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CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

5. Balanço do trabalho desenvolvido

No global tenho estado a ter um bom resultado. Embora o rendimento deles seja lento, sempre é melhor do que dentro da turma. (Docente da Turma Aberta) De acordo com as opiniões dos participantes entrevistados, nomeadamente as docentes, os próprios alunos e uma encarregada de educação, o balanço do trabalho realizado com a Turma Aberta foi positivo. Para a responsável pela turma a maior evolução aconteceu ao nível da auto-estima dos alunos. As crianças começaram a gostar de aprender e, acima de tudo, a quererem aprender. A sua pouca autonomia tornava-os vulneráveis no grupo turma, acabando por estarem à parte. Isso foi assumido pelas docentes titulares dessas turmas. Ali, era diferente. E eles “ganharam hábitos de trabalho, estratégias para começar a trabalhar.” O nível de motivação alcançado por estes alunos, ajudou a esbater, um pouco, as marcas negativas deixadas pelas dificuldades de aprendizagem. Tal como a docente da Turma Aberta evidenciou “foram quatro meses e meio de trabalho, apenas. E têm um grande período de adaptação.” O facto do grupo ter crianças pertencentes a etnias diferentes exigiu algum tempo para se concretizar uma aceitação e respeito mútuos. As diferenças entre eles estavam bem demarcadas, quer pessoal quer socialmente. A primeira grande prioridade foi o estabelecimento de uma boa relação entre todos: alunos e docente. E isso foi conseguido, tendo-se ali formado “uma família”. Tal como uma docente titular expressou: “Senti que ela teve bastante pulso neles e que conseguiu controlá-los e conciliar o respeito e a amizade.”

Em termos das aprendizagens também houve evolução. Contudo, os resultados não eram tão visíveis, por duas razões: a heterogeneidade de níveis de aprendizagem dentro do grupo dos alunos apoiados e a complexidade de problemas que os caracterizavam. Para a docente responsável, os alunos evoluíram, ainda que lentamente, na linguagem oral, escrita e na compreensão da leitura.

No final do ano lectivo seis alunos transitaram e cinco ficaram retidos. Contudo, alguns daqueles que transitaram não possuíam o nível de competências adequadas, acabando por beneficiar da idade (estes alunos já tinham tido uma ou mais retenções).

Além disso, esperava-se que pudessem continuar a frequentar a Turma Aberta, no ano lectivo seguinte, facto evidenciado pela professora responsável pela turma e corroborado por uma encarregada de educação, ao referir que “aquilo é um trabalho de

continuação.” Na sua opinião era indispensável não só a continuidade dos alunos na Turma Aberta, como também a continuidade da professora, à frente da respectiva turma.

Ano Zero

1. Organização/ Funcionamento

Na prática diz-se que não tiveram Pré, ou seja, não frequentaram JI.

(Docente itinerante)

A acção denominada Ano Zero foi incluída no Projecto TEIP com o objectivo de apoiar alunos que chegavam ao 1º ciclo sem a frequência do Jardim de Infância.

Deste modo, pretendia-se desenvolver as competências inerentes à educação Pré-Escolar, consideradas pré requisitos indispensáveis à entrada no 1º ciclo.

Esta acção desenvolveu-se numa EB1do meio rural e, para tal, contava com uma docente do 1º ciclo, colocada no âmbito do Projecto TEIP. Os alunos eram acompanhados duas vezes por semana: à 2ª feira das 11h às 13h e das 14h às 15h; à 5ª feira das 11h às 13h e das 14h às 16h. O apoio acontecia na própria da sala de aula, em parceria pedagógica com a docente titular da turma, dado não haver espaços alternativos para a sua realização. Na sala, os alunos agrupavam-se tendo em conta os respectivos níveis de aprendizagem.

2. Alunos e sua caracterização

A minha função enquanto docente do Ano Zero é desenvolver essas aptidões que deviam ter sido desenvolvidas na Pré. (Docente itinerante)

De acordo com a docente responsável pela acção, as crianças que não frequentaram a Educação Pré Escolar “não têm um desenvolvimento da motricidade, bem como do sistema cognitivo, que lhes permita fazer a iniciação às letras e à leitura.”

A EB1 destinatária desta acção situava-se em meio rural, a uma distância de 4 km da vila, sendo frequentada quase exclusivamente por população de etnia cigana.

A escola tinha duas turmas a funcionarem em simultâneo. A turma B, destinatária da acção Ano Zero, tinha catorze alunos, distribuídos pelos quatro anos de escolaridade.

