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O carvalhal é um ecossistema florestal de grande importância ecológica e, em alguns contextos, social e económica. No entanto, o interesse comercial dos carvalhos e o seu desenvolvimento lento fazem com que, apesar da sua importância, sejam preteridos a favor de outras espécies florestais, ou de outro género de ecossistemas (e.g. agrícola). A escolha de uma forma de gestão adequada para cada caso pode conciliar interesses dos stakeholders a diferentes níveis (os que procuram o carvalhal para obtenção de benefício privado e os que defendem a preservação do ecossistema, da paisagem e da biodiversidade) de forma a proteger o ecossistema.

As situações e as necessidades de planeamento variam caso a caso, pelo que uma adaptação crítica é fundamental. Dos métodos de avaliação acima sugeridos não existe nenhum método que seja universalmente mais aconselhável. A diversidade de espécies de Carvalhos e as diferentes situações sócio-económicas, ambientais e ecológicas, dificultam a definição de uma metodologia específica para avaliação de alternativas. No entanto existem linhas gerais, em parte derivadas da gestão florestal, que podem ser exploradas. Sugere-se aqui uma metodologia de avaliação de alternativas de gestão do carvalhal baseada nos serviços dos ecossistemas.

Os carvalhais, como os outros sistemas florestais, são caracterizados pela sua multifuncionalidade. Segundo Gegersen et al. (1995), podem ser vistos como:

1. fonte de comércio 2. lugar de caça 3. recreio e educação 4. espaço para agricultura

5. protecção da bacia hidrográfica 6. local para novas povoações 7. reserva para regeneração natural 8. potenciais pastagens para animais 9. local de descoberta de novas espécies 10. fonte de materiais para a indústria

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Assim é frequente encontrar diferentes critérios de gestão e stakeholders com conflitos de interesses (Kangas e Kangas 2005). É necessária uma avaliação que inclua toda esta complexidade, uma abordagem mais abrangente que distinga “gestão sustentável” de “crescimento sustentavelmente gerido” (MEA, 2005). A gestão sustentável das florestas em todas as suas vertentes é actualmente o principal objectivo das instituições florestais a nível mundial (Mendoza e Prabhu, 2000).

Defende-se a adopção de uma avaliação multicritério que é, de todos os métodos estudados, a que apresenta maior flexibilidade na utilização da informação disponível, sendo ainda uma adequada plataforma para a integração de métodos participativos. Permite um ajustamento da profundidade do estudo (complexidade, custos, qualidade de informação e tempo) e da incorporação de diferentes técnicas tais como a avaliação económica. A incorporação de indicadores, medidos em unidades monetárias, dos serviços dos ecossistemas pode facilitar a tomada de decisão, por torná-los mais facilmente comparáveis e reduzir a quantidade de informação diversificada.

A avaliação económica pode ser um método fiável para obtenção de valores dos benefícios relacionados, por exemplo, com a produção de madeira ou lenho, mas o cálculo do valor das funções que o ecossistema carvalhal desempenha para a sociedade em termos da manutenção da biodiversidade e de serviços de protecção, corre o risco de ser incerto, demorado e dispendioso. Assim, e numa perspectiva de avaliação integrada de aspectos de diferente natureza, a avaliação económica pode não ser a mais aconselhada, pois exige informação, muitas vezes indisponível ou dispersa e adopta pressupostos de avaliação discutíveis.

Já a utilização de uma análise de indicadores permite a obtenção, de forma relativamente simples, de grande quantidade de informação sobre o ecossistema. No entanto, os indicadores são apenas uma concentração da informação destinada a facilitar a percepção de público não especializado. Parte da informação pode ser perdida neste processo de simplificação. Por outro lado, o uso excessivo de indicadores em diferentes unidades pode ser problemático, especialmente em ecossistemas complexos.

Defende-se que o processo de avaliação deve ser desenvolvido em 10 fases, abaixo descritas, de forma iterativa e/ou simultânea. A divisão do processo em diferentes passos procura estruturá-lo para que a informação seja correctamente incorporada nas fases mais adequadas.

1. Recolha de informação da área de estudo; 2. Identificação de objectivos e âmbito;

3. Identificação de benefícios do ecossistema e dos serviços que os suportam; 4. Identificação de stakeholders;

- 43 - 5. Escolha de benefícios relevantes;

6. Selecção de critérios;

7. Selecção de indicadores (opcional); 8. Definição de alternativas;

9. Previsão e valoração de evolução dos diferentes critérios; 10. Avaliação de resultados.

O processo começa pela recolha de informação inicial sobre a área de estudo, ainda a um nível bastante abrangente, apenas o suficiente para definir o âmbito do estudo e definir objectivos. Em seguida procede-se à inventariação dos bens do ecossistema e dos serviços que os suportam. Esta fase destina-se a fornecer uma melhor sistematização do complexo funcionamento do ecossistema, permite uma melhor aproximação na forma de cumprir os objectivos e será fundamental para as fases posteriores, nomeadamente na identificação de alternativas e de stakeholders. Após a identificação dos serviços, resta saber quem serão os seus beneficiários. Deste modo, e recorrendo à informação recolhida inicialmente, os stakeholders são encontrados. Estes terão um papel importante em todo o processo pois só deles depende a ligação entre os benefícios e o bem-estar e têm um conhecimento do local que não deve ser ignorado. Devem ser chamados para a revisão dos objectivos e para os passos seguintes ou seja, a identificação dos benefícios mais relevantes e a definição dos critérios com que desejam avaliar a gestão do carvalhal. Estes critérios serão a chave da avaliação e da sua escolha dependem os resultados do estudo. Seguidamente identificam-se as alternativas que agradam aos stakeholders e que possivelmente possam resolver os conflitos ou cumprir os objectivos do estudo. A definição de alternativas deve ser feita depois da escolha de critérios e indicadores de modo a que o processo seja orientado para objectivos e não para as alternativas em si. A pré-escolha de alternativas poderia limitar o processo de avaliação e restringir a criatividade (De Brucker et al., 2004). Depois, simulam-se os cenários e valorizam-se (mais uma vez com os stakeholders) todas as alternativas, nos diferentes critérios. A identificação de indicadores é um passo opcional, mas pode ser uma ajuda útil neste processo de previsão. A última fase do processo consiste na avaliação de resultados que será integrada na tomada de decisão.

- 44 - Informação inicial Objectivos e âmbito Benefícios Serviços Stakeholders Benefícios relevantes Serviços relevantes Definição de alternativas Avaliação de Resultados Tomada de decisão Previsão e valorização Definição de indicadores Definição de critérios Processo com participação pública Processo opcional

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