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2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Em nosso trabalho fizemos a opção em usar uma abordagem predominantemente qualitativa. Segundo André (2000), o conceito de pesquisa qualitativa ainda não foi suficientemente discutido, apesar de toda literatura disponível para tal. Mas nesse trabalho “utilizamos a expressão investigação qualitativa como um termo genérico que agrupa diversas estratégicas de investigação que partilham determinadas características” (Bogdan e Biklein, 1994, p.16). Para esses autores, os dados são considerados qualitativos, por serem ricos em pormenores descritivos relativos a pessoas, locais e diálogos e de difícil tratamento estatístico.

Nossa metodologia consistiu em dois estudos. No estudo 1 foi realizada uma entrevista inicial com quinze professoras que atuavam no 2º ano do 2º ciclo, distribuídas nas seis RPA (Região Político-Administrativa) que compõem a Rede Municipal de Ensino do Recife. No Estudo 2 foram escolhidas quatro dessas professoras para serem observadas em suas práticas de sala de aula.

Nossa opção pelo 2º ano do 2º ciclo, deveu-se ao fato de, nesse nível de ensino, grande parte dos alunos já dominarem o sistema de escrita alfabética, o que poderá levar um maior número de professores a utilizarem o livro adotado na Rede, já que este é um dos argumentos encontrados em algumas pesquisas (Ribas, 2003; Santos 2004), ainda que em outras áreas e níveis, para a não utilização do livro adotado, ou para o seu uso só a partir do segundo semestre. A escolha de pelo menos duas professoras que trabalham em escolas distribuídas em cada uma das RPA, buscou contemplar as várias áreas onde estão localizadas as mesmas.

A opção por estatística e resolução de problemas de estruturas aditivas se deu em função do primeiro ser considerado pouco presente nos livros e pouco trabalhado nas escolas e, o segundo, como tendo sido sempre trabalhado a despeito das concepções e metodologias adotadas tanto pelos autores de livros didáticos como pelos professores quando do uso dos mesmos. O tratamento da informação por não ter sido um conteúdo trabalhado pelas professoras nem enquanto alunos nem durante sua formação inicial ou continuada é considerado difícil, e a resolução de problemas de estruturas aditivas, ao contrário, sempre esteve presente nas duas situações. Os professores, quando apontam dificuldades em relação à

resolução de problemas de estrutura aditiva, referem-se geralmente às dificuldades dos alunos, e afirmam não ter dificuldades para trabalhar com tal conteúdo.

Buscamos verificar se a crença dos professores de que dominam ou não, determinado conteúdo, faz com que se distanciem ou se aproximem das orientações propostas no livro, influenciando assim, na forma de utilização dos mesmos.

Estudo 1 - Entrevista ƒ PARTICIPANTES

Participaram desse estudo 15 professoras que atuavam no 2º ano do 2º ciclo na Rede Municipal e aceitaram ser entrevistadas em seus locais de trabalho.

ƒ PROCEDIMENTO

A opção por entrevistas assegura-se pelo seu “caráter de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde” (Lüdke & André, 1986, p. 33). As entrevistas possuíram caráter semi-estruturado (Anexo 1, p.147), ou seja, possuindo questões abertas, exatamente por elas permitirem que o pesquisador viesse a conhecer mais particularidades a respeito dos entrevistados e, neste caso, como as docentes concebiam o processo de ensino e aprendizagem de estatística mais especificamente relacionado a gráficos, e também a resolução de problemas de estruturas aditivas e como utilizavam o livro didático em suas salas.

Segundo Lüdke & André (1986), a entrevista semi-estruturada se desenrola a partir de um esquema básico, não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador possa fazer as adaptações necessárias. Fizemos uso apenas de um roteiro que guiou a entrevista através de tópicos que considerávamos essenciais. Todas as entrevistas foram áudio-gravadas e transcritas.

Nessas entrevistas foram resgatadas as experiências das próprias professoras com a aprendizagem de Matemática, seja como alunas que haviam sido ou como docentes que eram no período da realização desta pesquisa e como estes pontos se relacionavam entre si. As professoras foram solicitadas a falar sobre:

1. Sua formação; tempo de magistério; experiências com a Matemática como alunas e comoprofessoras.

2. Seus objetivos para o ensino de representações gráficas e resolução de problemas de estruturas aditivas.

3. Uso do livro didático e de outros materiais ou atividades que consideravam relevantes para o ensino de representação gráfica e de resolução de problemas de estruturas aditivas.

Com a utilização desses instrumentos de investigação, buscamos levantar dados necessários para podermos averiguar as práticas de representações gráficas e resolução de problemas de estruturas aditivas desenvolvidas pelos professores do 2º ano do 2º do ciclo do Ensino Fundamental I.

Para a análise de dados tomamos como referencial a análise de conteúdo temático, pois, como bem coloca Bardin (1977), o investigador escolhe o tipo de conteúdo a ser examinado, podendo ser ele manifesto ou latente, cujo interesse é perceber não só o que é dito, mas o que está oculto no discurso, buscando compreender, inclusive, o que está nas entrelinhas das mensagens.

Estudo 2 - Observação das aulas ƒ PARTICIPANTES

Para esse estudo foram escolhidas quatro professoras para serem observadas em sala de aula considerando quatro aspectos:

1. Disponibilidade em participar da pesquisa; 2. Localização da escola (uma de cada RPA) 3. Lecionar a disciplina matemática;

4. Concordância em utilizar o livro nos dias de nossa observação das aulas.

Realizamos observação da dinâmica da sala de aula, pois essas possibilitam “um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado (...) e a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fenômeno” (Ludke & André, 1986, p.26). De acordo com esses autores para que a observação se torne um instrumento considerado de investigação cientifica, ela precisa antes de tudo ser controlada e sistemática, pressupondo haver antecipadamente um planejamento do que vai ser observado e um direcionamento daquilo que realmente se quer observar.

Foram observadas oito aulas de cada uma das professoras participantes, das quais, quatro versavam sobre Estatística e quatro sobre Resolução de Problemas de Estruturas Aditivas.

Na observação, focamos o nosso olhar no trabalho efetivo de utilização do livro didático, com vistas a compreender como se desenvolveu o trabalho didático com esse livro, quais foram as formas de apropriação que os professores fizeram de suas propostas. As 32 aulas observadas foram gravadas e depois transcritas.

Também realizamos registros sobre o que observávamos. Esses registros serviram para detalhar aspectos, expressões que o gravador não consegue captar, além de impressões pessoais sobre o momento, os quais foram muito importantes para a compreensão do contexto geral do trabalho. Lüdke e André (1986, p. 24) colocam que quanto mais próximo do momento da observação o registro é feito, mais retratarão os fatos ocorridos. Procuramos fazer as anotações durante as observações, para não perder detalhes importantes.

Nossa intenção foi prioritariamente levantar e analisar as práticas centradas na sala de aula com atenção voltada às formas de uso do livro pelo professor, portanto, consideramos mais especificamente o processo de ensino e não o produto final desse processo que é a aprendizagem dos alunos.

Ao final de cada aula observada, realizávamos uma pequena entrevista solicitando que as professoras explicitassem os objetivos que elas tinham com aquela aula e clarear pontos da observação realizada. Buscávamos, ainda, investigar como elas haviam preparado aquela aula para identificar se a professora havia utilizado o livro didático como um material de apoio na preparação da mesma.

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