• Nenhum resultado encontrado

Se nos depararmos com o número sete da revista Labor, de abril de 1942, encontraremos um grande número de artigos tecendo loas ao Decreto-lei nº 4.073 e ao seu principal responsável, o presidente Getúlio Vargas. Em números posteriores, também encontraremos textos com a mesma característica, pelo menos até o fim do Estado Novo, isto é, a elaboração da Lei Orgânica do Ensino Industrial como resultante do gênio e da preocupação do ditador com os desfavorecidos. Neste item, analisaremos como se dá a construção do mito da generosa concessão de tal legislação pelo presidente, que contou com a valorosa contribuição de seu ministro da Educação, Gustavo Capanema.

Para tanto, nos basearemos no trabalho de Adalberto Paranhos (1999), embora focalizando outro objeto. Este autor elabora a idéia de que a legislação trabalhista do governo Vargas seria uma “fala roubada” aos trabalhadores e apropriada pelo governo, que

se erigia como diretamente responsável pela doação das leis do trabalho, construindo-se assim a figura do “pai dos pobres” para o ditador. Paranhos afirma que “é inegável que a ‘concessão’ dos direitos sociais, propagandeada como obra da ‘generosidade’ e da ‘capacidade de antevisão’ de Vargas, cumpriu, entre outras, a função de amortecedor do impacto das lutas de classe”. (PARANHOS, 1999, p. 25). É como se todas as

reivindicações e lutas dos trabalhadores no período anterior a 1930 simplesmente não houvessem existido, e que todos os benefícios deviam-se à bondade do presidente. O que nos propomos a fazer é um paralelo dessa forma de análise com a legislação educacional decretada no Estado Novo, no nosso caso específico com a Lei Orgânica do Ensino Industrial, a partir de uma série de artigos e textos publicados na revista Labor.

Paranhos usa como referencial teórico de análise um trabalho de Roland Barthes (1999) sobre a construção dos mitos. Estes teriam a função de deformar as coisas, e a fala daí decorrente é uma fala roubada, sendo restituída em outro lugar. Além disso, esta fala roubada é uma fala despolitizada, pois seu objetivo é deformar a história, no sentido de retirar da explicação das coisas seu componente histórico e real, substituindo-o por um componente natural, em que a compreensão das coisas é mais simples e de maior aceitação, uma vez que não é necessário o entendimento das complexas contradições que compõem uma determinada realidade. Teríamos, portanto, a substituição do componente humano por um componente mítico, caracterizando-se um processo de des-historização da explicação das coisas, sendo este “o próprio processo da ideologia burguesa”. Assim,

o mito é constituído pela eliminação da qualidade histórica das coisas: nele, as coisas perdem a lembrança da sua produção. [...] Uma prestidigitação inverteu o real, esvaziou-o de história e encheu-o de natureza, retirou às coisas o seu sentido humano [...]. A função do mito é evacuar o real. (BARTHES, 1999, p. 163).

No nosso caso específico, o que nos compete analisar é como o Estado Novo faz esta operação mitológica em relação ao ensino industrial. Ora, a busca de uma melhor formação educacional dos trabalhadores, para tentar ocupar melhores espaços no mundo do trabalho, bem como para sua elevação “moral”, já vinha de muito tempo. Mesmo que parte

dos movimentos operários se opusessem à forma como esta educação seria organizada pelas classes dominantes, como as correntes anarquistas e socialistas, no geral todas elas destacavam a importância da educação para os trabalhadores. Maria Elizabete Xavier ressalta que “a Reforma Capanema organizou nacionalmente, pela primeira vez no país e

em resposta a reivindicações sociais e pressões políticas de já há duas décadas, o ensino técnico-profissional nas três áreas da economia”. (XAVIER, 1990, p. 111). Aqui, podemos considerar a expectativa, por parte da maioria da população, de que a educação escolar possa ser capaz de melhorar seu nível social, atestada pelo grande aumento no número de matrículas e de unidades escolares também no ensino industrial (MACHADO, 1989, pp. 37-8), não esquecendo que este ramo de ensino deveria ser o responsável por “formar mão- de-obra qualificada para as necessidades do sistema produtivo”. (MACHADO, 1989, p. 39). Aliadas a este fator, não podemos esquecer de todas as reformas e propostas de reformas que tinham por objetivo a conformação de uma força de trabalho que atendesse, sob todos os aspectos, aos anseios dos industriais e do Estado, elaboradas nas décadas de 1920 e 1930, tais como o Serviço de Remodelação do Ensino Profissional Técnico, o decreto 5.241/27 (conhecido como Lei Fidélis Reis), o projeto Graco Cardoso69, e a reforma de Fernando de Azevedo no então Distrito Federal, apenas para ficar nos exemplos mais notórios. E ainda mais,

