Audição das partes
1.1 A metodologia: previsão e prospeção «We can use our images and ideas to forecast, compete and/or create
alternatives. However it is more important to think about how we can change how we get to know the future rather than what we do with our dominant ideas and images of the future. If we can critique and develop a new understanding of how we have come to know the future we can transform our futures thinking. Transformed futures thinking can then be used to explore other creative imaginings and ideas for the future. Bringing our transformative futures thinking results into our present re‐shapes our understanding of the concept called ‘the future’. Interestingly, most of us think the future is something outside of ourselves, something out there in the distance». Gould, S. (2014, p. 10) Após a apresentação do relatório preliminar em junho de 2015, a estratégia de discussão seguida pode ser enquadrada na linha dos estudos do futuro, uma abordagem e metodologia cientifica75 que visa a antecipação ou a construção do futuro, e que envolveu as partes interessadas, distribuídas por afinidades em
quatro grupos de discussão, aos quais foi dirigido um convite para comentarem a visão apresentada.
Os estudos do futuro76 seguem duas grandes vertentes: a previsão – foco
quantitativo e a prospeção – foco qualitativo. A previsão caracteriza‐se por construir um futuro à imagem do passado, enquanto a prospeção orienta‐se para um ou vários futuros, apresentando as suas relações dinâmicas, estruturas em evolução, com foco na tomada de decisão e construção do futuro desejado. Para 75 Nesta segunda fase do projeto foram consideradas as técnicas, a abordagem, os métodos e os instrumentos que melhor se adequassem aos intervenientes, ao tempo e aos recursos disponíveis, que também permitissem simplificar o processo. A abordagem consistiu numa série de passos que permitissem alcançar os objetivos traçados, resultando na elaboração de quatro relatórios por cada sessão de trabalho com as partes interessadas e num relatório final com os futuros desenvolvidos, os quais serviram de base à II Parte deste documento. Os métodos e as técnicas envolvidos tiveram por base uma ampla revisão da literatura e o estudo de casos e foram desenvolvidos de acordo com a sua sistematização académica. Foram consultadas revistas especializadas como Futures, Foresight, Technological Forecasting, Social Change, Futures
Research Quarterly, Journal of Futures Studies e The Futurist. Os instrumentos utilizados tiveram
por base a discussão em torno de cinco perguntas de referência, estabelecidas no relatório preliminar distribuído previamente a todos os participantes, tendo sido pedido que fizessem um exercício de reflexão sobre o tema no mês que antecedeu as reuniões de trabalho e enviassem os seus comentários até dia 7 de setembro. Através de um facilitador, os resultados obtidos nesse exercício foram apresentados em cada reunião, constituindo o ponto de partida para uma visão conjunta de cada grupo de stakeholders.
76 Os principais conceitos ligados ao pensamento do futuro (futures thinking) incluem várias tipologias de futuros: os futuros padronizados (default futures), um futuro oficial e normalizado, por vezes considerado o único; os futuros emprestados/usados (used/borrowed futures), baseados nas ideias e imagens de outros, consciente ou inconscientemente adotadas; os futuros
renegados (disowned futures), os futuros ignorados, onde se incluem os nossos ou os de outros;
os futuros alternativos (alternative futures), em que não existindo um só futuro é necessário olhar para outras alternativas e potencialidades para a escolha, como os futuros prováveis, possíveis, plausíveis e preferidos, o que ajuda a compreender se o que as organizações fazem no presente se enquadra nessa perspetiva; os modelos de mudança social analisando os padrões de mudança e onde é possível influenciar a mudança social. Os estudos futuristas apesentam uma grande diversidade de métodos, entre os quais se destacam os protocolos de pensamento antecipatório; a análise ambiental; o método de cenários, a história do futuro, a análise de impactos cruzados, a roda dos futuros e a análise de tendências.
Inayatullah (2013) podem ainda ser acrescentadas a vertente interpretativa visando a compreensão das imagens competitivas do futuro e a vertente crítica que se focaliza no questionamento dos benefícios da realização de certos futuros e nas respetivas metodologias. Integrada nos estudos prospetivos e em fase de confluência entre a metodologia da investigação da ação (action research) e os estudos do futuro, a abordagem da aprendizagem pela ação participativa77 (participatory action learning) adequa‐se ao trabalho dos think tank e ao envolvimento das partes interessadas, trabalhando as suas assunções do futuro de forma colaborativa e desenvolvendo ciclos de reflexão interativos e heurísticos, geradores de processos de construção e antecipação do futuro. Tendo por base a diversidade de interesses das partes interessadas, a complexidade das interdependências existentes e as dinâmicas comportamentais imprevisíveis (Markley 2011), esta metodologia difere de outras por permitir a reflexão e a aprendizagem por não especialistas nesta prática, emergindo o futuro do processo de questionamento e das várias categorias epistemológicas dos participantes (Inayatullah 2006) que abrem novas perspetivas para serem estudadas e teorizadas (Stevenson 2002).
Estas práticas metodológicas incluem processos de análise/diagnóstico, planeamento/visão do futuro, ação/implementação, reflexão/avaliação consubstanciando processos de investigação entre os participantes, considerados para o efeito, um grupo de referência (Ramos 2006). Reason, Bradbury e Torbert (2002) distinguem diferentes níveis processuais78, tendo
nesta fase de audição das partes interessadas sido considerado apenas o segundo nível, ligado às organizações e baseado no diálogo interpessoal, visando a compreensão mútua para melhorar as práticas organizacionais, profissionais e a inovação. 77 Esta metodologia ganhou relevância desde o trabalho de Julie Macken New learning curve sends planners back to the future (1999), tendo Inayatullah contribuído para a sua consolidação através
da sua obra Questioning the future: futures studies, ways of knowing and organizational
transformation (2002), onde a define através das seguintes características (p. 204): «The goal is
to create alternatives by questioning the future; Objective and subjective are both true; Interaction between meanings and actions are the most crucial; Language is constituted through creating communities of meaning and doing; The future is not fixed but continuously being revisited; Reality is process‐based; Learning is based on programmed knowledge and questioning [the future] plus ways of knowing; Learning from doing, from experimentation; Participation—asking all participants how they see the future; Research agenda is developed with respondents—the future is mutually defined» (p. 204).
78 O primeiro nível recai no individuo e no questionamento sobre a sua vida, envolvendo práticas de reflexão subjetivas sobre a experiência de vida. O terceiro nível liga indivíduos e grupos em questões mais amplas, normalmente a nível interorganizacional, governamental e envolvendo as universidades. Os autores defendem que um processo para alcançar maior sucesso deverá incorporar os três níveis.