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Modelo Avaliativo da Pessoa com Deficiência Requerente do BPC

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 67-71)

CAPÍTULO 2 – O BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA ENTRE A

2.3 Modelo Avaliativo da Pessoa com Deficiência Requerente do BPC

Em 15 de junho de 2005, o MDS e o Ministério da Previdência Social (MPS), instituíram, pela Portaria Interministerial 001, um grupo de trabalho formado por médicos, assistentes sociais e outros profissionais da área de Políticas Públicas e Atenção à Pessoa com Deficiência, a fim de atender à recomendação do relatório do Encontro Nacional sobre Gestão do Benefício de Prestação Continuada, realizado em 7 e 8 de julho de 2004,

(...) a constituição de um grupo de estudos e pesquisas sobre classificação de deficiências e avaliação de incapacidade com vistas à proposição de parâmetros e procedimentos unificados de avaliação das pessoas com deficiência para o acesso ao Benefício Assistencial de Prestação Continuada (BPC).

Esse Grupo de Trabalho (GT) encontrou respaldo na CIF para amparar um novo modelo de avaliação da incapacidade, com vistas a priorizar um novo olhar sobre a incapacidade da pessoa com deficiência, ampliando a análise para além da doença/deficiência. O novo modelo de avaliação prioriza o olhar sobre os diversos aspectos que impactam na vida da pessoa com deficiência:

A incapacidade não é um atributo apenas da pessoa, mas é conseqüência de várias relações e situações presentes, onde fatores ambientais, abrangendo aspectos sociais, familiares, físicos e econômicos ganham relevância. Busca-se uma abordagem que ofereça uma visão das diversas dimensões que envolvem a temática buscando a integração das várias perspectivas de funcionalidade. (BRASIL, 2007, p. 42)

O Decreto 6.214/2007, produzido por esse GT, mas principalmente em resposta à sociedade sobre as demandas que já vinham sendo colocadas nas Conferências Nacionais de Assistência Social, regulamentou os novos parâmetros de avaliação da pessoa com deficiência e orientou que a concessão do benefício ficará sujeita à avaliação da deficiência e do grau de impedimento, de acordo com os princípios da CIF. (Art. 16, Anexo do Decreto 6.214/2007).

Para a CIF, os fatores ambientais apresentam impacto sobre todos os componentes de funcionalidade e incapacidade, que são formados pela Atividades e Participação e Funções do Corpo.

Para atender ao novo modelo de avaliação, a Portaria Conjunta INSS/MDS 01, de 29 de maio de 2009, estabeleceu os critérios de análise e os novos formulários a serem utilizados pelos assistente social e médico, a partir dessa data. O atual instrumento de avaliação da pessoa com deficiência para acesso ao BPC está dividido em três componentes: Fatores Ambientais, Atividades e Participação, e Funções do Corpo.

Ao assistente social, compete avaliar os Fatores Ambientais e parte do componente Atividades e Participação. Ao médico, compete avaliar as Funções do Corpo e parte do componente Atividades e Participação. Cada um desses

componentes é formado de diversos domínios, os quais são pontuados pelo profissional. O somatório dos qualificadores de cada domínio indica o qualificador final de cada componente.

Esses qualificadores estão baseados na CIF para classificação quanto ao grau de deficiência, dificuldade e presença de barreiras, da seguinte maneira: Completa (C), Grave (G), Moderada (M), Leve (L) e Nenhuma (N); e no instrumental utilizado para a avaliação social da pessoa com deficiência, correspondem, respectivamente, às numerações 4, 3, 2, 1, 0 (Quadro 5).

Quadro 5 – Qualificadores para classificação do grau de deficiência

% Estrutura do Corpo Funções e e Participação Atividades Ambientais Fatores

0 a 4 Nenhuma deficiência ( 0 ) Nenhuma dificuldade ( 0) Nenhuma barreira (0) 5 a 24 Deficiência leve (1) Dificuldade leve (1) Barreira leve (1) 25 a 49 Deficiência moderada (2) Dificuldade moderada (2) Barreira moderada (2) 50 a 95 Deficiência grave (3) Dificuldade grave (3) Barreira grave (3) 96 a 100 Deficiência completa (4) Dificuldade completa (4) Barreira completa (4)

Fonte: Elaboração própria.

Ao término das avaliações social e médica, os qualificadores finais de cada componente são combinados e determinam o grau de impedimento para reconhecer o direito ao BPC, de acordo com a Tabela Conclusiva de Qualificadores16.

Ao mesmo tempo, é preciso ressaltar que o atual modelo avaliativo do BPC para a pessoa com deficiência representa um avanço no olhar para a questão, pois transfere a decisão sobre o grau de impedimento, antes determinado somente pelo profissional médico, para o conjunto de profissionais médico e assistente social. Esse instrumental possibilita a análise sobre a repercussão dos aspectos sociais para definição de incapacidade diante da doença/deficiência, e faz com que essas situações sejam consideradas na análise do direito.

16 Anexo 1 - Tabela Conclusiva de Qualificadores; Anexo IV da Portaria Conjunta MDS/INSS 1, de 24

2.3.1 A deficiência implica impedimentos de longo prazo?

A Lei 12.435/2011 que regulamenta a concessão atual do BPC, estabelece que pessoa com deficiência é aquela com impedimentos de longo prazo.

Para efeito de concessão deste benefício, considera-se:

I - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas;

II - impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos ( Incisos I e II, § 2o, Art. 20, Lei 12.435/2011).

Para a aplicação do critério imposto pela legislação, foi incorporado ao instrumental de avaliação da pessoa com deficiência o seguinte questionamento:

A DEFICIÊNCIA IMPLICA IMPEDIMENTOS DE LONGO PRAZO? (Igual ou superior a 2 anos )

(Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas). ( ) Sim

( ) Não é possível prever neste momento, mas há chances dos impedimentos se estenderem por longo prazo

...(Anexo I e II. Portaria Conjunta MDS/INSS 01, de 24 de maio de 2011).

Esse questionamento está contido no formulário de avaliação médica e, caso o profissional médico responda “Sim” ou “Não é possível prever neste momento”, o requerimento segue normalmente para a combinação do resultado final, mas, se a resposta ao questionamento acima for “Não”, o pedido é negado automaticamente, por se tratar de impedimento inferior a dois anos.

Nesse caso, as condições ambientais e sociais a que o cidadão está sujeitado não são consideradas para estabelecer o acesso e período de tratamento, recuperação e reabilitação do requerente, deixando somente a cargo do profissional médico a decisão sobre o reconhecimento, ou não, ao BPC, como direito socioassistencial. Tal situação representa um retrocesso na avaliação desse benefício, pois coloca a avaliação social com peso menor em relação ao saber médico.

Esse questionamento final se arrisca a cometer injustiças, à medida que ignora as condições objetivas que o requerente apresenta no ato da avaliação e valoriza uma previsão subjetiva das condições de saúde e sociais em que o mesmo se encontrará depois de dois anos. Ou seja, valoriza-se o amanhã incerto, em detrimento das atuais necessidades.

O que se observa é a inserção de um mecanismo que funciona de maneira a restringir o acesso aos direitos sociais; o direito existe, mas seu acesso não é universal, pois depende do olhar do “outro”, e fica sujeito à análise influenciada pela subjetividade de cada profissional.

2.4 Análise do Instrumento de Avaliação Social do BPC para a Pessoa com

No documento MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL SÃO PAULO 2014 (páginas 67-71)