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O método em pesquisa é a escolha de procedimentos sistemáticos feita para se descreverem e se explicarem fenômenos. Tais procedimentos se avizinham do método científico, que compreende a delimitação de um problema e a realização de observações e de suas interpretações, de acordo com as relações encontradas, com base nas teorias disponíveis, quando estas forem possíveis. Assim, destacam-se dois grandes métodos: o quantitativo e o qualitativo. Diferenciam-se pela sistematização característica de cada um deles e, mais ainda, pelo modo de abordar um problema.

O método quantitativo consiste na quantificação nas fases de coleta e tratamento de informações, utilizando-se técnicas estatísticas básicas (percentual, média, desvio- padrão etc.) ou complexas (coeficiente de correlação, análise de regressão etc.). Já o método qualitativo não utiliza as técnicas estatísticas para fundamentar a análise de um problema. Esse método é uma opção do investigador na abordagem de um problema e propicia o entendimento da natureza de um fenômeno social (Richardson, 2015).

Os alcances da pesquisa decorrem da revisão da literatura e da perspectiva de estudo e, para combinarem os elementos no referido estudo, dependem dos objetivos pretendidos. Dois tipos de alcance nos interessaram particularmente: os estudos exploratórios e os estudos descritivos:

Os estudos exploratórios são realizados quando o objetivo é examinar um tema ou um problema de pesquisa pouco estudado, sobre o qual temos muitas dúvidas ou que não foi abordado antes. Ou seja, quando a revisão da literatura revelou que existem apenas orientações não pesquisadas e ideias vagamente relacionadas com o problema de estudo ou, ainda, se queremos pesquisar sobre temas e áreas a partir de novas perspectivas. […]

Os estudos descritivos buscam especificar as propriedades, as características e os perfis de pessoas, grupos, comunidades, processos, objetos ou qualquer outro fenômeno que se submeta a uma análise. Ou seja, pretendem unicamente medir ou coletar informação de maneira independente ou conjunta sobre os conceitos ou as variáveis a que se referem, isto é, seu objetivo não é indicar como estas se relacionam. […]. (Sampiere, Collado, Lucio, 2013, p. 101-102).

Os estudos recentes sobre repositórios institucionais no Brasil não revelaram a existência de políticas de preservação digital, especialmente nas universidades federais. Tal lacuna motivou a sistematização da nossa pesquisa. Esta consistiu em percorrermos os objetivos específicos até levantarmos as características da cultura de preservação digital nesse tipo de instituição de ensino superior. Por conseguinte, adotando o método

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qualitativo, iniciamos a pesquisa de modo exploratório e analisamos os dados coletados de forma descritiva, com o apoio da técnica de estatística básica. Nesse contexto, os objetivos específicos são caracterizados da seguinte forma:

• A análise das grandes mudanças na academia com a emergência da ciberciência se orienta por um método qualitativo de alcance exploratório;

• A caracterização da origem e da função dos RIs segue um método qualitativo de alcance descritivo;

• A análise dos modelos de framework de política de preservação digital, elaborados por iniciativas norte-americanas e europeias, é de natureza qualitativa com alcance exploratório;

• A verificação da existência de uma política de preservação digital para os RIs das universidades federais brasileiras é realizada por meio do método quanti- qualitativo com um alcance descritivo;

• A apuração da percepção dos administradores dos RIs das universidades federais sobre as questões de preservação digital segue o método quantiqualitativo de alcance descritivo.

4.1 – O universo da pesquisa

Coutinho (2015, p. 90) salienta:

Nem sempre é necessário o investigador constituir uma amostra para o seu estudo, caso, por exemplo, da investigação histórica ou da investigação-ação que partem sempre de um grupo específico para a análise, ou mesmo de estudos em que o grupo-alvo (target group) coincide a população, ou seja, é analisado na sua totalidade.

O Brasil possui 63 universidades federais. O universo (ou população) da nossa pesquisa é constituído por todas as 38 universidades federais que possuem um repositório institucional. Dentre elas, 26 cadastraram seus respectivos repositórios no OpenDOAR. Os demais foram descobertos explorando-se os portais de todas as outras universidades. Nos casos em que não foi possível encontrar um RI, fizemos contato com a biblioteca central por e-mail e por chamada telefônica, a fim de confirmar a existência ou inexistência de um repositório.

