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Micro e Pequenas Empresas no Contexto Socioambiental

2.4 MICRO E PEQUENAS INDÚSTRIAS

2.4.2 Micro e Pequenas Empresas no Contexto Socioambiental

Desde a Revolução Industrial as empresas vêm passando por transformações, afetadas por mudanças tecnológicas, nos processos e nas relações com os diversos setores com os quais possuem relações. No primeiro momento, quase ou nenhuma preocupação existia no que diz respeito às externalidades relacionadas aos impactos à sociedade ou ao meio ambiente. Com o tempo, as preocupações ambientais e sociais passaram a ser exigidas das empresas, pois a sociedade passou a cobrar uma mudança de postura em relação aos danos ambientais, ao mesmo tempo em que exigiam um novo comportamento social, como uma contrapartida pelo que a comunidade lhe oferecia.

Os processos de Gestão Socioambiental, que já são disseminados nas grandes organizações, passam também a fazer parte de um novo paradigma, fundamental para o crescimento das micro, pequenas e médias empresas. Esse processo, embora mais difundido para as empresas de maior porte, também é possível, simples e viável para as empresas de porte menor (FIRJAN, 2014).

Os sistemas de gestão ambiental (SGA), por exemplo, são aplicáveis a qualquer atividade econômica, de qualquer tamanho, e possibilita à empresa “identificar, controlar, minimizar e até eliminar os riscos ambientais de suas atividades, produtos e serviços”. (FIRJAN, 2014, p. 29). Hoje em dia, as empresas que possuem um sistema de gestão ambiental em funcionamento, mais do que valorizadas e reconhecidas, são também cobradas pela sociedade, no intuito de que elas pratiquem e divulguem suas ações ambientais.

Outro ponto a ser observado é que as grandes empresas estão procurando se adequar aos sistemas de gestão ambiental (SGA), principalmente aderindo à certificação da norma ISSO 14001, e exigindo de suas cadeias de fornecedores também suas adequações, de modo que as micro e pequenas empresas que desejam ou desejarem manter relacionamento de fornecimento de produtos ou serviços também deverão se adequar. Assim, as empresas de menor porte que desejam conquistar clientes que possuem certificação ambiental têm diante disso um estímulo, ou mesmo um desafio, para atender as exigências de sustentabilidade que essas empresas praticam, pois essas certificações são as credenciais para grandes mercados.

Este cenário mostra que as micro e pequenas empresas estão sendo motivadas a adotarem práticas de responsabilidade socioambiental, visto que os consumidores brasileiros e o público em geral têm-se mostrado cada vez mais preocupados com os impactos causados pelas organizações no meio ambiente e seu papel como agente de transformação da sociedade; estão, dessa forma, compelidas a oferecerem produtos e serviços com responsabilidade socioambiental, e os consumidores, despertando seu interesse, acabam por tornarem-se, gradativamente, consumidores éticos.

Ferronato (2011) afirma que a boa imagem das micro e pequenas empresas perante o consumidor e o mercado perpassam pela convivência em harmonia e equilíbrio com a natureza. Destaca que esses negócios que oferecerem ao mercado produtos inofensivos ao meio ambiente podem obter uma vantagem competitiva em relação a produtos e serviços similares. Isso porque os compradores de hoje sentem que devem adquirir produtos seguros, confiáveis e honestamente anunciados, fazendo com que as empresas adotem uma postura real de responsabilidade socioambiental, e não somente um marketing para ser bem visto pelo mercado.

Por outro lado, para Farias e Teixeira (2002), um dos grandes desafios atuais é mostrar para micro e pequenas empresas a importância de mudar a concepção sobre o meio ambiente e adequar seus processos produtivos aos limites e condições que os meios natural e social impõem. Os autores apontam que dentre os problemas para as micro e pequenas empresas se

envolverem na questão socioambiental estão a limitação de recursos financeiros para investimentos nessa área, além de falta de tempo disponível dos seus gestores para preocupações dessa natureza, visto que quase sempre são eles os únicos responsáveis pelo gerenciamento de todas as atividades do negócio.

No âmbito interno, deve-se buscar difundir uma cultura corporativa que apoie uma saudável relação com o meio ambiente e com a sociedade, consolidando sua política de responsabilidade socioambiental e promovendo a formação de uma consciência social responsável por parte dos seus agentes internos. Essas ações devem ser aplicadas por todas as empresas, independente do porte, o que significa que as micro e pequenas empresas também possuem a mesma responsabilidade perante seus colaboradores e a sociedade. Com relação aos gestores dessas micro e pequenas organizações, destaca-se seu papel na condução dessa nova política e postura empresarial, visto que o empresário ao adotar uma conduta “responsável e ambientalmente correta implica que a organização é sensível e, ao mesmo tempo, que suas estratégias e táticas buscam ser indutoras da melhoria de qualidade de vida dos cidadãos” (FERRONATO, 2011, p. 173).