antes da ‘lei’ orgânica do ensino industrial, funcionavam, [...] vários cursos técnicos que, entretanto, não conferiam diplomas reconhecidos pelas autoridades educacionais. A pressão exercida pelos alunos e egressos, bem como pelos estabelecimentos, para que se reconhecessem esses cursos foi um fator que conduziu à organização do ensino técnico industrial. (CUNHA, L. A., 2000b, p. 124).

Assim, existia uma demanda por uma reforma de grandes proporções, em todos os diversos ramos da educação brasileira, que será explicitada pelas Leis Orgânicas decretadas a partir de 1942. E todo esse anseio reformista será apropriado pelo Estado Novo como uma generosa concessão de Getúlio Vargas. Em nosso caso específico, veremos como isso se deu com Lei Orgânica do Ensino Industrial.

Ao considerar esta legislação como uma doação, encontramos o seu componente mítico omitindo as reivindicações dos trabalhadores e também as tentativas reformistas anteriores não originárias da classe trabalhadora por uma educação ampliada para os diversos segmentos sociais. O mito da doação procura convencer a população da conveniência em se adotar determinado procedimento, que estaria de acordo com os “interesses nacionais”, na verdade interesses oriundos da classe burguesa. A este respeito,

Barthes afirma que

a burguesia apagou o seu nome passando do real à sua representação, do homem econômico ao homem mental: ela acomoda-se com os fatos, mas não ‘entra em acordos’ com os valores, submete o seu estatuto a uma verdadeira operação de

eliminação da denominação; a burguesia define-se como a classe social que não quer ser denominada.[...] Politicamente, a hemorragia do nome burguês

produz-se através da idéia de nação. (BARTHES, 1999, pp. 158-9).

No caso do ensino industrial, tais interesses “nacionais” residiam na formação de

uma aristocracia do trabalho, disciplinada, com uma dupla finalidade: ocupar postos-chave na indústria, e servir de exemplo à classe trabalhadora, pois ao sair da escola consegue

arrumar emprego facilmente, podendo ganhar a vida pelo seu trabalho, e tudo isso graças ao seu esforço individual, primeiro como estudante e depois como trabalhador dedicado e disciplinado.

A revista Labor é pródiga em exemplos da construção do mito da doação da legislação educacional, por parte do Estado Novo. Anteriormente à Lei Orgânica do Ensino Industrial, já havia referências ao empenho que o governo devotava ao ensino industrial.70 Tal esforço, porém, só podia ser compreendido no contexto maior da preocupação do presidente com o progresso e com o bem do país:

A obra de assistência ao trabalhador brasileiro, no governo do Presidente Getúlio Vargas, é realmente grandiosa e se afirma por uma longa série de empreendimentos de vulto.

No campo educacional a sua ação eficiente se revela através do desenvolvimento crescente que se imprime nesta hora ao ensino técnico profissional, em seus diversos ramos. (...). 71

E prossegue o artigo destacando a construção de novos prédios ou a reforma dos antigos para as diversas Escolas de Aprendizes Artífices do país, bem como a enorme quantidade de recursos públicos para estas edificações, demonstrando a efetiva preocupação do governo com o ensino profissional. Mas o que chama a atenção neste artigo é o fato de que o apoio ao ensino profissional, juntamente com a legislação trabalhista, sindical e previdenciária, teria sido obra da benevolência e da iniciativa de Vargas. Sobre esta questão, Paranhos afirma que

70 Ver citação 7 das páginas 75-76 desse capítulo.

a fala governamental guarda, então, em seu início, a lembrança da sua produção, ainda que deformada; contudo em seu fim ela se naturaliza. Vargas, meio- homem, meio-deus, estaria, afinal, cumprindo a “missão” de promover o encontro da nação com o seu grande “destino”, ao pôr o Brasil sobre os eixos. Dotado de “senso de realidade”, como realçavam os ideólogos do “Estado Autoritário”, ele, como ninguém, atuava com vistas a imprimir novos rumos ao país, sintonizando- o, finalmente, com as realidades objetivas, com a essência da “brasilidade”. (PARANHOS, 1999, p. 34)

