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Para esta investigação aplicamos e analisamos a primeira versão da sequência didática (SD) produzida por meio de uma QSC que articulou o conceito de Energia. Entendemos que o tema problematizou a realidade socioambiental e relacionava-se com o conhecimento científico, por isso uma QSC.

A SD foi o produto educacional do mestrado profissional e sua aplicação foi feita e analisada pela pesquisadora. Essa SD contava com seis aulas que articulava a QSC do rompimento da barragem de Fundão em Mariana-MG com o uso de DC em sala de aula. Nessa SD o conteúdo de energia foi escolhido para ser abordado com foco na QSC estudada.

A SD foi iniciada com a abordagem do tema do rompimento da barragem de Fundão. Na primeira aula a professora apresentou e distribuiu para os estudantes as reportagens, retiradas de sites que apresentam grande número de acesso, para serem lidas e discutidas em grupo. Na segunda aula ocorreu um seminário com toda a turma, momento de socialização das reportagens lidas, uma vez que cada grupo teve acesso a apenas uma das reportagens.

Nas aulas 3 e 4 da SD a professora abordou o rompimento da barragem de Fundão por meio do conteúdo Energia. Nessas aulas a professora apresentou o conceito e resolveu exercícios de energia cinética, potencial gravitacional, energia mecânica e transformação de energia. Na última atividade da aula 4 foi apresentada uma discussão sobre a energia armazenada em barragens e o seu formato.

Na aula 5, a questão geradora da discussão é retomada para um fechamento do conteúdo com a QSC abordada. Nessa aula foi levantada a discussão de quais seriam as consequências do rompimento da barragem de Fundão para a Usina hidrelétrica Risoleta Neves que se encontra no caminho da lama para o mar. Em seguida, os alunos apresentaram os suportes de DC trazidos por eles sobre o tema ‘Rompimento da barragem de Fundão em Mariana-MG e suas consequências’.

Para o fechamento do trabalho foi pedido, na sexta aula da SD, que os alunos elaborassem uma produção artística qualquer sobre o tema estudado. Dentre as produções apresentadas encontramos desenhos, poesias e contos.

O trabalho aqui apresentado se trata de uma pesquisa qualitativa que é conceituada por Alves-Mazzotti (et al, 1999) como aquela que enfatiza e tenta compreender as intenções e o significado dos atos das pessoas envolvidas. Segundo

esses autores as pesquisas com essa ênfase admitem maior flexibilidade na coleta de dados e no enfoque a ser dado durante a pesquisa, uma vez que há uma interação do pesquisador com o campo de pesquisa e os sujeitos pesquisados.

Alves-Mazzotti (1999) atenta também para a necessidade de definir certo grau de estruturação prévia, uma vez que a flexibilidade oferecida pela pesquisa qualitativa pode fazer com que o pesquisador perca o foco da investigação. Mas tal estruturação não deve atrapalhar a visão do pesquisador, uma vez que na pesquisa qualitativa aparecem realidades específicas.

A pesquisa aqui realizada pode ser classificada como um estudo de caso.

Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. (YIN, 2001, p. 32)

Esse estudo trata-se de uma investigação de uma SD específica aplicada em uma escola pública de Belo Horizonte, para o 1º ano do Ensino Médio, cuja análise foca nas entrevistas feitas com os estudantes em dois momentos específicos da aplicação da SD. Nesse estudo de caso, utilizamos diversos tipos de coleta de dados (gravação das aulas, gravação das entrevistas, registro das atividades dos estudantes), dentre os quais escolhemos analisar as entrevistas feitas com os estudantes, com o objetivo de averiguar o envolvimento dos mesmos com a QSC abordada após a leitura de suportes de DC.

O delineamento do estudo de caso como metodologia de investigação mostrou a possibilidade da definição de quatro fases relacionadas: delimitação da unidade-caso; coleta de dados; seleção, análise e interpretação dos dados e elaboração do relatório do caso (VENTURA, 2007, p.386).

Os dados de pesquisa foram constituídos por: filmagem da aplicação da SD, duas entrevistas realizadas com os estudantes, uma após lerem reportagens trazidas pela professora sobre o tema e outra realizada após os alunos escolherem reportagens de seu interesse sobre o tema, e uma produção artística elaborada pelos estudantes após a finalização da SD. Todos os registros respeitaram as diretrizes de ética na pesquisa e o trabalho foi aprovado pelo comitê de ética9 (ANEXO K).

Após a coleta de dados, selecionamos as entrevistas e fizemos a transcrição dos trechos selecionados. As entrevistas foram semiestruturadas (APÊNDICE G) uma vez que as perguntas foram selecionadas previamente, porém outras questões foram

acrescidas ou modificadas de acordo com o andamento da entrevista.

A maior ou menor estruturação da entrevista deve ser analisada de acordo com o estudo realizado. A estruturação menor é necessária quando não se conhece a fundo a pesquisa, ou trata-se de analisar realidades muito diferentes, sobre qual não se tem grande conhecimento do que está sendo estudado. Esse tipo de pesquisa torna-se muito indutiva o que pode dificultar o trabalho do pesquisador, principalmente se não tiver experiência. Por outro lado, uma maior estruturação auxilia o pesquisador na manutenção do foco do que está sendo estudado e exige dele um estudo prévio sobre a realidade a ser investigada. Dessa forma nosso estudo de caso é semiestruturado, conforme Alves-Mazzotti e colaboradores (1999, p. 148)

nos estudos qualitativos, a coleta sistemática de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisador no contexto a ser estudado. Essa fase exploratória permite que o pesquisador, sem descer ao detalhamento exigido na pesquisa tradicional, defina pelo menos algumas questões iniciais, bem como os procedimentos adequados à investigação dessas questões.

As entrevistas feitas com os estudantes foram selecionadas, transcritas e, em seguida, analisadas. Com a resposta a essas perguntas e a outras foi possível transcrever e interpretar as falas com base na análise microgenética. A análise microgenética

De um modo geral, trata-se de uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes e o recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o funcionamento dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos acontecimentos. (GOES, 2000, p.9)

Nessa análise atentamos para os detalhes das ações do sujeito, os cenários, as interações, a fim de estabelecermos relações entre as unidades escolhidas (o micro) e o macro; além disso, consideramos as ações do sujeito, detalhando-as e buscando compreender e explicar os processos, as construções e transformações cognitivas ocorridas.

Dessa forma, a análise microgenética é micro, uma vez que é voltada para a análise das minúcias, por meio de recortes que representam o todo; também é genética por ser histórica, por apresentar processos que se movimentam saindo de um presente em direção a um futuro, na busca de relacionar eventos com outros planos apontando para uma transformação cognitiva que ocorre no sujeito (GÓES, 2000).

Utilizamos como unidade de análise o sentido da palavra, assim como apontado por Vigotski (2001), segundo o qual a palavra é linguagem no que se refere a sua natureza, mas também é pensamento, uma vez que traz a verbalização desse.

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