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SEÇÃO I O FENÔMENO DA MODALIZAÇÃO

2. Modalidade ou Modalização: uma estratégia argumentativa

3.2. Modalização Deôntica

posicionados de forma a demonstrar que o falante deseja atuar fortemente sobre seu interlocutor. Os modalizadores deônticos podem ser representados por “tem que P”, segundo Castilho e Castilho (2002, p. 207). Em seu estudo, no entanto, não foram criadas “condições para uma larga ocorrência dos deônticos” e os autores catalogaram os seguintes modalizadores deônticos: obrigatoriamente e necessariamente.

Como orientação, buscaremos recortes nos conceitos e considerações teóricas sobre modalização deôntica e suas várias possibilidades, manifestadas de diferentes formas no momento da interação, apresentadas recentemente por Nascimento (2010).

O autor nos relata que, em investigações em andamento e em outras até já concluídas, percebe-se que a modalização deôntica vai além da obrigatoriedade, e apresenta alguns exemplos que utilizaremos a seguir:

10 Há ainda no trecho a presença de pelo menos mais dois delimitadores: um delimitador de lugar “entregar na Secretaria da PRH (Prédio da Reitoria, BR 101, Campus Universitário, Lagoa Nova, CEP 59072-970, Natal-RN) e outro delimitador com a expressão que especifica o tempo: no período de 1º de outubro de 2010 a 25 de outubro de 2010, no horário das 8h30 às 11h30 ou das 14h30 às 17h30. Porém, iremos nos deter apenas na análise dos dois primeiros delimitadores acima, o advérbio “pessoalmente” e a expressão “por procurador”.

Exemplo 19, enunciado 1: É necessário que você fume nesta cena. Exemplo 20, enunciado 2: Você não pode fumar nesse ambiente. Exemplo 21, enunciado 3: Você pode fumar aqui.

O autor demonstra com o enunciado 1 a situação de obrigatoriedade, a qual é clara quando o locutor diz que é necessário o interlocutor fumar. Desta maneira, não resta outra opção senão obedecer ao comando.

No enunciado 2, temos uma situação de proibição. Nascimento (id., p. 34) registra que se percebe uma obrigatoriedade na base da proibição, e que essa obrigatoriedade perpassa um caráter proibitivo – porque é proibido fumar é que eu ordeno que você não fume aqui.

Quanto ao enunciado 3, podemos compreender como uma situação de possibilidade/permissão diretamente dada ao interlocutor sob forma de permissão.

Os exemplos acima possibilitam entender as pequenas diferenças que envolvem as aplicações das modalizações deônticas e fazem perceber que é restrito remeter à modalização deôntica apenas o caráter de obrigatoriedade. Para mostrar exatamente as nuances da modalização deôntica, Nascimento (2010) apresenta a seguinte classificação:

Quadro 1 – Modalização Deôntica (NASCIMENTO, 2010, p. 35) Modalização Deôntica Modalização Deôntica de Obrigatoriedade

Modalização Deôntica de Proibição Modalização Deôntica de Possibilidade

3.2.1. Na Modalização Deôntica de Obrigatoriedade, o conteúdo da proposição é expresso como algo que precisa ocorrer e a que o interlocutor deve obedecer.

Exemplo 22 – Ed. 02

“6.2. Para se inscrever, o candidato deverá, obrigatoriamente, ter Cadastro de Pessoa Física – CPF, documento de identificação e preencher todos os campos do Formulário de Inscrição.”

No enunciado acima, encontramos dois modalizadores deônticos de obrigatoriedade: o verbo deverá e o advérbio obrigatoriamente, que recaem sobre o conteúdo do enunciado como um todo. Assim, o locutor não deixa outra opção a seu interlocutor que não seja o cumprimento de uma determinação ou ordem com relação a “ter Cadastro de Pessoa Física –

CPF, documento de identificação e preencher todos os campos do Formulário de Inscrição.”, para concretização do seu ato, que é o de se inscrever no concurso regido pelo edital. O modalizador “deverá” expressar ordem direta ao interlocutor do enunciado, reforçado pelo modalizador “obrigatoriamente”. Por essa razão, ambos se constituem em modalizadores deônticos de obrigatoriedade.

3.2.2. Na Modalização Deôntica de Proibição, o conteúdo da proposição é expresso como algo proibido, que não pode acontecer, e deve ser considerado como tal pelo provável interlocutor.

Exemplo 23 – Ed. 02

“5.5. A inscrição do candidato implica o conhecimento e a tácita aceitação das normas e condições estabelecidas neste Edital, em relação às quais o candidato não poderá alegar desconhecimento.”

No trecho acima, verificamos o modalizador deôntico de proibição: não poderá. O modalizador recai sobre o segmento “em relação às quais o candidato não alegar desconhecimento”; assim implica que é proibido ao candidato alegar desconhecimento das normas e condições estabelecidas no edital, uma vez que a inscrição implica o conhecimento e tácita aceitação dessas normas e condições.

Esse modalizador muito mais do que indicar uma obrigatoriedade, apresenta o conteúdo como algo proibido, que o candidato não deve fazer, sob nenhuma hipótese. Por essa razão, se constitui em um modalizador deôntico de proibição, nos termos em que apresenta Nascimento (2010).

3.2.3. A Modalização Deôntica de Possibilidade, expressa o conteúdo como algo facultativo ou dá permissão para que esse aconteça.

Exemplo 24 – Ed. 02

“3.4. As inscrições também poderão ser feitas por VIA POSTAL EXPRESSA, desde que a postagem ocorra dentro do prazo estabelecido no item 3.1 deste Edital.”

No trecho acima, verifica-se a ocorrência do verbo poderão, funcionando como modalizador. O modalizador recai sobre o enunciado “As inscrições também [...] ser feitas por

VIA POSTAL EXPRESSA”, apresentando o conteúdo desse enunciado como algo possível, para o interlocutor. No entanto, considerando o gênero textual e o contexto em que esse enunciado aparece, verificamos que o locutor, através desse modalizador, dá uma permissão a seu interlocutor para realizar sua inscrição também por via postal. Assim, o candidato que não possa realizar sua inscrição de maneira presencial, pode fazê-lo, opcionalmente, pelos correios. Em outras palavras, através do modalizador poderão, o locutor expressa o conteúdo proposicional, o qual se refere às inscrições a serem feitas por via postal, como algo facultativo, deixando a critério do interlocutor adotá-lo ou não. Trata-se, portanto, de um modalizador deôntico de possibilidade, nos termos em que apresenta Nascimento (2010).

Após a explicação dada em relação aos conceitos formulados e reformulados por Nascimento, retornaremos à exposição referente à classificação das modalizações na perspectiva de Castilho e Castilho (2002).

3.3. Modalização Afetiva - Devemos aqui lembrar que Castilho e Castilho (2002)

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