Inserir a variável socioambiental nas micro e pequenas empresas aparece como uma grande oportunidade de inovação em um nicho no qual se vê poucas ações neste sentido, sendo uma maneira de consolidar uma mudança de comportamento de baixo para cima, tendo em vista que essas ações são mais bem observadas em empresas de maior porte. De acordo

com Longenecker et al. (1997, p. 14), as micro e pequenas empresas “oferecem contribuições

excepcionais, na medida em que fornecem novos empregos, introduzem inovações, estimulam a competição, auxiliam as grandes empresas e produzem bens e serviços com eficiência”. Elas oferecem, portanto, uma oportunidade interessante em relação às demais, pois, em virtude de seu tamanho, se torna mais fácil engajar seus colaboradores na busca pela sustentabilidade dos seus negócios.

Em todas as economias do mundo, os micro e pequenos negócios correspondem a grande parte das empresas existentes e também o maior gerador de empregos. De acordo com o Sebrae (2012), no Brasil, da mesma forma, as micro e pequenas empresas representam por mais de 90% dos empreendimentos existentes, respondendo por mais de 70% das novas vagas criadas a cada ano e por mais de 40% da massa salarial empregada formalmente. Essa alta representatividade reforça a ideia de que não há como planejar o crescimento e desenvolvimento sustentável de um país sem incluir essas micro e pequenas empresas. Esse setor empresarial funciona como um grande motor da economia, pois é comum quando a

economia se encontra desacelerada verificar-se um aumento na criação de micro e pequenos negócios. Em um mercado cada vez mais exigente, a inovação pode servir de propulsor para o crescimento e desenvolvimento dessas empresas, incluindo a gestão sustentável na política de desenvolvimento interno e tornando-se mais competitivas. Essas empresas devem estar abertas à inovação de ideias e ações, visto que a sustentabilidade surge como um dos principais temas a serem implementados em todos os setores do mundo no século XXI.

As práticas sustentáveis, na qual se inclui a gestão ambiental, na maioria das vezes, não requer investimentos. Trata-se, basicamente, da implementação de ideias simples, quando da aplicação de técnicas que tornam seus processos mais eficientes e provocam redução dos custos, através da redução de consumo de energia e matérias-primas, bem como a reutilização ou reciclagem de materiais para o reaproveitamento dentro da empresa (SEBRAE, 2012).

De acordo com Hart (in SEBRAE, 2012, p. 56), "as pequenas empresas - não qualquer

uma, mas um tipo particular delas - têm a chave para conduzir um mundo mais sustentável". Hart (Op. Cit., p. 56) acredita que o desenvolvimento sustentável tem maior chances de sucesso se ela for implementada "de baixo pra cima", incluindo as camadas mais populares da sociedade (a base da pirâmide) na concepção e desenvolvimento desse objetivo. Vendo um erro na elaboração das políticas de desenvolvimento sustentável mais voltadas para o topo da pirâmide social, o autor faz uma observação interessante ao considerar que a conexão de pequenos negócios com a comunidade mais carente pode ser uma chave para o mundo mais sustentável. Esclarece que não basta às empresas serem ecoeficientes em seus processos; é necessário a elaboração de produtos que sejam viáveis para aquisição por camadas mais baixas da sociedade, promovendo, assim, a integração social do consumo sustentável.

Dessa forma, observa-se que a ecoeficiência será algo como quase automático para as empresas adotarem, já que se trata de um aspecto ligado à redução de custos e, por consequência, a rentabilidade e sobrevivência da empresa. É preciso ir além e adotar uma estratégia inclusiva da população como um todo e as micro e pequenas empresas exercem um papel fundamental nesse novo horizonte, pois são elas que se aproximam mais das camadas mais baixas da população.

Portanto, conforme destaca Ferronato (2011), é uma questão de sobrevivência para as micro e pequenas empresas pautar suas ações em valores baseados em responsabilidade socioambiental, o que revela certo grau de maturidade por parte dessas organizações. Por sua vez, seus gestores devem estar conscientes de que o caminho do progresso do micro ou pequeno negócio não passa unicamente pelas operações voltadas para os aspectos financeiros

e econômicos, devendo o mesmo ser solidário e se despertar para valores e princípios de cidadania. O autor destaca também que a responsabilidade da empresa cidadã está pautada na busca pela capacidade de satisfazer as necessidades da sociedade no presente, sem comprometer a habilidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades.

2.4.3 Micro e Pequenas Indústrias e Aspectos Socioambientais da Atividade Industrial

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