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Neste capítulo pretendemos explicitar em traços gerais a metodologia que presidiu à realização da presente investigação. Esta explicitação não exclui a referência a aspectos particulares do método utilizado em cada um dos três estudos na altura em que procedemos às diferentes apresentações.

Estruturamos este capítulo em quatro pontos: no primeiro procuramos apresentar e articular os estudos realizados; no segundo procuramos clarificar as técnicas de recolha de dados utilizadas e referir a simplificação efectuada ao material recolhido, no ponto três, referimos alguns aspectos gerais relacionados com o tratamento e a análise dos dados dando particular relevo à análise descritiva e análise de semelhança efectuadas e às técnicas utilizadas para analisar o discurso produzido pelos respondentes (programa de análise textual e análise categorial temática) e por fim, no ponto quatro, esclarecemos alguns aspectos relacionados com a apresentação dos resultados.

3.1 – Apresentação e articulação entre os estudos

Na investigação que nos propusemos realizar para a consecução dos objectivos enunciados foram delineados três estudos: 1) Representações sociais da mulher idosa, do homem idoso e

das pessoas idosas e representações das actividades desempenhadas por mulheres e homens idosos40; 2) Efeito da designação utilizada sobre as representações sociais da velhice e 3)

Representações da velhice própria e dos outros e influência do nível socioeconómico: actividades a desempenhar na velhice e estratégias para a sua preparação.

No Estudo 1, para além de desejarmos identificar os princípios organizadores, procuramos observar como as características de diferentes grupos sociais (nível etário dos participantes: adolescentes, jovens adultos, meia-idade e terceira idade; pertença sexual dos respondentes: masculino e feminino) modulam as representações sociais da mulher idosa, do homem idoso, das pessoas idosas e dos ganhos e das perdas associadas à velhice. Pretendemos ainda caracterizar o modo de vida de mulheres idosas e de homens idosos e clarificar as actividades por eles desempenhadas.

No Estudo 2 procuramos verificar de que forma a designação utilizada afecta a atitude dos respondentes, avaliando os sentimentos e atitudes face às pessoas seniores, idosas e velhas.

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Procuramos também recolher aspectos mais específicos sobre a fase mais avançada do ciclo vital: nome a atribuir para a etapa da vida atingida pelas pessoas velhas (ou idosas ou seniores); idade a partir da qual assim são consideradas, caracterização do sexo e idade de até quatro pessoas velhas (ou idosas ou seniores), com quem os respondentes mantêm contacto regular. Procuramos ainda aceder ao campo representacional associado às pessoas seniores, idosas e velhas, solicitando aos respondentes que indicassem o que lhes surge na mente quando pensam nos três alvos propostos.

Os resultados obtidos no Estudo 1 levaram-nos a examinar, no Estudo 3 de forma mais pormenorizada, a visão dum grupo de pessoas da meia-idade sobre a velhice fomentando uma maior implicação pessoal através da comparação entre a própria velhice e a velhice dos outros, utilizando as diferentes dimensões dos ganhos e das perdas decorrentes do Estudo 1. Procurando clarificar a existência de diferentes fases na velhice, delimitamos três fases etárias: a primeira fase situada entre os 65 e os 70 anos, a segunda situada entre os 75 e os 80 anos, e a terceira situada entre os 85 e os 90 anos, que por facilidade de notação designamos respectivamente por: sénior, idoso e velho.

Em simultâneo procuramos listar estratégias usadas para preparar a velhice e clarificar actividades a desempenhar nesta fase do ciclo vital para os respondentes do grupo da meia- idade. Para além de verificar eventuais variações na representação da velhice em função da fase etária e de ser a própria velhice ou a velhice dos outros, procuramos ainda esclarecer eventuais variações devidas ao nível socioeconómico e sexo dos respondentes.

3.2 - Técnica de recolha de dados e simplificação do material recolhido

As investigações no domínio das representações sociais têm amplamente demonstrado que a apreensão das representações se faz através da utilização da linguagem (cf. por exemplo Herzlich, 1972; Poeschl, 1992) isto é, da produção discursiva que os sujeitos elaboram sobre um determinado objecto.

