1.2. Gestão do conhecimento
1.2.1. Gestão do conhecimento: o conceito
1.2.2.2. Modelo de gestão do conhecimento de Holsapple & Joshi (2002)
O modelo proposto por Holsapple & Joshi (2002) explora os componentes a ter em consideração na implementação de uma estratégia de gestão do conhecimento, aplicável em contexto empresarial (ver Figura 5). A sua proposta é baseada em quatro premissas: primeiro, utilização de diferentes actividades na manipulação dos recursos do conhecimento; segundo, os diferentes recursos do conhecimento que precisam ser geridos; terceiro, há factores que influenciam a condução da gestão do conhecimento; por último, a tecnologia é apenas uma parte do que é possível e necessário para uma estratégia de gestão do conhecimento efectiva, apesar de assumir um papel crucial. Figura 5 ‐ Modelo de gestão do conhecimento de Holsapple & Joshi (2002) Fonte: Síntese própria
Os autores entendem por recursos do conhecimento as reservas organizacionais de conhecimento disponíveis em representações utilizáveis; as actividades de manipulação são funções elementares no processamento dos recursos do conhecimento e ainda, os factores influenciadores afectam a condução ou manifestação da gestão do conhecimento na organização.
Holsapple & Joshi (2002) identificam os recursos do conhecimento como o conjunto constituído pelos recursos humanos e recursos financeiros. Contudo, tais recursos só podem ser explorados apenas até onde as habilidades de manipulação do conhecimento dos participantes permitem.
De modo oposto, o exercício de manipulação das habilidades dos participantes depende dos recursos do conhecimento disponíveis na organização e ambiente.
para aumentar os recursos do conhecimento de uma organização, contudo não lhe pertence.
• Os participantes de uma organização podem ser humanos (pessoas) ou materiais (tecnologia, equipamentos), sendo que cada um deles aloja certas habilidades e possui um reservatório de conhecimento. O conhecimento armazenado num sistema tecnológico preserva, formaliza e consolida o conhecimento a partir de várias fontes, paralelamente, o conhecimento dos indivíduos é capturado e formalizado, transferido e partilhado pela organização. • A cultura organizacional é representada pelos seus princípios, valores, normas, procedimentos e abarca os recursos do conhecimento, assumindo uma função de metaconhecimento. Este recurso, apesar de existir independentemente da presença dos participantes do conhecimento, influencia a utilização deste, o conjunto de interacções resultante entre eles, e é influído pelos outros recursos, como a infra‐estrutura, estratégia e propósito.
• A infra‐estrutura é tida como o conhecimento utilizado para estruturar os participantes, e organizar o seu trabalho, por via de procedimentos, processos, relações e interdependências. • Os artefactos do conhecimento são objectos que representam o conhecimento, pertencentes a
uma organização, podem ser alvo de controlo e ter acesso limitado, como é o caso de livros, memorandos, documentos de patentes, manuais, planos de negócio, entre outros.
• A estratégia visa a utilização eficaz do conhecimento para alcançar um objectivo organizacional. • O ambiente externo pode ser encarado como um recurso de conhecimento virtual, uma vez que
engloba todas as potenciais fontes de conhecimento que não pertencem, nem são controladas pela organização.
Após uma breve exposição acerca dos recursos do conhecimento, de seguida serão apresentadas as
actividades de manipulação usadas para tratamento dos recursos.
O modelo de Holsapple & Joshi (2002) considera como processos ou actividades a aquisição, selecção,
internalização, aplicação, a criação e a externalização do conhecimento que podem ser empreendidos
individualmente ou por múltiplos participantes.
• A aquisição do conhecimento refere‐se à aceitação do conhecimento a partir do ambiente externo, respectiva transformação numa representação que pode ser internalizada e utilizada na organização, por via das seguintes sub‐actividades:
• Extracção do conhecimento a partir de fontes externas: inclui a localização, acesso, captura e recolha do conhecimento a partir das fontes externas à organização;
• Interpretação do conhecimento extraído: envolve a transformação do conhecimento extraído em representações que podem ser entendidas e processadas por outro processo de manipulação;
• Transferência do conhecimento interpretado: implica a utilização imediata do conhecimento ou a sua internalização na organização para subsequente aplicação.
