7.1 Elementos-chave de Mobilização Comunitária
Para garantir o sucesso do PRN, duas acções são cruciais a nível comunitário:1. Detectar os casos de DAG o mais cedo possível. A integração do PRN nos programas e redes comunitárias já existentes ajuda a identificação precoce de casos através da triagem nutricional nas comunidades e nos centros de saúde. Este ponto é chave para prevenir e reduzir a mortalidade por desnutrição aguda grave. O sucesso da integração do TDA nos programas e redes comunitárias depende da existência de:
Estruturas comunitárias fiáveis e bem estabelecidas (com o apoio necessário)
Condições razoáveis no ambiente em que os adolescentes ou adultos vivem (em casa)
Activistas Comunitários de Saúde (ACS), Agentes Polivalentes Elementares (APEs) e outros voluntários que fazem visitas regulares ao domicílio e mantêm uma estreita cooperação com as USs
2. Mobilização social, usando os meios disponíveis, para aumentar a cobertura do PRN. Experiências em programas como este sugerem que, quando a comunidade reconhece o efeito beneficiário do tratamento e reabilitação nutricional, as admissões ao programa aumentam rapidamente, aumentando assim a cobertura. Atingido isto, e usando meios de comunicação claros, a boa experiência que os doentes ou famílias possam ter, gera um ciclo de “passa-a- palavra” positivo que encoraja a aderência ao PRN. Sem mobilização efectiva, o programa acaba atraíndo pessoas que não sao elegíveis para o tratamento de reabilitação nutricional (ex.: adolescentes e adultos saudáveis ou indíviduos não desnutridos que esperam receber alimentos), e o retorno destes à comunidade sem ter recebido o tratamento, pode gerar um “passa-a-palavra” negativo, levando à redução da participação do grupo de pessoas elegíveis. A comunidade deve ser envolvida com o objectivo de se assegurar a sua participação activa nas seguintes acções:
ACSs, APEs
o Triagem nutricional usando o perímetro braquial (PB), e avaliação da presença de edema, sinais de magreza ou perda rápida de peso com posterior referência dos casos de desnutrição aguda para a unidade sanitária
o Visitas ao domicílio para o seguimento dos doentes em tratamento ou suplementação alimentar, e sua referência à U.S. se necessário, em particular aqueles que:
São nutricionalmente vulneráveis (mulheres grávidas, mulheres lactantes, portadores de HIV/SIDA e/ou Tuberculose)
Perdem peso ou cujo peso é estacionário durante 2 visitas de seguimento consecutivas
Desenvolvem complicações
Recusam o tratamento em internamento ou não são internados por algum motivo, embora tenham critérios
Ausentes ou faltosos
o Visitas à unidade sanitária juntamente com os doentes para controlo e seguimento o Educação nutricional e sanitária nas comunidades
o Mobilização social para promoção do programa nas comunidades, usando vários canais
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Líderes Comunitários
o Sensibilização da população sobre o Programa de Reabilitação Nutricional o Seguimento dos doentes registados no tratamento da desnutrição em ambulatório o Supervisão dos ACSs
o Promover as boas práticas de nutrição
Praticantes de Medicina Tradicional (PMTs)
o Avaliação da presença de edema, sinais de magreza ou perda rápida de peso em adolescentes e adultos
o Referência de adolescentes e adultos com caractetísticas suspeitas de desnutrição para os ACSs ou APEs
SDSMAS
o Assistência na identificação dos ACSs/APEs quem moram na zona alvo das intervenções nutricionais
o Formação dos ACSs/APEs
o Instruir aos ACSs/APEs quais os individuos que precisam de visitas domiciliárias
o Discutir questões/problemas da implementação do PRN com os representantes da comunidade
o Supervisão e coordenação do trabalho dos voluntários
Nas zonas de difícil acesso e muito distantes da US, os serviços de saúde deverão utilizar os cuidados oferecidos pelas brigadas móveis, para fazerem o controlo mensal dos adolescentes e adultos registados no tratamento da desnutrição aguda grave em ambulatório. Normalmente, estas serão as zonas onde as comunidades não são capazes de alcançar facilmente a US que oferece todos os componentes do Programa de Reabilitação Nutricional (PRN), isto é, o tratamento no internamento, tratamento em ambulatório e educação nutricional com demonstrações culinárias. Assim, fica claro que é indispensável que haja uma estreita ligação entre os profissionais de saúde e os trabalhadores comunitários de saúde, pois as suas funções são complementares e não paralelas.
