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MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE CIDADE E MOBILIZAÇAO SOCIAL

MOBILIZAÇÃO SOCIAL E PARTICIPAÇÃO SOCIAL

É na direção de uma nova práxis, participativa, referenciada na vida e na cidadania, que devemos tender e pelo qual devemos nos esforçar, isto é, na direção de um outro homem e de uma outra mulher, participantes de uma sociedade urbana democrática, cidadãos, enfim, sujeitos comunitários.

A Constituição Cidadã, constantemente desrespeitada, relevou a participação da população no exercício do poder local. Hoje é consenso a importância dialógica das comunidades e dos sujeitos coletivos nas tomadas de decisão no que diz respeito à sua cidade.

Entretanto, precisamos aqui distinguir participação de mobilização, sem negar a relação indissolúvel entre ambas. A primeira é uma condição intrínseca à atividade social significativa dos indivíduos, própria da consciência individual e em favor do indivíduo e de sua coletividade – potencialização do individuo; enquanto a segunda é a condição criada coletivamente para que se garanta politicamente a participação social e o empoderamento da população – potencialização social.

A participação social está na esfera pública do indivíduo, enquanto a mobilização social está na esfera política da sociedade. A participação e a mobilização apontam no sentido do desenvolvimento de uma sociedade que se quer democrática e este aponta no sentido da participação e da mobilização, sendo um desenvolvimento que envolve toda a coletividade, cujas necessidades e sonhos são afetados por decisões quanto à disponibilidade dos recursos e aos direitos sobre essas necessidades (Bernardo Toro, 2000).

A participação e a mobilização são, também, valores democráticos, alicerces de uma cidade ou de uma sociedade que se quer democráticas.

Os conceitos de participação social e de mobilização social, hoje, são compartilhados por todas as pessoas que têm sensibilidade social e visão de futuro, por moradores, técnicos, poetas e políticos preocupados com o bem-estar social e com a nação, no sentido de povo.

O esforço coletivo de desenvolvimento de uma cidade não é algo fácil de ser realizado, mesmo assim é vital como resposta aos novos desafios sócio-econômicos do mundo atual, especialmente os de integração comunitária dos mercados e das culturas locais, e os da exclusão social (desemprego e fome). Implica, de fato, na participação

social e na mobilização social locais, processo esse necessário ao desenvolvimento da cidade, o qual não é meramente econômico, senão, fundamentalmente, humano. Um desenvolvimento que é humano, social, auto-sustentado e solidário.

"Participar, significa que las personas intervengan en los procesos económicos, sociales, culturales y políticos que afectan a sus vidas y que, de manera permanente, tengan Ia posibilidad de tomar sus propias decisiones.

En el marco de Ia cooperación para el desarrollo, Ia participación es un instrumento y al mismo tiempo un objetivo que convierte a Ias personas implicadas en sujetos de su propio desarrollo.

La suma de impactos de los proyectos y acciones de desarrollo en una comunidad son, o deberían ser, Ia expresión de Ia voluntad e iniciativa de sus individuos. EI objetivo es que los resultados sean, además de efectivos, representativos de Ia voluntad colectiva. "

(Intermon, 1995: 23 e 24).

Reconhecemos a importância da participação e da mobilização locais como essenciais às estratégias de desenvolvimento de uma sociedade ou de uma cidade, porém ainda é necessário aperfeiçoá-las, inclusive na perspectiva de uma compreensão mais subjetiva da realidade local, da cultura local, isto é, ver que os lugares (territórios) são realidades profundamente humanas e simbólicas.

Estimular a participação e a mobilização social requer métodos, requer formas sistemáticas e sistematizadas de ações, métodos que estejam alicerçados nas ciências humanas e no compromisso com o povo, e que possam ser integrados às metodologias de planejamento estratégico, como os métodos SWOT (análise dos pontos fortes e fracos, das oportunidades e ameaças) e SMART (identificação de objetivos específicos, mensuráveis, precisos, relevantes e no tempo limitado).

Um desses métodos de participação e de mobilização sociais é a pesquisa-ação- participante – PAP (Salazar, 1992), um método político-pedagógíco que une a pesquisa com a intervenção, numa perspectiva de trabalho, de aprendizagem e de produção conjunta de conhecimento entre o político, o técnico e a população.

O importante nesse método, e em qualquer atividade coletiva de construção do conhecimento crítico e de transformação de uma dada realidade, é considerar que a população pode exercer de fato um papel ativo, pois possui um tipo de conhecimento tão importante como o conhecimento cientifico-técnico, e capaz, inclusive, de levar-nos a encontrar outros caminhos de construção democrática da realidade a ser transformada.

CONCLUSÃO

Quero dizer, neste final de reflexão, que o Planejamento Estratégico de Cidade não é um esforço que termina em um Plano e um Conselho Gestor, mas um esforço permanente de cooperação, confrontação e negociação de eixos e projetos estratégicos, só possíveis mediante a articulação entre estruturas permanentes de mobilização social e de controle social.

Tudo isso é um sonho, de fato é um sonho que, aos poucos, vem se tornando realidade. Sonhar é preciso, principalmente sonhos coletivos, para que se tornem realidades, para que se faça a cidade democrática de São Luís do futuro.

Podemos dizer, com as palavras de Freire (1981), que:

"Ai de nós, educadores, si deixarmos de sonhar sonhos possíveis; os profetas são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas de sua cultura e de sua história, da cultura e história de seu povo, que conhecem seu aqui e seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles mais que adivinham, realizam."

(1) Artigo baseado na Conferência proferida no I Seminário de Planejamento Estratégico da Cidade de São Luís – Maranhão, 05 a 07 de dezembro de 2001.