Para a construção do mito da doação da legislação do ensino industrial, é muito importante destacar como era trabalhado o papel do criador das escolas de artífices, o ex- presidente Nilo Peçanha. Considerando que “o mito é uma fala escolhida pela história: não poderia de modo algum surgir da ‘natureza’ das coisas” (BARTHES, 1999, p. 132),

verificamos que Nilo Peçanha não é ocultado ou apenas citado como criador de tais instituições. Pelo contrário, é tido como “um brasileiro que era um grande patriota”, que “transformou em realidade uma idéia que, com o intuito de beneficiar o seu País e o seu povo, vinha desenvolvendo há muito tempo”.72

Nilo Peçanha é considerado “administrador inteligente”, que “possuía um espírito notável de dinamismo criador cujos testemunhos ainda hoje perduram na sua obra que não há de desaparecer”.73

Mas o grande problema é que, após Nilo Peçanha, as escolas de artífices foram praticamente abandonadas, até que “o

Brasil em 1930, como embarcação que por largo tempo navegasse ao léu, castigada pela fúria dos elementos, atingiu finalmente, guiado pelo pulso férreo de um homem de fibra, o porto seguro da Paz, da Ordem e do Progresso”.74

Assim, fica claro que

o exame dos acontecimentos passados não deveria ser feito com o propósito de imitá-los, mas de revê-los, levando-se em consideração os novos elementos e as mutações contínuas da realidade.[...] A história recuperava os exemplos heróicos

72 A NOSSA página. Labor, Curitiba, ano 2, n. 5, ago. 1941.

73 DE NILO Peçanha a Getúlio Vargas – um hiato de 20 anos no ensino profissional brasileiro. Labor,

Curitiba, ano 2, n. 5, ago. 1941.

dos grandes nomes da nacionalidade, mas também apontava os erros, as causas do atraso do país e a incapacidade de alguns homens públicos na luta para superá- las. O apelo ao passado traz consigo, dessa forma, o enaltecimento do próprio Chefe da Nação: herói do presente, ele sintetizava, concomitantemente, a tradição e a modernidade, representando o elo entre a história da nação e seu destino [...]. (FONSECA, P. C. D., 1989, p. 290).

Portanto, Vargas resgata o legado de Nilo Peçanha, esquecido por mais de vinte anos, aperfeiçoando-o para o tempo presente e apontando os caminhos para o progresso do país. E o progresso reside no desenvolvimento econômico pela via da industrialização: “construir uma nação desenvolvida tornou-se o ponto principal da retórica governista,

capaz de aglutinar em torno de si a expressiva maioria da nação. Iniciava-se a crença de que, com o desenvolvimento econômico, os grandes problemas do país desapareceriam”.

(FONSECA, P. C. D., 1989, p. 257).

Logo, podemos constatar que as intenções assistencialistas e disciplinadoras contidas no Decreto nº 7566/09 são deixadas de lado, sendo levadas em consideração apenas as intenções progressistas de Nilo Peçanha; também as grandes dificuldades encontradas pelas escolas de aprendizes artífices são resultado da incúria dos administradores da República Velha, situação esta superada apenas com Vargas. “O mito

não esconde nada: tem como função deformar, não fazer desaparecer”. (BARTHES, 1999,

p. 143).

Mas é com a decretação da Lei Orgânica do Ensino Industrial, em 30 de janeiro de 1942, que as páginas de Labor vão celebrar entusiasticamente o “criador do Brasil Novo”. Em seu número sete, datado de abril de 1942, há toda uma série de artigos sobre a referida legislação, tida como obra do clarividente presidente da República. Tais artigos foram elaborados, em sua maioria, por professoras da agora Escola Técnica de Curitiba. Em

Vargas assumiu o governo em um momento difícil para o país, mas que “conseguiu vencer

todos os óbices, mantendo uma conduta enérgica, mas sem deixar-se dominar pelo ódio, pelo espírito de vingança, resolvendo os problemas mais vitais da nossa nacionalidade de maneira a não provocar distúrbios na economia nacional”.75

Assim, os problemas do país são resolvidos graças ao temperamento ao mesmo tempo enérgico e benfazejo. Fica explícita aqui a deformação da história, ocultando-se seu componente real e enfatizando-se a ação de Vargas devido à sua boa índole.