Para recolher o discurso produzido pelos respondentes utilizámos na nossa investigação a prova de associação livre, no Estudo 1 e no Estudo 2, através da utilização de três indutores (cf. a descrição dos respectivos questionários) junto de quatro grupos etários, adolescentes, jovens adultos, meia-idade e terceira idade. No Estudo 3 utilizámos a entrevista dirigida, junto de homens e mulheres que integram o grupo etário da meia-idade. Ainda no Estudo 2

utilizámos conjuntamente com a prova de associação livre duas escalas de opinião: uma sobre os sentimentos despertados (Izard cit. por Isen, 1987) e outra sobre atitudes para com as pessoas velhas, idosas e seniores (Fraboni et al., 1990), que apresentam como vantagens a facilidade da resposta e a análise rigorosa (Poeschl, 1992).

Temos consciência que, tal como Poeschl (1992) refere, a prova de associação livre e a entrevista colocam dois tipos de problemas: o da recolha dos dados e o da análise do material recolhido. Como efeito, o efeito do experimentador sobre o respondente é dificilmente mensurável, mesmo quando um investigador é experiente (Nahoum, 1967 cit. por Poeschl, 1992), e as suas características podem influenciar a produção do interlocutor. Por outro lado na análise do corpus corremos o risco de transformar e deformar o pensamento do interlocutor uma vez que procuramos estruturar ou resumir a informação contida no seu discurso.

Na tentativa de minimizar a deformação ou transformação do pensamento do interlocutor privilegiámos na nossa investigação a utilização da técnica da associação livre de palavras uma vez que, para além de permitir atenuar o viés associado à análise de conteúdo, permite ainda minimizar alterações ao discurso produzido dado que se utiliza um pequeno número de reduções (Poeschl, 1992). Por outro lado procurámos respeitar as regras propostas por Bardin (1995) para a análise de conteúdo manual e efectuámos uma análise textual automática através do programa ALCESTE (Analyse Lexicale par Contexte d’un Ensemble de Segments

de Texte) criado por Reinert (1998).

A simplificação do material, recolhido através da prova de associação livre, foi efectuada aplicando ao corpus as regras de redução propostas por Di Giacomo (1981, cit. por Poeschl, 1992):

i) Retirámos todas as palavras “ferramenta” e nuances (respectivamente artigos e proposições e os vocábulos “mais” e “extremamente” que os respondentes associaram às palavras);

ii) Substituímos advérbios por adjectivos e palavras compostas pela forma simples correspondente (ex: “não feliz” – “infeliz”; “sem saúde” – “doente”);

iii) Reduzimos palavras e adjectivos à forma masculina singular e os tempos verbais à forma infinitiva (excepção feita no particípio passado e presente);

iv) Reduzimos as palavras com o mesmo significado à forma mais usual e as diferentes formas de uma palavra foram reduzidas à designação mais comum.

Após a aplicação das regras de redução já referidas, três juízes independentes procederam ao agrupamento por sinonímia das proposições de sentido similar tendo como critério a forma mais usual de utilização.

Os discursos dos respondentes recolhidos através das entrevistas foram transcritos respeitando as formalidades utilitárias exigidas pelo programa de análise textual utilizado (cf. por exemplo Reinert, 1990, 1998). As formalidades utilitárias do programa englobam aspectos fundamentais ou estruturais para a análise e interpretação dos resultados e aspectos mais ligados à apresentação e formatação do texto importantes para análise do

corpus.

3.3 - Tratamento e análise dos dados

Neste ponto procuramos de forma sintética explicitar as técnicas utilizadas no tratamento e análise dos dados. Mais especificamente pretendemos descrever os procedimentos efectuados sobre os campos lexicais associados aos diferentes indutores usados nas provas de associação livre, a saber: análise descritiva e análise de semelhança; análise textual automática e análise manual de conteúdo.

3.3.1 – Análise descritiva e análise de semelhança

No sentido de evidenciar as características dos campos lexicais associados aos diferentes indutores propostos aos respondentes, efectuámos uma análise descritiva e uma análise de semelhança ao discurso por eles produzidos. Respectivamente analisámos a fluidez, a amplitude, a riqueza (Deconchy, 1971 cit. por Poeschl, 1992) e calculámos o índice de

Ellegard (Di Giacomo, 1981 cit. por Poeschl, 1992).