Figura 7.1. Elementos-chave de Mobilização Comunitária
SDSMAS / PMTs
• Identificação e recrutamento de ACSs na zona alvo (SDSMAS) • Formação e instrução dos ACSs (SDSMAS)
• Referência de adolescentes e adultos com caractetísticas suspeitas de desnutrição (PMTs)
ACSs / APEs
• Triagem nutricional através de PB e sinais clínicos de desnutrição (edema, magreza extrema)
• Referência para a unidade sanitária
• Vistas domiciliárias para seguimento de casos em tratamento/suplementação • Educação Nutricional e Sanitária
Líderes Comunitários /
SDSMAS
• Sensibilização da população sobre o Programa de Reabilitação Nutricional e seus benefícios (Líderes)
• Seguimento dos doentes registados no programa ambulatório de desnutrição - investigação de casos de ausência, abandono ou falta de resposta (Líderes)
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7.2 Mensagens-chave durante as visitas domiciliárias de
seguimento
7.2.1 Mensagens para adolescentes e adultos, incluindo mulheres
grávidas e nos 6 meses pós-parto, com desnutrição aguda grave
(DAG), em tratamento da desnutrição em ambulatório (TDA)
As seguintes mensagens chave são importantes para a educação dos doentes e seus cuidadores em relação à utilização do Alimento Terapêutico Pronto para Uso (ATPU):
1. O ATPU é um medicamento especialmente desenhado para ajudar o doente desnutrido a recuperar a força e o peso perdido; ele não é um alimento comum para a alimentação de toda a família.
2. Se o adolescente ou o adulto desnutrido consome outros alimentos, deve-se oferecer 3 saquetas de ATPU por dia.
3. Cada saqueta deve ser consumida antes das principais refeições: uma antes do matabicho, outra antes do almoço, e por fim uma antes do jantar. O doente deve tentar consumir todo o ATPU que é recomendado por dia.
4. As principais refeições devem ser feitas à base de uma dieta sólida, com alimentos disponíveis localmente, enriquecidos com gorduras ou óleos. Deve-se consumir uma grande variedade de alimentos, e na quantidade que quiser.
5. Se o adolescente ou o adulto não consegue comer outros alimentos, deve-se oferecer 5 saquetas de ATPU por dia, que devem ser consumidas na totalidade, e em pequenas refeições regulares (até 8 vezes por dia).
6. Para manter um bom estado de hidratação, deve-se beber água limpa e segura (fervida ou tratada) enquanto se come o ATPU. É muito importante entender que se o doente beber água imprópria, pode ter diarreia e piorar o seu estado de saúde.
7. Antes de se alimentar, deve usar água limpa e sabão ou cinza para lavar as mãos, e deve manter os alimentos limpos e cobertos.
8. Se tiver diarreia, deve continuar a alimentar-se com comida e água extra.
9. O doente desnutrido deve voltar à unidade sanitária a cada 7 dias para fazer o controle e seguimento.
10. Se não estiver a comer o suficiente, ou se desenvolver algum problema de saúde, ou se a sua condição se agravar, deve ir imediatamente à Unidade Sanitária.
7.2.2 Mensagens para adolescentes e adultos, incluindo mulheres
grávidas e nos 6 meses pós-parto, com desnutrição aguda
moderada (DAM), em suplementação alimentar
As seguintes mensagens chave são importantes para a educação dos doentes e seus cuidadores em relação à utilização da Mistura Alimentícia Enriquecida (MAE) ou Alimento Terapêutico Pronto para Uso (ATPU) para a suplementação alimentar:
1. A MAE (ou o ATPU) é um medicamento especialmente desenhado para ajudar o doente desnutrido a recuperar a força e o peso perdido; ele não é um alimento comum para a alimentação de toda a família.
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3. Instruções para a preparação da MAE: Para cada refeição:
o Lave as mãos antes de começar a preparar a papa de CSB-plus.
o Misturar 100 gr de CSB-plus, equivalente a uma chávena de chá, com uma pequena quantidade de água (morna ou fria).
o Mexer essa mistura para dissolver bem e retirar as bolhas de ar.
o Aquecer à parte água numa panela. Só quando a água estiver a ferver, é que adiciona o CSB-plus. Mexer bem para evitar a formação de grumos. Deixar a papa ferver lentamente durante 5 a 15 minutos, mexendo sempre.
o Não cozinhar por mais de 15 minutos para não perder as vitaminas.
4. Antes de se alimentar, deve usar água limpa e sabão ou cinza para lavar as mãos, e deve manter os alimentos limpos e cobertos.
5. O adolescente ou adulto deve terminar a dose diária de MAE ou ATPU, para agarantir uma boa recuperação.
6. Deve beber muita água limpa e segura (fervida ou tratada) para manter um bom estado de hidratação.
7. O doente desnutrido deve voltar à unidade sanitária a cada 15 dias para fazer o controle e seguimento.
8. Se não estiver a comer o suficiente, ou se desenvolver algum problema de saúde, ou se a sua condição se agravar, deve ir imediatamente à Unidade Sanitária.
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