Reforçando essa última característica e a idéia de doação, escreve a citada professora: “[Vargas] deu ao povo brasileiro a Constituição de 1937, deixando evidente, de maneira positiva e insofismável o seu desejo de paz e tranqüilidade e o seu profundo respeito aos princípios jurídicos que servem de sólido fundamento a toda sociedade organizada”.76

Em outro texto, este não assinado, denominado A organização do ensino industrial, o autor queixa-se do fato de não estar sendo dada a devida importância ao Decreto-lei nº 4.073/42 devido ao destaque maior dado ao noticiário sobre a Segunda Guerra Mundial, ressaltando “a ação do atual governo no sentido de proporcionar as soluções que do país de há muito reclama e que só estão sendo realizadas após o advento do Estado Nacional.”77

Trata-se aqui de ocultar os verdadeiros interesses que estão por trás da decretação de tal legislação pelas “soluções que o país reclama”, de acordo com o que Barthes denomina

substrato notório. (BARTHES, 1999, p. 89). Tal ocultação, porém, é traída no parágrafo

seguinte, quando o autor afirma que a nova lei “estabelece as bases respectivas, visando dar

75 SILVA, Lenora Amaral. Getúlio Vargas – o creador do Brasil novo. Labor, Curitiba, ano 3, n. 7, abr. 1942. 76

Id., Ibid.

o máximo de eficiência à preparação profissional dos trabalhadores da indústria e das atividades artesanais, assim como de outras atividades”.78

E para não fugir à regra, o autor conclui que a ausência de uma legislação específica sobre o ensino industrial “era uma grande e sensível lacuna, que o decreto-lei promulgado pelo presidente Getúlio Vargas corrigiu definitivamente, e em condições capazes de abrir as mais largas possibilidades ao desenvolvimento do ensino industrial”.79

Assim, o progresso do país só será possível graças ao gênio do ditador.

A formação de mão-de-obra qualificada, certamente uma das necessidades da burguesia brasileira, é encampada pelo Estado através da legislação do ensino profissional, e aparece em Labor como uma exigência da Pátria:

S. Excia. o Snr. Getúlio Vargas, tem pela juventude brasileira um especial carinho.

Reunindo-a em torno de um belo ideal, o ideal da Pátria, leva-a para fora do mundo imaginário, que, muitas vezes a inépcia de pais e mestres a fizeram conceber e, leva-a para a vida real não responsabilizando a ciência pela brutalidade dos homens. Todo o bem estar do nosso Brasil, que repousa nas indústrias, no aperfeiçoamento das condições higiênicas e econômicas da vida, no combate aos males de toda a ordem que nos afligem, desenrola S. Excia. Ante os olhos da juventude, mostrando a perspectiva magnífica de uma Pátria unida e forte, cada dia mais ampliada numa progressão crescente, que vai do infinitamente pequeno ao infinitamente grande.80

Mais uma vez, os verdadeiros interesses e interessados são escondidos, através de uma “eliminação da denominação”. (BARTHES, 1999, p. 158). A atuação de Vargas, o “iluminado”, tem como norte tão somente a grandeza da Pátria...

78 Id., Ibid. 79 Id., Ibid.

Já a professora Myrian Guzel Weigert, em seu artigo denominado Escola Técnica

de Curitiba, reforça que “pela primeira vez lançaram-se com bases sólidas o ensino

industrial por todo o país, deixando de ser um simples campo de experiência”, graças ao “nosso eminente presidente, Dr. Getúlio Vargas, espírito compreendedor das necessidades de uma nação forte”.81

Ou seja, a partir de então, o ensino profissional passa a ser “coisa séria”. A história é transformada em natureza através da intervenção “esclarecida” do chefe

do Estado Novo, colocando os “interesses da nação” acima dos demais; caracteriza-se assim, mais uma vez, a dissimulação dos autênticos interesses em torno da decretação da Lei Orgânica do Ensino Industrial.

