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Parte I – Enquadramento teórico

3. Representações Cognitivas da doença

3.2 Modelo de auto-regulação em hipertensos

As expectativas dos pacientes e a experiência de vivenciar sintomas influenciam a perceção que se tem sobre a necessidade de aderir à medicação e de fazer uma avaliação subsequente dos resultados do tratamento. O facto das pessoas experienciarem os sintomas da sua condição indica de que têm algo que necessita de ser tratado (Horne

et al., 2005). Outro exemplo de necessidade de adesão à medicação prende-se com o

que se costuma denominar “negociação de um diagnóstico”. A investigação indica que a adesão é mais efetiva quando os modelos do doente e do profissional coincidem, pois verifica-se que se o doente tem tonturas e atribui ao cansaço, e entretanto é realizado um diagnóstico de HTA, é provável que o paciente adira menos ao tratamento, pois não há coincidência entre o seu modelo com o diagnóstico realizado (Figueiras, 2006). Os indivíduos ficam menos conscientes sobre a necessidade de um tratamento se a experiência dos seus sintomas, a sua perceção sobre as causas, as consequências e a perceção de controlar a doença, não coincidir com o que conhecem da doença (Bishop & Converse, 1986). Sabe-se hoje em dia que quando as pessoas percecionam uma maior

necessidade de se submeterem a um tratamento aderem mais ao mesmo, e que a maioria

No estudo Português de Lopes, Alarcão, Fernandes, Nicola, e Rocha (2010), em que participaram 1094 sujeitos com HTA, os autores chegaram à conclusão que os indivíduos que tomavam medicação há mais de 10 anos sentiam mais necessidade de serem medicados. Estes indivíduos acreditavam que seguir as recomendações médicas de adesão à prescrição farmacológica proporcionava-lhes mais qualidade de vida, que sem os fármacos os sintomas da sua condição intensificavam-se, que a sua saúde e qualidade de vida dependia da ingestão de fármacos para controlar a HTA, e que os medicamentos protegiam-nos de piorar. Verifica-se também que quando as pessoas acreditam que a sua condição é crónica têm mais tendência a acreditar que necessitam de serem medicados, e os pacientes que acreditam que é possível controlar a HTA sentem mais necessidade de aderir ao regime terapêutico, e têm menos preocupações face à medicação (Figueiras et al., 2010). Verifica-se ainda que os sujeitos com condição crónica, e que acreditam que mesmo tomando medicação a sua condição não irá desaparecer, aderem melhor ao tratamento, pois está subjetivamente implícito que terão de conviver com a sua condição para o resto da vida, e preparam-se para isso (Matos, Alfonso, & Vea, 2007).

Também se verifica que se os pacientes acharem que a sua condição clínica pode trazer consequências graves, provavelmente irão aderir melhor ao tratamento (Quine et al., 2012). Relativamente aos sintomas, os indivíduos que percecionam e relatam ter mais sintomas tendem a acreditar que a sua condição é mais negativa, procuram mais atribuições causais, e têm sentimentos mais negativos relativos à sua condição (Chen et al., 2011). Indivíduos que relatam mais ter mais sintomas da HTA têm uma menor perceção de controlo sobre a sua condição, o que origina numa menor adesão aos tratamentos (Chen et al., 2011). Quanto à perceção das causas, também se verifica que crenças relativamente às causas da HTA podem influenciar a adesão terapêutica (Wilson et al., 2002: cit. in Frosch, Kimmel, & Volpp, 2008). Relativamente ao benefício do tratamento, os que têm a crença que vale a pena fazerem sacrifícios pois os sintomas e a gravidades da condição serão amenizados, mais facilmente aderem à terapêutica (Matos et al., 2007).

Segundo Figueiras e colaboradores (2010) existem três grupos de doentes com diferentes representações da doença. O primeiro grupo é constituído pelos pacientes com uma representação mais negativa da HTA, que significa que têm perceções mais

graves das consequências, acreditam que a evolução é crónica, uma forte crença no tratamento e controlo pessoal, uma forte identidade, elevada preocupação com a doença, e uma representação emocional negativa, apesar de acreditarem que têm um bom conhecimento da sua condição. No segundo grupo os pacientes têm crenças menos negativas relativamente às consequências, identidade, grau de preocupação, e representações emocionais. Já o terceiro grupo difere em tudo com os dois outros grupos, exceto na identidade, que é mais baixa (Figueiras et al., 2010). Desta forma, estes pacientes têm crenças mais positivas acerca das consequências, acreditam menos no tratamento e controlo pessoal, apresentam menos preocupação e compreensão, e demonstram uma resposta emocional mais positiva. É importante perceber as crenças dos diferentes grupos porque estas são preditivas da adesão (Pires & Mussi, 2008).

O modelo de auto-regulação de Leventhal e colaboradores (1984), já referido, constitui-se como um instrumento conceptual útil para a compreensão da não-adesão

intencional. Se a adesão é vista como uma forma de coping, o modelo postula que a

decisão de seguir as recomendações de tratamento será influenciada pelas representações que o paciente tem da sua doença, e subsequentemente da visão acerca da adequação aos tratamentos (Leventhal, Diefenbach, & Leventhal, 1992).Este modelo permite conceptualizar as decisões de saúde de uma forma dinâmica, em que representações e comportamentos interagem de forma ativa. Para Leventhal e colaboradores (1992) a escolha de uma resposta de coping, como tomar a medicação, é influenciada por aquilo que faz sentido, à luz das próprias ideias do sujeito, sobre a doença e a sua experiência dos sintomas.

Conclui-se que as representações de doença têm um enorme impacto nas imagens criadas acerca da doença e da possibilidade de adaptação e até de recuperação. Assim, verifica-se a relevância deste modelo conceptual sempre que se está a intervir com pacientes que apresentam dificuldades em lidar e adaptar-se a determinado tipo de doença/condição. Utilizar este modelo conceptual permite ao profissional de saúde demonstrar um conjunto específico e pessoal de crenças que podem estar a limitar a adaptação do doente à doença (Pereira & Roios, 2011).

Este modelo demonstra-nos que os sujeitos têm uma representação da saúde e da doença, e que essas representações incluem uma componente psicológica intensa (Bennett, 2000). Percebe-se assim que as cognições são um determinante vigoroso das

nossas reações emocionais e comportamentais à doença. As crenças sobre as doença e as emoções a elas associadas podem, em certos casos, ser determinantes mais poderosos do resultado da doença do que o processo fisiológico subjacente (Bennett, 2000). Assim, enfatiza-se a necessidade de que os profissionais envolvidos nos cuidados aos pacientes possuam uma compreensão dos processos psicológicos que influenciam o comportamento do paciente e justificam as intervenções que visam modificar as cognições relacionadas com a saúde (Odgen, 2000)

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