• Nenhum resultado encontrado

DAM em mineração de carvão no sul do Brasil: um breve histórico das minas de Santa Catarina

Figura 3 – Areal Irmãos Unidos

3 BASE TEÓRICA

3.5 PROCESSO DE ACIDIFICAÇÃO DE ÁGUAS NATURAIS PELA INDÚSTRIA DA MINERAÇÃO: CARACTERÍSTICAS E CONSEQÜÊNCIAS

3.5.7 DAM em mineração de carvão no sul do Brasil: um breve histórico das minas de Santa Catarina

A lavra de carvão em Santa Catarina teve início no final do século XIX conduzida por empresa de origem britânica. Dada a baixa qualidade do produto, o desenvolvimento da indústria não foi expressivo (KOPE & COSTA, 2008). A Primeira Guerra Mundial permitiu, num primeiro momento, um crescimento da produção de carvão na região incentivando o ingresso de empresas nacionais, algumas das quais em atividade até o presente momento, entre elas destacaram-se a Companhia Carbonífera Urussanga (1918) e a Companhia Carbonífera Próspera (1921). Posteriormente, no Governo de Getúlio Vargas, foi implementada a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN, 1946). Além dessas empresas, pequenos produtores dominaram as atividades no período 1940-1960. A partir de 1970, o número de empresas em atividade foi reduzido a onze, a maioria pertencente a empresários locais. Nesse período, a crise do petróleo, em 1973, favoreceu o desenvolvimento da lavra de carvão até o início da década de 90, quando a desregulamentação do uso do carvão provocou

uma crise nas atividades de mineração. As perspectivas para o século XXI não estão ainda definidas claramente e dependem fundamentalmente do papel que o carvão poderá assumir na matriz energética brasileira. No ano de 2005, foram produzidos cerca de 7.808.000 de toneladas de carvão, sendo o maior produtor a empresa Carbonífera Criciúma, com cerca de 1.374.513 toneladas, seguida das empresas Cooperminas (1.146.043 t), Catarinense (1.089.072 t) e Metropolitana (1.059.492 t) e juntas são responsáveis por cerca de 60 % da produção do Estado (DNPM, 2006).

A Bacia Carbonífera do Sul de Santa Catarina possui uma área aproximada de 1.625 km² (Figura 15), dos quais cerca de 490 km² foram diretamente impactados pela atividade carbonífera. Estas três bacias hidrográficas da região carbonífera (Tubarão, Urussanga e Araranguá), que juntas perfazem cerca de 10.000 km2, apresentam um conjunto de 786 km de rios contaminados por drenagem ácida, 115 depósitos de rejeitos pirítico-carbonosos e 77 lagoas ácidas (KREBS & POSSA, 2008). Tais índices devem-se, em grande parte, à herança de um século de mineração sem projetos acompanhados de um planejamento mínimo voltado ao controle dos impactos desta atividade sobre o seu meio ambiente, justificadamente pela inexistência de recursos técnicos aplicáveis. Além disso, a total descapitalização do setor por conta dos fatores antes comentado obrigou as empresas a deixarem de lado todos os projetos de desenvolvimento tecnológico e ambiental, pelo menos até a recuperação econômica das mesmas.

Segundo SEDUMA (1997), a área correspondente à região carbonífera é um dos pontos considerados mais críticos no estado em relação à disponibilidade hídrica e à qualidade das águas, pois cerca de 2/3 dos seus rios encontram-se poluídos. Nesta área, concentram-se, além da mineração de carvão, diversas atividades, tais como cerâmica de revestimento e estrutural, indústria metal-mecânica, curtume e agroindústria. A Tabela 6 mostra valores médios anuais (de 2001 a 2006) dos componentes de DAM gerada pela Carbonífera Criciúma (SCHINEIDER, 2008).

Figura 15 - Localização da bacia carbonífera em relação às bacias hidrográficas dos rios Araranguá, Urussanga e Tubarão.

Tabela 6 – Média anual dos principais componentes (mg.l-1) da DAM gerada pela Carbonífera Criciúma entre os anos 2001 e 2006 (SCHINEIDER, 2008).

A degradação ambiental, em especial o comprometimento dos recursos hídricos, motivou o Ministério Público Federal a mover, em janeiro de 2000, uma ação pública cuja sentença condenou solidariamente a União, o Estado de Santa Catarina e as carboníferas a promoverem a recuperação ambiental da área atingida pela extração de carvão. Em 2006, as carboníferas firmaram com a FATMA (Fundação do Meio Ambiente) um Termo de Ajuste de Condutas (TAC) visando a estabelecer as obrigações mínimas a serem cumpridas por cada uma delas de forma a possibilitar a adequação legal de suas atividades de mineração. Dentre essas obrigações, as carboníferas se comprometeram a implantar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) em suas respectivas unidades mineiras.

Logo, a implantação do sistema de tratamento da DAM a partir da usina de beneficiamento, incorpora os princípios de uma estação convencional para tratamento primário de efluentes. Estes princípios envolvem as misturas de reagentes, processos de aeração, floculação e decantação, todos desenvolvidos em instalações para beneficiamento do carvão mineral. Os efluentes gerados compreendem o conjunto das águas drenadas do subsolo, as quais, juntamente com as águas de escoamento superficial e de lixívia drenada nos depósitos de rejeitos, são captadas e direcionadas para adução à usina de beneficiamento. A implantação do sistema de tratamento da DAM a partir da usina de beneficiamento incorpora os princípios de uma estação convencional para tratamento primário de efluentes. Tais princípios envolvem as misturas de reagentes, processos de aeração, floculação e decantação, todos desenvolvidos em instalações para beneficiamento do carvão mineral (SCHNEIDER, 2008).

Com as medidas de tratamento de efluentes adotados por grande parte das minerações, a exemplo da Carbonífera Criciúma, a composição do efluente líquido passou a ser muito menos impactante (Tabela 7).

Tabela 7 - Média anual dos principais componentes (mg.l-1) da DAM após o tratamento do efluente emitido pela Carbonífera Criciúma entre os anos 2001 e 2006 (SCHINEIDER, 2008).

Considerando a diferença do teor em metais presentes na DAM (Tabela 6) em relação ao efluente liberado (tratado, Tabela 7) e considerando a vazão anual de aproximados 2,76 milhões de metros cúbicos de efluentes tratados, calculam-se um abatimento anual equivalente a 166 toneladas de ferro, 100 toneladas de alumínio e 12 toneladas de manganês. Nesta evolução, há destaque para a redução dos teores médios do Mn no efluente descartado, o qual persistia com valores mesmo no efluente tratado nos anos de 2001, 2002 e 2003. Isto se deve ao ajuste do pH, haja vista a dissolubilização do Mn em pH mais elevados, razão pela qual a dosagem dos reagentes é controlada pela faixa de pH entre 8,5 e 9,0. A partir desta faixa, as emissões passaram a teores sempre abaixo de 1 mg.l-1.