• Nenhum resultado encontrado

2.1 CONCEITO DE MOBILIDADE URBANA

2.1.1 Mobilidade urbana na perspectiva do transporte

Serão estudados aqui os autores que consideram a mobilidade urbana como um conceito relacionado aos deslocamentos das pessoas no espaço urbano.

Sousa (2005) relaciona mobilidade com a forma e os motivos dos deslocamentos das pessoas no interior das cidades. Assim, limita o termo mobilidade ao âmbito urbano, da cidade. O autor supracitado também descreve a necessidade de medir a mobilidade por um índice, o qual é a relação entre o número de viagens e o número de habitantes. Quando esse valor estiver mais próximo de zero, menor é a mobilidade. Apesar disso, Sousa (2005) conclui que o estudo da mobilidade não pode limitar-se ao planejamento de transporte urbano, pois deve ser considerado como um problema de âmbito social.

Antigamente o conceito de mobilidade urbana estava associado a um índice que considerava o número de viagens que uma pessoa realizava num dia útil. Essa visão não considera a qualidade de vida das pessoas, e, portanto, carece da compreensão sobre a abrangência do fenômeno (PONTES, 2010).

Por essa razão, é importante que o conceito de mobilidade urbana possa ir além da simples medida dos deslocamentos, faz-se necessário incluir aspectos qualitativos do fenômeno (PONTES, 2010). Além disso, Vasconcellos (2001) apud Pontes (2010) destaca que a mobilidade urbana deve incluir a oferta do sistema de circulação, constituída pelas vias, veículos, e estrutura urbana.

Assim, percebe-se que a mobilidade é um conceito mais qualitativo, pois considera a capacidade que as pessoas têm de se movimentarem, determinada "pela oferta de modos de transporte, localização das atividades, condições físicas e financeiras dos indivíduos, crescimento da cidade no tempo e expansão dos sistemas de comunicação, dentre outros" (PONTES, 2010). No trabalho de Aguiar et alii (2009), este conceito está associado à condição do indivíduo para deslocar-se, dependendo das características do espaço. E, além das pessoas, acrescenta-se neste conceito, a mobilidade das mercadorias.

15

Magagnin e Silva (2008) definem mobilidade “como um atributo relacionado aos deslocamentos realizados por indivíduos nas suas atividades de estudo, trabalho, lazer e outras”. Estes autores destacam a importância da mobilidade estabelecendo-a como condição necessária para garantir as relações de trocas entre seus habitantes que acontecem nas cidades (Ministério das Cidades, 2006; apud Magagnin e Silva, 2008).

O resumo destas definições se apresenta na tabela 2.1. Esta tabela traz a comparação dos elementos de cada definição e sua ênfase estudada.

Na tabela 2.1 podem ser observadas todas as definições relacionadas com os deslocamentos. De forma geral, não se percebe diferença na ênfase do conceito, mas nos componentes destas definições.

Conscientes da necessidade de uma definição clara e ampla de mobilidade urbana para a elaboração dos Planos Diretores de Transportes e Mobilidade Urbana, Magagnin e Silva (2008) levaram adiante um estudo com técnicos da área de transportes do município de Bauru - SP. Este estudo incluiu uma atividade chamada “Capacitação técnica para a elaboração do plano diretor

Autor Ênfase Componentes

Sousa (2005) Forma e motivos dos

deslocamentos

Cidade, número de viagens; número de habitantes; âmbito social; Aguiar, Silva e Ramos (2009) Facilidade dos deslocamentos Pessoas; Bens (mercadorias);

ambiente urbano; condição do indivíduo para se deslocar; características do espaço. M agagnin e Silva (2008) Atributo dos deslocamentos dos

indivíduos

Área urbana e rural; Infraestrutura; acessibilidade; pessoas; bens (mercadorias); circulação; recursos.

Pontes (2010) Capacidades das pessoas de se

movimentar

Condições físicas e financeiras das pessoas; oferta modos de transporte; localização de atividades; crescimento das cidades; estrutura urbana

Fonte: Elaboração própria

Tabela 2.1: Comparação do conceito de mobilidade urbana na perspectiva do

16

de mobilidade urbana – Definição de indicadores de mobilidade urbana”. No início desta capacitação foram realizadas entrevistas com os técnicos, a fim de conhecer a percepção deles com relação ao conceito de mobilidade urbana e os problemas relacionados. Mediante técnicas qualitativas, foi possível definir este conceito com ajuda de palavras-chave obtidas pelas entrevistas com os técnicos. As relações entre estas palavras-chave estão representadas na figura 2.1.

É importante mencionar que a figura 2.1 representa a visão final do grupo de técnicos, no término da capacitação. Na entrevista inicial os técnicos mostraram influência da visão tradicional no planejamento de transportes. Magagnin e Silva (2008) criticam esta visão pela ênfase na infraestrutura viária, esquecendo-se de temas como a acessibilidade e meio ambiente. Após o período de capacitação e com ajuda do software chamado PLANUTS, os técnicos definiram um conceito mais ampliado de mobilidade.

17

Um dos aspectos mais importantes agregados à definição de mobilidade foi a inclusão do conceito de mobilidade rural e exclusão do mobiliário urbano. Embora o trabalho de Magagnin e Silva (2008) seja o mais completo em termos de definição do conceito de mobilidade, ao ponto de incluir na sua abrangência espacial as áreas rurais, deixou de fora um elemento essencial, o mobiliário urbano. É preciso esclarecer neste ponto, que nem todo mobiliário urbano está relacionado com a mobilidade urbana, mas a parcela que tem relação é fundamental para o deslocamento dos usuários no espaço urbano. Exemplo disto são os abrigos e paradas de ônibus, indispensáveis para os usuários do transporte público; e ainda os bicicletários, os quais são essenciais para garantir e promover o uso do transporte sustentável.

Assim, reconhece-se o avanço do estudo de Magagnin e Silva (2008) e a contribuição quanto à compreensão dos elementos relacionados à mobilidade urbana. Neste sentido, este trabalho é, sem dúvida, um importante ponto de partida para os avanços e melhorias da mobilidade urbana nas cidades em geral e sobretudo para a elaboração dos Planos Diretores de Transportes e Mobilidade Urbana. Embora os Planos Diretores de Transporte e Mobilidade possam ser diferentes, certos elementos não poderiam ser omitidos como é o caso do mobiliário urbano.

Documentos relacionados