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A sistemática utilizada foi a pesquisa descritiva e exploratória, posto que o embasamento da tese perseguiu: a observação, registros e análises, correlacionando os fatos e fenômenos; além de realizar descrições precisas da situação e descobrir as relações existentes entre os elementos de pesquisa (CERVO, SILVA e BERVIAN, 2007).

Para tanto, o uso de estudos descritivos e da pesquisa documental, através da coleta de dados, serviu de metodologia para buscar na literatura a apreensão do conhecimento científico existente, acerca da dimensão tanto do contexto quanto do fenômeno de interesse estudado, seguida de inferência em documentos e observações diretas para argumentação das evidências obtidas.

A metodologia adotada no trabalho foi a partir de levantamentos e estudos dos eixos da pesquisa, tais como: reconhecimento da realidade do Comitê de Bacia Hidrográfica Piancó-Piranhas-Açu; o histórico da legislação e da gestão das águas no país; governança e participação social na gestão dos recursos hídricos; políticas públicas de acesso à água potável; conflitos sobre o uso da água; e, mecanismos de gestão compartilhada e descentralizada dos recursos hídricos.

Para cada objetivo a ser atendido, foram traçados alguns procedimentos para a apresentação dos resultados.

45 Quadro 02. Metodologia desenvolvida pelo trabalho.

OBJETIVO PROCEDIMENTO

a) identificar se os princípios legais, adotados na Política Nacional de Recursos Hídricos, estão sendo observados pela ANA, dando ênfase ao principio da cooperação, da participação popular e do desenvolvimento

sustentável;

1) Pesquisa bibliográfica e documental

2) Coleta e análise de dados - busca literária, inferência em documentos;

3) Contatos pessoais ou por e-mail com os pesquisadores da ANA;

4) Observação direta de sua efetividade nos instrumentos e fundamentos previstos na PNRH;

5) Reunião com a secretaria executiva do Comitê para realização de entrevista.

b) analisar o panorama das Políticas Públicas de Acesso a Água Potável no Brasil e a gestão dos Recursos Hídricos e verificar se a Política Pública do Programa Água Doce cumpre o disposto Política Nacional de Recursos Hídricos;

1)Pesquisa bibliográfica e documental;

2)Coleta e análise de dados - busca literária, inferência em documentos;

3)Troca de experiências em encontros nacionais e estaduais do Programa, com a participação em oficinas oferecidas pelo MMA;

4)Observação direta da gestão dos sistemas de dessalinização implantados no Rio Grande do Norte.

c) relatar como se deu o processo de formulação do Programa Água Doce no Brasil e a gestão participativa/compartilhada prevista para o gerenciamento dos sistemas de dessalinização, destacando o acordo de gestão e o principio da participação social como meio de empoderamento dos usuários de água em um assentamento no Rio Grande do Norte

1)Levantamento bibliográfico e análise de documentos e registros do Programa Água Doce;

2)Visitas e observações diretas;

3)Entrevistas com questões abertas com moradores e lideranças locais;

4)Participação em reuniões de mobilização social, como parte do trabalho desenvolvido junto a consultoria do PAD/RN.

Fonte: ARCILA, 2014.

Foram realizados contatos pessoais através da participação da doutoranda em reuniões de mobilização social, como parte do trabalho desenvolvido junto a consultoria do PAD/RN. Ainda, houve a troca de experiências em encontros nacionais e estaduais do Programa, com a participação em oficinas oferecidas pelo MMA.

46 Por fim, foi realizada a observação direta da gestão dos sistemas de dessalinização implantados no Rio Grande do Norte, sendo aqui descrito de forma mais detalhada o sistema do Assentamento Caatinga Grande, para saber qual a realidade adotada no processo de gestão da água, de modo a inferir o grau de participação da sociedade e na tomada de decisões, identificar as fragilidades e potencialidades existentes.