Porém, em termos práticos, nenhuns daqueles alunos apresentavam um nível de

que estavam integrados os cinco alunos a quem se destinava a acção Ano Zero. Eram todos de etnia cigana, com idades compreendidas entre os oito e os nove anos: três alunos frequentavam o 1º ano, pela 1ª vez; uma aluna repetia o 1º ano, por ter tido grande falta de assiduidade e o outro aluno, embora matriculado no 2º ano, repetia o 1º ano, por não ter conseguido adquirir as competências daquele ano de escolaridade.

3. Actividades pedagógicas

A minha função enquanto docente do Ano Zero é desenvolver essas aptidões que deviam ter sido desenvolvidas na Pré. (Docente itinerante)

Segundo a docente responsável pela acção “trabalha-se mais à base de recortes, grafismos, histórias orientadas, recorrendo a ficheiros visuais, para que eles vão desenvolvendo a lateralidade e o raciocínio, indispensáveis para iniciar o reconhecimento das letras e dos números.”

Tratando-se de crianças com poucas vivências a nível social, utilizavam-se situações próximas do seu quotidiano para facilitar a apreensão de noções como o espaço e a quantidade. Um exemplo era a utilização de tampas de garrafa para fazer contagens. Para estímulo da leitura recorria-se à música e aos grafismos para a escrita, tendo em conta que o desenvolvimento da motricidade fina era outro dos objectivos destas actividades.

Nos alunos de etnia cigana a grande dificuldade era manter a motivação e o interesse pelas aprendizagens propostas, sabendo que a falta de assiduidade era um problema muito difícil de resolver. Esta instabilidade fazia com que os progressos, em termos das aprendizagens, fossem pouco visíveis.

4. Articulação pedagógica entre docentes

Desde o início do Projecto, trabalhei sempre em cooperação, com qualquer professora. (Docente itinerante)

Semanalmente, a docente responsável pelo Ano Zero reunia-se com as duas docentes daquela escola, uma vez que acompanhava as duas turmas (a Turma A estava integrada noutra acção do TEIP que será descrita posteriormente). Esse momento de encontro servia para programarem o trabalho a realizar durante a semana. Da cooperação entre as docentes resultava a planificação para a turma que depois era

devidamente adaptada pela docente do Ano Zero, de acordo com as características específicas dos alunos. Como este apoio só acontecia duas vezes por semana, na véspera da sua deslocação à escola, a docente contactava telefonicamente a titular de turma para combinar alguns aspectos da planificação, pois era normal procederem a acertos ou até alterações, em função das necessidades específicas dos alunos. Essa articulação foi considerada pelas docentes como algo muito vantajoso, facilitando o trabalho de ambas pois, tal como a responsável pelo Ano Zero referiu, “tinha de haver uma continuidade para não haver desfasamentos na sala de aula.”

5. Balanço do trabalho desenvolvido

Temos de saber jogar com as diferenças, ajudando-nos a dar aulas de forma mais enriquecedora e ajudando no sucesso educativo dentro da sala de aula.

(Docente do Ano Zero)

Os alunos referenciados para o Ano Zero, demonstraram, inicialmente, grandes dificuldades no desenvolvimento das competências do Pré Escolar, justificadas por vários factores: (1) o início do funcionamento do Projecto TEIP ter acontecido apenas no 2º período lectivo; (2) as dificuldades, dos alunos, na aceitação e cumprimento de regras de sala de aula e de convivência social; (3) a falta de vivências dos alunos, provocando uma desmotivação e desinteresse pelas actividades propostas; (4) a falta de assiduidade de alguns alunos, impedindo o avanço nas aprendizagens e desequilibrando todo o trabalho do grupo; (5) o apoio ser apenas bi-semanal.

Contudo, no final do ano lectivo, o balanço revelou-se positivo. Verificaram-se melhorias ao nível da expressão linguística dos alunos, três dos quais adquiriram as competências essenciais do Pré Escolar. Os comportamentos foram evoluindo e, no final do 3º período lectivo, os casos de mau comportamento já eram apenas pontuais.

Essa evolução foi mais evidente no desenvolvimento de valores como a partilha;

cooperação; entreajuda. A grande heterogeneidade de níveis, dentro da mesma turma,

”torna muito difícil o trabalho de planeamento, pois não é fácil arranjar estratégias onde todos estejam contemplados.” No entanto, tal como a responsável pelo Ano Zero referiu, “houve melhorias em termos de aprendizagens.”

A falta de um espaço próprio para o desenvolvimento deste apoio específico, condicionou muito o trabalho da docente do Ano Zero e o rendimento dos alunos, não favorecendo, em nada, a sua pouca motivação para as aprendizagens escolares.

Apoio a Língua Portuguesa e Matemática

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