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De acordo com Barros e Leltfeld (1986) a metodologia pode ser definida como o estudo da melhor maneira de abordar determinados problemas, identificando a maneira de encontrar soluções.

Fortin (1999) refere que na fase metodológica são determinados os métodos necessários para atingir a resposta aos objectivos definidos, o que implica escolher um desenho de investigação adequado ao estudo pretendido, definir a amostra e escolher os métodos de colheita de dados. Neste capítulo apresentamos o tipo de estudo, os objectivos, as hipóteses e variáveis, a amostra, os instrumentos de colheita de dados, o estudo psicométrico das escalas, o estudo-piloto, os procedimentos e os procedimentos éticos.

1.1 – TIPO DE ESTUDO

O tipo de estudo relaciona-se com os objectivos da investigação. Trata-se de um estudo de metodologia mista, predominantemente quantitativo e com uma parte qualitativa. O estudo quantitativo é um processo sistemático de colheita de dados quantificáveis, neste caso através dos questionários de auto-relato, em que se pretende verificar relações entre variáveis. Conduz a resultados que devem conter o menor enviesamento possível e a objectividade e a generalização são algumas das características desta abordagem, que contribui para o desenvolvimento e validação de conhecimentos. Já a parte qualitativa deste estudo é devida à existência de perguntas abertas em duas das três escalas utilizadas e, caracteriza-se pela descrição e interpretação que permite compreender um fenómeno segundo a perspectiva dos sujeitos (Fortin, 1999).

Este estudo é correlacional, na medida em que se pretende verificar a força e a direcção das relações existentes entre as variáveis em estudo, apoiando-se em trabalhos de investigação anteriores (Fortin, 1999).

É um estudo transversal uma vez que vai decorrer num determinado período de tempo.

1. 2 – OBJECTIVOS

De acordo com Fortin (1999), os objectivos de um trabalho de investigação devem ser empíricos, pertinentes, precisos e centrados no problema.

O objectivo geral deste trabalho é: correlacionar a auto-avaliação das competências parentais nos cuidados ao RN de risco com a satisfação dos pais e com a avaliação dos enfermeiros, no âmbito da prática de enfermagem familiar.

Os objectivos específicos deste trabalho de investigação são:

Objectivo 1: Identificar se os progenitores cuidadores se sentem competentes na prestação de cuidados ao RN de risco, próximo da alta clínica.

Objectivo 2: Verificar se os factores sócio-demográficos do progenitor, as complicações da gravidez e a existência de outros filhos se relacionam com a auto- avaliação de competências nos cuidados ao RN de risco.

Objectivo 3: Avaliar a relação entre o tempo de internamento do RN e a auto- avaliação de competências parentais.

Objectivo 4: Avaliar a relação entre as semanas de gestação do RN e a auto- avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco.

Objectivo 5: Avaliar a relação entre a auto-avaliação das competências parentais nos cuidados ao RN de risco e a avaliação realizada pelo enfermeiro.

Objectivo 6: Identificar se os progenitores cuidadores de RN internados estão satisfeitos com os cuidados de enfermagem prestados.

Objectivo 7: Verificar se os factores sócio-demográficos do progenitor, as complicações da gravidez, as semanas de gestação, o tempo de internamento e a existência de outros filhos se relacionam com a satisfação com os cuidados de enfermagem.

Objectivo 8: Avaliar a associação entre a auto-avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco e a satisfação dos pais com os cuidados de enfermagem.

Objectivo 9: Avaliar se existe associação entre prática de enfermagem centrada na família e a formação, categoria profissional e tempo de serviço dos enfermeiros.

Objectivo 10: Identificar as vantagens, problemas e procedimentos que os enfermeiros das UCI/IN reconhecem no âmbito da prática de enfermagem familiar.

1.3 - HIPÓTESES E VARIÁVEIS

De acordo com Fortin (1999) a hipótese é um enunciado formal acerca da relação esperada entre duas ou mais variáveis, numa determinada população.

As hipóteses deste estudo são:

H1: Há relação entre a auto-avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco e os seguintes factores: a idade, o sexo, a zona de residência, o estado civil, as habilitações literárias e a profissão do progenitor cuidador; as complicações durante a gravidez e a existência de mais filhos.

H2: Os progenitores cujos RN tiveram um tempo de internamento mais longo apresentam uma auto-avaliação de competências nos cuidados mais elevada.

H3: Há relação entre as semanas de gestação do RN e a auto-avaliação de competências parentais.

H4: Há relação entre a auto-avaliação das competências nos cuidados ao RN de risco realizada pelo progenitor cuidador e a avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco realizada pelo enfermeiro.

