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48 Alto Minho (ULSAM) apresenta, entre as seis unidades locais de saúde estudadas, o segundo

mais baixo valor de “Índice de desenvolvimento humano”. Este facto, resulta de ter a mais baixa taxa de alfabetização, a mais baixa taxa de escolarização e o terceiro mais baixo PIB per capita, o que contribui para uma mais baixo nível de saúde.

De acordo com um estudo sobre a perceção da pobreza em Portugal (Moreira, Aires & Araújo, 2009) os dados evidenciam uma perceção generalizada de aumento da pobreza em Portugal e baixas expectativas em relação a uma melhoria dessa situação nos próximos anos.

3.3. As políticas sociais em Portugal e a crise

Ao longo da história do direito, a enunciação e a explicitação sobre o domínio dos direitos reais tem assumido uma acentuada prioridade. O mesmo não tem acontecido no caso dos direitos sociais. Neste sentido, estes direitos, devem ser equacionados a partir da ideia de justiça social e enquadram-se, sobretudo, na necessidade de distribuição de rendimentos e na consequente proteção aos mais vulneráveis, aos pobres e aos trabalhadores, sob a lógica dos princípios da igualdade e solidariedade (Rodrigues, 2010).

De fato, o reconhecimento dos direitos sociais está ligado à existência de uma participação ativa na vida social, pois é através do acionamento destes direitos que se pode promover a efetiva inserção social. Contudo, nem todos os indivíduos conseguem usufruir de igual modo dos direitos, assim como, nem todos têm a mesma capacidade para realizar os seus direitos. Existem alguns grupos sociais que não tem capacidade de mobilização social, não conseguindo expressar os seus direitos sociais. Assim, tal como refere Fernandes (1994, p. 249)

“os direitos do homem são, na verdade, uma função da natureza humana e das condições históricas da sociedade, na perspetiva pela luta da humanidade pela sua própria emancipação”.

Os países ocidentais democráticos ensaiaram a promoção de algumas medidas politicas, não conseguindo, no entanto, erradicar a pobreza. Aliás, crescimento económico, aprofundamento das desigualdades e desemprego são três realidades que podem coexistir num mesmo espaço e num mesmo tempo.

Em Portugal, de acordo com Rodrigues (2010) constituíram-se formas hibridas de Estado Providência, por força do seu surgimento tardio e num contexto de menor prosperidade económica e fiscal. Este refere que o caso português tem-se caraterizado por um modelo particular e por um conjunto de especificidades que o diferenciam dos restantes países europeus. Trata-se de um modelo de proteção social que é frequentemente dualista: a uma sobre proteção de certos núcleos da força de trabalho (aqueles que são melhor pagos e têm um rendimento estável) contrapõem-se com níveis rudimentares de proteção social e algumas camadas da população.

Neste contexto, enquanto, nos países mais avançados da Europa, sobretudo em França, iam surgindo mecanismos estatais de resposta aos problemas sociais, em Portugal, o Estado apresentava uma fraqueza politica e financeira que comprometeu os mecanismos de ação social tornou o país, atualmente, um dos mais atrasados da Europa a este nível. Como nos diz Rodrigues (2010, p. 202) a “Segurança Social, sendo um sistema social, orienta-se pelo principio

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de responsabilidade de todos os membros de uma sociedade na prevenção e cobertura dos riscos e na construção de um bem-estar coletivo, não podendo ser por isso, reduzida à relação e contribuição e poupança individual para beneficio diferido ou seguro pessoal de eventualidade”.

A lei de bases da Segurança Social (Decreto - Lei Nº4/2007) refere que todos têm direito à Segurança Social “…o sistema de Segurança Social protege cidadãos na doença, velhice,

invalidez e viuvez…”, neste âmbito, as soluções dependem da situação do idoso uma vez que o

sistema compreende vários níveis, em função do sistema contributivo em causa.

Na década de 90 assistiu-se a um incremento das preocupações face à pobreza e aos grupos sociais vulneráveis, por parte não só das organizações estatais, como também das privadas. Exemplo disso é o programa de luta contra a pobreza, que engloba os correspondentes programas nacional e europeu, os quais tem efeitos nas políticas sociais. No entanto, Portugal continua ser o país da Europa com o mais baixo nível de despesas de proteção social. Em 2008 os países da União Europeia dedicaram, em média, 26.4% do seu PIB para despesas com a proteção social, enquanto Portugal dedicou cerca de 24.3% (INE, 2010).O caminho tem sido dificultado pelas debilidades económicas e institucionais.

Inexoravelmente associada à questão social encontra-se efetivamente a questão da saúde. Em Portugal, assim como nos países mais avançados, mantém-se as desigualdades em saúde, verificando-se a existência de um gradiente social em saúde, em que, quanto mais baixa for a posição dos indivíduos no escalonamento social, menor é a probabilidade de concretizarem em pleno o potencial individual de saúde. Situações de doença com os custos que daí decorrem e opções entre a saúde e bens essenciais podem ser fatores precipitantes de pobreza, sobretudo para doentes crónicos, desempregados e idosos. Estes grupos são os que mais necessitam de cuidados de saúde, ficando duplamente fragilizados (Furtado & Pereira, 2010).

De fato, quando abordamos as questões da saúde, percebemos como este setor é particularmente sensível à degradação das condições económicas e sociais, na medida em que, faz parte da linha da frente na assistência e proteção dos cidadãos. Atualmente, Portugal está a atravessar uma crise financeira, económica e social, que afeta necessariamente a saúde e o sistema de saúde. Por isso, o que se vai passar na saúde depende, em grande parte, da qualidade e da oportunidade de resposta adequada.

A falta de crescimento económico faz, só por si, com que a percentagem dos gastos sociais no Produto Interno Bruto cresça também (em valor absoluto). É evidente que não há progressos na proteção social sem crescimento económico, sendo que a história europeia do último século também parece demonstrar que não há crescimento económico sustentável sem coesão social. “Deve atentar-se, por isso, no crescimento económico e na proteção social como

duas faces da mesma moeda e olhar com particular atenção para aqueles fatores que influenciam negativamente quer o desenvolvimento económico quer a boa gestão dos sistemas de proteção social” (idem, ibidem, p.12).

A recessão económica, o acentuado aumento do desemprego, o aumento da carga fiscal, o agravamento dos preços dos serviços essenciais (a eletricidade e os transportes), a diminuição das remunerações, o empobrecimento das pessoas, novos obstáculos ao acesso aos cuidados de

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