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2 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Variabilidade da exposição

4.1.3 Mobilidade dos trabalhadores e modificações ocorridas na

No presente estudo, a quantidade de indivíduos que já mudou de setor ou de tarefa foi bastante alta (em torno de 80%), por isso a exposição durante a vida laboral dos trabalhadores foi bastante variada.

Além disso, a empresa em que foi realizado este trabalho apresenta um aspecto importante, nela foram e são realizadas melhorias ergonômicas constantemente e, portanto os postos já passaram por muitas intervenções. Assim, a exposição vivida pelos trabalhadores é bastante variável, modificando-se constantemente (BERTONCELLO et al., 1998; BARBOSA et al., 2000; GIL COURY et al., 2003; MENDES, 2003).

Em estudo de GIL COURY et al. (2002) tem-se uma descrição precisa da situação desta empresa. Nos últimos anos a empresa aumentou sua produção, contratou pessoal e buscou formas de controlar as lesões músculo- esqueléticas em alguns setores críticos, incluindo rodízio de tarefas, pausas a cada duas horas para exercícios de alongamento, grupos de apoio psicológico e físico, redesenho de máquinas, planejamento de mudanças no sistema de produção e organização do trabalho. Desta forma, qualquer avaliação de exposição física vivenciada pelos trabalhadores desta empresa será permeada por uma história laboral prévia com exposição física diversificada.

Assim, mesmo os indivíduos não tendo mudado de atividade, o próprio local de trabalho pode ter sofrido modificações. Desta forma, parece existir uma variável intervindo na relação entre exposição à atividade e relato de sintomas/afastamentos, que é a mobilidade dos trabalhadores dentro de setores da empresa e as mudanças que ocorrem dentro de um mesmo setor.

BRAUCHLER e LANDAU (1998) relatam que o alto grau de mobilidade entre ocupações e locais de trabalho durante o período de trabalho de um indivíduo aponta a necessidade de dinamizar o conceito de análise e desenvolver um sistema que determine o estresse prévio e o atual, por meio da avaliação de fatores relacionados aos hábitos pessoais, relação do indivíduo com seu trabalho (atitudes e habilidades) e aspectos extra-laborais.

WINKEL e MATHIASSEN (1994) também apontam esta dificuldade de pesquisa, relatando que a alta incidência de lesões em uma indústria pode causar um remanejamento, visando mudar a organização do trabalho ou a tecnologia, o que irá causar mudança no padrão de exposição dos trabalhadores.

Além disso, diversos autores afirmam que a tendência industrial de racionalização, com a introdução de tecnologia e mudanças rápidas nas estratégias de venda e produção, influencia o conteúdo do trabalho, gerando a necessidade de esquemas de trabalho flexíveis e, conseqüentemente torna a exposição física ainda mais variada para o trabalhador (KILBOM, 1994; BJÖRKMAN, 1996; WESTGAARD e WINKEL, 1997; KUORINKA, 1998).

BJÖRKMAN (1996) confirma esse argumento dizendo que a ênfase atual na flexibilidade, rotação de tarefas, trabalhadores com diferentes habilidades (polivalentes) e a concepção de trabalho em grupo resultam em mais variabilidade. Segundo o autor, o que ainda não se sabe é como estas mudanças organizacionais estão ajudando a reduzir os problemas músculo-esqueléticos, sendo que possivelmente estejam criando novos tipos de risco. O autor afirma,

ainda, que existe uma carência de pesquisa sobre a interação entre as mudanças organizacionais e a ergonomia.

KUORINKA (1998) discute as conseqüências desta diversificação em relação às estratégias de prevenção. O contexto de mudanças coloca desafios em relação às estratégias clássicas de prevenção, criadas sob condições mais “estáticas”. As intervenções devem ser feitas por meio de uma abordagem rápida, flexível e sistemática, principalmente para as lesões músculo-esqueléticas relacionadas ao trabalho, que têm causas múltiplas e um componente psicossocial pronunciado.

A prevenção deve ser baseada em experiências com eficácia comprovada. No entanto, as próprias modificações introduzidas dificultam a realização dos estudos, o que introduz um problema metodológico. Por um lado torna-se necessário criar novas estratégias de pesquisa para avaliar o efeito dessas intervenções, através de estudos bem desenhados e controlados. No entanto, essas estratégias ainda não existem (KUORINKA, 1998).

KILBOM (1988) afirma que os estudos de intervenção são difíceis de serem conduzidos e avaliados, já que devem ser realizados fora do laboratório, o que implica em dificuldades de se controlar vários fatores ou mesmo monitorar alguns outros. O tempo de estudo deve ser suficientemente longo para se observar variações e isso aumenta as chances de ocorrerem mudanças em outros fatores concorrentes. Além disso, outros complicadores comuns presentes nos estudos são aqueles relacionados à flutuação na produção e variações de indivíduos que estão trabalhando. As flutuações na produção devido a picos e recessões econômicas são comuns e influenciam profundamente o estresse psicossocial, as relações

interpessoais e a carga de trabalho individual, através dos efeitos no ritmo de trabalho, duração das pausas e ocorrência de horas-extras.

VAN DER WINDT et al. (2000) também apontam a dificuldade para pesquisa associando os fatores de risco às lesões músculo-esqueléticas, já que a exposição pode ser modificada durante o estudo, dificultando ou mesmo inviabilizando a interpretação dos resultados.

Do ponto de vista puramente acadêmico, intervenções direcionadas a apenas um fator de risco são preferíveis, por permitir conclusões a respeito da efetividade da intervenção e da importância daquele fator como agente causal. Porém, nas situações reais, devem ser realizadas intervenções sobre vários fatores simultaneamente, tanto para melhorar a eficácia da intervenção como também por razões éticas (KILBOM, 1988).

WINKEL e WESTGAARD (1996) afirmam que o efeito da racionalização, que busca maximizar a produtividade, qualidade e eficiência; pode ser variado. A pesquisa futura nesta área deve focalizar no efeito da racionalização em relação à exposição biomecânica e psicossocial e também nos fatores determinantes do sucesso ou falha desta estratégia de racionalização.