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Para a utilização da Modelagem Matemática no ambiente educacional, a organização das atividades propostas pode ser feita de formas variadas. Comumente, as atividades são organizadas em forma de projetos que contemplam temas de interesse dos alunos ou selecionadas pelo próprio professor. Nessa forma de abordagem, a escolha de um tema e a formulação do problema não-matemático a ser modelado pode ficar sob o encargo do professor ou dos alunos, que discutem e procuram encontrar assuntos de relevância para sua atuação em sociedade. A modelagem no ensino pode servir também como motivação para inserir novos conceitos e/ou aplicar conhecimentos adquiridos anteriormente e está associada a um programa de curso pré- definido ou se constituir numa atividade extra, em diferentes etapas do curso programado.

Scheffer; Campagnollo (1998, p.36), esclarecem que o uso da modelagem no ensino possibilita que a:

[...] Matemática trabalhada com os alunos parte de seus próprios interesses, e o conteúdo desenvolvido tem origem no tema a ser problematizado, nas dificuldades do dia-a-dia, nas situações de vida. Valoriza o aluno no contexto social em que o mesmo está inserido, proporcionando-lhe condições para ser uma pessoa crítica, criativa e capaz de superar suas dificuldades.

Por isso, segundo Bassanezi (2002, p.36), existem diversos argumentos para se utilizar a modelagem e a resolução de problemas como estratégias de ensino da Matemática:

argumento formativo – enfatiza aplicações matemáticas e a performance da modelagem e resolução de problemas como processo para se desenvolver a capacidade em geral e as atitudes dos estudantes, tornando-os explorativos, criativos e habilidosos na resolução de problemas;

argumento de competência crítica – focaliza a preparação dos estudantes para a vida real como cidadãos atuantes na sociedade, competentes para ver, formar juízos próprios, reconhecer e entender exemplos representativos de aplicações de conceitos matemáticos;

argumento de utilidade – enfatiza que a instrução matemática pode preparar o estudante para utilizar o conhecimento matemático como ferramenta para resolver problemas em diferentes situações e áreas;

argumento intrínseco – considera que a inclusão de modelagem, resolução de problemas e suas aplicações, fornece ao estudante um rico arsenal para entender e interpretar a própria matemática em todas as suas facetas.

argumento de aprendizagem – garante que os processos aplicativos facilitam ao estudante compreender melhor os argumentos matemáticos, guardar os conceitos e os resultados e valorizar a própria matemática.

argumento de alternativa epistemológica – a modelagem também se encaixa no Programa Etnomatemática, indicado por D’Ambrosio e que propõe “um enfoque epistemológico alternativo associado a uma historiografia mais ampla. Parte da realidade e chega, de maneira natural e através de um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural, à ação pedagógica”, atuando, dessa forma, como uma metodologia alternativa mais adequada às diversas realidades socioculturais.

Esse mesmo autor enfatiza que o fundamental, na utilização de modelagem no ensino, não é chegar prontamente a um modelo bem sucedido, mas caminhar seguindo passos em que o conteúdo matemático vai sendo sistematizado e aplicado. Ele destaca também que, quando a

Modelagem Matemática é usada para o ensino e aprendizagem de Matemática, em cursos regulares ou não, recebe o nome de Modelação Matemática (modelagem em educação).

Na modelação, explica Bassanezi (2002, p.38):

A validação de um modelo pode não ser uma etapa prioritária. Mais importante do que os modelos obtidos é o processo utilizado, a análise crítica e sua inserção no contexto sócio-cultural. O fenômeno modelado deve servir de pano de fundo ou motivação para o aprendizado das técnicas e conteúdos da própria matemática.

Biembengut; Hein (2000, p.18) dizem:

A modelação matemática norteia-se por desenvolver o conteúdo programático a partir de um tema ou modelo matemático e orientar o aluno na realização de seu próprio modelo-modelagem. Pode valer como método de ensino-aprendizagem da Matemática ou qualquer nível escolar, das séries iniciais a um curso de pós- graduação.

Bean (2001, p.55) complementa: “As propostas ‘Modelagem’ e ‘Modelação’ enfatizam conexões da matemática escolar [...] com a vida do aluno. Esta ligação da matemática à vida do aluno faz um importante papel no ensino”.

E Fonseca (2002, p.77) reforça:

[...] num esforço de se resgatar o significado da Matemática que se vai ensinar, busca-se (re-)estabelecer a relação entre conceitos e procedimentos

matemáticos e o mundo das coisas e dos fenômenos. Não que outras tendências do ensino da Matemática deixem de considerar o real vivido, o mundo; mas no caso da Modelagem, a Matemática é tomada justamente como um ‘modelo de realidade’[...].

No ensino de Matemática através da modelagem, esclarece Burak (1987, p.32),

As atividades se constituem na ação de refletir, de fazer, de construir, de concluir e de generalizar. Esta é a liberdade que essa prática educativa parece permitir a cada participante do processo, ao favorecer o uso de suas próprias estratégias, na sua maneira natural de pensar, sentir e agir.

Apesar de todos esses esclarecimentos em prol da utilização da Modelagem Matemática como metodologia de ensino, Bassanezi (2002) aponta alguns obstáculos para a utilização em cursos regulares, destacando o obstáculo institucional, que está relacionado à obrigatoriedade do cumprimento de um programa pré-estabelecido para o curso, como também à falta de sensibilidade, por parte de alguns professores, para perceber que o ensino da Matemática pode ser realizado em conexão com outras áreas do conhecimento. Existe também obstáculo para o aluno: a rotina de trabalho na sala de aula de Matemática muda, uma vez que o aluno passa a ser o elemento essencial nas ações do processo educativo, o que poderá dar ao desenvolvimento destas um ritmo mais lento, ou talvez apático, em sala de aula. Isso pode ocorrer quando o tema escolhido para o estudo não é tão interessante para alguns alunos, provocando desinteresse em participar das atividades. Há ainda obstáculo para o professor, que, muitas vezes, se sente incapaz de desenvolver a modelagem em seus cursos, devido ao desconhecimento do processo, ou mesmo por receio de se confrontar com situações embaraçosas quanto à aplicação da Matemática em outras áreas que não conhece. Além disso, o uso da modelagem pode ocasionar o

não-cumprimento do programa do curso, como também exigir um tempo maior para o planejamento das ações.

De fato, como esclarece Barbosa (1999, p.79):

[...] a adoção da Modelagem demanda maiores qualificações do professor, como por exemplo, a disposição para adquirir conhecimentos interdisciplinares. Mas ele necessita, sobretudo, do espírito inovador, aumentando sua iniciativa para a pesquisa e de flexibilidade perante os obstáculos.

Dessa forma, acreditamos que os argumentos para o uso da modelagem como metodologia de ensino e aprendizagem da Matemática superam os obstáculos, tendo em vista que essa alternativa de ensino e aprendizagem promove a articulação entre o conhecimento matemático e a realidade vivida pelos que fazem o processo educativo, através de um trabalho interdisciplinar, que exige questionamentos, diálogo constante entre as áreas do saber, promovendo mudanças nas atitudes do professor e do aluno e permitindo um novo olhar sobre o ensinar e o aprender. Por isso estamos confiantes de que a modelagem pode ser usada como estratégia de ensino e aprendizagem da Matemática na Educação de Jovens e Adultos, tendo em vista a especificidade da clientela e as transformações que poderão ocorrer no ambiente escolar para facilitar a aprendizagem. Teceremos a seguir algumas considerações sobre a possibilidade de se desenvolver esse trabalho na EJA.