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52 CAPÍTULO I

A EFETIVIDADE DOS PRINCÍPIOS AMBIENTAIS NA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Rafaella Iliana Alves Arcila

Universidade Federal do Rio Grande do Norte http://lattes.cnpq.br/2072468231540503

rafaelailiana@hotmail.com

Raquel Franco de Souza

Universidade Federal do Rio Grande do Norte http://lattes.cnpq.br/5181465668193577

raquel@geologia.ufrn.br

Milton Ferreira da Silva Júnior

Universidade Estadual de Santa Cruz http://lattes.cnpq.br/7535411446526168

notlimf@gmail.com

ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO A PUBLICAÇÃO NO PERIÓDICO AMBIENTE E SOCIEDADE, SENDO TRAZUDIDO PARA O INGLÊS, CONFORME SEGUE, E, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE

ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA.

http://www.scielo.br/revistas/asoc/pinstruc.htm

Introdução

A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) surgiu, em 1997, para regulamentar o uso da água de forma sustentável, para que este fosse realizado de forma racional e justa. O uso de forma racional e justa da água dá-se em consequência da importância que a água possui em todos os aspectos da atividade humana, além de ser elemento de estabilidade social e desenvolvimento econômico das comunidades.

Diante desses atributos, o equilíbrio no uso e o estabelecimento de normas são essenciais para garantir a utilização justa. Daí decorre a necessidade de

53 obediência às normas e princípios atinentes aos recursos hídricos, além da participação da sociedade na gestão democrática de tais recursos.

Embora se considere importante bem ambiental, desde o surgimento da humanidade, é recente a discussão acerca do direito à água potável como direito fundamental, ao contrário do tratamento que é dado ao direito ao meio ambiente como direito humano fundamental. O reconhecimento dos direitos como direito fundamental é construído pelas lutas das pessoas em defesa desses novos direitos. A evolução das conquistas e o reconhecimento dos direitos, através da evolução histórica, permite a identificação de várias dimensões dos direitos fundamentais. A primeira engloba os direitos civis e políticos (liberdade); a segunda, os direitos sociais, econômicos e culturais (igualdade); a terceira, os direitos relativos ao meio ambiente, à paz, ao desenvolvimento, ao patrimônio da humanidade e à comunicação; a quarta, o direito à democracia, ao pluralismo e à informação; a quinta, à paz (Bonavides, 2006); e, a sexta, consagra o direito de acesso à água potável, gerado pela crise na distribuição da mesma (Fachin, 2010).

A PNRH (Lei nº 9.433/1997) é baseada em princípios que merecem o seguimento para que seja atingido o objetivo a que a lei se propõe. Antes de adentrar nos princípios constantes na PNRH, necessário se faz discorrer sobre os princípios gerais do direito ambiental aplicáveis à água, traçando um paralelo com os princípios presentes nesta norma.

Alguns doutrinadores defendem que os princípios são diretrizes para integrar lacunas, como previsto na Lei de Introdução ao Código Civil (art. 4°, LICC). Outros defendem que, também, são “enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas" (Reale, 1995). Logo, os princípios constituem a base na qual assentam os institutos e as normas jurídicas (Medaur,1993). Funcionam como caminhos argumentativos, que podem ser considerados em momentos de decisões (Varella et al., 2009). No tocante a PNRH, toda a principiologia advém do direito internacional.

Quanto à averiguação da efetividade de tais dispositivos, baseando-se no que se aplica aos tratados, a investigação da efetividade dos princípios objetiva verificar se os agentes para os quais foram destinadas as normas estão, de fato, cumprindo com o que diz a regra, de modo a verificar se a norma está cumprindo a função.

54 Este trabalho almeja analisar os princípios do direito ambiental aplicados na gestão das águas brasileiras, precisamente na Política Nacional de Recursos Hídricos, com destaque para a evolução histórica dos mesmos e sua relação com a gestão dos Recursos Hídricos, desde o surgimento da preocupação em preservação e conservação do bem ambiental e sua relação efetiva com o disposto na Lei nº 9.433/97, a qual rege todo o ordenamento das águas do Brasil. Identificados os princípios legais adotados na Política Nacional de Recursos Hídricos, busca-se certificar se o disposto na PNRH está sendo observado pela Agência Nacional das Águas, a fim de reavaliar o processo da gestão integrada dos recursos hídricos, sob o ponto de vista institucional, relacionando-o com a problemática da gestão dos Recursos Hídricos no Brasil. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica e documental acerca dos assuntos citados, como forma de oferecer subsídios para uma gestão do bem ambiental – água - de maneira mais eficiente.