H5: Há relação entre a satisfação dos progenitores cuidadores com os cuidados de enfermagem e os seguintes factores: a idade, o sexo, a zona de residência, o estado civil, as habilitações literárias e a profissão do progenitor cuidador; as complicações durante a gravidez, as semanas de gestação, o tempo de internamento e a existência de mais filhos.

H6: Os progenitores cuidadores cuja auto-avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN é mais elevada apresentam um nível de satisfação com os cuidados de enfermagem mais elevado.

H7: Há relação entre a prática de enfermagem centrada na família e: as habilitações literárias dos enfermeiros, a categoria profissional, o tempo de serviço como enfermeiro, o tempo de serviço como enfermeiro de Neonatologia e o método de trabalho.

Por sua vez, as variáveis são definidas como características e atributos dos elementos da população em estudo, podendo assumir diferentes valores ou categorias (Fortin, 1999). A variável independente é manipulada pelo investigador de forma a estudar os efeitos na variável dependente.

As variáveis independentes são:

- a idade, o sexo, o estado civil e a zona de residência do progenitor cuidador,

- as habilitações literárias e a profissão do progenitor cuidador, - as habilitações literárias do enfermeiro,

- o tempo de serviço como enfermeiro e como enfermeiro de neonatologia, - a categoria profissional do enfermeiro,

- o método de trabalho,

- a existência de complicações durante a gravidez, - as semanas de gestação,

- o tempo de internamento do RN de risco, - a existência de outros filhos,

- o diagnóstico do RN de risco,

- o tempo que o progenitor cuidador acompanha o RN de risco, - o interesse do progenitor no RN de risco segundo o enfermeiro,

- a patologia ou comportamento de risco susceptível de limitar o progenitor nos cuidados

As variáveis dependentes são:

- a avaliação e a auto-avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco,

- a satisfação do progenitor cuidador com os cuidados de enfermagem prestados na UCI/IN,

- a prática de enfermagem familiar.

Ressalva-se que nas hipóteses 4 e 6 a auto-avaliação de competências parentais nos cuidados ao RN de risco assume-se como variável independente.

1. 4 – AMOSTRA

A amostra é uma réplica em tamanho mais reduzido da população-alvo. É considerada representativa quando as suas características se assemelham o mais possível às da população-alvo (Fortin, 1999).

A amostra do estudo-piloto (pré-teste) é constituída por 10 enfermeiros da Unidade de Cuidados Intermédios de Neonatologia (UCIN) do HIP e por 10 progenitores cuidadores cujos RN estiveram internados nesta unidade.

A amostra do estudo de supervisão em enfermagem neonatal é constituída pelos 36 enfermeiros da UCIN e Serviço de Pediatria do HIP e por 101 progenitores cuidadores cujos filhos recém-nascidos estiveram internados na UCIN do HIP entre Abril e Julho de 2009.

É de salientar que o progenitor cuidador é o pai e/ou a mãe com quem se negociaram os cuidados após prévio ensino, e que é responsável pela prestação de cuidados ao RN de risco.

1.5 – INSTRUMENTOS DE COLHEITA DE DADOS

Os instrumentos de colheita de dados utilizados neste estudo são três questionários de auto-relato, que são descritos seguidamente.

• Questionário de Auto-avaliação de Competências Parentais nos Cuidados ao RN de Risco e de Satisfação com os Cuidados de Enfermagem (Anexo 1).

Este questionário foi elaborado propositadamente para esta investigação e é entregue ao progenitor cuidador, a partir dos cinco dias antes da alta clínica. É composto por três partes:

 1. Caracterização do progenitor cuidador

Nesta parte do questionário pretendemos obter alguns dados sócio-demográficos do progenitor cuidador, mas também, obter dados relativos à existência de complicações da gravidez, às semanas de gestação aquando o nascimento, ao tempo de internamento do RN e à existência de outros filhos. As variáveis que não é possível medir directamente foram operacionalizadas da seguinte forma:

Habilitações literárias do progenitor cuidador

De acordo com o sistema educativo as habilitações literárias podem ser classificadas em:

- Ensino Básico:

• 1º ciclo (1º ao 4º ano) • 2º ciclo (5º e 6º ano) • 3º ciclo (7º ao 9º ano) - Ensino Secundário (10º ao 12º ano)

- Ensino Superior (graus de Bacharelato, Licenciatura, Mestrado e Doutoramento) Profissão do progenitor cuidador

A profissão foi classificada tendo como base a Classificação de Graffar que inclui: - 1º grau: Directores de bancos e de empresas, licenciados, profissionais com títulos universitários ou de escolas especiais e militares de alta patente.