• A selecção do conhecimento relaciona‐se com a extracção de determinado conhecimento a partir de recursos internos, e respectiva representação para uma dada actividade, e pode ocorrer das seguintes formas:
• Recuperar o conhecimento localizado por meio de captura ou recolha, e respectiva organização numa representação apropriada;
• Transferência do conhecimento capturado para uma actividade apropriada como a aquisição ou internalização.
• A internalização do conhecimento modifica os recursos do conhecimento de uma organização por via da aquisição e criação de conhecimento.
• A aplicação do conhecimento consiste na utilização do conhecimento existente para criar novo conhecimento e consequente externalização.
• A criação de conhecimento diz respeito à produção de conhecimento através do processamento de conhecimento existente, em resultado da selecção e aquisição, por via das seguintes sub‐ actividades:
• Monitorização dos recursos do conhecimento organizacionais e do ambiente externo; • Avaliação do conhecimento seleccionado ou adquirido;
• Produção do conhecimento através da criação, desenvolvimento, análise, construção, sintetização, refinamento, e combinação do conhecimento existente;
• Transferência do conhecimento criado para consequente externalização ou internalização. A criação do conhecimento pode ainda ocorrer sob duas formas distintas: através da utilização de procedimentos conhecidos da organização, ou pelo contrário, sem recurso a estruturas ou normas.
• A externalização do conhecimento utiliza o conhecimento existente para produzir os resultados organizacionais desejados.
Na prossecução da clarificação das actividades de manipulação do conhecimento relativamente aos recursos existentes numa organização serão seguidamente expostos os factores influenciadores, particularmente, os recursos, a gestão e o ambiente.
• Os recursos financeiros podem limitar as actividades de manipulação, devido à imposição de restrições económicas, enquanto as habilidades de manipulação do conhecimento pelos membros de uma organização podem reduzir ou facilitar as actividades.
A condução da gestão do conhecimento é afectada não apenas pela existência de vários recursos, mas pelo seu posicionamento estratégico, como é o caso da liderança, coordenação e medição.
• A liderança está associada à gestão efectiva dos recursos organizacionais e habilidades de manipulação, e respectiva criação de condições que permitam aos participantes contribuir com o seu conhecimento individual;
• A coordenação implica a gestão das diversas dependências do conhecimento numa organização, e inclui a ligação de estruturas de recompensa para fomentar a partilha, estabelecer veículos de comunicação e construir programas de estímulo à aprendizagem;
• A medição diz respeito aos mecanismos utilizados para mensurar os recursos do conhecimento, a manipulação das actividades e habilidades, e por fim, os resultados da organização. A medição surge para avaliar a liderança, coordenação e os recursos.
Por último, as influências ambientais derivam de aspectos externos à organização. O ambiente determina ou retrai a utilização dos recursos do conhecimento, bem como a disponibilidade das habilidades de manipulação.
Em suma, Holsapple & Joshi (2002) defendem um modelo de gestão do conhecimento centrado nas
actividades de gestão do conhecimento, nos recursos do conhecimento disponíveis (internos e externos),
numa ferramenta tecnológica transversal a toda a estratégia e nos factores influenciadores, seja de
gestão, financeiros ou ambientais.
1.2.2.3. Modelo de Gestão do Conhecimento de Bhatt (2001)
Bhatt (2001) defende um modelo baseado nas interacções entre pessoas, processos e tecnologia. Para o autor a gestão de conhecimento diz respeito a um ciclo constituído por 5 processos, designadamente,
criação, validação, apresentação, distribuição e aplicação, determinantes na construção das competências
chave da organização.
Neste sentido, as organizações devem ser capazes de adoptar diferentes estratégias de organização do conhecimento, mediante o momento do ciclo (ver Figura 6).