar sempre que necessitemos.

Neste método, a classificação dos conceitos, a codificação dos mesmos em categorização são procedimentos indispensáveis para sua utilização. (FALCÃO, 2003)

Após a coleta de material de pesquisa através de entrevistas, foram codificadas categorias para avaliação dos resultados e análise os dados obtidos. Estas categorias foram divididas e 2 grandes grupos;

- as relacionadas aos profissionais de saúde, - as relacionadas à comunidade.

Quanto às categorias relacionadas aos profissionais de saúde:

- incorporação da fitoterapia na APS (Atenção Primária à Saúde), - motivos para uso da planta,

- quais as plantas utilizadas pelos profissionais de saúde e pelos moradores e em quais patologias,

- forma de utilização das plantas medicinais, - quais os problemas vinculados ao uso das plantas, - patologias mais atendidas na atenção primária,

- quais os resultados obtidos com o uso das plantas medicinais.

Quanto às categorias relacionadas à comunidade: - -quais as plantas mais utilizadas,

- forma de utilização das plantas medicinais,

3.2.3 Situando os Entrevistados

Foram selecionadas para coleta de dados da pesquisa as Unidades de Saúde e as populações abrangentes, que fazem parte da Regional Sul.

Os profissionais de saúde entrevistados foram escolhidos nas unidades de saúde da regional sul das seguintes localidades: Armação, Ribeirão da Ilha, Campeche, Carianos, Costeira do Pirajubaé, Fazenda do Rio Tavares, Morro das Pedras, Pântano do Sul, Rio Tavares, Saco dos Limões e Tapera.

Foram realizadas entrevistas com médicos, dentistas e enfermeiros que estavam trabalhando no período de setembro a dezembro de 2004 nas Unidades de Saúde da regional Sul da secretaria de Saúde do Município e moradores das comunidades das áreas abrangentes das Unidades de Saúde.

Foram entrevistados 23 profissionais de saúde, sendo onze médicos, cinco dentistas e sete enfermeiras.

Em relação aos moradores, foram todos escolhidos aleatoriamente, cinco deles eram pessoas conhecidas nas comunidades como detentoras de maior conhecimento sobre plantas medicinais e os demais moradores num total de 265 foram escolhidos também aleatoriamente, pelas agentes de saúde em suas visitas aos moradores.

A pesquisadora entrevistou pessoalmente os profissionais de saúde bem como os quatro moradores idosos, e os outros restantes dos moradores foram entrevistados pelos agentes de saúde das USL, com orientação da pesquisadora, seguindo o roteiro de formulário já estabelecido.

É importante ressaltar que estes profissionais trabalham na rede pública de saúde, na atenção primária e seu trabalho segue um programa de saúde denominado programa de saúde da família. Este programa coloca o profissional de saúde bastante envolvido com o paciente, sua família e a comunidade priorizando as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família de forma integral e contínua (Ministério da Saúde do Brasil).

Os critérios de inclusão utilizados foram: que os entrevistados estivessem trabalhando nas unidades de saúde e que os indivíduos entrevistados nas comunidades fossem moradores da localidade de abrangência das unidades de saúde.

Os critérios de exclusão foram: que os profissionais de saúde e os moradores da área de abrangência das unidades de saúde não aceitassem participar do estudo.

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A técnica utilizada para obtenção dos dados foi entrevista em profundidade com questionários semi-estruturados, dando ênfase ao contexto, com observações específicas e algumas vezes sendo utilizado gravador. No caso do uso do gravador os entrevistados concordaram com o método. Todos os entrevistados assinaram termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo B).

As entrevistas gravadas foram transferidas para texto e analisadas. Os questionários utilizados na pesquisa abordaram questões sobre o uso de plantas medicinais; finalidade medicinal, modo de preparo, parte da planta utilizada e a importância do seu uso na Atenção Primária a Saúde. Foram efetuados questionários pra os médicos e dentistas (Anexo C), para as enfermeiras (Anexo D).

Este critério de pesquisa foi utilizado para os profissionais de saúde e também para os quatro moradores das comunidades pesquisadas entrevistados pela pesquisadora. As entrevistas com os moradores seguiram roteiro de perguntas (Anexo E), deixando também os entrevistados falarem abertamente sobre as plantas medicinais. Estas entrevistas com os moradores foram realizadas nas casas dos mesmos, muitas vezes à beira de um fogão a lenha. Os dados coletados destas entrevistas foram registrados livremente, de acordo com as falas dos entrevistados. Os moradores entrevistados pela pesquisadora tinham idade entre 61 e 90 anos.

Além destas entrevistas foram efetuados questionários, na forma de formulários distribuídos aos agentes de saúde das unidades para efetuar perguntas aos moradores sobre plantas medicinais. O total de formulários coletados foi de 265 distribuídos nas Unidades de Saúde: Armação, Morro das Pedras, Pântano do Sul e Ribeirão da Ilha.

Os agentes de saúde que fizeram as entrevistas foram convidados pela pesquisadora e o fizeram sem ônus. Os formulários utilizados pelas as agentes tinham como objetivo fazer um levantamento das plantas usadas pela comunidade verificando-se também a forma e o preparo e as partes das plantas utilizadas. O formulário foi uma adaptação feita pela pesquisadora, com base em um formulário efetuado por Matos, 2002, conforme o anexo F.

As citações das falas dos entrevistados na análise dos dados serão identificadas através de siglas no decorrer do trabalho: D=dentistas; M=médicos, E=enfermeiras, C= comunidade, seguidos de um nome fictício.

As plantas citadas que estavam com flor na época da coleta foram fotografadas, herborizadas e depois de identificadas depositadas no Herbário Flor da UFSC (Anexo G).

Muitas das plantas mencionadas neste trabalho de pesquisa foram fotografadas pela autora, nos quintais dos moradores entrevistados, no horto de plantas medicinais da

Universidade Federal de Santa Catarina, no horto da Universidade de Lavras - MG e no horto de plantas medicinais do Morro das pedras.

O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos e foi deferido em agosto de 2004 sob o numero 234.