- 2º grau: Chefes de secções administrativas ou de negócios de grandes empresas, subdirectores de bancos, preitos, técnicos e comerciantes.

- 3º grau: Ajudantes técnicos, desenhadores, caixeiros, contra-mestres, oficiais de primeira, encarregados, capatazes e mestres-de-obra.

- 4º grau: Operários especializados com ensino primário completo (ex. motoristas, polícias, cozinheiros).

- 5º grau: Trabalhadores manuais ou operários não especializados (ex: jornaleiros, mandaretes, ajudantes de cozinha, mulheres de limpeza)

Para além destes, tendo em conta a realidade da amostra foram incluídas as categorias de doméstica, estudante e desempregado.

Estado civil

O estado civil é definido como as relações dos cidadãos entre si, feitas segundo a jurisdição dos tribunais civis de um país. De acordo com Barreto (1999), o estado civil pode ser: solteiro, casado, divorciado, união de facto, separado e viúvo.

Zona de residência do progenitor cuidador

A zona de residência foi classificada em rural e urbana. Existência de complicações na gravidez, e de outros filhos

A existência de qualquer uma destas variáveis foi classificada como sim ou não.  2. Escala de Auto-Avaliação das Competências Parentais (EAACP) nos

Cuidados ao RN de Risco

Esta escala foi também elaborada para este trabalho, para que fosse adequada ao contexto que pretendemos investigar. Existe já uma Escala de Intensidade da Competência Materna Auto-Percebida, tipo Likert e com 41 itens, que foi elaborada por Marques e Sá (2004) para ser aplicada a mães de prematuros. Contudo, não a consideramos adequada uma vez que o objectivo é a auto-avaliação de competências do progenitor cuidador do RN de risco, sendo este prematuro ou de termo com situação de patologia. Para além disso, alguns itens não se adequavam à realidade de todas as UCI/IN onde se planeou aplicar o questionário, enquanto que havia outros que considerámos necessário incluir.

As escalas de medida avaliam sobretudo variáveis psicossociais e situam a pessoa numa série ordenada de categorias. As escalas psicossociais transformam características qualitativas em variáveis quantitativas, o que possibilita a análise estatística (Fortin, 1999).

A EAACP nos Cuidados ao RN de Risco é uma Escala de Likert, que se destina a ser preenchida pelo progenitor cuidador do RN de risco, seja o pai e/ou a mãe, quando está prestes a ter alta clínica (a partir dos 5 dias anteriores), ou seja, no momento em que mãe/pai devem prestar os cuidados ao RN de forma autónoma. Simultaneamente, um dos enfermeiros responsáveis pela díade mãe/pai – RN preenche a Escala de Avaliação de Competências Parentais nos Cuidados (EACP) ao RN de Risco, que comporta os mesmos itens. Dessa forma, será possível comparar a auto-avaliação realizada pelo progenitor cuidador com a avaliação que é realizada pelos enfermeiros responsáveis.

Definimos a competência parental nos cuidados ao RN de risco como o conjunto de capacidades, comportamentos, conhecimentos, atitudes e intenções que permitem um desempenho adequado ou não a cada situação específica de prestação de cuidados ao RN de risco. É o saber-fazer em situação e envolve também a tomada de decisão e os aspectos relacionais.

A avaliação das competências parentais foi operacionalizada em várias dimensões, de acordo com as necessidades do RN, propostas pelo modelo de Virgínia Henderson. O modelo de Virgínia Henderson é o que sustenta a prática de enfermagem na maioria dos hospitais portugueses e é aplicado em qualquer serviço, independentemente da idade do utente. Segundo Phaneuf (2001), este modelo engloba 14 necessidades fundamentais:

1 – Respirar 2 – Beber e comer 3 – Eliminar

4 – Movimentar-se e manter uma postura correcta 5 – Dormir e repousar

6 – Vestir-se e Despir-se

7 – Manter a temperatura do corpo dentro dos limites normais 8 – Estar limpo, cuidado e proteger os tegumentos

9 – Evitar os perigos

10 – Comunicar com os seus semelhantes 11 – Agir segundo as suas crenças e valores

12 – Ocupar-se com vista à sua realização 13- Recrear-se

14 – Aprender

Estas 14 necessidades fundamentais foram a base da elaboração do conjunto de indicadores e de itens, presentes no quadro 1, que traduzem as competências parentais, ou seja, a capacidade do progenitor prestar cuidados ao RN de risco, de forma autónoma e adequada a cada situação.

Foram agrupadas em Dimensões de Competências Parentais, já que muitas destas necessidades se encontram relacionadas:

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