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4.2 – A coleta e a análise dos dados

Sampieri, Collado e Lucio (2013) ensinam que a coleta de dados pelo método qualitativo ocorre nos ambientes naturais e de rotina dos participantes ou nas unidades de análise. O instrumento de coleta de dados é o pesquisador, pois ele, além de fazer a análise, é o próprio meio de obtenção de informação. Para tanto, o pesquisador utiliza várias fontes de dados: entrevistas, questionários, observações diretas, documentos, material audiovisual dentre outras. Os autores listam onze tipos de unidade de análise: significados, práticas, episódios, encontros, papéis, relações, grupos, organizações, comunidades, subculturas e estilos de vida. No interesse do presente trabalho, destacamos as unidades de análise referentes às práticas e às organizações:

a) As práticas constituem uma unidade de análise comportamental relacionada com uma atividade contínua, identificada pelos membros de um sistema social como uma rotina.

b) As organizações são unidades criadas com um fim coletivo. A análise delas, foca-se muitas vezes na origem, no controle, nas hierarquias e na cultura. Nesta pesquisa, entendemos as universidades federais brasileiras como organizações sociais51 que possuem uma cultura de comunicação e informação científica

ainda em fase incipiente, no que diz respeito ao movimento de acesso aberto. Os RIs são repositórios digitais de acesso aberto e as universidades precisam planejar a manutenção e a preservação, a longo prazo, do acervo dos seus repositórios. Procurar apurar as práticas de preservação adotadas por profissionais responsáveis por um RI é essencial para entendermos o que está moldando a preservação digital nesse tipo de sistema nas universidades federais. Por essa razão, além da coleta de dados disponíveis no OpenDOAR e nos websites dos RIs, submetemos um questionário online aos administradores dos repositórios.

Coutinho (2015) explica que a notação é um processo em que o investigador observa comportamentos, fenômenos ou documentos e registra as ocorrências ou lista as

51 Para uma melhor compreensão sobre a universidade tida como organização social em oposição a uma

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características desses elementos. Esse processo parte da observação, pode ser utilizado em qualquer tipo de pesquisa e é central nos estudos descritivos.

Nossas observações partiram das consultas realizadas no OpenDOAR para verificarmos se haveria algum dado relativo a uma política de preservação digital nos 26 repositórios cadastrados. Após essa verificação, consultamos as homepages de todos os 38 repositórios, nas quais encontramos o principal documento de análise: a Política de Informação Institucional (PII). Por outro lado, não foi possível encontrar documentos que estabelecessem alguma atividade de preservação digital. Assim, elaboramos um questionário online com perguntas fechadas e abertas, a fim de conhecer a cultura de preservação digital nas universidades federais. O questionário online justifica-se, porque as universidades federais estão localizadas em todos os estados da federação. Essa fonte de coleta de dados tornou viável a pesquisa, pois minimizou-lhe o custo operacional e financeiro.

Nas perguntas fechadas, as opções de respostas são previamente delimitadas, o que facilita a codificação e a análise. Elas podem ser dicotômicas ou incluir várias opções de respostas. De modo contrário, as perguntas abertas não delimitam tais opções. Ajudam-nas a suprir a falta de informações sobre as possíveis respostas dos inqueridos (Sampieri, Collado e Lucio, 2013). O questionário aplicado nesta pesquisa possui perguntas fechadas dicotômicas, perguntas com opções de respostas de múltipla escolha e de repostas múltiplas, assim como perguntas abertas. Ele foi estruturado em duas partes, com base no modelo de framework do projeto JISC (Beagrie et al., 2008). Possui vinte e quatro questões. A primeira parte relaciona as questões que buscam levantar os elementos do nível superior de uma política de preservação digital; a segunda procura os elementos do nível inferior (ou de implementação) desse tipo de política.

Realizamos dois pré-testes com a cooperação de uma universidade respondente e pioneira na implantação de repositórios institucionais. O questionário (vide anexo) foi construído com a ferramenta de formulários do Google e enviado aos trinta e oito administradores dos RIs. Dessa forma, obtivemos as oito primeiras respostas espontâneas em cerca de uma semana. A coleta durou trinta e seis dias. Teve início no dia 10 de março de 2016 e terminou em 14 de abril de 2016. Para chegarmos à taxa de 100% de respostas, procuramos os administradores dos RIs por meio de chamadas telefônicas, a partir do dia 21 de março de 2016.

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Coutinho (2015, p. 106, sublinhado da autora) explica:

Embora o termo análise possa ser usado na linguagem de investigação social com outros significados, como procedimento ligado à recolha de dados numa investigação, refere o processo em que o investigador, mais do que observar (caso da descrição) procura sim “... inferir traços, processos, significados e relações” (Charles, 1998, p. 154). Ou seja, o investigador não vai para o terreno observar tudo o que passa, mas apenas aquilo que interessa no contexto do seu estudo, ou seja, os objetivos específicos que procura alcançar: (...).

A análise empreendida nesta pesquisa procurou, primeiramente, verificar se alguma política de preservação digital fora derivada das PIIs encontradas nas homepages dos repositórios. Em seguida, após a aplicação do questionário, analisamos os sentidos dos dados colhidos e quantificados; relacionamos as descobertas com o referencial teórico abordado. No terreno desta pesquisa, poderíamos observar outros aspectos, tais como: a formação dos administradores dos repositórios, seus respectivos perfis sociais etc. Porém, o que nos interessou foi apenas conhecer o contexto da cultura de preservação digital nas universidades federais.

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Capítulo 5 – Os repositórios institucionais das universidades