Dum modo breve podemos dizer que:

i) a fluidez corresponde ao número total de palavras referidas e reflecte a facilidade dos sujeitos se exprimirem face ao estímulo proposto;

ii) a amplitude, corresponde ao número de palavras diferentes sugeridas pelo estímulo e expressa os traços ou dimensões a que acedemos da representação;

iii) a riqueza corresponde à razão entre a amplitude e a fluidez e varia entre 0 e 1. Este índice reflecte a riqueza da informação que é tanto mais rica quanto mais elevado é o índice.

Por sua vez o índice de Ellegard corresponde à divisão do número de palavras comuns a dois dicionários específicos pela raiz quadrada do produto do número de palavras diferentes em cada dicionário. O índice varia entre 0 e 1, é tanto mais elevado quanto maior for a proporção de palavras comuns aos dois dicionários. Este índice permite obter uma medida global da similitude dos campos semânticos das diferentes condições.

3.3.2 – Análise manual de conteúdo

Tal como Bardin (1995) propõe, entendemos a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, usado para descrever o conteúdo das mensagens, aplicável a tudo o que é dito ou escrito (Henry & Moscovici, 1968 cit. por Bardin, 1995). Na nossa análise utilizámos documentos suscitados, isto é, as respostas fornecidas pelos respondentes41. Após a simplificação do material optámos por realizar uma análise categorial temática usando as palavras referidas pelos respondentes como unidades de registo (Bardin, 1995).

A análise categorial ou categorização tem como objectivo fornecer uma simplificação dos dados brutos por condensação. Consiste então numa operação de classificação, ou construção de categorias ou classes, que reúne um conjunto de unidades de registo sob um título genérico agrupado em função de determinado critério. Neste trabalho usámos o critério semântico, isto é, construímos categorias temáticas (Bardin, 1995).

A utilização de categorias temáticas ou análise temática, “…consiste em descobrir os «núcleos de sentido» que compõem a comunicação…” (Bardin, 1995, p. 105). Incide sobre os conteúdos, não tem em conta a dinâmica da organização mas a frequência das unidades de registo consideradas.

Na categorização efectuada o sistema de categorias não foi pré definido, resultou da classificação progressiva das unidades de registo. Segundo Bardin (1995) “Este é o procedimento por «milha». O título conceptual de cada categoria, somente é definido no final da operação” (p. 119). Isto é, as categorias de análise foram definidas à posteriori em função do material recolhido.

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Os documentos podem ser de dois tipos: i) naturais, produzidos espontaneamente na realidade e ii) suscitados por necessidades de estudo (Bardin, 1995, p. 39).

Na construção das categorias procurámos respeitar as qualidades preconizadas por Bardin (1995, pp. 120-121):

i) exclusão mútua, cada unidade de registo é classificada apenas numa categoria; ii) homogeneidade, apenas um único princípio de classificação deve reger a

organização de um mesmo conjunto categorial;

iii) pertinência, as categorias devem estar adaptadas ao material em análise e devem reflectir as intenções da investigação;

iv) objectividade e fidelidade, os critérios de classificação devem ser explícitos e aplicados sempre do mesmo modo;

v) produtividade, a categorização deve fornecer resultados pragmáticos e férteis.

3.3.3 – Análise textual automática

Para analisar o corpus resultante do discurso produzido pelos respondentes utilizámos um programa de análise textual (ALCESTE, versão 4.7 e 4.8). Este programa visa desvendar e quantificar de forma automática a informação essencial contida num texto. O seu objectivo consiste em extrair as estruturas significantes mais fortes e permite estudar a estrutura formal da co-ocorrência das palavras num determinado corpus. Efectua uma classificação hierárquica descendente, baseada na distância do qui-quadrado, numa tabela de palavras que cruza o conjunto das formas lematizadas (reduzidas à raiz) com base no corpus seleccionado (Poeschl, Múrias e Costa, 2004).

O programa desenrola-se em quatro fases ou etapas denominadas A, B, C e D (ver por exemplo Reinert, 1998 ou consultar o Manual de Utilização do programa ALCESTE).

Na primeira fase ou etapa A são reconhecidas no corpus as UCI (Unidade de Contexto Inicial) e são construídos os diferentes dicionários referentes ao corpus em estudo. As UCI correspondem por exemplo à resposta dum indivíduo a uma determinada questão ou a um excerto dum texto e são definidas pelo investigador.

