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O objetivo deste trabalho é detectar fenômenos fonéticos no Sítio Arisco, mais especificamente, situado na cidade, paraibana, de Lagoa de Dentro, e analisar através de estudos teóricos até que ponto os fatores externos condicionam as mudanças na língua e como elas são recebidas pela sociedade, ao mesmo tempo em que temos como plano secundário discutir as duas concepções da formação do PB, a primeira concentrada no Latim e a segunda no Africano. Nos propusemos primeiramente a fazer uma pesquisa bibliográfica acerca da teoria variacionista iniciada por Labov e a importância dos seus estudos para o campo sociolinguístico. Assim, como buscamos abordar teorias relacionadas à formação do PB, sem, no entanto, haver um posicionamento direcionado para uma das duas, mas como pano de fundo para discussão da variação linguística. Foi preciso, ainda, fazer uma breve discussão do papel da Fonética no contexto sociolinguístico. Por fim, abordar teses e trabalhos científicos fundados em pesquisas sociolinguísticas, de forma a dar subsídio teórico para a pesquisa em campo realizada.

A comunidade abordada não dispõe de muitos recursos culturais, nem tão pouco de trabalhos científicos que estude o local, por isso utilizamos como principais fontes de informações as entrevistas realizadas com os falantes, especialmente com os moradores mais antigos da localidade, visto que, estes conhecem a história local de forma mais intensificada e preservada. Entrevistas estas que se uniram à pesquisa bibliográfica para alcançar o objetivo final da referida pesquisa. Constatamos apenas uma monografia que relata dados sobre a pequena cidade, intitulada “Avaliação do assoreamento da lagoa da cidade de Lagoa de Dentro-PB6” escrito por Benites Goulart Morais da Costa (2010).

Foram realizadas em torno de 5 horas de gravação, com aproximadamente um mês e meio para recolher o material, tendo em vista que nem sempre os falantes tinham disponibilidade de gravar e auxiliar na pesquisa. Foi preciso, portanto, esperar o tempo adequado, o momento em que o diálogo entre entrevistador e entrevistado pudesse ocorrer de forma harmoniosa.

2.1 Perfil do espaço

O sítio Arisco localiza-se aproximadamente a 1 km da cidade de Lagoa de Dentro e contém cerca de 30 famílias a habitar o local. A área rural faz parte do município de Lagoa de

Dentro-Paraíba, que assim como o sítio Arisco apresenta uma população pequena se comparado com outras cidades paraibanas. De acordo com o censo do IBGE (2010), Lagoa de Dentro conta com 7.370 habitantes, com renda mais agropecuária do que industrial. Tem como microrregião a cidade de Guarabira e como mesorregião o agreste paraibano (COSTA, 2010, p. 23) e fica a 75 km da capital paraibana.

O IBGE afirma que o município de Lagoa de Dentro já contava, em média, com 10 a 12 casas no ano de 1880. Ao longo das décadas o município cresceu, conquistando a independência em 1961 quando deixou de ser distrito do município de Caiçara, através da lei estadual nº 2614, de 11-12-1961.

Mapa 1. Localização geográfica de Lagoa de Dentro-Paraíba Fonte: IBGE (Censo 2010)

Diante das informações, podemos perceber que os estudos acerca de Lagoa de Dentro são bastante reduzidos, sobre o sítio Arisco por sua vez ele inexiste até então. Portanto, o que podemos afirmar sobre o sítio é o que os moradores mais antigos transmitiram através da pesquisa. A citar, por exemplo, o nome do local que, segundo a informante R.A. E, tem o nome de Arisco, porque é um lugar muito arenoso ou ainda, para a segunda versão assumida, mas não tão propagada, Bairro São José, a referida falante afirma que se deu tal nome porque o local pesquisado é mais populoso e mais próximo do sistema urbano que os demais locais do sítio Arisco e como há muitos moradores chamados “José”, acabou que alguns passaram a

chamar o espaço da vila no sítio de “bairro” e ainda de “bairro São José” como homenagem a grande demanda de moradores com este nome. É um local bastante recente, com cerca de dez anos de formação apenas, isto a nos referir ao espaço da vila, não ao do sítio Arisco por completo que é bem mais abrangente.

No sítio Arisco a população vive, em sua grande maioria, da agricultura de subsistências, com exceções de alguns que trabalham em cargos públicos ou em empresas privadas. Os principais produtos cultivados na localidade são a macaxeira, milho, feijão e batata.

Quanto ao critério cultural, à comunidade dispõem de pouquíssimos recursos de lazer, os únicos que possuem são apenas os próprios recursos naturais, como lago para nadar e pequeno espaço para jogar bola.

As crianças do local costumam se divertir com as brincadeiras tradicionais como pique-esconde, pular corda e jogar bola de gude.

O único evento festivo na localidade ocorre em Junho, onde alguns moradores se reúnem e realizam pequenos bailes e fazem comidas típicas, por causa das festas dedicadas ao santo católico “João”.

