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2.5 COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO NO JUDICIÁRIO

2.5.4 Modelo de conhecimento para apoio ao juiz na fase processual trabalhista

As gestões dos tribunais sempre viram como afronta (...) o compartilhamento sistematizado de informações (RUSCHEL, 2012, p. 92).

O autor quando discorre sobre o compartilhamento assinala que os ativos de conhecimento, dentre eles o conhecimento tácito de especialistas como os juízes, não deveriam ficar indisponíveis em suas mentes, dado o seu valor, tanto para a sociedade, quanto ao próprio sistema judiciário. Argumenta que “tais ativos e o seu compartilhamento certamente melhorará a prestação jurisdicional brasileira” (RUSCHEL, 2012, p. 93).

O Modelo de Conhecimento desenvolvido, associado às tecnologias de informação e comunicação (TIC), busca explicar a tipologia e a estrutura do conhecimento empregado pelo juiz durante as tarefas relacionadas ao ato de apreciar e julgar uma demanda judicial. Permite uma descrição dos elementos que compõem o processo de resolução dos problemas relativos ao julgamento que envolve ativos do conhecimento e direito processual. Por fim, o modelo foi ajustado “para atender a ‘maneira de trabalhar’ do juiz e tornar produtivo o exercício do especialista” (RUSCHEL, 2012, p. 108), sendo o autor o Engenheiro do Conhecimento (EC) e mediador do sistema proposto.

Figura 5 – As relações do Engenheiro do Conhecimento

74 O EC considera a bibliografia jurídica para poder dialogar com o juiz e propõe processos de solução para os problemas que se relacionam com o julgamento.

Há três pontos básicos que caracterizam as demandas, segundo o modelo:

1. o detalhamento das competências [do juiz] envolvidas na execução dos processos;

2. a representação dos processos de trabalho; e

3. as oportunidades de melhoria no que tange ao processo e ao uso do conhecimento. (RUSCHEL, 2012, p. 103).

O compartilhamento de conhecimento tácito entre o juiz e o EC decorrente do processo de elaboração do modelo, segundo Ruschel (2012), permitiu ao juiz perceber: a) a consciência daquilo que realizava em termos do seu conhecimento empregado na resolução dos conflitos; b) qual tipo de conhecimento preocupava-o durante o processo de análise e julgamento dos pedidos; c) a possibilidade de outro juiz reusar seus conhecimentos tácitos para a formulação de uma decisão pode levar os juízes a aprenderem com análises processuais já efetuadas por outros anteriormente; e d) a presença de uma não propensão ao compartilhamento de conhecimento tácito por parte dos juízes, com uma associação dessa indisposição a aspectos relacionados à cultura organizacional e poder.

Pôde o juiz do Trabalho, conforme Ruschel (2012), também verificar que: (1) o seu ativo mental poderia ser aprimorado por ele próprio ou por meio de compartilhamentos com seus pares; (2) as ‘provas vivas’ colhidas durante as audiências permaneciam em sua memória e eram empregadas na análise dos casos; (3) um juiz influenciou no trabalho e no conhecimento do outro; (4) o compartilhamento de conhecimento tácito provocou a ocorrência de insight; (5) o conhecimento tácito não compartilhado pode se perder por falta de uso; (6) a sua busca mental por caminhos que o levassem à solução do pedido judicial levou-o a um aprendizado; (7) o seu conhecimento tácito é um elemento do processo judicial; (8) as varas do trabalho e outros setores a ela relacionados geralmente não demonstraram motivação em compartilhar; (9) as principais tarefas dos juízes e de suas equipes configuram atividades intensivas em conhecimento; (10) os juízes mais experientes tem um conhecimento maior que os iniciantes; (11) a qualidade do conhecimento que pode vir a alimentar o sistema depende das habilidades (knowhow, skills) inerentes aos juízes; (12) uma das competências dos membros de sua equipe de trabalho é compartilhar com ele, o juiz, situações processuais e contribuir para o estabelecimento de um ambiente de confiança.