Princípios aplicados à gestão dos recursos hídricos

Em meio a essa importância, discorrer-se-á a respeito dos princípios de maior destaque na PNRH, os quais devem servir de base na gestão dos recursos hídricos. Meio ambiente e água como direito humano fundamental

Considerado como direito de terceira dimensão (princípio da solidariedade), é um dos pontos mais importantes para a garantia da vida digna, sendo reconhecido através de vários tratados internacionais, tal como a Declaração de Estocolmo (1972), a qual dispõe que o homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.

A Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (Nairóbi, 1981) e a Conferência das Nações Unidas (Rio, 1992) discorrem sobre o tema, destacando que os povos possuem direito a um meio ambiente saudável e propício ao seu desenvolvimento.

55 No ordenamento jurídico pátrio, tal princípio encontra-se disposto na Constituição Federal (CF) de 1988, no artigo 225, caput:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Até então, o direito aos recursos hídricos estava resguardado de forma geral, no que concerne à sua tutela, posto que estava inserido no conceito do que seja meio ambiente. Especificamente acerca das águas, a Conferência de Paris (1998) e a Conferencia da Alemanha (2001) trataram a água como essencial para a humanidade, bem como para a preservação dos ecossistemas e do desenvolvimento econômico em todas as suas fases, elevando a condição de água potável como um direito humano, devendo o Poder Público assegurar aos seres humanos o acesso isonômico à água.

Em 2006, a ONU emitiu o Relatório de Desenvolvimento Humano, corroborando com a mesma ideia. Em 2010, a Assembléia Geral da ONU reconheceu explicitamente o direito humano à água, destacando a água potável como essencial para a realização de todos os direitos humanos (Brasil, 2012).

A partir daí, percebe-se a inserção do direito de acesso à água potável como direito fundamental, para conclamar os governos a atuarem na sua concretização.

Importa considerar que não apenas a afirmação de forma expressa do direito de acesso à água potável como direito fundamental é suficiente para garantir o reconhecimento como sendo direito fundamental. É necessário verificar a efetividade das normas e princípios que tutelam tal direito, bem como a presença ou ausência de certas práticas inerentes aos princípios, que atestam ou não, a materialidade destes últimos.

A expressividade e reconhecimento, no texto constitucional, dão-se pelo fato de antes ter sido considerado como direito fundamental, como outrora aconteceu com o direito ao meio ambiente (Fachin, 2010). Assim, mostra-se que independente da expressividade, o reconhecimento é o que se tem de primordial para que os cuidados para com o bem ambiental sejam realizados com maior amplitude efetiva.

56 Desenvolvimento sustentável

Considerada como uma das peças chaves do desenvolvimento sustentável, a água possui importância ímpar para as dimensões social, econômica e ambiental do desenvolvimento.

O princípio do desenvolvimento sustentável remonta a sua origem nos anos 70, quando na Conferência de Estocolmo, em 1972, retratou-se a necessidade de adoção de práticas, pelos Estados, que propiciassem desenvolvimento, porém, compatibilizando este com a proteção ao meio ambiente humano em benefício de sua população.

Até então, dissociava-se o homem da natureza, ou seja, havia a preocupação da preservação da natureza para que o homem pudesse gozar dos recursos. Esse cenário foi se modificando, com a evolução do sistema, com o avançar das relações e a necessidade de despertar o sentido de que a preservação/proteção ambiental não deve englobar apenas o homem, mas todo o meio em que ele vive, havendo integração na relação.

Houve uma mudança no processo de desenvolvimento, sendo necessária a busca pelo equilíbrio entre a exploração dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico.

O princípio do desenvolvimento sustentável, segundo D’Isep (2010), é princípio geral do direito ambiental internacional, e dentro do universo dos recursos hídricos, mostra-se concreto na forma de gestão sustentável das águas. Baseado nesse princípio defende-se a busca por parâmetros que visem a implantação de uma

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