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Na revisão da literatura que operacionalizámos no capítulo anterior foi encetada uma abordagem teórica e conceptual com o objetivo de situar o discurso relativamente à segurança, ao sentimento de insegurança, à prevenção, ao policiamento de proximidade e, em particular, aos programas especiais de policiamento de proximidade, implementados pelas forças de segurança, nos quais se insere o programa “Comércio Seguro”, que se constitui o foco desta investigação.

Cumprida a dimensão teórica e conscientes de que a definição e a estruturação de qualquer estudo empírico decorrem de um projeto de pesquisa que assente na sequência lógica que interliga os dados empíricos obtidos às questões de investigação iniciais, às proposições e obviamente às conclusões (Freixo, 2012), importa passar ao estudo de campo de modo a responder às questões enunciadas. Pois, de acordo com Fortin (1999), “o ponto de partida de qualquer investigação consiste em escolher um domínio de interesse e em transpô-lo para uma questão que poderá ser estudada” (p. 59). Assim, atendendo à temática abordada e aos objetivos traçados, definiu-se a seguinte (Pp): “Qual é a importância do impacto do Programa Especial Comércio Seguro, implementado pela GNR afeta ao DTer de Viseu, no sentimento de segurança dos comerciantes da sua zona de ação?”. Decorrente da (Pp) explanada, seguem-se os procedimentos tendentes à sua operacionalização, de modo a clarificar o que se pretende saber (Quivy & Campenhoudt, 1998). Formulam-se, assim, as seguintes Perguntas Derivadas (Pd):

Pd1: “Como é que os comerciantes avaliam a prestação da GNR?”;

Pd2: “Como é que os comerciantes que experienciaram cenários de vitimização

avaliam a prestação da GNR?”;

Pd3: “O programa “Comércio Seguro” contribui para a diminuição do crime nas zonas

comerciais e para o aumento do sentimento de segurança nos comerciantes?”; Pd4: “O programa Comércio Seguro contribui para uma imagem dos militares da

GNR sólida e de confiança?”;

Pd5: “As parcerias criadas no âmbito do programa Comércio Seguro contribuem para

o aumento do sentimento de segurança dos comerciantes?”

De seguida, conscientes da insuficiência de conhecimentos e de respostas, somos impelidos a formular hipóteses (H) que poderão ser confirmadas ou refutadas enquanto

existe uma relação continuada entre a realidade e a teoria (Freixo, 2011). Neste intuito, apresentamos as seguintes hipóteses:

H1: Os comerciantes percecionam a prestação da GNR de forma positiva;

H2: Os comerciantes que experienciaram cenários de vitimização revelam menor

satisfação com o serviço prestado pela GNR, em relação aos que nunca foram alvo de crime;

H3: Os comerciantes entendem que as zonas comerciais afetas ao DTer de Viseu são

seguras e as atividades desenvolvidas no âmbito do programa “Comércio Seguro” são relevantes;

H4: O programa “Comércio Seguro” contribui para uma imagem dos militares da

GNR sólida e de confiança;

H5: As parcerias criadas no âmbito do programa “Comércio Seguro” contribuem para

o aumento do sentimento de segurança dos comerciantes.

Em ordem à operacionalização das hipóteses supra-formuladas, as variáveis dependentes mais importantes a considerar neste estudo são: a satisfação com o serviço prestado pela GNR e o sentimento segurança.

2.1. Método de abordagem fundamentos de uma opção

Partindo do exposto, passamos à arquitetura da investigação orientando-a pelas Questões e pelas Hipóteses41 já explanadas. Selecionámos, criteriosamente, os procedimentos, os métodos e as técnicas de recolha e análise dos dados visando responder de forma inequívoca às questões formuladas (confirmando ou refutando as Hipóteses avançadas). Concretamente, pretende-se que os resultados obtidos permitam avaliar o impacto do programa “Comércio Seguro” na segurança dos comerciantes e, de um modo mais preciso, permitam também avaliar, por um lado, a perspetiva da população comerciante relativamente à sua perceção da segurança, do policiamento e dos resultados da atividade policial e, por outro, a dos agentes sobre a forma como se relacionam com a população e com a estrutura em que se inserem. Contudo, numa primeira etapa, sentimos algumas dificuldades que emergem das próprias características do objeto de análise e do horizonte temporal estabelecido. A avaliação da eficácia desta prática policial é uma tarefa delicada, dado que dificilmente se conseguem definir metas precisas e limitadas no tempo e no espaço.

