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METODOLOGIA DE PESQUISA

CAPÍTULO 1 PROBLEMÁTICA

1.6 METODOLOGIA DE PESQUISA

Segundo Artigue (1988), a Engenharia Didática vista como metodologia de pesquisa, caracteriza-se primeiramente por um esquema experimental baseado em realizações didáticas na sala de aula, isto é, na concepção, na realização, na observação e na análise de sequências de ensino.

[...] se distinguem, geralmente, dois níveis: o da micro-engenharia e o da macro-engenharia, conforme a importância da realização didática envolvida na pesquisa. As pesquisas de micro-engenharia são as mais fáceis de serem iniciadas, mas permitem levar em conta, de forma local, a complexidade do fenômeno sala de aula, não permitem compor essa complexidade com a complexidade essencial dos fenômenos ligados à duração nas relações ensino/aprendizagem. Elas não permitem necessariamente um recorte coerente dos objetos de conhecimento. As pesquisas de macro-engenharia são, apesar de todas as dificuldades metodológicas e institucionais que apresentam, inevitáveis (ARTIGUE, 1988, p. 286, tradução nossa).

Para a autora, essa metodologia caracteriza-se também, em relação a outros tipos de pesquisas baseados nas experimentações em sala de aula, pelo registro no qual se situa e pelos modos que lhe estão associados. A Engenharia Didática situa-se no registro dos estudos de casos, cuja validação é essencialmente interna e fundamentada no confronto entre a análise a priori e a análise a posteriori. Assim, esta metodologia é singular não pelos objetivos das pesquisas levadas a cabo mas pelas características do seu funcionamento metodológico.

Nesse processo, Artigue (1988) distingue quatro fases: as análises preliminares, a concepção e análise a priori, a experimentação, a análise a

posteriori e a validação.

Análise preliminar: apoia-se em um quadro teórico didático geral e em conhecimentos didáticos já adquiridos no domínio estudado, mas se apóia também em uma análise epistemológica: dos conteúdos visados pelo ensino, do ensino habitual e dos seus efeitos, das concepções dos alunos, das dificuldades e obstáculos, que marcam a sua evolução, e das limitações em que se situa para realização didática efetiva, considerando os objetivos específicos da pesquisa. Neste trabalho, apoiamo-nos no quadro do Cálculo.

Para Artigue (1988, p. 289, tradução nossa), a análise das limitações efetuar- se-á por meio da distinção de três dimensões:

[...] a dimensão epistemológica associada às características do saber em jogo, a dimensão cognitiva associada às características cognitivas do público ao qual se dirige o ensino, a dimensão didática associada às características do funcionamento do sistema de ensino.

Concepção e análise a priori: o pesquisador decide agir sobre um determinado número de variáveis do sistema não definidas pelas restrições, sobre as variáveis de comando, que se supõe serem relativas ao problema estudado. A autora distingue dois tipos de variáveis de comando para facilitar a análise de uma engenharia:

As variáveis macro-didáticas ou globais que são relativas à organização global da engenharia e as variáveis micro-didáticas ou locais, que dizem respeito à organização local da engenharia, isto quer dizer, à organização de uma sequência ou de uma fase, tanto umas quanto as outras podem ser, por sua vez, variáveis de ordem geral ou variáveis dependentes do conteúdo didático cujo ensino é visado. Ao nível micro-didático, esta segunda distinção é clássica visto que distingue as variáveis do problema das variáveis de situação associadas à organização e à gestão do milieu [...] as

variáveis didáticas são aquelas cuja prova do efeito didático foi

atestada (ARTIGUE, 1988, p. 291, tradução nossa, grifo nosso). Portanto, para Artigue (1988), o objetivo da análise a priori é determinar de que maneira as escolhas efetuadas, isto é, as variáveis que assumimos como pertinentes, permitem controlar os comportamentos dos alunos e o sentido desses

comportamentos. Esta análise que tem uma parte descritiva e uma parte preditiva centra-se nas características de uma situação adidática, que se pretendeu constituir e que será devolvida aos alunos. Na análise a priori devem ser considerados os seguintes pontos:

 Descrever as escolhas das variáveis locais e as características da situação adidática desenvolvida;

 Analisar o que poderia estar em jogo nessa situação para o aluno em função das possibilidades de ação, seleção, controle e validação de que dispõe durante a experimentação;

 Prever os comportamentos possíveis dos alunos e procurar mostrar de que forma a análise efetuada permite controlar o sentido desses comportamentos e assumir, particularmente, que os comportamentos esperados, se intervierem, sejam resultado da aplicação do conhecimento visado pela aprendizagem.

Experimentação: para a autora esta fase é a clássica. Segundo Almouloud e Ferreira (2012, p. 27), esta fase consiste “na aplicação da sequência didática, tendo como pressupostos apresentar os objetivos e condições da realização da pesquisa, estabelecer o contrato didático e registrar as observações feitas durante a experimentação”.

Para Artigue (1988), os dados recolhidos durante a experimentação são, às vezes, completados por dados obtidos pela utilização de metodologia externas: questionários, entrevistas individuais ou em pequenos grupos, realizadas em diversos momentos do ensino.

Análise a posteriori e validação: a análise a posteriori apoia-se no conjunto dos dados recolhidos ao longo da experimentação. “[...], é no confronto das duas análises, a priori e a posteriori, que se funda essencialmente a validação das hipóteses envolvidas na pesquisa” (ARTIGUE, 1988, p. 297, tradução nossa). O objetivo é construir conclusões em função das associações apropriadas entre os objetivos delineados a priori, relacionando-os às observações, com a intenção de avaliar a reprodutibilidade e a regularidade dos eventos observados.

Assim, a engenharia didática apresenta-se como importante metodologia de pesquisa, por interligar o aspecto científico com a prática didática. Além da pesquisa, essa metodologia constitui um referencial metodológico interessante e viável para o processo de ensino e aprendizagem, pois permite a compreensão dos efeitos causados pelas práticas docentes desenvolvidas em sala de aula.

Capítulo 2 - ANÁLISES PRELIMINARES DA ENGENHARIA