Na etapa B o corpus é dividido em UCE (Unidade de Contexto Elementar) e estas são classificadas em classes ou contextos lexicais em função do seu vocabulário dominante através da classificação descendente hierárquica. As UCE correspondem a segmentos do texto que constituem o ambiente da palavra, equivalem aproximadamente a uma frase, e estão na

base de todas as estatísticas efectuadas pelo ALCESTE. É sobre as classes da fase B que se baseia a interpretação do corpus.

A etapa C fornece os principais ficheiros de resultados, sendo nesta fase calculadas as formas mais características de cada classe que permitem exprimir a pregnância dum contexto lexical e relacioná-lo com as variáveis ou modalidades de variáveis definidas pelo investigador. Nesta fase é ainda efectuada uma análise factorial de correspondências que fornece uma representação espacial esquemática das relações entre as classes obtidas, onde apenas são apresentadas as formas mais associadas às classes para limitar o número de pontos projectados.

A etapa D efectua os cálculos complementares de cada classe tais como a lista de UCE características, a classificação ascendente e os segmentos repetidos.

3.3.4– Análise dos itens quantitativos

Uma análise de variância foi aplicada sobre as respostas quantitativas no intuito de revelar eventuais diferenças em função dos grupos e dos alvos estudados, de acordo com o plano experimental definido em cada estudo.

As duas escalas que integravam o Estudo 2, a escala de sentimentos de Izard (Izard cit. por Isen, 1987) e a escala de idadismo de Fraboni et al. (1990), foram submetidas a uma análise factorial em componentes principais com rotação varimax, com o objectivo de extrair as suas dimensões subjacentes. Em seguida, após análise dos valores do alpha de Cronbach, construímos diferentes sub-escalas – ou dimensões – a partir dos factores encontrados. Calculámos as avaliações médias dos sujeitos por dimensões e aplicámos uma análise de variância sobre essas médias para revelar eventuais diferenças significativas.

3.4 – Apresentação dos resultados

Na apresentação dos resultados seguimos a ordem de realização dos estudos efectuados. Atendendo à extensão e à diversidade do material recolhido no nosso primeiro estudo,

Representações sociais da mulher idosa, do homem idoso e das pessoas idosas e representações das actividades desempenhadas por mulheres e homens idosos, optámos por

Assim, no Capítulo 4 apresentamos os objectivos e as hipóteses relativas às Representações

sociais da mulher idosa, do homem idoso e das pessoas idosas: ganhos e perdas associados à velhice, descrevemos os aspectos metodológicos (amostra, questionário, procedimento, plano

experimental, análise dos dados) e apresentamos os resultados relativos ao campo representacional associado à mulher idosa, ao homem idoso e às pessoas idosas. Na apresentação do campo representacional associado à mulher idosa, ao homem idoso e às pessoas idosas centramo-nos, em primeiro lugar, nas suas características e situações e, de seguida debruçamo-nos sobre os recursos perdidos ou adquiridos na velhice.

No Capítulo 5, apresentamos os objectivos, as hipóteses e o plano experimental, relativos à

Caracterização do modo de vida e representações das actividades desempenhadas por mulheres e homens idosos, abordamos a caracterização e o modo de vida da mulher idosa e do

homem idoso, a forma como deviam ser chamados e como devia ser designada esta fase de vida e exploramos de forma mais sistemática as actividades desempenhadas por mulheres e homens idosos.

O estudo Efeito da designação utilizada sobre as representações sociais da velhice é apresentado no Capítulo 6. Este estudo foca a designação da última fase de vida procurando explorar melhor as características das suas diferentes etapas, assim como os sentimentos despertados pelas pessoas designadas por diversas terminologias e as atitudes que suscitam. O estudo intitulado Representações da velhice própria e dos outros e influência do nível

socioeconómico: actividades a desempenhar na velhice e estratégias para a sua preparação é

apresentado no Capítulo 7. Este estudo explora mais particularmente as representações que pessoas da meia-idade de diferentes níveis socioeconómicos têm da velhice própria e da velhice dos outros.

Capítulo IV – Representações sociais da mulher idosa, do homem idoso e das pessoas

No documento Representações sociais da velhice (páginas 159-169)

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