Por outro lado, se um dos objetivos genéricos é a prevenção de problemas que estão na origem da criminalidade, e se essa tarefa realmente for cumprida, os crimes/problemas não terão lugar, logo não é possível medir diretamente algo que não acontece; ou seja, torna-se particularmente difícil avaliar a criminalidade prevenida. Outra das medidas previstas no Programa “Comércio Seguro” é o estabelecimento de parcerias com entidades, públicas ou privadas. No caso de sucesso do programa, medido por exemplo pela diminuição da taxa de criminalidade, como avaliar a parcela de sucesso que cabe a cada parceiro? Mesmo que as taxas de criminalidade diminuam, dificilmente se consegue avaliar com rigor se essa diminuição é resultado da implementação do programa ou de outros factores externos.

Conscientes das limitações supra-mencionadas, iremos, neste capítulo, apresentar a metodologia da investigação, fundamentando as opções tomadas no que respeita ao tipo de abordagem e ao método de análise, uma vez que a opção metodológica é primordial para a fiabilidade e a qualidade dos resultados. Neste contexto e certos de que a natureza do problema de investigação determina o tipo de método a utilizar, tendo em conta as variáveis e a sua operacionalização (Fortin, 2009) e ainda, segundo Quivy e Campenhoudt (2008), uma investigação social não se baseia única e exclusivamente no conjunto de métodos e técnicas predefinidos que apenas necessitam de ser aplicados, pois “a escolha, a elaboração e a organização dos processos de trabalho variam com cada investigação específica” (p. 18), iremos recorrer ao método científico. E tal porque, de acordo com Sarmento (2013), “o método científico é composto por um conjunto de regras básicas que visam obter novo conhecimento científico” (p.4), que se consubstancia através da recolha de resultados válidos, fiéis e reprodutíveis.

Nesta ordem de ideias, optou-se, nesta investigação, por um estudo de caso, delimitado à area de ação do DTer de Viseu, tendo o trabalho de campo decorrido no primeiro quadrimestre de 2017. De acordo com Freixo (2012), este procedimento metodológico materializa-se pela “exploração intensiva de uma simples unidade de estudo, de um caso (…) que exija do investigador uma atitude (…) interventiva” (p. 120). Segundo Freixo (2012), o estudo de caso, situando as observações no seu contexto real, implica geralmente o trabalho de campo, tirando partido de fontes múltiplas com recurso à análise documental, entrevistas e questionários. Assim, com o objetivo de promover uma recolha de informação mais ampla que permita uma análise mais criteriosa, procedeu-se à triangulação que consiste “na utilização de diferentes métodos combinados, no interior do mesmo estudo” (Fortin, 1999, p. 322), possibilitando desta forma, comparar a informação obtida em diferentes fontes.

Do exposto, consideramos que uma abordagem mista, conciliando a investigação qualitativa com a quantitativa, potencia a profundidade da análise e encaminha-nos para conclusões mais abrangentes e fiáveis. Entendendo, corroborando Fortin (2009), que uma abordagem qualitativa nos permite uma compreensão mais ampla e global do fenómeno em estudo, recorremos a este método para nos possibilitar observar, descrever, interpretar e apreciar o meio e o fenómeno tal como se apresentam, não procurando controlá-los, mas apenas descrevê-los ou interpretá-los sem a preocupação de os avaliar. Em nosso entender, traduz-se num método que desenvolve conhecimento e demonstra a relevância da nossa compreensão e dos participantes no processo de investigação. Neste estudo, procurámos obter a informação qualitativa pretendida através de entrevistas ao Comandante do DTer de Viseu; aos militares afetos à SPE e que implementam o programa “Comércio Seguro”; aos Presidentes das Câmaras das zonas afetas ao DTer referido e ainda ao presidente da Associação Comercial de Viseu. Paralelamente, entendemos também como relevante para esta investigação uma abordagem quantitativa, uma vez que esta consiste num “processo sistemático de colheita de dados observáveis e quantificáveis” (Fortin, 1999, p. 22), numa sequência de etapas que vão desde a formulação do problema até à obtenção dos resultados pretendidos, sendo considerado o melhor método para confirmar as hipóteses. Segundo Freixo (2012), a objetividade, o controlo e a generalização são marcas distintivas desta abordagem e concorrem, por isso, para o desenvolvimento e validação dos conhecimentos e ainda para a possível generalização dos resultados, desde que seja acautelado o rigor da amostra, as técnicas, e os testes estatísticos sejam os mais adequados. No intuito de recolher a informação pretendida no âmbito dessa investigação, aplicámos inquéritos por questionário de autopreenchimento aos comerciantes em atividade na zona de ação do DTer de Viseu.