• Nenhum resultado encontrado

Nos últimos anos, a globalização tem promovido transformações econômicas e sociais, que estão afetando as formas atuais de concor-

136

rências e estruturas produtivas de parte das atividades econômicas. Essa situação tem proporcionado uma restruturação tecnológica, organizacional e comercial como forma de manter a competitividade. As empresas que compõem a indústria de alimentos têm sido alvo das maio- res transformações que buscam manter o mercado diante dos novos concorrentes.

No plano do mercado final de alimentos, o fortalecimento de três tendências básicas tem sido observado: menor passividade e maiores graus de conscientização e de exigência dos consumidores diante da diversidade de oferta; fragmentação dos mercados de pro- dutos alimentares e a crescente importância dos atributos de qualida- de; locais de compra, em que se observa a crescente participação dos supermercados na distribuição.

Diante das mudanças observadas, as análises de retorno das tecnologias desenvolvidas nas instituições de pesquisas necessitam considerar todos os efeitos ao longo da cadeia produtiva, como forma de conhecer os impactos nos diversos elos existentes.

Os referenciais teóricos até então utilizados para estudar as taxas de retorno da pesquisa agropecuária têm utilizado a teoria do excedente econômico. Para tanto, consideravam os impactos apenas no caso do produtor da matéria-prima, sem considerar seus efeitos nos demais elos da cadeia produtiva.

A análise dos impactos econômicos, sociais e ambientais nos diversos elos da cadeia produtiva poderá ser realizada considerando os aspectos quantitativos e qualitativos. Os aspectos quantitativos devem levar em conta os custos e benefícios do uso da nova tecnologia nos diversos elos da cadeia.

Esse tipo de avaliação de impactos no contexto da cadeia foi recentemente desenvolvido por Ávila et al. (2001) na avaliação ex-ante dos impactos econômicos, sociais e ambientais das pesquisa em biotecnologia da Embrapa, nas culturas de soja, algodão, feijão, mamão e batata. Foram identificados os principais impactos nos diversos seg- mentos das cadeias dos cinco produto estudados sem, entretanto, uma quantificação mais apurada de tais impactos, dado o caráter exploratório do trabalho. Para a análise de cadeias produtivas, recomenda-se a con- sulta ao livro elaborado por Castro et al., (1998), que apresenta uma série de estudos sobre cadeias produtivas de interesse da pesquisa agropecuária.

No caso de estudos de cadeias, vale ainda destacar o recente livro lançado pela Embrapa sobre competitividade de cadeias produti- vas no Brasil, embora não trate diretamente da questão da avaliação do impacto de inovações tecnológicas selecionadas, como é o caso da proposta deste documento (VIEIRA et. al., 2001). Entretanto, como o referido livro trata da competitividade de 11 cadeias (algodão, cacau, arroz, café, feijão, leite, mandioca, milho, soja, tomate industrial e trigo) e em três níveis tecnológicos dos sistemas de produção (atual, melhorado e potencial), é importante que esse tipo de estudo seja levado em conta na análises dos impactos econômicos das tecnologias selecionadas aqui previstas.

Para a compreensão do processo de articulações das cadeias, não se pode deixar de conhecer como as tecnologias são geradas, difundidas e transformadas. Além disso, deve-se focalizar como os tomadores de decisões nos institutos de pesquisa preocupam-se com o conceito de agribusiness para atuar de modo equilibrado, gerando tecnologias orientadas para o mercado. Nesse sentido, o pesquisador passa a considerar importante para o produto que está desenvol- vendo diversos aspectos, como: vida de prateleira, resistência ao manuseio, introdução de atributos valorizados por determinados mercados, tecnologias de manejo, desenvolvimento de novas embala- gens, sistemas alternativos de transportes, etc.

Considerando a importância de conhecer os impactos econômi- cos em todos os elos do segmento produtivo, desde a produção até o consumidor final, propõe-se a seguinte metodologia de análise:

Os principais elos que compõem a cadeia produtiva devem ser considerados para efeito de análise, tanto a jusante quanto a montante. Em outras palavras, ao se considerar, por exemplo, uma tecnologia para o produtor rural, tem-se a montante a indústria de insumos, a assistên- cia técnica e a pesquisa e, a jusante, a indústria de processamento, distribuição (atacadista, varejista) e consumo final.

No estudo de cadeias produtivas, deve-se considerar a seqüência vertical relativa às etapas de produção, transformação e distribuição e deve-se concentrar na contribuição do que cada etapa participa na formação do produto de consumo final.

As cadeias produtivas devem ser vistas como um encadeamento de ações, o que abre espaço para a teoria dos custos de transações de Williamson (1985), que permite avaliar cada ação ao longo da cadeia como um contrato entre os agentes envolvidos. Além disso, qualquer tecnologia ao ser avaliada no enfoque de cadeias produtivas

138

tem que estar direcionada para o consumidor final. Se ela não tiver esse objetivo, os custos envolvidos em sua adaptação serão elevados e talvez impeditivos para uma atuação competitiva.

Com relação ao produtor, o pesquisador deve considerar as situações anterior e posterior à tecnologia. Na situação anterior, o pesquisador poderá utilizar levantamento de campo feito com os produtores que não adotaram a tecnologia. Deve considerar também os produtores que utilizam a nova tecnologia. No levantamento, deve procurar verificar os efeitos da tecnologia utilizada no meio ambiente, além dos impactos econômicos e sociais.

O pesquisador deve considerar todos os custos com a pesquisa, identificando a participação percentual de todos os envolvidos. Esse item deve mostrar a participação real da pesquisa. Deve-se considerar apenas os custos com a tecnologia, não com a unidade de pesquisa como um todo.

Na parte de processamento, deve-se usar o mesmo método de levantamento, procurando identificar os impactos sobre cada um dos segmentos. Nesse caso, deve-se priorizar os segmentos mais representativos para evitar problemas nas análises.

Com respeito a distribuição e consumo, deve-se procurar levan- tar dados nos principais segmentos. No caso do consumo, dependen- do da tecnologia em estudo, deve-se avaliar os impactos sobre a qualidade do produto e a saúde do consumidor, após a adoção tecnológica, comparativamente à situação anterior.

Considerações sobre os impactos da tecnologia da