No que concerne à religiosidade, podemos alegar a existência de pessoas católicas, evangélica e espíritas. Entretanto, como não há uma igreja ou centro de realização das práticas religiosas, não há muita manifestação das crenças deste povo no local, já que as reuniões ocorrem geralmente na área urbana (Lagoa de Dentro-PB), com exceção de algumas visitas e ações sociais promovidas pela sede católica da cidade, como o “sopão” e a pesagem das crianças.

No quesito infraestrutura, constatamos que o local não possui água encanada, nem tão pouco rede de esgoto, contudo, a coleta de lixo ocorre duas vezes por semana e a prefeitura disponibiliza carros pipas para o abastecimento da população.

2.2 Perfil dos informantes

Nossa pesquisa é formada por 13 informantes que em sua grande maioria reside no local desde a formação da vila, ou quando não, é natural de outras áreas do município de Lagoa de Dentro-Paraíba.

Foram escolhidos apenas treze falantes devido ao fato de que, nem todos os moradores se disponibilizaram a contribuir com o estudo realizado, ao mesmo tempo em que, o número de informantes foi suficiente para alcançar os objetivos da pesquisa.

Seguindo a teoria laboviana, optou-se pela escolha de falantes que apresentam faixa etária, sexo e escolaridade diferenciada.

A tabela a seguir mostra as iniciais dos nomes dos falantes, o sexo, a idade e a escolaridade.

INICIAIS DO NOME

SEXO IDADE ESCOLARIDADE

1. A.L. S Masculino 47 Analfabeto

2. J.A. S Masculino 49 Analfabeto

3. J.F. S Feminino 12 Fundamental I 4. J.L.F. S Masculino 13 Fundamental I (cursando) 5. L.S. S Feminino 15 Fundamental II (cursando) 6. M.D. C Feminino 35 Médio 7. M.F. S Feminino 44 Fundamental I (incompleto) 8. M.W.F. S Feminino 15 Fundamental II (cursando) 9. N.C. S Masculino 15 Médio (cursando) 10. N.C.C. S Feminino 13 Fundamental II

(cursando).

11. R.A. E Feminino 50 Médio

12. R.E. S Feminino 24 Superior (Letras)

13. S.G Masculino 33 Analfabeto

Tabela 1. Iniciais, sexo, idade e escolaridades dos falantes entrevistados. Fonte: autora.

Gráfico 1 – Distribuição dos informantes na modalidade gênero, idade e escolaridade. Fonte: autora. 0 2 4 6 8 10

O gráfico e a tabela especificam cada tipo de falante conforme idade, sexo e escolaridade. Podemos constatar que o conjunto de falantes é constituído mais por mulheres do que por homens, com pessoas mais jovens e com escolaridade na mesma proporção (3 para cada nível), exceto o nível superior que foi mais difícil de encontrar na comunidade, por isso, temos apenas um falante como representante desse grupo.

Todos estão inseridos na classe baixa e no contínuo rural, já que vivem com até um salário mínimo e moram na área rural do município.

2.3 Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu por meio de gravações que, como já foi mencionado, foi de aproximadamente 5 horas, durante cerca de um mês e meio, tendo em vista a disponibilidade do informante.

Antes de iniciar as gravações, o falante foi conscientizado sobre a importância da pesquisa para o conhecimento da realidade do sítio Arisco. Esperou-se o momento certo e oportuno para a realização de cada gravação, para que a espontaneidade do diálogo não fosse corrompida pela tensão da gravação, afinal, é muito comum sentir-se tenso diante de um diálogo gravado e este é um dos principais problemas do pesquisador da sociolinguística (TARALLO, 1986 p. 21). Para diminuir a tensão, elaboraram-se questionários que refletem a realidade da comunidade e que envolvem temáticas discursivas já conhecidas por eles.

Ao final da pesquisa os falantes foram informados acerca do uso das gravações para os referidos estudos, em busca da devida autorização. Não nos propusemos a fotografar, tendo em vista que os informantes não autorizaram o uso de fotografias por preservação pessoal.

Utilizamos como material de pesquisa a ficha do informante (dados básicos), o questionário sociocultural (dados específicos) e um gravador de voz digital Sony Px312, além do bloco de anotações.

Inicialmente os falantes foram entrevistados, em seguida, preencheu-se a ficha do informante com seus dados básicos. Logo após, realizou-se a entrevista baseada no questionário elaborado previamente, que abrange aspectos sociais, culturais, econômicos e estruturais do sítio Arisco.

Após finalizar as entrevistas, o material foi salvo no notebook e em CD-ROOM para análises posteriores. Essas análises foram ouvidas no programa Windows Media Player e logo em seguida transcritas ortograficamente e separadas em pastas específicas do Word 2013.

Depois da transcrição ortográfica completa buscou-se recortar o áudio concernente ao fenômeno fonético almejado, para transcrições fonéticas logo a seguir.

Por fim, fez-se a contagem dos fenômenos encontrados em cada modalidade e por falantes específicos. A contagem foi distribuída no Word 2013 e transformada em gráficos na modalidade pizza e linhas, através do programa Excel.

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