Em O problema da educação profissional, artigo não-assinado, somente

com as medidas que vem tomando o governo do presidente Getúlio Vargas, o problema da educação profissional se encaminha para a solução mais consentânea com as nossas realidades. Até há bem pouco tempo, as escolas que ministravam esse ensino, por força de instalações deficientes e inadequadas, não podiam cumprir o seu programa.82

E em O ensino industrial, também artigo não-assinado, igualmente faz–se referência a esta modalidade de ensino antes do Decreto-lei 4073/42, mas como experiência

senão insuficiente, pelo menos isolada, à parte da estrutura geral dessa educação e, no seu próprio campo, não constituindo um organismo perfeitamente reajustado. Escolas isoladas, com programas quase distintos para cada uma delas – existindo aqui e ali, disseminadas pelo país e com um desenvolvimento e progresso pouco uniforme.83

81 WEIGERT, Myrian Guzel. Escola Técnica de Curitiba. Labor, ano 3, n. 7, abr. 1942. 82

O PROBLEMA da educação profissional. Labor, ano 3, n. 7, abr. 1942.

Para solucionar o problema, somente

A iniciativa do governo além de desenvolver esse ensino, incorporando- o ao grau de progresso técnico a que tem atingido, nos países mais avançados no assunto, corrige aquele inconveniente, pois dá-lhe unidade, organizando-o com um sólido espírito de conjunto, o que quer dizer converte-o num organismo perfeitamente harmônico, como era necessário.

A sua necessidade no conjunto das atividades que caracterizam a educação nacional, não há necessidade de destacar. Trata-se de uma verdadeira exigência de um problema que está impondo solução a qual corresponde ao nosso desenvolvimento econômico.84

É importante destacar aqui a função mítica da naturalização da história, quando se considera a importância da intervenção do governo no sentido de transformar o ensino industrial num “organismo harmônico”, como forma de cumprir seu papel no

desenvolvimento econômico, este tido como a grande meta a ser alcançada pela nação brasileira. O progresso pela via da industrialização a tudo justifica, e no nosso caso a necessidade de organização do citado ramo de ensino é parte integrante deste processo. A ordem como imperativo para o progresso... Onde já vimos isso?

Nos exemplares de Labor posteriores ao número sete, as menções feitas à Lei Orgânica do Ensino Industrial são voltadas mais para a sua aplicação prática no dia-a-dia escolar, como por exemplo, na organização dos cursos técnicos. As referências à citada legislação e seus efeitos como decorrência da obra do “preclaro” presidente da República diminuem, mas estão subjacentes. Em alguns artigos elas voltam à tona, tendo sempre como pano de fundo a imperiosa necessidade da industrialização como o caminho para o desenvolvimento do país:

O gesto do governo demonstra profundo conhecimento das mais palpitantes necessidades brasileiras, pois ninguém ignora que uma nação somente pode tornar-se poderosa e forte pela educação de seus filhos, em todos os ramos de ensino.

Daí a sua preocupação máxima, todo o esforço que vem empregando, para dotar a nossa terra de número suficiente de escolas, nas quais figure o ensino técnico, como alicerce sólido do preparo dos homens do futuro.

A reforma operada no ensino não podia ser mais retardada, sob pena de ser entorpecido o desenvolvimento da nossa Terra, que todos desejamos forte e dispondo de todos os elementos primordiais à sua defesa, quer na guerra, quer na paz.85

Quando o Estado Novo encontrava-se em seus estertores, as manobras de Vargas para permanecer no poder tornam-se evidentes (ALMEIDA JR., In: FAUSTO, 1996, pp. 225-39; ARAÚJO, 2000). Em Labor nº 14, de setembro de 1945, há um artigo do professor Fanôr Medeiros, intitulado O presidente Getúlio Vargas e o Estado Novo, que vem ao encontro das aspirações continuístas do ditador, ao fazer um levantamento de todas as realizações do governo desde o golpe de 1937. No que concerne ao ensino profissional, este

adormecia no esquecimento pelos que até então dirigiam os destinos do País. Vemos hoje, um outro Ensino Profissional mais perfeito, mais amplo, cuidado com mais carinho, graças a Constituição de 10 de novembro de 1937. Procurou sua Excia. o sr. Presidente da República ampliar as Escolas Técnicas e Industriais do País, aumentando o número de professores, bem como melhorando suas

Documentos relacionados