Todas as situações acima descritas ocorreram durante os momentos de compartilhamento. Permitiram não somente a possibilidade de externalização do conhecimento tácito (para compor fases dos processos do modelo informatizado), mas, e principalmente, uma dinâmica interpessoal de profunda integração e aumento de volumes de

75 conhecimento tácito para todos os profissionais envolvidos, com possibilidade de uso individual e organizacional.

Uma síntese crítica a respeito da revisão de literatura esclareceu as opções feitas pelo pesquisador no encaminhamento do estudo. Até meados do século XX, encontravam-se as organizações baseadas em modelos industriais focados em recursos materiais, físicos, tangíveis. Este modelo ficou conhecido por Abordagem Industrial / Organizacional (I/O

approach).

Na década de 1950, inicia Penrose (2006) estudos que apontam o conhecimento como um ingrediente estratégico no modus operandi das empresas que se destacavam segundo os seus desempenhos. Essa tendência contribuiu com a abordagem ‘Visão Baseada em Recursos (VBR)’ e, em um segundo momento, com a ‘Visão Baseada em Conhecimento (VBC)’ que determinaram estudos e práticas futuras, onde o conhecimento e o conhecimento tácito, posteriormente, ganharam significado e relevância.

O pesquisador quando frequentou eventos de caráter presencial, onde os juízes discutiam seus processos de trabalho e a gestão de suas Varas e Foros, identificou uma dinâmica peculiar na forma de comunicação desses juízes. Enquanto alguns compartilhavam as suas ideias e propostas, outros apresentavam uma ‘taxa de interação’ baixa.

Outro aspecto que chamou a atenção do pesquisador foi o fato de os juízes compartilharem o seu conhecimento ainda na forma tácita, ou seja, o conhecimento que fluía nas conversas ainda se encontrava na forma implícita, como um conteúdo mental, destituído de base material, física ou virtual. O conhecimento compartilhado não provinha de manuais, livros, sistemas informatizados ou qualquer outra forma de mídia.

A literatura revisada apontou trabalhos onde se verificou haver base para supor que no processo comunicativo humano, como o dos juízes, flui conhecimento tácito e que variáveis poderiam estar associadas a este fenômeno que a pesquisa tratou por ‘compartilhamento do conhecimento tácito’.

Com base nesses estudos, o pesquisador pôde estabelecer uma triangulação de sujeitos, uma rede de interação. Elegendo o juiz como agente central dos JEF, na rede mensurou-se o grau de interação entre o juiz e seus pares, os ASJ e os membros de sua equipe de trabalho.

Mesmo sob a advertência de alguns autores, contudo, autorizado por outros, o pesquisador mediu o nível de interação e verificou que variáveis colhidas na literatura e em sua própria experiência explicavam o compartilhamento do conhecimento tácito.

76 Como frutos desse exame, dois conceitos foram propostos pelo pesquisador.

Conhecimento tácito foi tido como um produto mental intangível, passível de

compartilhamento e em constante reformulação. Composto por elementos abstratos (ideias, raciocínios, know-how, habilidades, alegorias, modelos, constructos, insights, experiências, lembranças, sons, imagens, odor, gosto, tato, entre outros) é capaz de gerar novos conhecimentos e práticas inovadoras.

O compartilhamento de conhecimento tácito foi traduzido como um fenômeno de intercâmbio interpessoal descritível e mensurável. Representa a interação de fluxos de conhecimento tácito estabelecida entre pessoas. Pode ocorrer dentro das organizações ou entre estas, requer um ambiente de confiança social e propicia a incorporação de novos conteúdos com ganhos multilaterais de natureza agregadora.

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3 METODOLOGIA

Minha segunda máxima consistia em ser tão firme e tão resoluto quanto possível em meus atos. (DESCARTES, 2006, p. 34).